segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

“Cartabilidade” ao mestre


* por Vinicius Carrilho

Adenor Leonardo Bacchi,

Antes de qualquer coisa, gostaria de deixar, desde já, qualquer formalidade de lado e dizer que te tratarei por seu apelido: Tite. Sim, eu não lhe conheço pessoalmente, mas você faz parte da rotina de 30 milhões de pessoas há dois anos. Neste tempo, já viramos praticamente membros de uma família.

Aliás, eu o conheço de outras épocas, até um pouco distantes. Lembro-me que a primeira imagem que tive de você me causou tristeza. O ano era 2001 e a partida decidia a Copa do Brasil. Como técnico do Grêmio, mostrou muita personalidade ao dar o chamado nó tático no experiente e badalado Vanderlei Luxemburgo, conquistando aquela competição. Ali, sobre o Corinthians, o Tite nascia para o futebol brasileiro.

Já a segunda imagem que tive foi de algo quase milagroso. Com um time medonho nas mãos, em 2004, livrou o Corinthians do rebaixamento e quase colocou a equipe na Copa Libertadores da América do ano seguinte.  Lembro-me que naquela época já mostrava um pouco da personalidade que todos conhecem hoje. Em suas já costumeiras goleadas de 1 a 0, comemorava os gols como um jogador, correndo loucamente e abraçando o primeiro que estivesse na frente, mesmo se este fosse o gandula da partida.

Em 2005, com o investimento da MSI, tinha um time melhor para trabalhar, porém mostrou que dinheiro nenhum no mundo fere os princípios de um homem. Demitiu-se após uma invasão de vestiário por parte de Kia Joorabchian, ingerência clara em seu trabalho. Naquele dia, você e o Corinthians pareciam dar um adeus um para o outro. Pois é, pareciam, pois na verdade, para a sorte de ambos, era um até breve.

Você seguiu sua vida, o Corinthians, a dele e realmente parece que um nasceu para o outro. Os dois passaram por mais momentos ruins do que bons neste período de separação. O improvável, mas fulcral retorno aconteceu em 2010 e logo na sua primeira derrota, diante do inesquecível Tolima, viu-se mais uma vez balançando no cargo.

Porém, diz um ditado que o tempo é o senhor da razão e com você não foi diferente. Naquele momento, tornou-se alvo de várias críticas, inclusive deste que lhe escreve. Você parecia ser daqueles treinadores que gostam de inventar. A famosa figura que mais atrapalha do que ajuda. Pois é, mal sabíamos nós, os críticos, que tudo aquilo era um trabalho de CONHECIMENTO do grupo. Burros e cegos pela paixão que é o Corinthians, acabamos quebrando a cara, com a maior alegria, quando, no Campeonato Brasileiro de 2011, tu mostrou que pode sim ser chamado de professor. Ou melhor, deve ser chamado de mestre.

Chegou 2012 e o que era crítica já havia se transformado em idolatria. Seu trabalho sério, baseado em muita “TREINABILIDADE”, nos deu a única taça que não tínhamos: a Libertadores da América. E ela veio de forma invicta.

Mais do que isso, fez com que 30 milhões de pessoas deixassem de se preocupar com o seu ofício. Por meio de muito TRABALHO, nos deu uma sensação que há tempos não tínhamos, se é que tivemos um dia. Poderíamos não concordar com a escalação de A ou B, mas sempre tínhamos na mente que você sabia muito bem o que estava fazendo. A relação, antes de desconfiança, havia se tornado de “CONFIANÇABILIDADE”.

Hoje, 16 de dezembro de 2012, você, Tite, pode (e deve) orgulhar-se por ser campeão mundial. É o comandante do melhor time do planeta! Mas, neste mesmo dia, pode ter a certeza de que, definitivamente, conquistou algo muito maior. Neste domingo, Adenor Leonardo Bacchi, o Tite, tornou-se o maior treinador da história do Sport Club Corinthians Paulista. Conquista essa regada a HONESTIDADE, CARÁTER, PACIÊNCIA e ME-RE-CI-MEN-TO.

Sem mais para o momento, deixo apenas o meu muito obrigado, mestre!

* Vinicius Carrilho tem 21 anos, é jornalista
morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida 
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.

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