domingo, 16 de janeiro de 2022

50 anos do estádio do Canindé

Corria o ano de 1956 quando a Portuguesa adquiriu, do São Paulo, o terreno do Canindé. Para que pudesse abrigar os jogos da equipe de futebol, foi construída uma arquibancada de madeira e um campo oficial cercado por alambrados. Como ficava na várzea do Rio Tietê, o local ganhou o simpático apelido de Ilha da Madeira. 

Antes do Tricolor, porém, o terreno pertenceu a um clube da colônia alemã, o Deutsch Sportive. Por causa da perseguição promovida contra os clubes ligados aos países do chamado Eixo (Alemanha, Itália e Japão), na Segunda Guerra Mundial, os germânicos resolveram vender o terreno antes do seu iminente confisco. 

 

O jogo inaugural, realizado no dia 11 de janeiro de 1956, envolveu a Portuguesa e um combinado dos times do Palmeiras e do São Paulo. E a Lusa começou bem, vencendo por 3 a 2, tendo o primeiro gol do jogo - e, portanto, do estádio - sido marcado pelo são paulino Nelsinho. 

 

Com o passar do tempo e a abnegação dos grandes homens que fizeram a história da Portuguesa, as bancadas de madeira foram dando lugar à estrutura de concreto que existe hoje. Em 1972, na gestão do saudoso presidente Oswaldo Teixeira Duarte, a Lusa realizou algumas partidas para marcar a inauguração do primeiro anel da arquibancada, então com capacidade para 10 mil torcedores. 

 

O convidado para a primeira partida foi o Benfica, de Portugal. Naquela tarde, devido à chuva torrencial que desabou sobre a capital paulista, o jogo foi interrompido aos 33 minutos da etapa complementar, quando o placar anotava 3 a 1 a favor dos Encarnados. Marinho Peres, de pênalti, marcou o primeiro tento da Lusa na nova casa, à época com o nome de estádio Independência. Coube a Vitor Batista, porém, a honraria de anotar o primeiro tento. da nova casa rubro-verde. 


Confira a ficha técnica do primeiro jogo do Estádio do Canindé: 

 

Portuguesa 1 x 3 Sport Lisboa Benfica 

Data: 9 de janeiro de 1972 

Árbitro: Oscar Scolfaro 

Gols: PORTUGUESA: Marinho Peres (de pênalti, aos 10 minutos do segundo tempo); BENFICA: Vitor Batista (aos 17 minutos), Jordão (aos 22 minutos do primeiro tempo), e Simões (de pênalti, aos 12 minutos do segundo tempo) 

Portuguesa: Aguilera, Deodoro, Marinho Peres, Calegari e Fogueira; Lorico e Dirceu (Luís Américo); Ratinho (Xaxá), Cabinho, Basílio e Piau. Técnico: Rubens Minelli;

Benfica: José Henrique, Da Silva, Messias, Rui Rodrigues e Adolfo; Toni e Vitor; Nenê (Artur), Vítor Batista, Jordão e Simões. Técnico: Jimmy Hagan


O craque Eusébio viajou com a comitiva benfiquista, mas, lesionado, não entrou em campo. O mesmo valeu para Carlos Alberto Torres, emprestado pelo Santos para atuar no jogo festivo, mas sua participação limitou-se a trocar as flâmulas com Simões, capitão do Benfica, e a posar com o time na foto oficial da partida porque também estava machucado.

 

Nos outros jogos realizados em torno do evento, chama a atenção a partida realizada contra o Željezničar, da antiga Iugoslávia (atual Bósnia e Herzegovina). Naquela partida, a Lusa contou com o reforço do craque Roberto Rivellino, emprestado pelo Corinthians apenas para aquela ocasião, fato comum na época. O placar foi de 2 a 0 para a Portuguesa, e o Reizinho do Parque marcou, de pé direito, um dos gols da Lusa. 

 

Outro jogo marcante entre os inaugurais da casa portuguesa foi disputado contra a Seleção do Zaire. Djalma Santos, com 42 anos, fez sua última partida defendendo as cores da Lusa. Ele atuou por 30 minutos e foi substituído por Cardoso para ser aplaudido de pé pela torcida e cumprimentado por todos os jogadores que estavam em campo.

 

No ano seguinte se iniciaram as obras de construção do anel superior, que ainda hoje abriga as cabines de imprensa, as tribunas e camarotes e as cadeiras numeradas cobertas. 

 

Em 1981 foi realizado um torneio em comemoração à inauguração dos refletores. Era um quadrangular com a participação de Corinthians, Fluminense e Sporting (POR). A Lusa venceu o Fluminense nos pênaltis, por 4 a3, após empate por um gol no tempo normal. Do outro lado, os Leões bateram o Corinthians por 1 a 0. Na decisão, vitória da Lusa por 2 a 0, gols de Caio e Beca. 

 

Três anos depois, o presidente Oswaldo Teixeira Duarte foi imortalizado com a maior homenagem que poderia receber: a casa portuguesa passou a se chamar oficialmente Estádio Dr. Oswaldo Teixeira Duarte. 

 

O maior público da história do Canindé foi observado quando 29.465 pessoas assistiram ao clássico Portuguesa 1 x 0 Corinthians. Em se tratando de público pagante, porém, nenhuma partida supera as quartas-de-final do Brasileirão de 1998. 25.491 pessoas pagaram para ver a vitória da Lusa sobre o Coritiba, por 3 a 1, no dia 15 de novembro. 


A casa portuguesa completa 50 anos. Meio século de um sonho que se tornou realidade em 9 de janeiro de 1972, chamado de Estádio Independência. Independência, mas poderia se chamar Orgulho, Amor ou Fé, que são os sentimentos que nos movem, que nos guiam, que nos sustentam. 


Em tempos de arenas modernas, de elitização nos estádios, de obras nababescas sem alma e pasteurizadas sob o padrão FIFA, o lugar onde nos sentimos à vontade é o humilde e nosso Canindé. É o rio que corta a nossa aldeia. É onde nós nos encontramos com os nossos, é onde temos a sensação de pertencimento. É o nosso lugar no mundo. É o nosso lar.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Lusa na Copinha - esperança com moderação

Texto originalmente publicado no NetLusa

100% Lusa venceu a Copinha em 91 com a melhor campanha
da história da competição. De quebra, revelou
jogadores como Sinval, Tico e Dener


Entra ano, sai ano e, todo ano, a fé do torcedor da Portuguesa floresce na disputa da Copa São Paulo de Futebol Jr. É na Copinha, vencida pela Lusa em duas oportunidades e que na qual irá estrear neste dia 4, que germina a esperança por dias melhores na forma de dois ou três pratas-da-casa capazes de segurar a bronca no time de cima.


A reputação de reveladora de craques acompanha a Portuguesa há muito tempo e é natural que o torcedor veja nas categorias de base e, principalmente, na Copinha, a possibilidade de que surgirão os talentos que poderão ajudar a reforçar o elenco principal sem que, para isso, seja preciso disputar com outros clubes por jogadores já prontos no mercado. 


Dá para fazer vários e vários times só com grandes nomes que saíram da formação lusitana: Djalma Santos, Zé Maria (os dois), Bruno Rodrigo, Zé Roberto, Guilherme, Henrique, Basílio, Enéas, Diogo Edu Marangon, Esquerdinha, Jair da Costa, Ivair, Servílio, Dener, Sinval, Tico, Jorginho, Bentinho, Ricardo Oliveira, Leandro Amaral, Rodrigo etc. Isso sem contar vários atletas que passaram pela base do clube, como o volante Paulinho, os zagueiros Geromel e Breno, e o meia Everton Ribeiro, para citar alguns que não chegaram a estrear profissionalmente na Lusa.


Antes de esfregar as mãos à espera de uma nova fornada ou de um jogador especial, é preciso ter calma e entender momentos e processos. O que é necessário para formar um jogador? Qual é a condição e quais as condições que o clube oferece aos aspirantes a profissionais? Não é tão simples. Ou melhor, não é nada simples.


Até outro dia, as categorias de base do clube estavam terceirizadas, entregues a empresários que usavam o nome e a camisa da Lusa como incubadora para direcionarem os mais talentosos para onde fosse mais interessante para eles, não para a Portuguesa. Em condições assim, o clube tem pouco ou nenhum poder de interferência na sequência da carreira destes garotos.


Isso deve-se, não raro, ao fato de o clube não ter condições de bancar o necessário para a formação de um atleta de alto rendimento, que é o caso do jogador de futebol. Desde 2016 a Portuguesa não tem o Certificado de Clube Formador, selo outorgado pela CBF mediante a comprovação de que o clube tem condições de garantir que seus jovens atletas tenham uma formação adequada. Sem ele, um clube pode perder qualquer jogador entre 14 e 16 anos sem que seja ressarcido por isso.


Isso já faz com que exista a grande possibilidade de, uma vez detectado antes de assinar seu primeiro contrato profissional, uma promessa seja desviada e sequer atue em nível de competição pelo clube. Quem perde com isso? A resposta é óbvia. Fazendo um rápido exercício de memória, qual foi o último grande jogador revelado pela Lusa? Ou então, quantos jogadores nos elencos das principais equipes do futebol brasileiro foram revelados no areião do Canindé, que nem existe mais?


Com as finanças minguando e não tendo nem para o profissional, que é o carro chefe do clube como um tudo, o que sobra na base é uma estrutura precária, seja ela física ou nos outros aspectos inerentes à formação do atleta, e nem é preciso dizer que o surgimento de um jogador acima da média não se dá da noite para o dia. É um processo longo, de altos e baixos, de paciência e que envolve inúmeros fatores, técnicos, estruturais, educacionais e culturais. 


Quando um atleta está inserido no clube desde a categoria mais baixa, seja o Sub-11, que deve ter caráter recreativo, ou o Sub-15, no qual começa a cultura de competição, as chances de chegar mais bem preparado ao time principal e em condições de se estabelecer como atleta profissional são maiores. Mesmo que chegue ao clube no decorrer deste percurso, ele precisa de um ambiente pronto e bem alicerçado para que se encaixe, coisa que quem sequer tinha autonomia sobre as categorias de base há pouco tempo não pode oferecer.  


Portanto, não há nada de errado em torcer para que surja um novo Dener no time que jogará a Copinha. O que é preciso entender é que, caso a campanha não seja satisfatória, não será necessariamente um fracasso ou sinal de terra arrasada, mas sim um passo a mais dado na recuperação da própria Portuguesa. E essa é uma recuperação em que critério, trabalho e paciência valem ouro, assim como é necessário para a revelação de um craque.


Em 2002, Lusa ficou com a taça, mas torneio revelou poucos jogadores.
Da Portuguesa, o volante Lelo, o meia-atacante Rafinha, o goleiro
Daniel e o zagueiro Luis Henrique tiveram algum destaque