segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

O protesto da Gaviões e a nobreza das demandas

SOMENTE CAUSAS NOBRES? Corintianos protestam
 em Itaquera (André Lucas Almeida/Futura Press)


Uma cena chamou a atenção durante o Majestoso do último domingo, na Arena Corinthians. No início do segundo tempo, o capitão corintiano, Felipe, atravessou o campo todo e começou a gesticular para a torcida. Ele pedia, por solicitação do árbitro Luis Flávio de Oliveira, para que membros da Gaviões da Fiel enrolassem algumas faixas de protesto.

Os alvos eram claros: Rede Globo, CBF, FPF, a diretoria do próprio Corinthians e o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado estadual Fernando Capez (PSDB). Tudo muito bonito, ainda mais se pensarmos na gênesis da própria Gaviões, que nasceu no fim dos anos 1960, em meio aos Atos Institucionais que cassavam os direitos individuais dos brasileiros, para protestar contra o então presidente corintiano Wadih Helu.

Mas não é bem assim.

O protesto contra a diretoria do clube é justo: o ingresso é muito caro e está restringindo o acesso do povo às arquibancadas. O Corinthians é o que é (e só é o que é) porque veio do povo, emana povo, e o esbranquiçamento do estádio o afasta de suas raízes. Logo, se este processo não for revertido, se tornará um time comum; quem quiser ver o jogo, que adira ao programa de ST do clube, que é mais seletivo ainda com seu sistema de pontuação que determina que, quanto mais ingressos forem adquiridos, mais próximo da prioridade na venda dos ingressos para os chamados jogos grandes o torcedor estará, o que cria categorias de corintiano: o que tem grana pra torrar nos jogos sem importância e os que não vão conseguir ir aos jogos.

A Globo foi alvo também por causa dos horários das partidas. Esta é uma demanda que já deveria ter sido discutida há tempos. A detentora paga uma miséria se comparado a outros campeonatos nacionais e faz o que quer com estas competições, seja no horário ou interferindo nas escalações.

Agora acaba o romantismo: a torcida resolveu bater na FPF porque esta a suspendeu por 60 dias por causa dos sinalizadores na semifinal da Copinha. Só por isso. Sobre o deputado Capez, a faixa só apareceu porque o deputado, que é acusado de participar do esquema de desvio da verba da merenda, trabalhou (e usou como trampolim eleitoral) pela extinção das organizadas, entre elas a própria Gaviões. Ou seja, o problema, no caso, nem é o suposto crime, mas sim o suposto criminoso. Acreditem, ninguém ali está interessado no dinheiro da merenda. Ou será que somente este escândalo é digno de protesto?

Em todo caso, devemos lamentar a tentativa de coibição do protesto. Sendo pacífico, deve ser respeitado. O pedido feito pelo árbitro, que certamente partiu de cima, mostra na mão de quem o futebol está. São os mesmos que comandavam o país quando a Gaviões da Fiel foi criada. Só não vejo a “pureza na resposta das crianças” da organizada ou a politização do ato em si.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Para Rafaela


Amo esse seu jeito de me olhar,
De respirar, de suspirar,
De reclamar quando está só.
Quando está só querendo paz,
Quando quer mais, quando se faz
De frágil, fácil, incapaz
De viver sem o meu amor.
Seu jeito de fazer amor,
Mesmo que só em pensamento,
Que seja só por um momento,
Por um momento ser real.

Amo esse seu jeito competente,
De ser forte, mas dependente,
De não ser auto-suficiente,
De depender da gente
Ou de gente, de repente,
Por mais que seja apenas tipo.
Ou seja um tipo que é só seu,
Como também é o meu amor,
Que é só seu, é mais que meu.
É mais que eu, bem mais que eu.

Amo o fato de te amar,
Só pelo fato de te amar.
Só pelo fato de viver
Só pelo fato de sentir,
De existir, de insistir
Em insistir, em existir.
Em existir sem se explicar.
Não há razão, não há senão.
Senão apenas existir.
Não há razão, não há porquê.
Só há você, só há você.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O mea culpa e a Primeira Liga


Há alguns dias escrevi aqui mesmo, neste blog, sobre a negativa da CBF à Primeira Liga. Critiquei a falta de atitude dos dirigentes por não enfrentarem a entidade, mesmo tendo ao seu lado a lei e a opinião pública.

Felizmente, eu estava errado. Os organizadores não só não arredaram o pé como colocaram seus times em campo, mesmo a contragosto dos homens da Barra da Tijuca, que, ao contrário do que eu imaginei, meteram o rabinho entre as pernas e recuaram. 

A Primeira Liga tem tudo para dar certo, mesmo no país em que quase tudo dá errado. Equipes tradicionais, grandes torcidas e o interesse de boa parte do público para que a competição emplaque. No entanto, ainda é prudente aguardar o próximo passo da entidade.

O único senão aqui é se vão respeitar os critérios técnicos para comporem os integrantes da Liga. Em 1987, quando foi criada a Copa União - e o finado e nada saudoso Clube dos 13, deram uma banana para o que fora auferido em campo no ano anterior e promoveram a primeira virada de mesa do país.

Outra notícia alvissareira é o iminente acerto entre o Santos e a americana Turner, para que os jogos do alvinegro da Vila Belmiro sejam transmitidos pelo Esporte Interativo, o que quebra, ou pelo menos enfraquece, o poder da Rede Globo sobre o futebol nacional, tema anteriormente abordado aqui também.

São dois passos para tirar o futebol do obscurantismo, do atraso. Dois passos para que o 7 a 1 não se repita, mesmo no país feito para dar errado.