sábado, 24 de novembro de 2012

Lágrimas de felicidade em Hiroshima


*por Vinícius Carrilho

O sábado foi de definição na J-League. Em casa, o Sanfrecce Hiroshima goleou o Cerezo Osaka por 4 a 1, viu o Vegalta Sendai ser derrotado, em seu estádio, pelo Albirex Niigata e comemorou, com uma rodada de antecedência, o primeiro título da J-League da sua história. Lágrimas marcaram esta conquista.

Apesar do Sendai receber o penúltimo colocado, todos pareciam já saber que o título iria para Hiroshima naquele dia. Antes da partida, a TV Japonesa exibiu um clipe de abertura mostrando momentos históricos do time, como o vice-campeonato de 1994, a queda para a J-League 2 e o retorno para a elite. No fim, declarações de Hisato Sato, que está na equipe desde 2005.

Principal figura da temporada, o camisa 11 mostrou-se muito emotivo. Antes mesmo do apito inicial, Sato já derramava suas primeiras lágrimas ao receber uma homenagem do clube. Com a equipe perfilada, flores foram oferecidas ao ídolo.

A tarde gelada e o campo molhado não impediram que o Sanfrecce Hiroshima começasse a partida em um ritmo fortíssimo. Embalado por sua torcida, o destino do time já parecia traçado. Aos 16 minutos, a informação do gol sofrido pelo Vegalta Sendai chegava à Hiroshima e no minuto seguinte, após uma ligação direta da defesa para Hisato Sato, a bola foi tocada para Takahagi, que tentou um passe, foi interceptado e, no rebote, emendou de fora da área para o gol, acertando o canto esquerdo do goleiro.

Daí em diante, os donos da casa dominaram o jogo. Quatro minutos mais tarde,  Aoyama ampliou e no final do primeiro tempo, após um pênalti muito duvidoso, que resultou na expulsão de um defensor do Cerezo Osaka, foi a vez de Hisato Sato deixar sua marca na partida histórica. Logo aos cinco do segundo tempo, Ishikawa, que substituía o titular Mikic, ampliou, com uma generosa ajuda do goleiro. Este, aliás, foi o único gol em que Sato não participou. Onze minutos depois, de cabeça, Edamura diminuiu para o time de Osaka e deu números finais à partida.

O jogo serviu para, mais uma vez, mostrar pontos fortes e fracos do campeão japonês. Em clima de natal, o treinador mais uma vez apostou em sua tática maluca, que lembra uma árvore, mas desta vez deu certo. A velocidade pelas pontas e a marcação apertada se destacam como ponto forte da equipe. Outro aspecto curioso é que quase todas as bolas precisam passar pelos pés de Hisato Sato. Em certos momentos, a impressão é a que se o camisa 11 não encostar na bola, o time irá desconsiderar aquela posse. O ponto fraco realmente é o sistema defensivo, principalmente nas bolas aéreas. Muitos erros também acontecem na saída de bola da defesa. Os jogadores parecem se envergonhar de usar o velho recurso do bicão, saem tocando e acabam dando a bola de graça, em seu campo de defesa, para o adversário.

No fim, muita festa em Hiroshima. Aliás, a premiação da federação japonesa é extremamente interessante e poderia ser copiada do outro lado do mundo. Enquanto um pódio era montado, os autores dos gols e o treinador eram entrevistados para a TV e o som transmitido para o estádio, causando grande euforia. Todos, sem exceção, choraram e gritaram a plenos pulmões. “Arigatou gozaimasu” foi repetido à exaustão.

Na premiação, medalhas para os jogadores e, antes do belíssimo troféu da J-League, uma peculiaridade deste sensacional campeonato. O time vencedor recebeu um bandeirão, em formato de flâmula, comemorativo do título. Após isso, coube ao craque-ídolo-capitão-dono do time-batedor de pênaltis-atacante-armador e, se bobear, até roupeiro, Hisato Sato, consumar aquele momento histórico.

Como a J-League reserva sempre surpresas, o último ato da festa, que foi transmitida para o mundo pela TV estatal japonesa, foi curioso e provocou risadas. A cena vista era a de uma equipe formada por 26 japoneses e um croata, de uma das mais japonesas das cidade, cantando, em bom espanhol: “¡Campeones!¡Campeones! Olé! Olé! Olé!”. Pois é, coisas que você só vê na J-League.

* Vinicius Carrilho tem 21 anos, é estudante (quase formado) 
de Jornalismo, morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida 
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.

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