sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

PORTUGUESA - Morri há dez anos

Temos muitas mortes durante a vida. Perdas, traumas, lutos. O futebol foi praticamente minha identidade por muitos anos, até que, há uma década, eu morri. Eu, torcedor, não resisti ao assassinato a sangue frio, com requintes de crueldade, sem chance de defesa. Há 10 anos, uma bala atingiu meu coração. 

Desde então, o torcedor que fez de mim o que eu era não vive mais; deu lugar a um cínico, alguém oco, que não se importa com as dores parecidas. "Ah, caiu? Lamento. Quando fomos derrubados, não percebi seu apoio. Foda-se!", mas não como dizem em Portugal.

Eu ficaria horas pensando em algo que jamais seria melhor que as palavras do gigante Luiz Nascimento, esse monumento do jornalismo brasileiro. Queria ser como ele, não só pelo talento, mas com a mesma fé. Mas não tenho. Não tenho nada há 10 anos. Eu morri.

sábado, 2 de dezembro de 2023

Pílulas amadoras - 7

*por Humberto Pereira da Silva

A campanha do Botafogo nesse Brasileirão é um dos fatos mais insólitos que vi no futebol. Momentos em uma partida, um jogo ou mesmo uma sequência de jogos, podem apresentar situações inusitadas. A derrota do Brasil na Copa de 2014 para a Alemanha é um bom exemplo.

Mas o que acontece com o Botafogo se refere a uma temporada. Quer dizer, 36 dos 38 jogos previstos. O melhor desempenho na história dos pontos corridos no primeiro turno. No segundo, no entanto, supera apenas o América-MG e o Goiás.

Depois da virada que sofreu do Palmeiras, em especial, a sucessão de resultados é simplesmente inacreditável. O extremo do inacreditável foi o empate contra o rebaixado Coritiba.

Leio e ouço tentativas de explicação para o que acontece com o Botafogo. As explicações são as mais variadas e se multiplicam. Decisões erráticas da cúpula, leia-se Textor/SAF, inexperiência do TIME em momentos decisivos... Enfim, não faltam tentativas de explicação. 

Não tenho nem longuinquamente a pretensão de mais uma. Há uma interrogação, no entanto, que me parece um ponto cego. Como foi possível a campanha do Botafogo no primeiro turno? 

É como se no insólito houvesse abaixo uma camada mais insólita. O gol de empate do Coritiba 42 segundos depois do gol do Botafogo, já marcado para além dos acréscimos, é inacreditável, como ouvi gritar o narrador global. Mas esse evento absolutamente casual se repetiu inúmeras vezes a favor do Botafogo nas 19 rodadas do primeiro turno. 

No primeiro turno, contra o Palmeiras, houve um gol anulado pelo VAR e um pênalti perdido pelo Verdão. Numa jogada casual e até despretensiosa, gol de Tiquinho e vitória do Botafogo.

A campanha do Botafogo no primeiro turno, para mim ao menos, é o insólito do insólito. Algo que me faz pensar na fantasia Alice no país das maravilhas e sua lógica do absurdo. 

***

Palmeiras campeão? Pois é, nesse Brasileirão a palavra "favorito" perdeu o sentido. Num nível bem menor, e sem o foco do Botafogo, o Atlético mineiro é quase o espelho invertido do Fogão. Constante na irregularidade ao longo dos dois turnos, o Palmeiras pode surpreender nas duas rodadas que restam. Eu, no entanto, não me surpreenderia. 

Cravar Palmeiras campeão é tão absurdo quanto esquecer o quanto os resultados desse Brasileirão têm sido absurdos. Num campeonato tão surpreendentemente absurdo, o Fluminense sem qualquer pretensão não é um mero sparring para o Palmeiras cumprir tabela. E o boato em torno de possível saída do Abel para o Catar parece piada pronta a duas rodadas do fim...

*Humberto Pereira da Silva é professor de Ética em Jornalismo