domingo, 25 de março de 2012

O dia em que o tempo parou

No início da semana retrasada fui ao Canindé para fazer uma matéria com o Esquerdinha, craque luso dos anos 1980, e que hoje é o técnico da categoria Sub 20 da Portuguesa.

No gramado, enquanto me preparava, atrás do gol dos vestiários, me dei conta de que foi naquela trave que o genial Dener marcou um dos gols mais bonitos da sua curta, porém brilhante, carreira, contra o Santos. Quando o placar anotava 3 a 2 para a Lusa, de virada, o Reizinho do Canindé recebeu o passe de Tico e dominou passando a bola no arco das pernas do lateral Índio, ignorou a existência do goleiro Gomes e só parou com a bola dentro do gol. Era um sábado, 1° de maio de 1993.

Quase 20 anos depois eu estava lá, atrás do gol imortalizado pelo craque. Naquele momento, como se visualizando por um ângulo imaginário que só eu tinha, o vento parou. O tempo parou. Tudo parou. Quem não viu Dener jogar sequer pode imaginar o que perdeu. Como narrou o mestre Silvio Luiz,  pela TV Bandeirantes, "foi, foi, foi um golaço de craque, um gol de placa no Canindé! Dener, o super craque da camisa 10".



Hoje tem derby paulista

Corinthians e Palmeiras fazem mais um clássico repleto de emoções. Totalizando 338 jogos, com 121 vitórias alviverdes contra 115 alvinegras, o derby de hoje tem um gostinho especial: a disputa pela liderança do Campeonato Paulista 2012.

Ainda invicto na competição, o Palmeiras soma 32 pontos, ocupando a primeira colocação. Já o Corinthians tem a melhor defesa com apenas nove sofridos e está na terceira posição, com 31 pontos. A partida é valida pela 15º rodada do Paulistão 2012 e acontece no estádio do Pacaembu, às 16hrs.

As principais armas da equipe de Luiz Felipe Scolari serão as bolas paradas de Marcos Assunção e as finalizações precisas do “El Pirata” Barcos. Por falar em finalizações, o atacante palmeirense já soma nove gols na temporada, contando os gols do estadual e da Copa do Brasil, participando de 11 jogos e sendo até agora o artilheiro do Palmeiras no ano.

Se para a equipe de Scolari o ataque funciona perfeitamente, o mesmo não se pode dizer dos comandados de Tite: o principal atacante alvinegro não balança as redes há 12 jogos. Liedson vive o maior jejum em toda sua carreira. Mas, se tratando de um clássico de alto nível, tudo é possível.

No último confronto entre os dois times válidos pelo estadual, o Corinthians saiu vencedor na disputa de pênaltis, vitória essa que permitiu o alvinegro ir a final do campeonato no ano passado. Vale lembrar que as duas equipes já disputaram os títulos paulista de 1922, 1923, 1936, 1937, 1939, 1942, 1947, 1951, 1954, 1966, 1974, 1993, 1995 e 1999, sendo do Timão o maior números de vitórias: oito canecos contra seis do Verdão.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Falar o quê?

A Portuguesa segue se arrastando, se afundando, se apequenando. Após mais um desempenho pífio, desta vez frente o Oeste, em Itápolis, colocou o pé no fundo do poço. Se das outras vezes o problema era furar uma defesa bem postada, o que se viu na noite do interior paulista foi um time que abriu 2 a 0 antes do meio tempo, sabe-se lá como, e que não soube segurar sequer o empate, levando dois gols de um atacante reserva com nome de passarinho.

Quem são os culpados? Se no ano passado, a partir do início da Série-B tudo começou a dar certo, agora a coisa virou. Os reforços são ruins, tanto que dois já foram dispensados, o time é mal feito e o elenco é desequilibrado. Os meias que foram contratados não reúnem condição física, quiçá técnica, para atuar pela Portuguesa.

Assim, da mesma forma que o mérito pela espetadular campanha do ano passado foi da diretoria e, principalmente, da comissão técnica, hoje eles devem carregar o ônus da responsabilidade por terem feito esse troço que veste uma camisa horrorosa, a despeito da tradição lusitana.  

A todo momento as pessoas me perguntam o que aconteceu com a Lusa. Não sei o quê dizer, e duvido que alguém no Canindé saiba. O fato é que não dá mais pra lamentar os reforços que não vieram ou osjogadores que saíram. E nem me refiro a resultados, pois se o trabalho é bem feito, tem consistência, eles vêm. Falo do futebolzinho mequetrefe, acéfalo, sem nada, que a Lusa vem jogando.

2012 é o ano que marca o retorno da Portuguesa entre os grandes. É o ano mais importante da história recente do clube. É o ano em que o time decidirá se volta a ser grande e se mantém na elite, para que, mais bem estruturada, possa alcançar portos mais distantes, ou retorne sem honras à Segunda Divisão, como um barco à deriva que rumava aos abismos imaginários que haveriam nos mares, antes da era das navegações.

É hora de repensar o trabalho.e ver o que dá pra salvar. E ver quem está disposto a ajudar. E ver se o objetivo é voltar a ser grande ou assumir a pequenez de vez.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Sobre a submissão

Nesta semana a Comissão Especial que trata da Lei Geral da Copa determinou a liberação  do consumo de bebidas alcoólicas (leia-se bebidas dos patrocinadores) durante os jogos da Copa do Mundo, atendendo uma "solicitação" da FIFA (leia-se exigência). É dever de ofício lembrar que a venda e o consumo são proibidos nos estádios brasileiros.

Há quem defenda a ideia de que o consumo de bebida alcoólica seja liberado nas praças esportivas brasileiras, uma vez que alguns torcedores ou já saem calibrados de casa ou ficam enchendo o caco nos arredores dos estádios, e que a proibição, além de não combater o cerne da questão, que é o consumo exagerado de álcool, não passa de hipocrisia. Em contrapartida, há os que defendam que um afrouxamento da lei seria um retrocesso na política de combate ao consumo abusivo de álcool.

Independentemente de quem tenha razão, o fato é que a deteminação tem que ser de dentro pra fora, não o contrário. Como a liberação foi costurada para atender aos interesses da entidade máxima da bola, acaba tendo seu sentido completamente desvirtuado. Fixa, entre nós, a ideia de que a FIFA manda no país, ao menos até que o capitão da seleção campeã erga a taça.

Este é só mais um capítulo de um monstrengo chamado Lei Geral da Copa, que a turma de Blatter quer - e vai - empurrar-nos goela abaixo, isso se for pela goela. Pelo direito de sediar o maior evento esportivo do mundo, países, digamos, moralmente maleáveis como o nosso se submetem a todos os caprichos da FIFA. A entidade subjuga o país e subverte suas leis. Foi assim na África do Sul, está sendo assim aqui.


Fazem parte dos encargos "brindes" como isenção fiscal dos produtos e serviços diretamente ligados ao evento, desde o vergalhão das arenas aos souvenires dos patrocinadores, mudanças sobre o que pode ou não ser comercializado dentro e nos arredores dos estádios e até pitacos no que diz respeito à venda de ingressos, sem contar os bilhões, isso mesmo, com "b" de bandalheira, de reais que escoarão dos bolsos de milhões para os de meia dúzia.

Tudo para podermos sediar um evento o qual não precisamos, pagando com o que não temos, para mostrar, no fim das contas, o quanto somos submissos. Como diz um velho provérbio português, quem muito se abaixa mostra o rabo.


Espiríto vencedor

Definição de equipe: Um grupo de pessoas que geralmente se une para alcançar um objetivo em comum.

Que tal substituirmos o termo ali de cima por Corinthians de 2012? Vejamos a escalação: Júlio Cesar, Edenilson, Chicão, Leandro Castán e Fabio Santos; Ralf, Paulinho, Alex e Danilo; Jorge Henrique e Liédson. Onde está o craque? O jogador que pode decidir um título para o alvinegro?
A resposta para as perguntas simplesmente não existe. O Corinthians não tem craque. Tem foco, objetivo traçado e me parece bem traçado. Quem chega se encaixa no modo de trabalhar. Se não encaixar, ganha um recado dizendo “Já vai tarde”. Adriano é a prova disso.
Douglas seria o 10 de muitos times brasileiros. No Corinthians é mais um. Mais um para esta equipe que ainda conta com Emerson Sheik, Willian e Elton entre os reservas.
E o responsável por tudo isto, tem nome, sobrenome, mas pode ser mencionado em apenas quatro letras: Tite. O antigo retranqueiro teve tempo para trabalhar, montou um esquema seguro, onde todos sabem o seu posicionamento.
Se vai ganhar, não podemos saber. O fato é que essa equipe é forte, concisa, consistente de tal forma que mesmo sem um craque pode ser considerada favorita ao titulo da Copa Libertadores da América.
Esperar o fim deste semestre, com ou sem final feliz, talvez seja a melhor solução.

terça-feira, 13 de março de 2012

Uma peça: efeito César Sampaio no Palmeiras

O ano de 2012 começou para o Palmeiras ainda com a sombra do ano anterior. Uma sombra que gerou nos torcedores certa desconfiança para o início da temporada, sobretudo com a manutenção de um elenco que para muitos é fraco. Mas foi lá em 2011 que o Palmeiras começou a acertar um novo modo de administrar suas questões internas.

César Sampaio chegou no dia 07 de novembro. Coincidência ou não, desde esta data o Palmeiras não mais foi derrotado. Felipão focou apenas o trabalho dentro das quatro linhas e seu talento inegável para montar equipes está a mostra nesta temporada.
Os reforços chegaram. Daniel Carvalho, Juninho e Barcos deram uma consistência técnica que há tempos não se via no alviverde. A base de 2011 sem brilho passa a ser o aparato para uma evolução ainda mais significativa.
É evidente que boa parte das equipes do Paulistão não tem qualidade suficiente para gerar resistência. Mas já teve o Santos de Neymar pela frente e o resultado foi de vitória.
Futebol é sim dentro das quatro linhas, porém a figura do boleiro César Sampaio ali, controlando os egos, valorizando a instituição Palmeiras é de extrema valia. Ainda é início de temporada, desafios mais complicados aparecerão para o Palmeiras. Pelo menos, por enquanto, parece que o caminho certo está sendo trilhado.

A ficha caiu

Demorou, mas o Corinthians finalmente criou vergonha na cara e dispensou os "serviços" de Adriano. O ex-Imperador nunca esteve pleno do Parque São Jorge, nunca vestiu a camisa, de verdade (mesmo porque não cabia).

Adriano é mais um caso de um talento extraordinário jogado fora. Tem uma explosão descomunal, uma força impressionante e um chute absurdamente forte. No entanto, para prevalecer, é necessário que esteja em forma, pois tecnicamente é um jogador apenas esforçado, trivial, comum.

Em momento algum ele foi sequer a sombra do jogador que arrebatou o mundo com a camisa da Internazionale e até da Seleção antes da Copa de 2006. Depois que perdeu o pai, Adriano só desceu, e a queda é vertiginosa demais, mesmo para quem só faz besteira fora de campo.

E a lista é extensa demais: foto alusiva a uma facção criminosa, foto com metralhadora, a história do pé queimado na lâmpada, a moto para a mãe do traficante, sem contar os inúmeros atrasos aos treinos. A verdade é que ele simplesmente não se ajuda, nem quer ser ajudado. O destino deve ser o Flamengo, time acostumado a contratações no estilo "me-engana-que-eu-gosto".

No filme "Boleiros - Era Uma Vez o Futebol', Ugo Georgetti mostra, pelo personagem Paulinho Majestade, vivido por Aldo Bueno, um jogador que teve fama e riqueza, mas que perdeu tudo, e vive às sombras do próprio passado. É ficção, mas a película é um retrato fiel do que acontece aos montes. Jogadores muito maiores que o Imperador, como Jorge Mendonça, George Best e, sobretudo, Garrincha, tiveram dinheiro e fama, e morreram na miséria. Adriano é milionário, mas não vê que está se afundando, e um dia o dinheiro acaba.

Aí a Balada nº 7 cantada pelo extraordinário Moacyr Franco para homenagear Garrincha cairá como um par de chuteiras feitas sob medida para o Imperador, sem o brilho do Anjo da Pernas Tortas, mas com o mesmo final previsível.

domingo, 11 de março de 2012

Já deu, né?

Nesta semana recheada de jogos espetaculares pelas duas maiores competições de clubes do mundo, Messi e Neymar brilharam envergando as camisolas de seus clubes. O Barcelona, com cinco golos do gênio argentino, cilindrou 7 a 1 no bom time do Bayer Leverkusen, na quarta-feira à tarde, pelo horário de Brasília. À noite, na Vila Belmiro, o Santos fez 3 a 1 no poderoso Internacional de Porto Alegre, com os três tentos anotados pela joia de cabelo estranho, mas de futebol impecável.

Foi o que bastou para voltarem com as comparações. Tudo bem, dessa vez o camisa 11 peixeiro não bateu um Botafogo de Ribeirão Preto qualquer, mas está longe, muito longe, longe mesmo, do 10 blaugrana. Os dois golos em que ele, Neymar, arrancou com a bola dominada desde o seu campo até dentro da baliza colorada, golaços, por sinal, eram marcados aos borbotões por outro craque paulista, o Dener, sobre quem nos foi permitido pouco mais de três anos de magia.

O próprio Neymar evita as comparações, sobretudo depois da aula aplicada em Yokohama, no treino de luxo em que virou a final do Mundial de Clubes. Messi está anos luz à frente de qualquer mortal, incluindo o português Cristiano Ronaldo, tido como rival pelo coroa da bola. Uma rivalidade criada e fomentada pela mídia que não quer, ou não sabe, trabalhar as inúmeras pautas que tem e fica enxugando o gelo da comparação Messi-Neymar-Cristiano Ronaldo. O vaidoso craque português, inclusive, está muito à frente do brasileiro.

A diferença é que Neymar repele as comparação. Ao menos nisso ele é melhor que o português.

segunda-feira, 5 de março de 2012

O circo dos horrores

No sábado fui ao Canindé assistir à Portuguesa contra o Catanduvense, pelo Paulistão. Confesso que, desde o fim da Série-B, foi o primeiro jogo ao qual assisti in loco. Não por desleixo, mas por absoluta falta de tempo.
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O que vi, malta, nem de longe lembra a equipa do ano passado. A Lusa foi um time absolutamente perdido em campo. Tinha, naturalmente, a posse da bola durante a maior parte do jogo, mas não sabia o que fazer com ela. A Lusa modelo 2012 é um time acéfalo, que corre, corre, corre e não chega a lugar nenhum. Tem uma defesa bem postada, um goleiro que continua operando milagres e um meio-campo que marca muito bem. E só.
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Com a bola no pé era o seguinte: bola com Guilherme, que passa para Boquita, que volta com Guilherme, que, sem ter como iniciar a jogada ofensiva, busca Léo Silva. Este aciona Raí, e bola para a lateral. Ou para o adversário. Ou ele tropeça sozinho. Ou erra o passe. Raí é o típico caso de engano da cigana. É inadmissível que um time que disputará a Primeira Divisão tenha um "jogador" como ele.
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No mais, Jorginho armou o time com os três trincos citados que habitualmente têm jogado. À frente, Ananias e Henrique jogavam abertos, pelo flancos, e Ricardo Jesus, isolado, brigava com os zagueiros - e com a bola nas poucas vezes em que foi acionado. Talvez assim Jorginho quisesse abrir a defesa do Catanduvense, mas não foi isso o que aconteceu, sobretudo porque Ananias esteve muito mal. 

Depois do meio tempo o time voltou com o avançado Vandinho no lugar de Léo Silva. O rombo na criação ficou maior ainda, sendo resolvido somente quando o treineiro luso sacou o inoperante Raí (óóóóó!) para a entrada de Maylson, que também é jogador de contenção, mas dos volantes lusos é o que tem melhor passe, e passou Boquita para fazer a lateral-esquerda.
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Quando o empate parecia inevitável, a bronca do torcedor foi direcionada às tribunas, onde estava o presidente Mané da Lupa. Chamado de ladrão para baixo, sugeriram que ele levasse o jogo para Catanduva, pois lá haveriam mais torcedores que os pouco mais de nil heróis que pagaram para ver o espetáculo dantesco que teve lugar no Canindé, uma vez que ele já havia vendido o mando de campo na partida contra o Corinthians.
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A Portuguesa perdeu peças-chave, é verdade, mas não repôs. Ou melhor, contratou jogadores que sequer estrearam com a camisa do time. Quando o fizerem, talvez seja tarde. Para o Paulistão, a impensáveis sete pontos do oitavo colocado, a vaca  rubroverde já deitou. Meu medo é a Série A do Brasileiro. Com cara de bate-volta, corremos o risco de ser o Duque de Caxias da elite.
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Assim, a Primeira Divisão será um enorme circo de horrores, onde o palhaço, mais uma vez, será o torcedor da Portuguesa.