segunda-feira, 29 de junho de 2009

Somos todos iguais esta noite


Desde sexta-feira da semana retrasada, dia 19 de junho, todos os treinadores dos clubes da primeira divisão do Brasil estão com as barbas de molho. O motivo é a demissão do comandante sãopaulino Muricy Ramalho. Mas ele não está sozinho na fila do Seguro Desemprego. Uma semana depois, do outro lado do muro, foi a vez do palmeirense Vanderlei Luxemburgo esvaziar o armário.

Em ambos os casos a imprensa foi, de um modo geral, pega de surpresa. Mas quem acompanhou o dia-a-dia dos clubes, certamente, não ficou surpreso. No fidalgo São Paulo, a situação do técnico ficou muito difícil após a eliminação na Libertadores, para o Cruzeiro, em pleno Morumbi. E como é notório, a menina-dos-olhos não só dos pomposos cardeias do clube da Vila Sônia (sim, senhor!) como de toda a torcida é a competição sulamericana. O resto é o resto, como diria o fanfarrão e boquirroto presidente Juvenal Juvêncio. E daí que o Muricy venceu três brasileiros seguidos? E daí que apenas Rubens Minelli alcançara tal feito? Sem Libertadores, não apetece.

Pulando o muro, na (será?) Academia de futebol o mesmo furação também passou por lá. Após classificações quase que espíritas nas fases anteriores da Libertadores, bastava ao Palmeiras vencer o Nacional, em Montevidéu. Pra quem havia eliminado o Colo-Colo, nos acréscimos, em Santiago e o Sport, em noite de milagres de São Marcos, não parecia tarefa das mais inglórias. Enfim, como se sabe, a classificação não veio e o maior responsável, apesar dos erros da arbitragem e dos golos desfeitos pelo roliço Obina, foi o Luxa.

A direção do alviverde precisava apenas de um motivo, e o experiente treinador, inexplicavelmente, entregou a própria cabeça numa bandeja verde ao reclamar, publicamente, da parceira Traffic e do atacante Keirrison, que afastou-se por conta própria para tratar da ida ao Barcelona. Oficialmente, de acordo com o presidente Luiz Gonzaga Belluzzo, houve quebra de hierarquia. A minha impressão, desde que voltou ao clube, é que Luxemburgo ainda colhe o que plantou ao desmontar o time do Palmeiras e se mandar de mala, cuia e comissão técnica para o Cruzeiro, em 2002. Como o Palmeiras caiu, naquele ano, já viu. A coletividade italiana não aceita traição, capiche?

São Paulo e Palmeiras são rivais históricos. Durante a Segunda Guerra, em 1942, os sãopaulinos tentaram até tomar o Parque Antártica do Palestra Itália, que teve que virar Palmeiras porque ficou proibido qualquer nome que ligasse a entidade aos países do Eixo (Itália, Alemanha e Japão). Recentemente houve o caso do gás no vestiário tricolor, na semifinal do Paulista de 2008. Os sãopaulinos são notórios por sua suposta superioridade, julgando-se maiores por serem seis vezes campeões nacionais e três vezes campeões mundiais, além de ser o clube da elite paulistana. Já os palestrinos, como bons italianos que são, têm o sangue quente, apesar de serem tidos como bonachões.

Agora, como bons co-irmãos, unem-se na mesma precipitação: descartar os comandantes, a despeito das conquistas e dos projetos em andamento.

Sugestão do chef


Se, por acaso, algum de vocês quiser convidar o elmo. presidente do STF, o Ministro Gilmar Mendes, para uma merenda em sua casa, sugiro que prepare um furrundum para o seu deleite. Afinal de contas, como, em vez de jornalistas diplomados, deveríamos ser cozinheiros, nada mais justo que oferecer a "Ele" uma iguaria típica de sua terra. Quem sabe assim, pleno de saudades de casa, Ele resolva voltar pro Mato Grosso e ficar de vez por lá, deixando a presidência do Supremo para pessoas realmente sérias?

Ingredientes:
2 cidras médias (cerca de 1 kg);
1 rapadura, com cerca de 400 g, raspada ou 3 xícaras de açúcar mascavo;
1 colher (sopa) de gengibre fresco, ralado;
1 coco grande, ralado fino.

Modo de Preparo:
Lave bem as cidras, rale a casca no ralador grosso, sem atingir a polpa; deixe a casca ralada de molho em uma tigela com água fria, trocando a água várias vezes, por algumas horas ou até eliminar o sabor amargo. Escorra e esprema bem. Coloque a casca ralada em uma panela, junte a rapadura ou açúcar mascavo. Misture bem, acrescente gengibre, leve ao fogo brando e cozinhe, mexendo de vez em quando, até o fundo da panela começar a aparecer. Acrescente o coco ralado, cozinhe, mexendo sempre, por mais alguns minutos. Tire do fogo, deixe esfriar, retire pequenas porções da massa e modele, formando bolinhas.

Tempo: 5 h
Rendimento: 30 doces
Dificuldade: Moderada

domingo, 21 de junho de 2009

Furrundum e peixe com maxixe



Na semana que passou, o STF (Supremo Tribunal Federal) prestou mais um desserviço ao país: Por oito votos a um, passou a ser desnecessário o diploma superior para exercer a função de jornalista, sob o roto argumento de que a profissão não representa risco.

E já que a prática jornalística não coloca em risco a vida de ninguém, que tal termos formadores de opinião desprovidos de ética e pudor? Será que as nódoas que, por certo, ocorrerão na reputação alheia não colocarão em risco a dignidade e a honra dos atingidos?

Não que apenas nos bancos das faculdades é que se aprende a escrever. Líbero Badaró e Euclides da Cunha não me deixariam mentir, mas daí a transformar o diploma em mero bibelô vai uma diferença gritante. Ética, responsabilidade e respeito não se aprende nos BBB's da vida, lugar de onde, certamente, surgirão repórteres aos borbotões.

Trata-se de uma forma rasteira de desestimular o ensino. Além do mais, enfraquecer a imprensa é a maneira mais fácil de camuflar os descalabros cometidos pelos governantes. Aí alguém me pergunta: "Mas o STF não é independente?" Teoricamente, sim. Entretanto os ministros são indicados pelo Presidente da República. Cabe ao Congresso referendar. Justo o presidente "deste país", que lutou tanto pela liberdade. Agora, do lado de lá do poder, inebriado pelo tal, ao lado de seus velhos (e novos) coleguinhas de causa, vem tolher, cercear a imprensa, tão importante para o estabelecimento da democracia. Democracia? Ah, os conceitos chavistas ecoam como nunca por aqui.

Bom, o que nos resta é, talvez, ir aprender a cozinhar, como sugeriu o presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes (faça-se justiça, foi indicação de FHC). Conhecimento de causa ele deve ter, pois devia estar muito ocupado, preparando um peixe com maxixe ou um furrundum, pratos típicos do seu Mato Grosso, a ponto de não estar atento aos problemas realmente sérios do país.

A lógica do saco de batatas

A criação da Brasil Foods (BRF), empresa resultante da fusão entre Perdigão e Sadia, tem tido espaço considerável na mídia, seja ela impressa, digital ou eletrônica. A partir da fusão, o que eram duas empresas concorrentes passou a ser uma das gigantes do mundo no setor de alimentos industrializados.




Mas exatamente no quê esta fusão interfere no cotidiano do consumidor? Pode não parecer, mas é simples: com a dimensão que assumiu, a BRF passou a responder por uma parcela superlativa em todos os segmentos de mercado em que atuar, seja na produção de embutidos, massas ou laticínios. Em outras palavras, podemos estar diante de mais um monopólio, dentre os vários que se formaram através de outras fusões, como a AmBev ou a VPC/Aracruz.

Quem determinará se a união será válida será o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A questão é saber como o órgão irá julgar e quais suas exigências. No caso da mega cervejaria, ela teve que abrir mão de algumas das suas marcas de cerveja, para que não fosse caracterizado o monopólio. O problema, no caso da BRF, é que a generosa fatia de mercado que ela está abocanhando não é formada por marcas, mas por produtos.



Além do mais, um dos principais interessados é o presidente da Sadia, Luís Fernando Furlan, que foi ministro do Desenvolvimento no primeiro mandato do presidente Lula. Pode parecer leviano, mas em se tratando de Brasil... As manobras que antecederam outra fusão, a compra da Brasil Telecom por parte da Oi, com direito a leis concebidas “a toque de caixa”, apenas servem de alerta.

A cobertura da TV é insuficiente para esclarecer satisfatoriamente a população, pois apresenta a notícia fragmentada, e os programas que dão profundidade à discussão não alcançam um número considerável de espectadores devido ao horário em que são transmitidos. Ouve-se pouquíssimo rádio, na mesma proporção em que se procura os jornais, nas bancas, e o número de pessoas que acessam a internet para outros meios que não o lazer é ínfimo. Isso sem contar que a questão acaba pendendo pro lado do ufanismo, como se a empresa fosse “patrimônio nacional”, quando, na verdade, o país é que é solapado pelas multinacionais.

Por causa do pauperismo da cobertura midiática que alcança as massas, se formam opiniões superficiais. É a lógica do saco de batatas, onde as mais bonitas ficam por cima, e as que ficam encobertas mal servem para dar de comer aos porcos. Na briga entre o mar e o rochedo quem leva a pior é o marisco. E o marisco, no caso, pra variar, é o consumidor.