segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Sobre Neymar, arte e futuro

É DE PLACA Neymar corre para abraçar Suárez
 depois do gol antológico (Josep Lago/AFP/Getty Images)
Por Leandro Marçal*
Quem estiver lendo este texto no ano de 2100 saberá que em 8 de novembro de 2015, há 85 anos, Neymar fez um gol antológico aos 40 minutos do segundo tempo na vitória do Barcelona por 3 a 0 sobre o Villarreal, pelo Campeonato Espanhol.

Agora que ele já se aposentou, vou lhes dizer algo que os livros de histórias sobre o futebol não vão contar: em minha época, quando ele goleava, fazia obras de arte em gramados de futebol, rivalizava com os maiores de sua época e ainda havia os que teimavam em contestá-lo de alguma forma.

Inveja, despeito, raiva, ódio? Não sei. Mas ainda que ele registrasse na história um lance antológico como este que deixou o narrador Paulo Andrade, que transmitia o jogo pela ESPN Brasil (ainda existe a ESPN?), sem palavras para descrevê-lo, sempre havia alguém para desqualificá-lo com comentários do tipo: “Ah, mas não foi um chapéu”.
NOSSA SENHORA! Neymar aplica o chapéu em Jaume Costa
 e vai para a rede (Josep Lago/AFP/Getty Images)
E antes disso ouvíamos coisas como “ele só joga como craque no campeonato paulista”, “dão muita moral para esse moleque”, “ele não é protagonista na seleção”, “ele se acha demais”. Como se fosse necessário ser santo para ser craque. Como se não fosse permitido ter talento. Como se ele tivesse culpa em ser uma ilha de enorme talento num oceano de mediocridade que inunda o futebol brasileiro.

Para vocês deve parecer estranho, pois ele já deve ter ganhado prêmio de melhor do mundo algumas vezes, deve ter vencido mais um caminhão de títulos e uma tonelada de recordes deverão ter sido batidos depois destas linhas.

Mas saibam que, ainda assim, em 2015, arrumavam alguma forma de contestar seu talento dentro de campo. Acreditem!

Não sei se quando lerem essas insignificantes palavras ele terá vencido uma Copa do Mundo para a Seleção Brasileira, tomada de assalto há algum tempo por uma Confederação desnecessária. Também não sei se com o passar dos anos viraremos o jogo do atraso, no qual estamos perdendo de muito tempo com dirigentes e autoridades mancomunados com o que mais de podre existe: roubos, individualismo, interesses espúrios, falta de coletividade.

Só sei que há 85 anos eu pensava há mais de dez anos que há mais de 100 o futebol também era capaz de produzir obras de arte. Que como todas as outras, devem apenas ser apreciadas para que sejamos tocados.

Paulo Andrade tinha razão: ninguém é capaz de descrever o que ele fez. Nem hoje, nem em 2100.

*Leandro Marçal é um jornalista de 24 anos, torce pelo Tricolor Paulista
 e por um mundo menos hipócrita e com mais bom humor.
E, apesar do nome de sambista, é incapaz de tocar um reco-reco.
Ainda assim, é o Rei da Noite de São Vicente.

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