quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Jogos Vorazes das Organizadas

Faltando pouco mais de quatro horas para o jogo entre Vasco e Corinthians, o pau já cantou entre alguns dos ordeiros membros de torcidas organizadas (não os chamarei de torcedores. Não são). Como hoje em dia é tudo mais difícil, este blog deixa claro que não tem nada contra as torcidas organizadas, e sim contra essa meia dúzia de vagabundos que se infiltram nelas e comentem toda sorte de imundícies.

Não adianta picas ficar dizendo que deveria prender, que fazem o que fazem por causa da impunidade e o escambau de Madureira. Então, tenho uma sugestão para que todo mundo fique feliz: um reality show!


Sim! Um reality show, desses aí que existem ao montes. Mas não um qualquer. Seria uma espécie de Jogos Vorazes. Imaginem: um terreno baldio, duas ou mais equipes e uma única regra: sair vivo. Afinal de contas, se se matar é o que eles querem, vamos fazer de um jeito divertido.

Existiriam provas de resistência, como assistir a um jogo de futebol que não seja do seu time; de raciocínio, como a tabuada do cinco ou frases inteiras sem erros de concordância; ou mesmo dos dois juntos. Provas difíceis pra eles, como cantar algo que não seja o hino do próprio clube. Pode ser Parabéns pra Você, Atirei O Pau No Gato ou qualquer porcaria que a Xuxa gravou. Aí quem ganhar escolhe as armas (tacapes, correntes, porretes, pedras ou mesmo sinalizadores navais) para usar nos confrontos, que é quando eles praticam o que sabem de melhor. que é trocar porrada entre si.

Aí, na segunda temporada, poderíamos incluir os Barras Bravas de toda a América do Sul e os Ultras da Europa. A carnificina seria sucesso absoluto. 

No fim, ganha quem conseguir sair de lá andando. Os perdedores, um caminhão de lixo passa e leva embora.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Para o gasto

FREGUÊS PREFERENCIAL Douglas Costa (à dir) marcou seu segundo gol
pela Seleção Brasileira, o segundo contra o Peru (André Mourão/MoWA Press)
A atuação do Brasil na vitória sobre o Peru, se esteve longe de ser primorosa, não deu espaço para sustos. Tá certo que o adversário é uma piada, o que não permitiu trocadilhos do tipo "o Peru tá começando a crescer", mas o fato é que, mesmo sem lá muita convicção, Dunga pode ter, finalmente, encontrado uma formação equilibrada.

Sem um camisa 9 de ofício trocando cotoveladas na área (e pela falta de jogadores para disputar com o santista Ricardo Oliveira a função), o Brasil jogou com Neymar um pouco mais à frente, mas tendo a companhia de dois jogadores abertos (William e Douglas Costa, o melhor em campo), o que não o sobrecarregou.

No meio, Elias e Renato Augusto aproveitaram o entrosamento que têm no clube e, como não tinha quem marcar, Elias pôde até sair para ajudar na armação, deixando a função de cão de guarda a cargo do Luiz Gustavo, que não foi o ladrão de bolso furado (rouba aqui e perdi ali) que é de costume. Como tudo deu certo até antes do jogo, a expulsão idiota de David Luiz no empate com a Argentina abriu espaço para a entrada de Gil. Se Dunga for minimamente esperto, o cabeludo peladeiro não volta mais ao time titular.

Vale repetir que o adversário não exigiu o mínimo esforço para ser batido e não houve brilho por parte da Seleção, muito também pela atuação abaixo da crítica do – sabe-se lá por quê – capitão. Se Neymar estivesse em um dia normal, a vitória por 3 a 0 seria ainda acachapante.

Resta saber se, em caso de adversários mais duros que o Peru (viva os trocadilhos), Dunga manterá o desenho tático e as funções desempenhadas em campo. Na sua volta ao comando da equipe nacional, ele venceu apenas Peru e Venezuela em partidas oficiais, na Copa América e nas Eliminatórias. E não convenceu em nenhum destes jogos.  

Resta saber também se o próprio Dunga continuará como selecionador. Eu não apostaria um bolinho de bacalhau nisso.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O jornalismo na lama

Helicóptero sobrevoa área atingida por avalanche de lama, 
em Bento Rodrigues (Antônio Cruz/Agência Brasil)

Que na última quinta-feira um desastre ambiental praticamente riscou do mapa Bento Rodrigues, distrito que fica (ou ficava) em Mariana (MG), não é novidade para ninguém. O que salta aos olhos é a passividade de parte da imprensa na cobertura do que alguns veículos chamaram de acidente, como se fosse algo inevitável ou mera obra do acaso.

Pior que isso, é a preguiça, para não dizer jornalismo mal intencionado. O jornalismo não aceita a mera reprodução de um release com a versão da empresa como reportagem. Nem é preciso adjetivar como sério, pois o jornalismo que não é sério não pode ser tratado como jornalismo.
  
O jornalista existe para instigar; para intrigar; para investigar; para incomodar. Sempre que vejo a inércia desse "jornalismo" insosso, me lembro do que diz o professor e historiador Fabio Venturini de quem tive a honra de ser aluno e hoje tenho a sorte de ser amigo: os jornalões e emissoras de TV, que são a mídia tradicional, não passam de empresas burguesas, que visam lucro. Elas querem deixar as coisas como estão, pois têm interesse nisso. E o interesse não é o leitor ou espectador.

Um jornalismo engajado e honesto derruba até um presidente de uma nação poderosa (Nixon que o diga), mas aí teria que ser engajado e honesto. Se você, jornalista que me lê, discorda, eu lamento, mas você está fazendo isso errado. E muito. E erra feio, muito feio.


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Sobre Neymar, arte e futuro

É DE PLACA Neymar corre para abraçar Suárez
 depois do gol antológico (Josep Lago/AFP/Getty Images)
Por Leandro Marçal*
Quem estiver lendo este texto no ano de 2100 saberá que em 8 de novembro de 2015, há 85 anos, Neymar fez um gol antológico aos 40 minutos do segundo tempo na vitória do Barcelona por 3 a 0 sobre o Villarreal, pelo Campeonato Espanhol.

Agora que ele já se aposentou, vou lhes dizer algo que os livros de histórias sobre o futebol não vão contar: em minha época, quando ele goleava, fazia obras de arte em gramados de futebol, rivalizava com os maiores de sua época e ainda havia os que teimavam em contestá-lo de alguma forma.

Inveja, despeito, raiva, ódio? Não sei. Mas ainda que ele registrasse na história um lance antológico como este que deixou o narrador Paulo Andrade, que transmitia o jogo pela ESPN Brasil (ainda existe a ESPN?), sem palavras para descrevê-lo, sempre havia alguém para desqualificá-lo com comentários do tipo: “Ah, mas não foi um chapéu”.
NOSSA SENHORA! Neymar aplica o chapéu em Jaume Costa
 e vai para a rede (Josep Lago/AFP/Getty Images)
E antes disso ouvíamos coisas como “ele só joga como craque no campeonato paulista”, “dão muita moral para esse moleque”, “ele não é protagonista na seleção”, “ele se acha demais”. Como se fosse necessário ser santo para ser craque. Como se não fosse permitido ter talento. Como se ele tivesse culpa em ser uma ilha de enorme talento num oceano de mediocridade que inunda o futebol brasileiro.

Para vocês deve parecer estranho, pois ele já deve ter ganhado prêmio de melhor do mundo algumas vezes, deve ter vencido mais um caminhão de títulos e uma tonelada de recordes deverão ter sido batidos depois destas linhas.

Mas saibam que, ainda assim, em 2015, arrumavam alguma forma de contestar seu talento dentro de campo. Acreditem!

Não sei se quando lerem essas insignificantes palavras ele terá vencido uma Copa do Mundo para a Seleção Brasileira, tomada de assalto há algum tempo por uma Confederação desnecessária. Também não sei se com o passar dos anos viraremos o jogo do atraso, no qual estamos perdendo de muito tempo com dirigentes e autoridades mancomunados com o que mais de podre existe: roubos, individualismo, interesses espúrios, falta de coletividade.

Só sei que há 85 anos eu pensava há mais de dez anos que há mais de 100 o futebol também era capaz de produzir obras de arte. Que como todas as outras, devem apenas ser apreciadas para que sejamos tocados.

Paulo Andrade tinha razão: ninguém é capaz de descrever o que ele fez. Nem hoje, nem em 2100.

*Leandro Marçal é um jornalista de 24 anos, torce pelo Tricolor Paulista
 e por um mundo menos hipócrita e com mais bom humor.
E, apesar do nome de sambista, é incapaz de tocar um reco-reco.
Ainda assim, é o Rei da Noite de São Vicente.