quinta-feira, 27 de julho de 2023

PORTUGAL - Heroínas do mar


A história está a ser feita. As Navegadoras venceram pela primeira vez na história da Copa do Mundo de futebol feminino. E quis o destino que fosse na mesma Hamilton, onde superou Camarões para ter o direito de viver o sonho. 
É a vitória de quem sonha, de quem acredita, de quem trabalha, tem apoio e uma estrutura para transformar sonhos em feitos. 

Tudo bem, a adversária era mansinha e mostrou as garras no início do jogo para assustar, mas o fato é que, exceto pelo final da primeira parte, quando o Vietnã conseguiu sair das cordas e causar algum embaraço, a bola rolou à portuguesa, com todas as virtudes e os defeitos do jeito português de ser.

O talento da craque Kika Nazareth - que mulher maravilhosa!; a classe e a fineza de Jéssica Silva, a quem o futebol deve ao menos um golo nesta Copa; as virtudes de Telma Encarnação, que mostrou na estreia que era possível olhar nos olhos das maiores, e a quem coube a honra de marcar o primeiro. E Lúcia Alves. E Andreia Jacinto. E Joana Marchão. E toda a malta.

O 2-0, tímido para o tanto que foi criado, poderia ter sido 5 ou 6, não fosse a precipitação no momento de prosseguir com a jogada. Faz parte do processo. O tempo trará a maturidade que permite tomar as melhores decisões. 

Temos pela frente os Estados Unidos, que é o Brasil do futebol feminino, e provavelmente só a vitória contra a camisa mais pesada do mundo servirá para seguir. Temos a certeza de que a viagem está a ser bonita, mesmo não sabendo onde vai dar. Para além da dor já passamos e o abismo está logo à frente, mas o espelho do céu também.

Vamos, Portugal! Sobre a terra, sobre o mar, sobre a relva. É sobre sonhar. É sobre ser português.

domingo, 23 de julho de 2023

PORTUGAL - A História está escrita por elas

Portugal fez sua estreia em mundiais. Uma história que começou há quase meio século, foi interrompida - porque, "afinal, jogar à bola não é para raparigas - e agora é levada a sério. Pode mais.

Como mostrou poder frente às vice-campeãs do mundo. As comandadas de Francisco Neto não abdicaram do jogar à portuguesa, buscando a construção de jogo desde as centrais. Pensando neste jogo, pode ter sido um erro, pois Portugal nunca conseguiu superar a frescura e a superioridade física das neerlandesas, sempre a recuperar a posse de bola ainda na sua metade ofensiva. Pensando em longo prazo, mais do que construir jogadas, as portuguesas estavam a construir uma identidade. Saber o caminho é a melhor forma quando se quer chegar a algum lugar.

Talvez o maior erro do selecionador português tenha sido sobrecarregar os pés mais finos entre as que não vestiram laranja, os de Andreia Norton, o que acabou por fazer que a espetacular Jéssica Silva tivesse que se virar sozinha durante boa parte do tempo. Jogar sem Kika Nazareth ou Telma Encarnação desde o início também não se mostrou uma decisão muito feliz, pois não havia quem incomodasse as centrais contrárias, que sempre jogaram compactadas e em vantagem numérica onde quer que a bola estivesse.

Claro que, além disso, o nervosismo das debutantes deixou tudo mais difícil.

Na segunda parte, mais à vontade ante a grandeza do palco, já com as neerlandesas a marcar mais perto do meio-campo, Portugal pode mostrar um pouco do que é capaz. Trocas de passes, velocidade, Jéssica Silva. O empate não era mau, embora a turma que mais fez por merecer a vitória tenha sido quem realmente venceu.

Para quinta, no mesmo horário, haverá mais. E será mais um passo em busca do crescimento. O resultado, para já, é o que menos importa. Que desfrutem o caminho.

Na imagem, a emoção de Jéssica Silva mostra o que representa estar no Mundial para quem, há meio século, nem poderia jogar.