quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Metáfora da vida.

E 2012 chega ao fim. Não o mundo, como disseram que os Maias disseram, mas o próprio ano. Aliás, que injustiça imputar a eles tal previsão. Justo eles, que foram incapazes de prever o colapso da sua própria civilização, dizimada pelos colonizadores espanhóis.

Foram os espanhóis, coincidentemente, que fizeram da concorrência os "maias da vez". Não só revalidaram o título de campeões europeus como provaram ser a seleção não do momento, mas os responsáveis pela releitura que acontece de tempos em tempos no nosso futebol. Assim como os húngaros nos anos 1940 e 1950 e os holandeses das décadas de 1960 e 1970, a Espanha revolucionou o jeito de olhar, de jogar e de pensar futebol. Quem não entendeu isso perdeu o bonde da história e vai ficar difícil recuperar o tempo e o espaço perdidos.

Também nos gramados espanhóis, Messi seguiu desafiando a lógica. Foram 91 golos anotados em jogos oficiais, com as camisas do Barcelona e da Argentina. Mais que Gerd Mülller, mais que Pelé. É impossível dizer até onde o gênio argentino vai, como também é impossível não colocá-lo entre os grandes da história. Seu "rival", Cristiano Ronaldo, pessoalmente também teve um ano brilhante e provou que pode fazer com a camisola portuguesa o que faz com a merengue. Caso venham ao Brasil em 2014, terão tudo para fazer história.

No futebol brasileiro, o Corinthians escreveu a página mais valiosa da sua história. Depois de 12 anos da conquista do seu primeiro mundial, 2012 reservou o topo do mundo aos corintianos que tomaram de assalto (sem trocadilho) o Japão. Pelas mãos, literalmente, do gigante Cássio e pela cabeça do peruano Guerrero, a Terra do Sol Nascente viu renascer não o sol, mas a superação da camisa, da vontade e da fé sobre o poderio de um adversário tão desorganizado quanto rico. Este era o Chelsea, mas o nome, assim como o clube londrino, não tem tanta importância assim. 

O ano também marcou a despedida de outro gigante da camisa 12. Ou melhor, do maior deles. São Marcos do Palesta Itália foi canonizado no relvado do Pacaembu com uma festa digna da sua importância, apesar do ano terrível pelo qual passou o seu Palmeiras, de tanta gente e de tantas glórias, como a conquista da Copa do Brasil, ofuscada pelo inacreditável descenso no Brasileirão. Muitos disseram que ele merecia fazer suas últimas defesas na sua própria casa, mas que lugar foi mais apropriado que o estádio de todos para a consagração de um ídolo que também era de todos? 

Santos e São Paulo também levantaram troféus, mas não significa que tiveram um ano assim tão bom. O time da Vila fez história ao conquistar, depois de mais de 40 anos, o tricampeonato estadual. Neymar continuou fazendo estragos nos adversários e só não proporcionou ao Santos um segundo semestre glorioso porque ficou mais tempo a serviço da Seleção Brasileira que do time que paga seu salário. Aliás, para manter a joia na Vila Belmiro o Santos tem feito de tudo, menos montar um time à altura de seu craque. O Tricolor, por sua vez, fez de um título antes secundário aos seus próprios olhos a redenção de um ano no qual a diretoria, na figura do folclórico presidente Juvenal Juvêncio, só fez bobagens.

Outra diretoria que abusou do direito de errar foi a da Portuguesa. E como! Transformou, em questão de meses, um time quase perfeito em motivo de piada, com o rebaixamento no Paulistão. Depois, teve que fazer das tripas coração para não cair também no nacional, e agora terá tentar, mais uma vez, provar ao mundo que é grande.

Em janeiro começa tudo de novo. Os que estiveram em alta tentarão se manter por cima. Os outros terão como missão aprender com os erros e fazer uma temporada melhor. A vida também é assim, com altos e baixos. Por isso o futebol é tão apaixonante, pois ele é uma metáfora da própria vida. 




   

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

“Cartabilidade” ao mestre


* por Vinicius Carrilho

Adenor Leonardo Bacchi,

Antes de qualquer coisa, gostaria de deixar, desde já, qualquer formalidade de lado e dizer que te tratarei por seu apelido: Tite. Sim, eu não lhe conheço pessoalmente, mas você faz parte da rotina de 30 milhões de pessoas há dois anos. Neste tempo, já viramos praticamente membros de uma família.

Aliás, eu o conheço de outras épocas, até um pouco distantes. Lembro-me que a primeira imagem que tive de você me causou tristeza. O ano era 2001 e a partida decidia a Copa do Brasil. Como técnico do Grêmio, mostrou muita personalidade ao dar o chamado nó tático no experiente e badalado Vanderlei Luxemburgo, conquistando aquela competição. Ali, sobre o Corinthians, o Tite nascia para o futebol brasileiro.

Já a segunda imagem que tive foi de algo quase milagroso. Com um time medonho nas mãos, em 2004, livrou o Corinthians do rebaixamento e quase colocou a equipe na Copa Libertadores da América do ano seguinte.  Lembro-me que naquela época já mostrava um pouco da personalidade que todos conhecem hoje. Em suas já costumeiras goleadas de 1 a 0, comemorava os gols como um jogador, correndo loucamente e abraçando o primeiro que estivesse na frente, mesmo se este fosse o gandula da partida.

Em 2005, com o investimento da MSI, tinha um time melhor para trabalhar, porém mostrou que dinheiro nenhum no mundo fere os princípios de um homem. Demitiu-se após uma invasão de vestiário por parte de Kia Joorabchian, ingerência clara em seu trabalho. Naquele dia, você e o Corinthians pareciam dar um adeus um para o outro. Pois é, pareciam, pois na verdade, para a sorte de ambos, era um até breve.

Você seguiu sua vida, o Corinthians, a dele e realmente parece que um nasceu para o outro. Os dois passaram por mais momentos ruins do que bons neste período de separação. O improvável, mas fulcral retorno aconteceu em 2010 e logo na sua primeira derrota, diante do inesquecível Tolima, viu-se mais uma vez balançando no cargo.

Porém, diz um ditado que o tempo é o senhor da razão e com você não foi diferente. Naquele momento, tornou-se alvo de várias críticas, inclusive deste que lhe escreve. Você parecia ser daqueles treinadores que gostam de inventar. A famosa figura que mais atrapalha do que ajuda. Pois é, mal sabíamos nós, os críticos, que tudo aquilo era um trabalho de CONHECIMENTO do grupo. Burros e cegos pela paixão que é o Corinthians, acabamos quebrando a cara, com a maior alegria, quando, no Campeonato Brasileiro de 2011, tu mostrou que pode sim ser chamado de professor. Ou melhor, deve ser chamado de mestre.

Chegou 2012 e o que era crítica já havia se transformado em idolatria. Seu trabalho sério, baseado em muita “TREINABILIDADE”, nos deu a única taça que não tínhamos: a Libertadores da América. E ela veio de forma invicta.

Mais do que isso, fez com que 30 milhões de pessoas deixassem de se preocupar com o seu ofício. Por meio de muito TRABALHO, nos deu uma sensação que há tempos não tínhamos, se é que tivemos um dia. Poderíamos não concordar com a escalação de A ou B, mas sempre tínhamos na mente que você sabia muito bem o que estava fazendo. A relação, antes de desconfiança, havia se tornado de “CONFIANÇABILIDADE”.

Hoje, 16 de dezembro de 2012, você, Tite, pode (e deve) orgulhar-se por ser campeão mundial. É o comandante do melhor time do planeta! Mas, neste mesmo dia, pode ter a certeza de que, definitivamente, conquistou algo muito maior. Neste domingo, Adenor Leonardo Bacchi, o Tite, tornou-se o maior treinador da história do Sport Club Corinthians Paulista. Conquista essa regada a HONESTIDADE, CARÁTER, PACIÊNCIA e ME-RE-CI-MEN-TO.

Sem mais para o momento, deixo apenas o meu muito obrigado, mestre!

* Vinicius Carrilho tem 21 anos, é jornalista
morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida 
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.

domingo, 16 de dezembro de 2012

O tempo bom e o senso comum

Diz o senso comum que o tempo está bom quando o céu é azul; que o firmamento cinzento é prenúncio de chuva. Contrariando o tal senso comum, o domingo, 16 de dezembro, amanheceu com o céu encoberto, cinzento. Era um sinal. 

Se por aqui o nimbo matutino teimava em encobrir o sol, na Terra do Sol Nascente o Corinthians tratou de pintar o mundo de preto e branco, sobrepondo-se ao azul do Chelsea. Os guerreiros do Parque (e de) São Jorge, com um gol do peruano Guerrero, mudaram a concepção sobre o que é tempo bom.

O Timão não deu bola para a bala na agulha do milionário Chelsea, que tinha mais estrelas em campo e um time tecnicamente superior. O futebol trata de nivelar as coisas, ainda mais quando a decisão é em apenas um jogo. Os londrinos passearam sobre os mexicanos do Monterrey, ao passo que o Corinthians pagou todos seus pecados para superar o Al Ahly, que venceu a Liga dos Campeões da África, apesar de todos os problemas políticos do Egito. O senso comum dizia que, baseado nestas partidas, o time azul era o favorito.

Mas o senso comum também tenta nos ensinar, há mais de 100 anos, que quando o Time do Povo está em campo o favoritismo, se contrário, fica reduzido a pó pela entrega, pela raça e pelo suor que transpira de cada poro alvinegro. O senso comum, sempre ele.

Mas foram os próprios comandados de Tite que trataram se desfazê-lo, outra vez. O Corinthians volta com o troféu e o título de melhor time do mundo porque foi inteligente, antes de qualquer coisa. Foi bravo, mas foi cirúrgico. Em momento algum se encolheu ante o poderio azul e venceu com méritos.

Teve em Cássio um gigante, em todos os sentidos. Chicão, Alessandro, Paulo André, Paulinho, Danilo, Guerrero, Tite, a Fiel, com o maior êxodo de fé esportiva de que se tem notícia.

Neste domingo, 16 de dezembro, o céu encoberto e cinzento passou a representar tempo bom. Tempo bom para ver o mundo em preto e branco. Para gritar "é campeão!"

GLÓRIA MÁXIMA Alessandro ergue a taça de campeão do mundo
(Kim Kyung-Hoon/Reuters)


  

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Vai, para mais uma final, “Corintiá”!


* por Vinícius Carrilho

Gilberto Gil, em 1984, já falava como uma profecia na canção “Corintiá”, que ser corintiano é escolher que todo ano haveria sofrimento. O tempo tornou a pressuposição em fato e não foi diferente no emblemático 12/12/12, quando o alvinegro entrou em campo para sua primeira partida na Copa do Mundo de Clubes da FIFA.

Frente ao Corinthians estava o Al-Ahly, do Egito. Experiente em mundiais, jogava como franco atirador, sem se importar se seria vencido ou vencedor. O campo de jogo era o impecável estádio de Toyota, transformado em uma espécie de Pacaembu japonês. Nem os mais de 18 mil quilômetros foram suficientes para impedir que cerca de 30 mil corintianos fossem acompanhar seu objeto de devoção. Sofrendo com o frio congelante, a Fiel se enrolou no pano da bandeira, cantou 90 minutos e surpreendeu aqueles que ainda não conheciam o bando de loucos.

Gil, em sua música, também diz que a torcida vai reclamar se o time não vencer. Desta vez venceu e, para variar, sofreu. Começou bem, apesar da ansiedade, mas controlou o jogo no primeiro tempo, abrindo o marcador e tendo chances de ampliar. A partir daí, veio o intervalo, o recuo corintiano, o bom Mohammed Aboutrika e uma pressão inimaginável do Al-Ahly. Foram 45 minutos de puro sofrimento para o Corinthians, porém esse 2012 é ano santo e o alvinegro está no céu. O time é forte, a sorte é grande e o axé está com a Fiel. Os mais de 30 milhões de corações corintianos bateram na trave, no peito, na garganta e aliviados, quando o péssimo árbitro mexicano deu por encerrada a semifinal da Copa do Mundo de Clubes da FIFA.

Com ou sem brilho, o Corinthians está em sua segunda decisão de um campeonato mundial e agora aguarda a definição do seu adversário, que sai do confronto entre Chelsea e Monterrey. Sem se importar muito se o oponente será o milionário inglês ou o eficiente mexicano, os loucos do bando já exaltam o sofrimento na semifinal e projetam uma grande partida no domingo, em Yokohama. Mas como ter boas perspectivas depois do que se viu? Ora, ser corintiano é mergulhar no oceano da ilusão que afoga. Não importa o plano do destino, cada jogo é o coração que joga.

Que no domingo a ilusão de toda essa gente bata na trave, mas entre no gol. Que os jogadores chutem de novo, mais vezes, acalmando o já tão maltratado e sofrido coração corintiano. Por fim, que o fiel torcedor, louco de nascença, solte mais um grito de gol do Corintiá ou do Corintimão, tornando-se assim, pela segunda vez, o dono do mundo.

Eis a música de Gilberto Gil.



* Vinicius Carrilho tem 21 anos, é jornalista
morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida 
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Todos os sentidos de Nelson Rodrigues

Programa Grande Resenha Facit, ao lado de João Saldanha (Globo.com)
O ano de 2012 é emblemático. Segundo a previsão dos Maias, civilização megadesenvolvida que viveu muito antes de Cristo, o mundo acabará neste ano. Também é o ano do centenário de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Mas 2012 marca outro centenário: o de Nélson Rodrigues, o Anjo Pornográfico, como entronizou o escritor Ruy Castro, autor, entre outras obras, da sua biografia.

Filho do igualmente jornalista e gênio da pena Mario Rodrigues, o recifense Nelson enveredou desde sempre pelo caminho da acidez, principalmente sobre os costumes da sociedade fluminense. Em “A Vida Como Ela É”, conjunto de crônicas escritas para o periódico carioca “A Última Hora”, mostrou seu lado mais controverso. Tinha fixação em assuntos como sexo e morte.

No entanto, Nélson Rodrigues também se eternizou como grande cronista esportivo. Tricolor carioca fanático, para ele, o jogo era maior que a simples disputa de noventa e poucos minutos. Como enxergava pouco, menos ainda no Maracanã, onde as cabines de rádio ficam mais longe do relvado, Nelson precisava de alguém ao lado para “soprar-lhe” quem estava com a bola, se era Fulano ou Beltrano. Por muitas vezes, a tarefa coube a outro monstro sagrado da bola de papel, Armando Nogueira. E o próprio Armando é quem torna ainda maior o mito. “Tinha que ter alguém soprando no ouvido dele os lances que a vista curta não alcançava. E, no entanto, ninguém jamais retratou um jogo de futebol como ele”, escreveu nas orelhas de “As Sombras das Chuteiras Imortais”, coleção de crônicas esportivas feita por Ruy Castro em 1993.


E era exatamente por enxergar mal e parcamente que ele era tão completo. Enxergava o jogo além da limitação da visão, através do calor do estádio Mário Filho, não por acaso o nome do seu irmão. Pelo som que vinha do então Maior do Mundo, desde o gramado à geral. Constatava-se ali a beleza que só ele via e sentia, pelos olhos alheios e pela sua sensibilidade ímpar.

Por causa dessa sensibilidade, ele via com a própria alma a alma do próprio esporte bretão, no mais profundo do seu âmago. Mais que isso: a alma do torcedor. Quem mais poderia diagnosticar com tal precisão o que chamou de complexo de vira-latas, por causa da falta de fé no escrete canarinho – e em si mesmo – que cruzou o oceano para o capitão Bellini levantar, literalmente, a Taça Jules Rimet, na Copa da Suécia, em 1958? Foi ele quem cantou a bola do complexo de inferioridade que tomou conta do país depois da perda, no grito e nos tapas do capitão celeste Obdúlio Varela, da Copa de 1950, dentro do nosso próprio quintal.

Para se referir ao grande Castilho, do seu tricolor carioca, fazia ilações tão inusitadas quanto geniais. O arqueiro da Copa do Mundo de 1954 tinha como apelido “Leiteria”, sabe lá Deus por que, em virtude da sua sorte. Para a verve rodrigueana, um sujeito sem sorte era incapaz de chupar um Chicabon, pois podia engolir o palito. E naquele remoto novembro de 1958, foi o goleiro que evitou, com as “tetas leiteiras da sorte”, que as quatro bolas atiradas contra suas traves decretassem o revés do time das Laranjeiras no clássico com o América. Todos que acompanharam o prélio poderiam afirmar, de maneira plausível, que foi o América quem desperdiçou as chances de gol, mas Nelson não. E quem seria capaz de desmenti-lo?


Pode ter sido, pois, seu mais ilustre personagem, o Sobrenatural de Almeida. Ou melhor, personagem, não. Pelas suas tintas, Sobrenatural de Almeida, inexpugnável, ganhou vida e transformou-se numa espécie de 23º jogador em campo, que entrava em ação principalmente quando a torcida do seu time era afligida pelos ataques adversários, a partir dos anos 1970, quando o craque imaginário mais real que já existiu estreou nos gramados tupiniquins.

Foi no dia 21 de dezembro de 1980 que o coração do velho cronista parou de bater, aos 62 anos de jogo, ironicamente num domingo. De certa forma, os Maias não estavam de todo errados. Eles previram o fim do mundo, com data marcada e tudo mais, para 21 de dezembro de 2012. Erraram por 32 anos. Se não o fim do mundo, o fim das crônicas que deixavam mais deliciosas as manhãs das segundas-feiras.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Dava pra ser melhor


A Portuguesa, enfim, escapou da degola no Campeonato Brasileiro. A agonia durou até a última rodada, até os últimos instantes, até os últimos apitos e suspiros. O Canindé, que recebeu um público aquém da importância da partida foi uma dorna lotada até a tampa não de vinho verde, mas de tensão, muita tensão.

O jogo contra a Ponte Preta foi um retrato fiel do que foi a campanha da Lusa ao longo da prova. Um time com a posse da bola durante a maior parte do tempo, bem postado atrás e com imensas dificuldades para fazer o jogo fluir. Para complicar, Bruno Mineiro não jogou, o que fez com que a Lusa não tivesse referência. Pior que isso: sem um jogador de área para marcar, a defesa pontepretana podia adiantar sua linha, consequentemente o meio de campo também podia jogar mais à frente, deixando menos campo ainda para o time luso tentar rodar a bola.

É sabido que o futebol desta equipa da Portuguesa não tem profundidade. Assim, sem um meia com o passe qualificado para criar as hipóteses de golo, o desafogo seria pelas laterais, mas estes eram bem marcados. Sobrariam os chutes de fora da área, o que não aconteceu em momento algum do jogo, já que nenhum dos volantes que atuaram tem essa característica. 

E assim foi durante boa parte do campeonato, exceto quando o avançado Bruno Mineiro funcionou bem. Ele apareceu do nada, marcando golos do nada e, do mesmo jeito, parou de fazê-los. E a queda de rendimento da equipa de Geninho deu-se com a estiagem de golos do artilheiro.

O elenco foi muito mal montado. Se no Paulista, competição na qual a Lusa foi rebaixada, Jorginho teve à disposição praticamente um time Sub-23, no Brasileiro não havia reservas para as laterais ou um meia sequer capaz de municiar os atacantes. Tanto que Moisés, que é um trinco de lado de campo, foi adaptado. 

O susto passou, mas dava pra ser melhor. Tudo bem que o principal objetivo, que era se manter na elite, foi alcançado. O problema é que ficou a impressão de que, se o grupo fosse bem montado, dava pra conquistar algo maior que a simples permanência. Para 2013, haverá mais recursos para que seja montado um time coeso e equilibrado e é obrigação pensar grande. Grande como é a história e a tradição da Lusa.   

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Obrigado, mestre

Fui dormir tarde. Como todos os dias, esperei para ver o jornal do SBT. Estava sentindo algo estranho, só não sabia o que era. No meio do jornal, Carlos Nascimento, uma das minhas referências na profissão, deu a notícia que já esperávamos, mas que ninguém queria ouvir:morreu Joelmir Beting.

Joelmir Beting foi outra referência, não só na profissão que, graças a Deus, ele escolheu para ganhar a vida, mas por causa do seu exemplo de como vivê-la. Nasceu no interior paulista, na pequena Tambaú. Começou boia-fria e fez do seu trabalho, somente do seu trabalho, sua forma e razão de existir. 

Não que eu seja alguma espécie de especialista em economia, mas se hoje eu consigo entender um pouquinho só que seja da arte de torturar os números até que eles confessem, como o próprio Joelmir dizia, devo isso à sua linguagem simples e direta.

Joelmir parte com o coração partido por causa do seu Palmeiras, que prepara uma homenagem a um dos seus mais ilustres torcedores. A melhor forma de fazê-lo, porém, não seria com uma camisa, mas com a formação de um time digno. Digno como foi o amor pelo Palmeiras. Amor este que o tirou da crônica esportiva após um Corinthians e Palmeiras, quando deu banana para a torcida corintiana após o gol da vitória palestrina no Derbi.

A despeito do aniversário do meu irmão, hoje é um dia triste. Mesmo sendo um dia ensolarado e bonito. Hoje é um dia triste. Morreu Joelmir Beting.


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O nome certo

Felipão está de volta à Seleção. É complicado saber se dará certo, mesmo porque seria um exercício de adivinhação. No entanto, não vejo como ruim seu retorno, mesmo com os resultados (ou a falta de títulos) dos últimos trabalhos que ele fez em Portugal, no Chelsea e no Palmeiras (no Uzbequistão não conta). 

Em Portugal ele pegou um time que havia acabado de fazer um papelão na Copa de 2002, embora tivesse um elenco muito bom, e fez com que os portugueses acreditassem que pudessem. Não foi campeão, mas conseguiu os resultados mais expressivos da história da Selecção das Quinas; no Chelsea, não resistiu às igrejinhas de um elenco mimado pelo dono do time e caiu pelos mesmos motivos que derrubariam o ótimo Villas-Boas anos depois. No Palmeiras foi mal, muito mal. Montou o time horrendo que caiu este ano, mas ganhou a Copa do Brasil, e é exatamente aí que o negócio o favorece. 

O sistema de jogo da Copa do Mundo é de mata-mata, tiro curto. Não requer um planejamento muito longo com o mesmo elenco, tampouco variações táticas tão necessárias para um campeonato de pontos corridos, que é mais longo. Felipão tem a experiência e a competência necessárias para levar o Brasil, que vem de duas Copas ruins, de volta para o topo.

Neste ponto, a CBF acerta, ainda mais porque mantém uma certa coerência. Teoricamente, Mano teria caído porque não goza do apoio da torcida e por não ter a experiência que a dupla Marin/Del Nero quer, coisas que Felipão tem. Caso contratassem Tite ou Muricy, outros nomes muito comentados para assumirem a equipa canarinha, teriam passado recibo. 

Demitiram o treinador no momento errado, e pelos motivos errados, mas já que fizeram a bobeira, que consertem. E Luiz Felipe Scolari me parece o nome certo.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

A esposa traída



A saída do técnico Mano Menezes do comando técnico da Seleção Brasileira escancarou um racha na cúpula da entidade que comanda (ou deveria comandar) o futebol deste país. O ex-treineiro corintiano chegou à Seleção depois do trabalho questionável feito pelo seu antecessor, Dunga.

Diferentemente do capitão do título de 1994, Mano ascendeu ao cargo pelos seus bons resultados à frente de Grêmio e, principalmente, Corinthians. Também ajudou o fato de o ex-presidente corintiano Andrés Sanchez ter sido o chefe da delegação que representou o Brasil na Copa realizada no Continente Negro. 

Da mesma forma, Mano não conseguiu, nos quase 40 jogos em que treinou o time, encontrar uma base ou dar padrão de jogo ao escrete da camisa amarela. Tá certo que foi prejudicado, e muito, pela entressafra pela qual passa o futebol nacional. Não houve renovação desde a Copa de 2006. Tanto que não há um jogador sequer, nem mesmo Neymar, que goze de plena confiança do torcedor. Se houver, este é o volante Paulinho, que mantém na equipa nacional o altíssimo nível das suas atuações pelo alvinegro do Parque São Jorge, mas o fato é que o seu trabalho foi muito fraco.


Ainda assim, não foi por questões técnicas que o gaúcho de Passo do Sobrado deixou o cargo. Nos últimos jogos, à despeito do nível dos adversários, seu time apresentou um futebol vistoso, vertical, alegre. Isso coincidiu com o retorno do meia madridista Kaká, que passou a ser o porto seguro do jovem (e inexperiente) time brasileiro. A questão é mais profunda, ou melhor, rasteira, bem rasteira.

Sanchez chegou ao cargo de diretor de Seleções mesmo não tendo nada que justificasse a escolha, do ponto de vista técnico. No entanto, do prisma político, ou politiqueiro, fez todo o sentido. O ex-Todo Poderoso Ricardo Teixeira precisava de apoio para se manter no cargo de presidente da CBF, já que a proximidade da Copa do Mundo faria com que seus passos fossem mais "visados", por assim dizer. O então Presidente da República Lula, desgraçadamente, gozava de prestígio em todos os âmbitos. Assim, que tal colocar o presidente do seu Corinthians lá dentro? Em troca da fidelidade canina do corintiano, um estádio novinho em folha, com participação direta do ex-mandatário da nação, bancado em parte pelo dinheiro público e feito a toque de caixa para a Copa de 2014. Pronto, estavam todos felizes.

Mudou o governo e a presidente Dilma Rousseff, que parece ter mais decência que seu antecessor, embora não precisasse de muita para isso, fechou as portas palacianas para um Ricardo Teixeira cada vez mais afundado em denúncias de corrupção. Sua queda era questão de tempo. Pelas normas da CBF, assumiria o vice-presidente mais velho, e este era José Maria Marin. Ligado umbilicalmente à Federação Paulista de Futebol, Marin representou a mudança do epicentro do futebol nacional do Rio de Janeiro para São Paulo. A indicação do atual presidente da FPF, Marco Polo Del Nero, para vice-presidente da Região Centro Sul da CBF, escancarou o plano de permanência do poder. Caso o homem do cabelo acaju de gosto duvidoso e dos óculos Ambervision deixe o cargo antes das eleições, assumirá, novamente, o vice mais velho, e este é Del Nero. O constante entra-e-sai de políticos e dirigentes de todos os estados e correntes visto na sede da própria FPF deixa claro que existe algo em curso.

Imagem: Leonardo Soares (UOL)
Mas era preciso desfazer o último laço existente entre a CBF e Teixeira. Para isso, nada melhor que trocar o questionado treinador e guardar o lugar para aquele que mais agradar a opinião pública, fator fundamental para a tal permanência no poder. Assim, Andrés Sanchez foi fritado, lentamente, e viu o pouco de prestígio que seu cargo lhe conferia sumir de vez quando da queda do treinador que ajudar a içar. Ele, na condição de diretor de seleções, deveria ter voz ativa, não por mérito, mas de direito, no processo, e a ele coube apenas a desditosa missão de comunicar à imprensa e ao técnico a sua saída. 

Restará a Andrés, desconfortável como uma esposa que acabou de descobrir a pulada de cerca do marido, deixar o cargo e salvar o pouco de dignidade que ainda lhe resta. E tentar articular uma oposição que viabilize seu retorno à CBF. E garantir a "renovação" do cada vez mais secundário, pobre e endinheirado futebol brasileiro.


   

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Providencial

A Lusa conquistou uma vitória providencial no Brasileirão, sobre o Inter, no Beira-Rio. O 2 a 0 imposto pelos comandados de Geninho foi o terceiro triunfo fora de casa em todo o certame. Já havia vencido o Santos, no Pacaembu, e o Grêmio, pelo mesmo placar do jogo de hoje, no Olímpico. Curiosamente, dois jogos em Porto Alegre e seis pontos na algibeira rubro-verde.

A vitória chega num momento dos mais dramáticos. Caso perdesse, estaria praticamente fadada ao descenso, pois dependeria de o Sport perder para o Náutico na última rodada. Eu duvido, do âmago da minha alma, que o Náutico venceria o clássico com o Sport a correr riscos de despromoção, por mais leviano que isso pareça.

Mais uma vez a Lusa não foi brilhante, embora fosse taticamente eficiente. Nem precisava, pois o Internacional é o time mais estranho do campeonato. Tem um elenco estelar, com D'Alessandro, Forlan, Leandro Damião e Guiñazu, e todos estiveram em campo. Poderia ter enfiado cinco na Lusa com a mesma naturalidade que perdeu.

A Portuguesa apresentou os mesmos problemas de sempre. Boa posse de bola, um volume de jogo interessante, mas a mesma profundidade de piscina infantil que caracterizou o time durante o campeonato. Tanto que os dois golos saíram em falhas individuais do time do Sul. Depois tratou de administrar o resultado, tarefa que pode ter sido facilitada pela apatia do contrário, mas que teve os méritos do treinador, que não cometeu os mesmos equívocos do jogo diante do Grêmio, quando uma vitória praticamente certa quase se transformou em uma derrota.

De equipa desacreditada, a Lusa passa a ter quase garantida sua permanência na elite. Agora falta um ponto. Apenas um. Se tudo der certo, ainda pega uma quase milagrosa vaga para a Copa Sul-Americana. Mas não é o objetivo. Este continua sendo evitar o rebaixamento. Qualquer coisa a mais que isso será lucro. E que os erros cometidos na formação do elenco, que não tem um meia sequer de ofício, sirvam de exemplo para que a Portuguesa volte a ser grande.

sábado, 24 de novembro de 2012

Lágrimas de felicidade em Hiroshima


*por Vinícius Carrilho

O sábado foi de definição na J-League. Em casa, o Sanfrecce Hiroshima goleou o Cerezo Osaka por 4 a 1, viu o Vegalta Sendai ser derrotado, em seu estádio, pelo Albirex Niigata e comemorou, com uma rodada de antecedência, o primeiro título da J-League da sua história. Lágrimas marcaram esta conquista.

Apesar do Sendai receber o penúltimo colocado, todos pareciam já saber que o título iria para Hiroshima naquele dia. Antes da partida, a TV Japonesa exibiu um clipe de abertura mostrando momentos históricos do time, como o vice-campeonato de 1994, a queda para a J-League 2 e o retorno para a elite. No fim, declarações de Hisato Sato, que está na equipe desde 2005.

Principal figura da temporada, o camisa 11 mostrou-se muito emotivo. Antes mesmo do apito inicial, Sato já derramava suas primeiras lágrimas ao receber uma homenagem do clube. Com a equipe perfilada, flores foram oferecidas ao ídolo.

A tarde gelada e o campo molhado não impediram que o Sanfrecce Hiroshima começasse a partida em um ritmo fortíssimo. Embalado por sua torcida, o destino do time já parecia traçado. Aos 16 minutos, a informação do gol sofrido pelo Vegalta Sendai chegava à Hiroshima e no minuto seguinte, após uma ligação direta da defesa para Hisato Sato, a bola foi tocada para Takahagi, que tentou um passe, foi interceptado e, no rebote, emendou de fora da área para o gol, acertando o canto esquerdo do goleiro.

Daí em diante, os donos da casa dominaram o jogo. Quatro minutos mais tarde,  Aoyama ampliou e no final do primeiro tempo, após um pênalti muito duvidoso, que resultou na expulsão de um defensor do Cerezo Osaka, foi a vez de Hisato Sato deixar sua marca na partida histórica. Logo aos cinco do segundo tempo, Ishikawa, que substituía o titular Mikic, ampliou, com uma generosa ajuda do goleiro. Este, aliás, foi o único gol em que Sato não participou. Onze minutos depois, de cabeça, Edamura diminuiu para o time de Osaka e deu números finais à partida.

O jogo serviu para, mais uma vez, mostrar pontos fortes e fracos do campeão japonês. Em clima de natal, o treinador mais uma vez apostou em sua tática maluca, que lembra uma árvore, mas desta vez deu certo. A velocidade pelas pontas e a marcação apertada se destacam como ponto forte da equipe. Outro aspecto curioso é que quase todas as bolas precisam passar pelos pés de Hisato Sato. Em certos momentos, a impressão é a que se o camisa 11 não encostar na bola, o time irá desconsiderar aquela posse. O ponto fraco realmente é o sistema defensivo, principalmente nas bolas aéreas. Muitos erros também acontecem na saída de bola da defesa. Os jogadores parecem se envergonhar de usar o velho recurso do bicão, saem tocando e acabam dando a bola de graça, em seu campo de defesa, para o adversário.

No fim, muita festa em Hiroshima. Aliás, a premiação da federação japonesa é extremamente interessante e poderia ser copiada do outro lado do mundo. Enquanto um pódio era montado, os autores dos gols e o treinador eram entrevistados para a TV e o som transmitido para o estádio, causando grande euforia. Todos, sem exceção, choraram e gritaram a plenos pulmões. “Arigatou gozaimasu” foi repetido à exaustão.

Na premiação, medalhas para os jogadores e, antes do belíssimo troféu da J-League, uma peculiaridade deste sensacional campeonato. O time vencedor recebeu um bandeirão, em formato de flâmula, comemorativo do título. Após isso, coube ao craque-ídolo-capitão-dono do time-batedor de pênaltis-atacante-armador e, se bobear, até roupeiro, Hisato Sato, consumar aquele momento histórico.

Como a J-League reserva sempre surpresas, o último ato da festa, que foi transmitida para o mundo pela TV estatal japonesa, foi curioso e provocou risadas. A cena vista era a de uma equipe formada por 26 japoneses e um croata, de uma das mais japonesas das cidade, cantando, em bom espanhol: “¡Campeones!¡Campeones! Olé! Olé! Olé!”. Pois é, coisas que você só vê na J-League.

* Vinicius Carrilho tem 21 anos, é estudante (quase formado) 
de Jornalismo, morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida 
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Naça, é hora de voltar a brilhar


*por Alessandro Yara Rossi
Texto originalmente publicado no site extraoficial do Nacional Atlético Clube.

Mesmo sem ter obtido o acesso para o Campeonato Paulista da Série A-3 de 2013, culminando no quarto ano seguido na Segunda Divisão (equivalente à quarta divisão), o tradicional Nacional Atlético Clube possui uma perspectiva extremamente animadora e os fatores mostram isso: uma campanha consistente em boa parte da competição e que por muito pouco não obteve o acesso; novos talentos aparecendo e que podem contribuir; chegou até às quartas de final do Paulista Sub-20 da Segunda Divisão e, por fim, uma parceria (algo que não conseguiu em 2012), com o Grupo Know-How.


O que faltou em outros anos, principalmente em 2011 (temporada para ser esquecida da história), foi um planejamento adiantado bem traçado pela diretoria. Se o balanço de 2012 foi positivo sem nenhum patrocinador, agora com um novo, investimentos serão aplicados, não apenas em contratações no futebol, mas no clube em geral.


A primeira etapa do projeto de recolocar o Naça novamente em evidência no cenário paulista se iniciará em janeiro, com a Copa São Paulo de Futebol Júnior, quando alguns atletas que se destacaram no profissional e tem idade para participar, provavelmente integrarão o elenco: casos do goleiro Felipe, dos zagueiros Jobert e Léo, do volante Edi, do meia Ronaldo e do centroavante Pedro, que possuem capacidade e uma certa experiência para realizarem uma campanha condizente com o dono de dois títulos deste torneio.


Depois da Copinha, o treinador Paulo Tognasini, que foi mantido pela diretoria, disponibilizará de tempo hábil para trazer reforços e assim preencher pequenas lacunas no esquema tático do Nacional visando a Segunda Divisão em abril, como um meia que organize as jogadas, um segundo atacante que atue mais nas pontas, um lateral-esquerdo que possa se adaptar nos dois esquemas que o comandante geralmente utiliza: 3-4-1-2, no qual jogue mais como ala, ou o 4-3-1-2, que consiga compor a linha de quatro defensores e atacar com eficiência, além de um jogador experiente, que tranquilize a equipe em momentos de pressão.


Finalmente os adeptos do clube da Comendador de Sousa podem encontrar motivos para se empolgar e crer que uma nova fase na rica história será construída.

Alessandro Yara Rossi, 22 anos, é formado em jornalismo 
e apreciador ferrenho de futebol (não importa o país), 
beisebol, basquete e curling, entre outras esquisitices. 
Para não falar que é exclusivamente jornalista esportivo, 
se aventura no mundo do Rock Progressivo, embora não 
saiba sequer segurar um violão.

domingo, 18 de novembro de 2012

A inércia e o merecimento

Hoje a Portuguesa jogou fora toda a possibilidade de reclamar de influências externas caso retorne para a Segunda Divisão do futebol brasileiro. Vencia bem o Grêmio por 2 a 0, até o segundo terço da segunda parte, mas permitiu uma reação impressionante do time do Sul, que só não virou o jogo porque o (péssimo) árbitro carioca Marcelo de Lima Henrique deu só um minuto de acréscimo.

Não dá para entender. Não dá mesmo. O primeiro tempo foi equilibrado, com uma leve superioridade lusa. O Grêmio, sem o esquentadinho Kléber, tinha apenas Marcelo Moreno à frente, com Zé Roberto muito afim de jogo no meio. O problema gremista é que apenas o ex-luso jogava, fazendo com que o Grêmio só chegasse ao gol defendido por Gledson nas muitas faltas que o time luso cometia. Isso facilitou muito as coisas para a Portuguesa, que jogava um futebol parecido com aquele do começo do campeonato, como boa movimentação, posse de bola e chutes de longe.

A igualdade foi mantida até o intervalo, muito graças ao apitador carioca, que anulou um gol legal do Grêmio, num misto de desatenção e infantilidade da linha defensiva rubro-verde: nunca, nunca mesmo, pode-se fazer linha de impedimento em falta frontal. E fizeram. E o gremista Werley fez o gol. No segundo tempo, a Lusa voltou feito um trator e abriu 2 a 0 com facilidade. Parecia ser o dia da redenção. Jogava bem, dominava um adversário desinteressado e até a arbitragem colaborava. 

Aí veio outra falta da intermediária. Frontal. Aí deixaram novamente um adversário sozinho. Foi só escorar, como no gol mal anulado. Só que dessa vez a arbitragem acertou. Dai o que se viu foi um Grêmio infinitamente superior, com um Zé Roberto endiabrado, levando o time todo da Lusa à loucura. Todo não. Do banco, Geninho assitia, inerte, o rolo compressor tricolor encurralar o adversário no seu campo de defesa. Quatro minutos depois do primeiro golo, Zé Roberto assinou uma pintura e empatou o jogo. 

Pareceu um passe de mágica, mas não foi. Minutos antes de tomar o segundo gol, o técnico Vanderlei Luxemburgo mudou tudo no Grêmio. Tirou o lateral Anderson Pico, passou Léo Gago do meio pra lateral, entrando Marquinhos no meio; sacou os inoperantes Elano e Marcelo Moreno, colocando Leandro e André Lima. Assim, passou a dominar amplamente o jogo. O problema é que Geninho não mexeu e ficou assistindo ao time do Grêmio. 

Temos ainda dois jogos e precisamos vencer os dois. A sorte é que o time do Internacional, que nos recebe em Porto Alegre, é tão sem-vergonha quanto o nosso, o que deixa aberta qualquer perspectiva no Beira-Rio. O Inter pode tanto aplicar um 5 a 0 como perder com a mesma naturalidade. Depois tem a desinteressada Ponte Preta, no Canindé.

O que não dá pra entender também são os motivos que levaram o treinador a não agir. O time cansou, como tem cansado em todos os jogos, e Geninho não mexeu. Tinha o volante Zé Antônio pra tentar segurar o ímpeto gremista e não fez nada, absolutamente nada. 

A inércia do treinador reflete o momento do clube, que espera, como disse certa vez o presidente Manuel da Lupa, o pão cair com a manteiga pra cima. O problema é que, do jeito que as coisas vão, em breve não haverá nem pão para cair. Apenas a própria Portuguesa, e com todo merecimento.    

O Mundial de Clubes é logo Ahly


* por Vinícius Carrilho

Já é conhecido o representante da África no Mundial de Clubes de 2012. Jogando na Tunísia, o Al Ahly, do Egito, bateu o Espérance por 2 a 1 e carimbou seu passaporte para o Japão. No primeiro jogo, as duas equipes haviam empatado por 1 a 1.

Os Egípcios dominaram a partida e não deram chances para o Espérance. O primeiro gol saiu em uma jogada pelo lado esquerdo. El Sayed Hamdi invadiu a área e tocou para o meio, onde   Mohamed Geddo chegou batendo. No segundo, Walid Soliman roubou a bola no meio-campo, tabelou na esquerda e, após chapelar o zagueiro, bateu de pé esquerdo, estufando a rede. No final, Yannick N’Djeng, após receber livre de marcação no meio, diminuiu para o Espérance, mas não havia tempo para mais nada. 

Classificado para o mundial, o Al Ahly espera a definição do jogo 1, que será disputado entre o campeão japonês e o Auckland City, da Nova Zelândia. O vencedor deste confronto enfrenta o Corinthians na semifinal.

Jogando em um esquema 3-5-2, o Al Ahly não esbanja um futebol muito habilidoso, mas mostra-se disciplinado taticamente. Os alas apoiam muito o ataque, enquanto os volantes ficam postados no sistema defensivo, ajudando os zagueiros.

Com dois atacantes fixos, o time do Egito tem como principal jogada a velocidade nas laterais, majoritariamente na esquerda. Boa parte do jogo acontece naquele setor. Passes rápidos também parece ser uma arma da equipe.

Por atacar muito pelas laterais, o sistema defensivo pelas pontas acaba ficando exposto e torna-se o ponto fraco da equipe. Durante a final da CAF Champions League, as melhores jogadas do Espérance nasceram pelo lado do campo, principalmente com bolas na área.

Com a maioria de jogadores locais, o Al Ahly conta ainda com um brasileiro. Trata-se do atacante Fábio Júnior, de 30 anos, que teve passagens por Internacional, Vasco, Sport e Campinense. Pouco utilizado, parece não estar em seu melhor momento da carreira, figurando entre os reservas.

Restando pouco menos de um mês para a estreia do Corinthians no Mundial de Clubes, o time do Parque São Jorge já conhece dois, dos três possíveis adversários na primeira partida. Resta apenas ser definido quem será o representante local do torneio.

* Vinicius Carrilho tem 21 anos, é estudante (quase formado) 
de Jornalismo, morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida 
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.


sábado, 17 de novembro de 2012

O emocionante final da J-League e a biribinha de Hiroshima


* por Vinicius Carrilho

A antepenúltima rodada da J-League foi disputada e a briga pelo título ficou ainda mais acirrada. Fora de casa, o Sanfrecce Hiroshima visitou o Urawa Reds e não viu a cor da bola, perdendo por 2 a 0. A equipe só manteve a liderança graças ao Vegalta Sendai, que visitou o Kashima Antlers, chegou a abrir 3 a 1 no placar e nos minutos finais acabou levando o empate.

Mais emocionante do que nunca, a J-League parte para as suas duas rodadas finais com o Sanfrecce Hiroshima na liderança, com 58 pontos, seguido do Vegalta Sendai , com 57. Na parte baixa da tabela, o Albirex Niigata está praticamente rebaixado, com 34 pontos. Já o Gamba Osaka, primeiro dentro da degola, soma 37, podendo chegar aos 43 pontos, mesmo número do Júbilo Iwata, 11º colocado.

Como o campeão japonês tem vaga garantida no Mundial de Clubes da FIFA, em dezembro, e pode cruzar o caminho do Corinthians, uma breve análise do líder do campeonato, que teve sua partida televisionada ao vivo para o Brasil, foi feita.

O Sanfrecce Hiroshima é uma equipe difícil de descrever. Ela tem uma desorganização que provavelmente apenas seu treinador é capaz de entender. Quando defende, duas linhas de quatro, que facilmente viram uma de oito, são formadas. Para atacar, os laterais se tornam alas e um volante fica guardando o sistema defensivo, transformando o time em um estranho 3-2-2-2-1. 

Com a bola nos pés, os dois zagueiros ficam postados na área e o volante recua, se transformando em mais um defensor. Dois jogadores ficam responsáveis pelo setor de meio-campo, alimentando os dois alas, antes laterais, que avançam até a posição dos pontas, sempre preparados para alçar uma bola na área.

Ofensivamente, a jogada do Hiroshima é apenas uma: bola em Hisato Sato, artilheiro do campeonato e estrela da equipe. Seja via ligação direta da zaga; pelo meio-campo, principalmente com o camisa 7, Koji Morisaki; ou pelos pontas, o camisa 11 é sempre procurado. Os pontas, aliás, parecem ser o melhor setor da equipe. Pela esquerda atua Shimizu, que mesmo pouco acionado consegue levar perigo com seus dribles curtos e bolas levantadas na área. Já pela direita, a criação fica por conta do croata Mikic. Grandalhão, não é detentor de grande habilidade, porém sabe usar sua velocidade e porte físico.

Defensivamente, o Sanfrecce Hiroshima é uma verdadeira tragédia. O xerife da zaga é o camisa 5, Chiba. Com pouco mais de 1,80m, alterna momentos de grandes jogadas e lances bizarros, como o carrinho que permitiu o segundo gol do Urawa. Porém, claramente o jogador mais fraco do setor é o camisa 4, Mizumoto. Em meio ao esquema estranho que adota seu time, ora o jogador é lateral-esquerdo, ora é zagueiro central. O concreto é que o atleta não é daqueles que chamam a bola de “meu bem”, como diziam os mais antigos. Por isso, a jogada de desafogo de seus companheiros sempre acontece pelo lado direito.

Na bola parada, o time também parece não causar muito temor aos seus adversários. Chiba e Mizumoto sempre sobem ao ataque e esperam uma boa cobrança de Koji Morisaki, que mostra ser bom neste fundamento. Em faltas na lateral do campo, a equipe apresentou uma jogada combinada, já que “ensaiada” seria um termo muito forte. A bola é erguida na ponta da área e encontra Chiba, que cabeceia para o meio. Nada demais para os padrões normais, mas um grande avanço para este time.

Infrações, aliás, é algo que o líder do campeonato parece entender. O time claramente busca pressionar seu adversário no meio-campo, porém não parece ter vergonha de utilizar faltas duras como forma de parar jogadas, algo incomum no disciplinado modo japonês de jogar futebol. Não por acaso, o jogo contra o Urawa foi marcado por alguns empurrões e até um bate-boca envolvendo o camisa 10 do Red Diamonds, o brasileiro Márcio Richardes.

Em linhas gerais, o Sanfrecce Hiroshima, bem como o Vegalta Sendai, não deve causar problemas no campeonato mundial. Chega a surpreender ver a equipe na liderança da competição, mesmo com um sistema defensivo assustador e uma desorganização tática imensa. No futebol, um adversário nunca deve ser desprezado, mas o Sanfrecce não parece passar de uma singela biribinha de Hiroshima.

* Vinicius Carrilho tem 21 anos, é estudante (quase formado) 
de Jornalismo, morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida 
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Obrigado, baianinho

Alex Alves marca o segundo da Lusa contra o Atlético, de Taffarel
Estou atrasado, eu sei. Afinal, o bom baiano Alex Alves, vice-campeão brasileiro pela minha Portuguesa, pereceu aos 37 anos na quarta-feira, em Jaú, após uma luta de quase cinco anos contra uma doença rara no sangue. Nem o transplante coma a medula doada pelo seu irmão foi capaz de evitar sua partida. Mas não me importo com padrões. Não os seguirei.

Assim foi a vida dele, Alex, desde que despontou no Vitória igualmente vice-campeão nacional de 1993. Ao lado de outros meninos à época, como Paulo Isidoro, Dida e Vampeta, foi difícil segurar aquele time. Só o Palmeiras, máquina bancada pela multinacional italiana do leite, para aplacar o futebol e os sonhos dos meninos baianos.

Aí ele, Alex, veio para São Paulo defender as cores verde e branca do seu algoz. Pelo time do Palestra Itália, levantou o Campeonato Brasileiro no ano seguinte, embora sem se firmar entre os titulares. Alternando momentos memoráveis com atos lamentáveis de indisciplina (chegou a ser detido por desacato a autoridade), foi emprestado para  o Juventude, equipe gaúcha cuja co-gestora do futebol também era a gigante dos laticínios, para desembarcar, cheio de desconfiança, no Canindé, em 1996.

Foi pela Portuguesa que ele finalmente, explodiu, se firmou. Com a cabeça no lugar, foi um dos destaques da equipe que perdeu o título nacional a cinco minutos do final, contra o poderoso Grêmio, no estádio Olímpico. E foi justamente no início da fase de mata-mata que o bom baiano despertou: dois golos contra o Cruzeiro, na vitória por 3 a 0 no primeiro jogo; o golo da vitória contra o Atlético Mineiro, pelas meias-finais, e também o segundo, o da virada, que permitiu à Lusa ainda poder sofrer o golo de empate no 2 a 2 que a conduziu à decisão diante do Tricolor Gaúcho.

Ainda defendeu a Lusa no ano seguinte, até ter o passe comprado pelo mesmo Cruzeiro que eliminou no ano anterior. Era o ano de 1997, época em que jogadores com roupas estranhas e cabelos igualmente extravagantes eram tão raros quanto chuteiras pretas hoje em dia. Alex Alves foi um precursor. Sim, podia ser estranho - e realmente era -, mas o fato é que ele não imitava ninguém ou se prendia aos padrões, fossem eles quais fossem. 

Como eram formosos os campos onde o baiano de Campo Formoso jogou! Com a camisa da metade azul de Minas Gerais, além de levantar a Libertadores daquele ano, Alex foi um dos responsáveis pela campanha do vice-campeonato (seu terceiro) de 1998. Quis o destino que, nas meias-finais, ajudasse a eliminar a mesma Portuguesa a quem classificara dois anos antes, como se pedindo desculpas aos torcedores cruzeirenses. Só pra eles, pois da nossa parte nem precisaria, estava previamente perdoado pelos serviços prestados.

Das Alterosas, rumou para a Alemanha, para defender o Hertha Berlim com algum sucesso, mas os problemas disciplinares voltaram a atrapalhar. Não fosse isso, teria sido muito maior, pois talento ele tinha de sobra. Alex Alves foi mais uma vítima não do próprio ego, mas da complacência de dirigentes que, em vez de lapidarem talentos, mimam os garotos, pensando em resultados imediatos.




De volta ao Brasil, defendeu Atlético Mineiro, Vasco, Fortaleza, novamente o Vitória,  e teve outra passagem pela Europa, num clube pequeno da Grécia, o Kavala. Ainda defendeu Boavista, do Rio de Janeiro, e União Rondonópolis, seu último clube. Não me recordo a ordem correta das camisolas que envergou. Não tem problema. Assim como o bom baiano, a quem agradeço nessas poucas linhas, não seguirei padrões. 

Obrigado, Alex, mas você merecia muito mais.