segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

PORTUGUESA - o "contra e contra todos" e a fé no trabalho

Foto: Dorival Rosa/Portuguesa

"Contra tudo e contra todos". Este tipo de frase, que coloca quem a diz como alguém antissistema, o forasteiro a ser evitado, o corpo estranho indesejado. Quem repete isso, geralmente, vê todos os méritos na sua vitória, mas é incapaz de reconhecer a capacidade do adversário, que o terá vencido só porque alguém de fora decidiu que assim seria.

Enfim, um saco.

No entanto, a torcida da Portuguesa poderá, após a vitória contra a Inter de Limeira, lançar mão do chavão: estreia fora de casa contra um adversário direto, uma arbitragem terrível e os erros técnicos e táticos comuns do início da temporada. E ainda assim a Lusa somou três pontos preciosíssimos para suas modestas pretensões no Paulistão, que são evitar a queda e garantir uma vaga na Série D do Campeonato Brasileiro do ano que vem. 

Não há limites para o sonho, mas mais que isso é lucro e exigir algo além será um delírio.

Diferentemente do que aconteceu na temporada passada, quando um time que sequer pode ser chamado disso foi "montado" e só não caiu porque os anjos e os santos estavam de plantão - não há outra explicação - naquela memorável tarde de Mirassol, e que podemos chamar de milagre, houve critério nas contratações e o nível do elenco, somado aos garotos que subiram graças ao estupendo trabalho de dupla Alan Dotti e César, respectivamente treinador e auxiliar-técnico do Sub-20, é melhor que aquilo que nos representou no certame estadual, o primeiro depois de sete anos no purgatório da Série A2.

Vimos, trajando rubro-verde, um time que quer sair para o jogo, construindo desde os centrais e apostando na velocidade no campo de ataque, também em função das características de quem estava em campo. Com o volante Zé Ricardo voltando para uma saída a três, com o apoio também dos laterais, pôde ser natada uma versatilidade inesperada pelo pouco tempo de trabalho.

Claro que a aposta da Inter, parecida na velocidade com a qual atacava, transformou o jogo em um autêntico lá-e-cá, mas os da casa eram mais felizes ao fechar espaços e apostar em um jogo menos sofisticado e mais direto. A proposta lusitana requer um time mais compacto, coeso, com jogadores próximos e isso exige que a linha defensiva atue mais longe da própria área para negar um eventual espaço entre os setores, o que faz com que erros na intermediária adversária possam proporcionar contra-ataques.

Os dois gols sofridos foram assim, com a defesa desarrumada após perdas de bola que resultaram em finalizações depois de poucos passes trocados. É bom ligar o sinal de alerta, mas é natural que isso aconteça no início da temporada, quando todos os times que disputam a competição ainda buscam padrão e têm muito o que arrumar. 

No entanto, há muitos aspectos positivos. Mesmo em desvantagem e com poucos minutos a serem jogados, os de Dado Cavalvanti não cederam à sensação do velho expediente do chuveirinho em busca do centroavante. Em vez disso, buscaram trocar passes, encontrar espaços. Nem sempre dá certo, mas é um sinal de que há crença no que se faz, como quando renovou o fôlego tendo a vitória como necessidade, em vez de segurar um empate que, dadas as circunstâncias, não seria visto como um mau resultado. Nem mesmo a desastrosa prestação da equipe de arbitragem, que deixou de assinalar um pênalti (VAR para quê?) minutos antes de a Lusa empatar o jogo pela primeira vez, ou que não exibiu o cartão vermelho quando Victor Andrade foi atingido por trás em um lance no qual a bola não estava em disputa e o uso de força foi exagerado, foi capaz de mudar o rumo do jogo e o estado de ânimo lusitano.

Obviamente, há muito o que melhorar. Nem sempre teremos um adversário tão mansinho e que ataque pouco, mesmo jogando em casa. Nos 11 próximos jogos, nove adversários são das Séries A e B do Brasileirão, mas os indícios dados na estreia são animadores e permitem, ao menos, uma estreia que nos permite esperar por uma campanha além de esperar por um milagre. E milagres, sabemos, não acontecem todos os dias.

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

THE BEST: a constrangedora vitória de Messi

A FIFA realizou sua gala anual e o principal prêmio da noite, o de melhor jogador de futebol masculino do mundo, ficou com Lionel Messi. A melhor definição desta escolha foi do jornalista colombiano Juan Sebastián Pérez: é completamente constrangedora. Neste futebol que não aceita "derrotas", a ausência do jogador na premiação é um indicativo de que nem ele acreditava que venceria.

Se você, leitor, disser que a FIFA não tem culpa pelos votos, pois não é ela quem controla isso, saiba que existe uma grande chance de você estar errado. É certo afirmar que ela não obriga ninguém a votar, mas é a entidade que define o formato da eleição e este abre margem para distorções, como foi a atribuição de melhor para quem, honestamente, sequer deveria estar entre os 10, ou até entre os 50 melhores da temporada.

Um comitê de notáveis escolhe os nomes dos postulantes, que estarão submetidos aos votos de quatro categorias distintas: jornalistas (um de cada federação filiada), técnicos das seleções filiadas, seus capitães e o público em geral, com peso igual. Aí, como a escolha é livre e subjetiva, vale tudo, inclusive não se atentar ao período que deveria ser levado em consideração. Está aqui, explicadinho pelo goal.com.

Com o título mundial fresquinho e o nome dele lá, alguém acha mesmo que o torcedor vai se importar com o período? É obvio que não. Seria simples de resolver: os próprios ex-jogadores deveria levar em consideração o que ele (não) fez no período previamente determinado e fazer seu trabalho direito. 

No formato que tem, não é raro o troféu que a popularidade pese mais que o desempenho, bem como camaradagem, idolatria e patriotada. Isso talvez explique a escolha por quem, em 2023, teve um término de chorar no PSG, no qual não foi nem sombra do que pode ser, ainda mais tendo como base de comparação o desempenho na última Copa do Mundo.

Há quem defenda a tese de que o desempenho individual deve ser mais importante; para outros, não faz sentido o vencedor não ter conquistado títulos relevantes, como a Copa do Mundo, a Eurocopa ou a Liga dos Campeões. Ter feito que fez na Copa do Mundo do Catar garantiu, com justiça, a Bola de Ouro para o argentino, embora não tenha feito mais nada de notável durante os outros meses do ano, e nem precisava. Agora, porém, nenhum critério decente explica a escolha.

Uma deturpação desta natureza já havia sido feita em 2000, quando a FIFA, na falta de algo melhor para pensar, resolveu abrir para a geral votar no melhor jogador do Século XX. A votação livre indicou Maradona, com mais de 50% dos votos. Paralelamente, a entidade promoveu a mesma eleição, mas para os leitores se sua revista e neste caso deu Pelé. Então, salomonicamente, deu o prêmio aos dois. Segundo o então presidente, Sepp Blatter, "Maradona ganhou a eleição da juventude. Pelé, a eleição da família do futebol". 

Escolhas como esta, sem base técnica que as sustentem, dão margem a este tipo de esculhambação. Ainda assim, em se tratando de um esporte coletivo, prêmios individuais valem o que valem, mas deveriam valer menos.

Este prêmio não faz dele maior. Pelo contrário, diminui o valor dos outros recebidos anteriormente, pois os vulgariza, os banaliza. Como disse brilhantemente o professor de ética em jornalismo Humberto Pereira da Silva, colunista deste blog, é uma Vitória de Pirro, comandante romano que disse depois de ganhar uma batalha com grandes perdas: "Mais uma vitória dessa e estou perdido". 

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

SELEÇÃO BRASILEIRA - Escolha óbvia e confortável

Foto: Thiago Ribeiro/AGIF

Mesmo antes do anúncio oficial por parte da Confederação Brasileira de Futebol, é possível afirmar que Dorival Júnior será o novo técnico da Seleção Brasileira masculina de futebol, em substituição a Fernando Diniz, demitido na semana passada. O São Paulo, que era dirigido pelo treinador, divulgou uma nota oficial dando conta de que o liberou para assumir o comando da Seleção, e a sua oficialização no cargo até a Copa de 2026 é uma questão de horas. 

Trata-se de um processo todo atropelado graças à absoluta falta de tato do [ainda] presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues. Primeiro, a ideia era Diniz ficar até a chegada do italiano Carlo Ancelotti, que, sabe-se, resolveu renovar com o Real Madrid. Ainda de acordo com o projeto inicial, Diniz ficaria na Comissão Técnica de Ancelotti para assumir depois da Copa do Mundo, e aí já existiria um problema que pouca gente se atentou: como um presidente que não tem mandato para lá de 2026 poderia definir o substituto para além de sua gestão?

Com a óbvia negativa do italiano, Diniz caiu porque os resultados eram muito ruins e, principalmente, porque nunca houve convicção alguma na sua escolha. No caso de Dorival, se não existe um consenso sobre quem deve ser o técnico da Seleção [raramente há], não há rejeição em torno de seu nome, que será um espécie de apito de cachorro para distrair a opinião pública nos próximos dias.

Se há um lado bom nessa escolha, é a reaproximação com o legado deixado por Tite. O treinador da Seleção nas últimas duas Copas, se não conseguiu fazer o Brasil apresentar bom futebol, deixou uma estrutura de trabalho pronta, com rotina diária e radar global em busca de informações dos selecionáveis, e isso foi jogado fora com a salomônica escolha por Fernando Diniz, que dividia seu tempo entre a Canarinha e o seu time, o Tricolor do Rio de Janeiro. Não por culpa dele, mas do aventureiro que imaginou que esta seria uma excelente ideia.

Ao romper com a própria ruptura, cai por terra essa coisa sem sentido de ter, por um ano, um treinador completamente diferente do que viria. Mas convenhamos: coerência não é o que devemos esperar da CBF.