quarta-feira, 30 de março de 2022

PORTUGAL 2 X 0 MACEDÔNIA - Seja bem-vindo, Bruno Fernandes

Ok, não era preciso sofrer tanto, mas já que foi este o fado, cantâmo-lo como sempre. Foi a terceira repescagem das últimas quatro Eliminatórias e, pela necessidade, Portugal mostrou mais talento, com marchinhas e bailaricos, em vez do fado sofrido, que é tradicional. E assim manteve o pleno para estar pela sexta vez seguida no Mundial!

Com um meio-campo leve (o mesmo que venceu os turcos), a proposta era ir para dentro desde cedo pra evitar que os macedônios colocassem correria, mas a marcação alta dos de Blagoja Milevski encurtou os espaços dos pés pensantes portugueses, colocando no jogo velocidade e intensidade que a Turquia não fez, chegando de maneira mais consistente no campo de ataque.

Como o jogo é disputado por humanos, o afã inicial foi passando e Portugal, tendo a bola no chão e talento para fazê-la rolar a seu gosto, passou a frequentar a intermediária cm mais frequência. Para ajudar, Stefan Ristovski, que disse na coletiva que tinha um pouco de português, foi um dos nossos de coração e deu uma cruzada de bola que não seria capaz nem nos seus piores dias de Sporting, e olha que foram muitos. Bruno Fernandes interceptou, tocou para o CR7 e se colocou para receber do capitão, que atraiu dois marcadores e devolveu com a doçura de um pastel de natas para o 11 abrir os serviços e estabelecer o placar com o qual as representações foram para o balneário.

No segundo tempo, precisando do resultado para operar um novo milagre, a turma dos Balcãs adiantou a marcação para novamente acelerar o jogo e reeditar as condições do início da partida, com até sete de branco no campo de ataque. Como aconteceu naquele jogo em que roçou o miserável com a Sérvia e que enviou os lusos para o purgatório da repescagem, Portugal errava passes nos poucos espaços que tinha. Contra os vizinhos dos macedônios, os de Fernando Santos não conseguiram encaixar um contragolpe. Mas ontem havia Pepe.

Aproveitando-se da leveza lusa, a Macedônia, que subia com quatro no meio e três na frente, projetou-se com seu melhor jogador, Bardhi, que tinha Miovski e Churlinov entre os zagueiros. Neste momento, Danilo e Pepe fecharam a porta a Miovski e Nuno Mendes afunilou para inviabilizar o passe para Churlinov. Cancelo baixou para apoiar Danilo e Pepe, à perfeição, tirou a bola de Bardhi. Bruno Fernandes puxou o contragolpe, limpou para Bernardo Silva e se mandou contra os desarrumados macedônios. A bola andou pelos pés de Otávio e do apagado Diogo Jota, que encontrou Bruno Fernandes livre à frente do goleiro. O passe foi para os pés do 11 e, de lá, para coroar o futebol leve e solto de uma seleção que, quase não a tempo, entregou o futebol que lhe é exigido. Aquela seleção rude e carrancuda deu lugar a um time com ideias arejadas e, empolgação à parte pela classificação sofrida, chega com a moral renovada e com novos nomes para fazer muito.

No fim das contas, um caminho sem margem de erro obrigou Fernando Santos a abandonar o pragmatismo de um time engessado. Deixe-nos sonhar, mister.
Diogo Costa: poderia ter resolvido umas palavras cruzadas no meio do jogo;
João Cancelo: o melhor lateral do mundo (nas duas, Fds!) não poderia ficar fora da Copa;
Pepe: é o tipo de jogador que você ama se joga no seu time. Joga no time do meu avô e na minha seleção. Então, EU TE AMO, PEPE!
Danilo: Rúben quem?
Nuno Mendes: não atrapalhou, o que é um grande avanço!
João Moutinho: que belíssimo trinco nos apareceu, João!
Otávio: nem me lembrei que joga no Porto. Que achado! Obrigado, Brasil, por deixar para nós!
Bruno Fernandes: belíssima estreia na Equipa de Todos Nós;
Bernardo Silva: brilhante até quando não apareceu. Não tem nenhuma Bola de Ouro? Azar da Bola de Ouro!
Diogo Jota: olha, pá... estamos na Copa e meu humor está ótimo. E ajudou seu passe teleguiado para o golo que mais pareceu um bilhete para o Catar. Mas mais uma partidas dessas, ai ai ai!
Cristiano Ronaldo: o dono desta caralha toda! Irá à quinta Copa, será o primeiro a marcar em cinco diferentes e entrará entre os 10 maiores marcadores. Tudo isso sendo campeão do mundo! E que vá pro caralho quem duvidar!
Reservas que entraram: nem vi, mas estão de parabéns!
Fernando Santos: não precisávamos sofrer tanto, mister, mas agora sabes que podemos jogar mais do que o básico.
Aos que duvidaram: que vão todos pro caralho!

sexta-feira, 11 de março de 2022

PORTUGUESA - Margem de manobra

Patrick comemora gol nos acréscimos. Zagueiro anotou o
 tento da vitória lusitana (Foto: Dorival Rosa/Portuguesa)

Quem costuma ler este blog sabe que o autor alerta sobre os problemas que algumas vitórias escondem. Vencer sem saber como é o primeiro passo para deixar de vencer. Da mesma forma, jogar bem não garante necessariamente o resultado imediato, mas é um indicativo de que, a longo prazo, as vitórias serão constantes.

O jogo com o Taubaté, porém, foi exceção. Mais que simplesmente jogar bem, a Portuguesa precisava vencer. Bem ou mal; goleando ou no sufoco; com tranquilidade ou com um gol de zagueiro aos 45 minutos do segundo tempo; tanto fazia.

Isso porque o time que deitou em todo mundo até a sétima rodada, somando 19 pontos em 21, vinha de uma sequência ruim de resultados (seis pontos de 15) e de futebol, apresentando um esgotamento físico e uma dificuldades para romper marcações. A Lusa tem sido um time estranhamente nervoso, apressado, afobado, capaz de complicar jogos teoricamente fáceis por falta de paciência para procurar por espaços.  

Como a vitória é o único alimento da confiança, era necessário vencer o primeiro dos últimos três jogos que tem com a vaga já assegurada. Melhor ainda, sem viagens e com uma semana entre as duas últimas partidas, situação inédita na competição e que pode fazer com que o time chegue nas melhores condições possíveis no mata-mata, caso seja bem aproveitada.

Por isso o time quase todo titular esteve em campo. Ainda assim, afoito, afobado, apressado para definir as jogadas e errando sistematicamente ao pé da área do Burro da Central. E tendo lapsos de lucidez somente quando a bola passava pelos pés esgotados de Daniel Costa. Mesmo perdendo um pênalti. Mesmo cansado, era a partir dele que a bola tinha critério para não bater e voltar ou ser chutada de qualquer jeito para qualquer lado.

A vitória, no futebol, deixa tudo mais leve. Vencer em momentos-chave, como o jogo de ontem, pode significar a diferença entre o time chegar à fase aguda com a moral elevada ou mais pressionado que o sétimo ano seguido da Série A2 já naturalmente o faria. 

Não é essencial fechar a fase em primeiro. Já apontei neste espaço que, desde que o atual modelo de competição foi adotado (16 times em turno único, semifinal e final), nenhum líder ao cabo da primeira etapa subiu. O importante é ir para o mata-mata nas melhores condições possíveis. Este pode ser o diferencial entre o acesso e o fracasso. E outro fracasso, honestamente, a torcida da Portuguesa não suporta mais.

Texto originalmente publicado no NETLUSA

sexta-feira, 4 de março de 2022

PORTUGUESA - Os desafios da Portuguesa para chegar ao acesso

Foto: Ronaldo Barreto/NetLusa

Diz o ditado que gato escaldado tem medo de água fria, então é natural que o torcedor da Lusa esteja com uma pulga atrás da orelha não só pela derrota para o Rio Claro – a primeira na temporada -, mas principalmente pela queda de rendimento nos últimos jogos.

Com 24 pontos, o lugar na fase de mata-mata está mais que seguro e a missão dos comandados de Sérgio Soares é chegar aos jogos a eliminar nas melhores condições possíveis, física, técnica e psicologicamente. Com jogos quase de três em três dias, não é uma tarefa das mais fáceis, mas é o que há.

A gordura de pontos acumulada permite que, mesmo tendo uma baixa de desempenho considerável, a Portuguesa possa trabalhar com uma certa folga para planejar como será feita a gestão sobre os jogadores mais experientes ou desgastados do elenco. Dos 10 primeiros colocados, que, efetivamente, brigam pelo acesso com mais seriedade e que devem preencher as oito vagas do mata-mata, a Portuguesa tem a terceira maior média de idade (27,6 anos), atrás somente de São Bento (30,3) e XV de Piracicaba (28,5). Outro ponto importante é que, ao lado do Linense, a Lusa é o time que fez mais jogos no período da manhã. Foram três jogos sob o sol escaldante do interior paulista.

Se pensarmos que estamos no início da temporada e que os times estão longe do melhor da forma física, isso pesa bastante. O time-base da Portuguesa (Thomazella; Luís Ricardo, Luizão, Patrick e Eduardo; Marzagão, Tauã e Daniel Costa; Gustavo França, Caio Mancha e Luan) tem uma média de 29,9 anos. Se considerarmos que Luizão Silva era habitual no 11 inicial até quebrar o braço, o número aumenta para 30,7.

Thomazella, Luís Ricardo, Luizão, Eduardo, Marzagão, Daniel Costa e Luan já passaram dos 30. Destes, seis jogam no meio-de-campo ou no setor defensivo, o que faz com que o elenco luso sofra um bocado não pela baixa qualidade dos jogadores, mas pela carga de jogos, viagens e treinamentos (isso quando dá para treinar) que é imposta por uma competição de tiro curto como o Paulistão A2.

O revés para o Rio Claro, time da parte de baixo da tabela, fez acender a luz amarela quanto à condição física do grupo e deixou o torcedor temeroso quanto a perder a liderança, já que o próximo adversário é o vice-líder Oeste, que assumirá a ponta caso vença. Mais que isso, o gol que sacramentou o resultado negativo aconteceu já perto do final de um jogo sofrível, quando o empate não seria mau negócio, ainda mais jogando a pedrinha que jogou. E foi um gol besta, numa saída de bola apressada e desastrada, numa trivela tão desnecessária quanto desaconselhável e que mostrou mais uma vez uma insegurança incompreensível para quem lidera um campeonato que não será decidido ao fim da primeira fase.

Ser líder não deveria ser motivo de tanta preocupação, pois desde que foi adotado o sistema de 16 clubes na fase inicial com a metade que avançar tendo que superar dois purgatórios até chegar ao paraíso da Série A1, nenhum time que terminou na primeira colocação subiu.

Ok, falar depois é mais confortável e é óbvio que o nível de confiança visto no torcida no início do campeonato voltará quando o nível do futebol for o mesmo da primeira metade desta fase porque é assim que funciona.

Retomando o raciocínio, em 2021, o Oeste não só terminou em primeiro, como fez a maior soma de pontos (36) no atual formato, mas quem subiu foi o São Bernardo FC e o Água Santa; em 2020, o mesmo São Bernardo fez 28 pontos e liderou ao fim da primeira fase, mas viu São Bento e São Caetano comemorarem. No ano anterior, o Água Santa chegou ao mata-mata como maior pontuador (31), mas Internacional de Limeira e Santo André foram para a primeira divisão. Somente em 2018 líder, Guarani, terminou a fase inicial como líder (31) e comemorou acesso e título, mas a segunda fase já era a semifinal, portanto, precisou superar somente um adversário.

Evidentemente, isso não significa que quem tiver a melhor campanha terá assinada a sua sentença de permanência nessa desgraça de campeonato, mas mostra que chegar com pernas, pulmões e cabeças em condições de brigar bem na hora do vamos ver é mais importante que ser o coelho da corrida. Ainda mais porque a única vantagem que o estúpido regulamento da competição garante a quem tem mais pontos é decidir em casa, normalmente contra times que jogam fechados até quando são mandantes.

“Bela merda”, diria meio saudoso pai.

Ele também diria “Faça bem feito para fazer uma vez só”. Então, que o trabalho no Canindé seja assim, bem feito, para que dispute só mais essa vez, para nunca mais, a maldita Série A2.

Texto originalmente publicado no NETLUSA

terça-feira, 1 de março de 2022

PORTUGUESA - O perigo das vitórias e os pés no chão

Foto: Dorival Rosa/Portuguesa
Foto: Dorival Rosa/Portuguesa

No livro Pep Guardiola – A Evolução (2017), o autor, o jornalista espanhol Martí Perarnau, fala das inspirações do treinador. No capítulo 6, ele cita um dos maiores influenciadores na mentalidade do atual treinador do Manchester City, o enxadrista azerbaijano Garry Kasparov. Segundo o grande mestre do xadrez, “ganhar cria a sensação de que tudo está bem e que a complacência é um inimigo perigoso”.

Aí o leitor rubro-verde pode perguntar: “Mas que raios isso tem a ver com a Lusa?”. Tem, e muito. A Portuguesa venceu o Velo Clube no último sábado (26) e alcançou 24 pontos na classificação, o que deve ser suficiente para já ter garantido um lugar no mata-mata que determinará os dois times que subirão à elite do futebol paulista em 2023. E venceu jogando, talvez, a pior partida nesta competição.

Noutro dia aqui mesmo eu comentei que é ótimo poder corrigir os erros enquanto o time vence os jogos, e é mesmo. Contra o Velo, um dos adversários da parte de cima da classificação e postulante ao acesso, a Lusa apresentou-se errando muito, com dificuldade para se recompor após as perdas de bola, excesso de erros de passes em todas as fase de construção e o principal: foi perdulária quando teve chances de ampliar o placar e encaminhar uma vitória tranquila.

Em vez disso, pôs-se a jeito e quase perdeu dois pontos no final, quando o enorme Thomazella impediu o gol de empate ao defender o pênalti pessimamente marcado pelo terrível árbitro da partida. O lado bom é que venceu. A parte melhor ainda é que Sérgio Soares ficou bastante insatisfeito com o que viu, em que pese o fato de o campo de jogo ser uma vergonha – em Portugal, seria classificado como um batatal -, ter um sol para cada um em Rio Claro e a maratona de jogos começar a pesar sobre pés mais esclarecidos, como os de Daniel Costa.

Os jogadores lesionados estão voltando aos poucos e Soares terá, a cada dia mais, um elenco com mais opções para dar descanso aos mais exigidos e outras formas de perfurar retrancas mais e mais fechadas, como temos visto duas vezes por semana. Mas o mais importante de tudo é o que a entrevista de pós-jogo do treinador demonstrou: que é preciso corrigir os erros e que não é influenciado pelo excelente aproveitamento conquistado ao alertar que, lá na frente, errar assim pode ser fatal.

E se tem algo que o processo de reconstrução da Portuguesa não permite é ser aplacado por alguma fatalidade, como um dia ruim do time ou do árbitro. Bola para subir, o time já mostrou que tem. Elenco, também. Mentalidade vencedora, então, está sobrando. Mas não dá para contar sempre com a sorte.

Texto originalmente publicado no NETLUSA

A primeira vítima da guerra

"Numa guerra, a primeira vítima é sempre a verdade". A frase é do senador republicano Hiram Johnson.

É indiscutível que toda guerra é lamentável. No mais, eleger Putin, que é um grande desgraçado, como o malvadão da história e desprezar todo o contexto histórico (de longa data e atual) e geopolítico da região, é um erro e não será com meia dúzia de vídeos ou textos no Facebook ou de um blog cujos textos são majoritariamente sobre futebol masculino (como este, por exemplo), que alguém terá a base necessária para entender bem o negócio.
Da mesma forma, desprezar a interferência norte-americana na região - e isso não é novidade nenhuma -, com o apoio ao Euromaidan e a ascensão de grupos neonazistas ao poder - e isso tem os dedos de Obama e de Biden, que também tem as digitais no Brasil pós 2013 -, é limitar demais a análise. No meio desse preto e branco, tem muito cinza para entender.
Ponto.

É preciso também lamentar, mas não se surpreender, com o lodaçal racista que impregna a mídia, que se entristece com os loirinhos de olhos azuis que estão morrendo ou tendo que se refugiar, mas que caga gloriosamente para a Guerra Civil do Iêmen, só para citar um exemplo.
Da mesma forma, bater palmas para a ação coordenada de COI, FIFA e UEFA, que decidiram agora que invadir o território do vizinho (atentem-se ao contexto geopolítico, por favor) é feio, mas nunca moveram caralha de uma palha contra o histórico intervencionismo americano, ou mesmo quando a Rússia foi lá anexar a Criméia, em 2014 (teve Copa em 2018), ou admitir o indigesto e inaceitável estado de Israel, mesmo com os ataques à Palestina, é, no mínimo, seletivo, para não dizer hipócrita.