sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Benfica 3 x 0 Standard Liège - pera doce à europeia



Ao fim do Benfica 3, Standard Liége 0 pela Liga Europa, o ex-benfiquista Medih Carcela disse que os encarnados pareciam o Barcelona, tamanha foi a posse de bola no campo ofensivo. O marroquino, campeão português e da Taça da Liga na temporada 2015/16, esteve de volta à Luz, como exatos 4.785 adeptos, nesta completa loucura de tentar retornar alguma normalidade no dia em que 40 pessoas morreram em decorrência da Covid-19 em Portugal

Isso serviu para dar algum tempero à partida, já que Jorge Jesus inventou de falar que a comparação só terá sido boa se for com o Barcelona de outras épocas, não com o de agora e, também na falta de algo melhor para fazer, alguns jornais catalães consideraram que houve ali uma provocação. Certamente, os culés esquecerão da crise que culminou com a demissão de toda a direção para pensar n'alguma resposta à altura.

Ao menos serviu para divertir um pouco o pós jogo de uma partida que colocou frente a frente dois times completamente inversos. Um, mesmo com as rotações promovidas pelo treinador, a ter a bola e buscar o ataque durante todo o jogo, e outro, que tinha lá uma série de desfalques graças aos efeitos da pandemia e que não teve a menor vergonha de jogar para impedir que o adversário marcasse.

Ao fim e ao cabo, deu tudo certo para os da casa: rodaram o elenco (Pedrinho começou o jogo), testaram soluções (como Diogo Gonçalves na lateral direita) e venceram a sétima partida seguida na época, desta feita sem sustos.  

A estratégia do técnico Philippe Montanier até que funcionou bem na primeira parte, com todos os jogadores praticamente amontoados num 5-4-1 da intermediária para trás, transformando o goleiro Vlachodimos no gajo, entre os presentes na Luz, a melhor observar as regras de distanciamento social. Foi assim durante quase todo o jogo, tendo sido chamado a intervir uma única vez, e num chute apertado do zagueiro Zinho Vanheusden. Com o pouco atrevimento dos desfalcados visitantes, que não seriam lá grande coisa com o time completo, o Benfica pode atuar com dois laterais que jamais serão lembrados pelos dotes defensivos e com somente Gabriel como volante de ofício, tendo à frente Pizzi com liberdade para fazer o que quisesse em campo, com Pedrinho a ajudar na construção, embora a jornada tenha sido infeliz.

Enfrentando um time estático e fechado no tal 4-5-1, sendo o 1 um gajo que não deve ter tocado à bola cinco vezes, o Benfica finalizou sete vezes na primeira parte, tendo só duas a direção do golo, mas em chutes de fora, defendidos sem maiores protestos por Bodart. Isso ainda porque a movimentação do trio Everton, Waldschmidt e Darwin Núñez transformava a vida da defesa belga num verdadeiro inferno, mas com pouco espaço para meter a bola no golo.

Isso tudo ruiu em cinco minutos na volta do intervalo, quando Rafa voltou para o lugar do brasileiro que ainda não desencantou com a águia ao peito. Todos os visitantes estavam no campo de defesa, mas nenhum tentou encurtar os espaços de Diogo Gonçalves, que avançou como quis e acionou Waldschmidt na área, que fez tentou proteger a bola, mas foi atropelado por Bope. Pizzi foi chamado à cobrança e, sem pulinhos ou ressaltos, deslocou o goleiro para abrir o marcador.

A névoa grossa e cerrada que impedia o avanço se dissipou com o golo e a obrigatoriedade de quem já havia perdido na estreia de buscar uma melhor sorte, e os espaços apareceram. O segundo golo também foi de pênalti, num lance que teve o passe perfeito entre linhas de Gabriel para Nuno Tavares, e que, honestamente, não pareceu lá uma falta muita clara - nem se foi falta ou sequer se foi dentro da área. Em vez do capitão, foi lá Waldschmidt encher o pé esquerdo, cruzado, no canto alto de Bodart.

Darwin então foi descansar após o serviço de desbravar as linhas belgas cumprido e Seferovic, de menor movimentação, mas de boa presença na área, estava em campo. E foi ele quem recebeu de Pizzi pelo alto e brigou com os três ou quatro de preto que lá estavam, e a bola ficou novamente com Pizzi, já dentro da área. Ele ajeitou para o pé direito e bateu buscando o ângulo. A bola ainda tocou às costas de um azarado Bope antes de encobrir o goleiro e fazer a alegria dos quase cinco mil que se aventuraram a ir à Luz.

Daí até o fim da noite, foi torcer para que algo interessante acontecesse e que justificasse uma citação além de um protocolar texto de pós jogo entre dois times tão díspares. Ainda bem que esteve lá o Carcela, que ao fim ainda trocou a camisola com o compatriotaTaarabt.

Vlachodimos: podia ter assado umas castanhas para ajudar a passar o tempo e espantar o frio;
Diogo Gonçalves: já ao fim do jogo, o Standard teve a chance de diminuir o placar, mas um decidido Diogo Gonçalves resolveu mostrar ao mister que também sabe defender. Pronto, já é um lateral melhor que o Gilberto; 
Otamendi: se ainda resta alguma dúvida quanto à abnegação do argentino, olhem o carrinho que ele deu à altura do meio-campo. É argentino, caraças! Como podem duvidar disso?
Vertonghen: viste como fizeste bem em escolher o Benfica para a reforma em vez de voltar ao seu país, Jan? 
Nuno Tavares: noventa e tantos minutos sem que eu reclamasse. Que evolução, miúdo, tua e minha;
Gabriel: entediado, resolveu dar um passe para o "pênalti" sobre o Nuno Tavares. Parece que saiu descontente. Descansa, pá. Há o Boavista na segunda e tu deves jogar (Weigl: outra partida tranquila para arrumar uma boa transferência em janeiro);
Pizzi: se alguém achava que o nível no nosso Luís Miguel diminuiu, pergunte aos gajos que lá foram à Luz. Ou pergunte ao Waldschmidt (preciso dar um nome mais fácil de digitar ao alemão que sabe jogar à bola da equipa), que estreou-se a marcar com a águia ao peito por competições europeias só porque o capitão concedeu a bola para bater a segunda grande penalidade. Pensando bem, creio ter sido estratégico, já que andou a desperdiçar algumas na época passada e não seria agora, com alguns adeptos à bancada, que daria a chance de ser assobiado (Gonçalo Ramos: mais um que aproveitou a noite benevolente do capitão, que saiu para que ele estreasse em jogos internacionais pela equipa principal. E olha que já sabe o que é perder uma final europeia com o sub-23. Não lhe falta nada, pois);
Pedrinho: o empresário do miúdo disse que o Pedrinho não ficaria um ano em Portugal. Devo dizer que pode ter razão, mas imagino que a saída deverá ser pela vontade do Benfica de que ele se vá, mas não de Portugal. Eu apostaria Vila do Conde ou Guimarães (Rafa: nem precisou ser brilhante para melhorar o nível. Bom, acho firmemente que bastava por o pé no relvado para isto);
Everton: chegará o dia em que o Cebolinha fará chorar os adversários com golos, além das grandes atuações. Estas já tem, falta só a outra parte. Na verdade, já os tem feito chorar, assim como a nós, que viveremos o inferno das janelas de transferência enquanto estiver por aqui;
Waldschmidt: a cada partida eu me pergunto: por que raios não trouxeram o alemão no começo do ano? Se era pelo excesso de alemães, que deixassem o outro para agora, quando veriam que nem era preciso (Taarabt: entrou para trocar a camisola com o Mehdi Carcela. Foi um reencontro bonito dos gajos que só se vêem quando servem à seleção);
Darwin Núñes: mais um que não ficará a tempo de ser bicampeão nacional (Seferovic: "Entra lá e faça o que sabes de melhor, pá", teria dito o Jorge Jesus. Ele entrou, trombou com os gajos de camisola diferente da dele e assim nasceu o terceiro golo. Sucesso absoluto);
Gaitán: nem precisou de espaço para meter uma trivela linda no ângulo, de fora da área. Que golaço na estreia a doer do Nico. Ah, foi pelo Braga, não pelo Benfica. Ainda não estou pronto para vê-lo com uma camisola em Portugal. Nunca estarei.

  

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Benfica 2 x 0 Belenenses SAD - rodando para a História

ROTINA Quatro golos em dois jogos destravam veia goleadora de Darwin em Portugal (Guater Fatia)

A última vez que o Benfica arrancou no Campeonato Português com cinco vitórias em outros tantos jogos foi em 1981/82, quando era treinado pelo sueco Sven-Göran Eriksson. Naquela época, idos 38 anos, foram 11 vitórias seguidas no arranque do Campeonato. Ao longo da história, foram apenas nove as vezes em que os encarnados tiveram o registro intacto ao cabo de cinco jogos. Com Jorge Jesus ao leme, já é o melhor início, uma vez que ele havia alcançado 13 de 15 pontos disputados em três ocasiões. Só pelo Sporting é que o mister fez o pleno em seis jornadas (2017/18), o que estará em jogo de hoje a oito, com o Boavista, no Bessa.  

Esta, pois, não é uma marca vulgar. Bater o Belenenses SAD permitiu aos encarnados restaurar a diferença em cinco pontos para Porto e Sporting, tendo os Leões um jogo a menos, a ser cumprido esta semana contra o Gil Vicente, em Alvalade. E isto numa das partidas menos conseguidas do Benfica na temporada no que diz respeito à intensidade, excetuando-se, claro, a desastrosa digressão à Grécia, que ditou o afastamento precoce da Liga dos Campeões e, queiram ou não, condicionou o restante da temporada. 

Com o excesso de jogos no início da época pesando às pernas, com duas viagens ao meio, a rotação do time titular, que aqui no Brasil é motivo de dias de discussão e toneladas de tinta deitadas fora, já começou. E sem traumas. Gabriel, Pizzi e Waldschmidt não apareceram no 11 - o luso-brasileiro sequer ficou no banco -, dando seus lugares para Weigl, Rafa Silva e Seferovic. E foi por aí que o nulo do placar foi desfeito, em uma jogada que mostrou a sintonia e a sincronia das peças, sejam ou não habituais no time titular.

Eram cinco elementos encarnados - seis, se contar Weigl, que ficou à espreita na entrada da área - contra oito tipos todos em azul. Everton arrancou com a bola na meia esquerda tendo à frente a linha de cinco defensores mais para a direita do que deveria. O 7 buscou Rafa, que fez o movimento para sair da área e trouxe dois marcadores com ele, mas nenhum dos outros seis de Petit fez o combate a Grimaldo, que se aproximava e recebeu a bola sem marcação. No momento do cruzamento de primeira, outros dois estavam no encalço de Darwin, na entrada da pequena área; dos restantes, um tentou chegar em Grimaldo, outro seguiu Everton e houve um que guardou a sobra que nunca aconteceu, pois foi Seferovic quem testou no segundo pau, como se o marcador que sobrou, o lateral esquerdo Rúben Lima, nem ali estivesse, numa disputa desleal em que um, o vencido, tinha 1,75m, pouco para barrar o avança do suíço com seu 1,89m.

Pouco mais de um minuto depois, o segundo golo não saiu porque o pé esquerdo do guardarredes André Moreira impediu, na jogada que começou em Vertonghen, passou por Grimaldo, pelo pivô perfeito de Darwin na intermediária para a passagem em velocidade de Everton, que só parou no camisola 1.

Tudo bem que era um adversário muito manso, mas nota-se os frutos do trabalho de Jorge Jesus, ainda mais contra uma defesa que só havia sofrido dois golos nos quatro jogos anteriores, imaculada em três deles. Só que, se sofre pouco, o Belenenses SAD também cria quase nada, tanto que em meia hora a turma de Petit não havia sequer dado um chute no gol de Vlachodimos, expectador de luxo da partida. Naturalmente, o ritmo benfiquista baixou e a parte azul do que sobrou do Dérbi de Lisboa finalizou três vezes em cinco minutos, além do gol anulado pelo impedimento de Silvestre Varela.

Uma pachorrenta segunda parte só foi desfeita depois de um quarto de hora, quando os habitués titulares Pizzi e Waldschmidt renderam o apagado Taarabt e Seferovic, respectivamente. Weigl recuou para a cabeça-de-área, Pizzi postou-se à frente e Rafa subiu para fazer o quarto homem do meio, tendo o avançado alemão a fazer companhia para um Darwin um pouco mais espetado. Aí um festival de golos falhados começou: passe de Everton para Waldschmidt, que não viu Darwin e concluiu para fora; passe de Rafa para Darwin, que preferiu bater com força a servir o alemão em lance que André Moreira defendeu. 

A movimentação constante quase resultou quando o uruguaio até marcou, recebendo passe precioso de Waldschmidt, mas havia impedimento, primeiro do alemão quando acionado por Everton; depois, de Darwin, meia régua escolar à frente. Foi só o ensaio para o segundo golo da noite, finalmente o primeiro do 9 pela Liga. Gilberto, compondo pelo meia a marcação, desarmou Varela, Pizzi baixou para recolher a bola e chamar Weigl perto da própria área; e o alemão, outra vez em grande plano, deu um passe de 30 metros em progressão para o outro alemão, que deu a volta na marcação e serviu para Darwin tirar no mesmo drible um zagueiro, o goleiro e apenas rolar para matar o jogo, numa tranquilidade que contrastou com a dor de cabeça que terá Jorge Jesus para arrumar o time, que precisará de mais rotações, para a Liga Europa, a começar por Grimaldo, que saiu machucado.

Vlachodimos: um balde d'água teria a mesma serventia;
Gilberto: passei 90 e poucos minutos sem reclamar do gajo. Atípico, pois;
Otamendi: sobre a braçadeira de capitão estar com ele, só uma coisa: estou e pensar se recolhi a roupa do varal e o tempo está a mudar para chuva;
Vertonghen: a melhor escolha da vida dele foi ter a um campeonato mais calminho para a reforma. Chame a isso de planejamento de carreira;
Grimaldo: doeu na alma quando o pequeno Alejandro saiu de maca com as mãos no rosto. Que não seja nada (Nuno Tavares: desta vez não entrou para cumprir a cota da formação em campo);
Weigl: vi o Julian dando carrinho, buscando passes verticais e cada vez mais solto. Talvez as críticas deste de quem lês tenham sido injustas, mais pelos culpados, menos pelos motivos;
Taarabt: foi bonito o Adel a jogar para comemorar o prolongamento do contrato. Espero que o mister passe a usá-lo em jogos mais difíceis. Não gastemos talento à toa (Pizzi: de jogador mais festejado e de Seleção Portuguesa ao gajo que joga onde for preciso e sem reclamar. Se humildade tem nome, é composto e chama-se Luís Miguel);
Everton: não jogues tanto nos jogos com maior visibilidade, caro Cebolinha, ou então vem um Atlético de Madrid e te leva (Samaris: voltou, entrou e levou duas cacetadas sem dar nenhuma. Atípico, pois);
Rafa: caso exista justiça neste mundo, a Sega trocará o porco espinho azul por um tipo de barba escura e camisola vermelha (Pedrinho: ouvi dizer que o gajo já ganhou seis quilos de massa muscular. Já imaginaram quando aprender a chutar? Aí vai dar até para ponderar pagar por ele);
Seferovic: nem deram conta, mas o Haris já leva quatro golos neste começo de época (Waldschmidt: depois dizem que o Bayern não deixa escapar nada na Alemanha);
Darwin Núnez: que raio acontece que a multa rescisória do miúdo uruguaio ainda não é de 500 milhões? 


 


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Lech 2 x 4 Benfica - reorganizar a casa


Inúmeros são os reality shows que abordam de tudo sobre tudo: namoro, negócios, vestuário, estilo, confinamentos em casas e fazendas para se aferir o pior do ser humano, arrumação. Neste último tipo, espaços são pensados para que o aproveitamento seja o máximo, qualquer que seja o tamanho disponível. 

Não é o caso, mas talvez Jorge Jesus encontre a inspiração necessária para reorganizar a casa, ou melhor, o sistema defensivo, que perdeu o elemento que mais se adequa ao que o treinador quer para o restante da época. Sem André Almeida - já não contava com Rúben Dias, mas era algo previsível sem os milhões da Champions -, foi chamado Gilberto, o reforço menos destacado para a temporada.

As dificuldades ficaram claras e só não deitaram a estreia na Liga Europa porque a turma da frente esteve em um dia dos mais inspirados, principalmente Darwin Núñes, que fez gosto ao pé, à cabeça e mostrou seu farto arsenal para justificar o maior investimento na história encarnada e do próprio futebol português. 

E começou como JJ gosta: pressão na saída de bola, blocos altos para retomada rápida e golo de Pizzi em um pênalti, quando Waldschmidt cruzou a bola na área e  encontrou o braço de Dejewski. Logo depois, porém, a primeira amostra do quanto será necessário arrumar a cozinha. A linha toda à altura do meio de campo e não houve quem resolvesse, pelas laterais ou pelo meio, a ruptura causada pelo passe a Czerwinski em velocidade até chegar aos pés de Ishak, livre à frente de Odisseas para empatar.

A tática polonesa era clara: atrair o Benfica e chegar no menor tempo - e números de passes - possível até o centroavante, quando muito passando pelos pés dos ibéricos Pedro Tiba (em má jornada) e Dani Ramirez (em muito bom plano). Também colaborou o fato de Taarabt, clássico e em busca do melhor passe, ter começado no lugar de Rafa Silva, velocista e grande ladrão de bolas dentro do sistema de JJ, mas que ficou no banco porque o treinador sabia que o Lech pouco trocaria passes na altura do meio.

O cobertor curto só foi resolvido quando Pizzi, que era dúvida, deu o lugar a Rafa, na volta do intervalo. Pouco antes, Gilberto já havia colocado a bola na cabeça de Darwin com a precisão típica dos laterais brasileiros, e recolocado os encarnados à dianteira, num placar injusto. Na volta, porém, em troca de passes, o Lech voltou a empatar ao encontrar falhas no movimento defensivo entre o central argentino e o lateral brasileiro.  Se na primeira parte foi no espaço existente entre Grimaldo e Vertonghen, desta feita, foi no meio de Gilberto e Otamendi, com Rafa mal na foto ao estar sem função na frente da área, quando saiu a tabela curta, o chute de Kaminski e o aproveitamento na recarga de Vlachodimos na cabeça de Ishak, que bisou na partida. 

As linhas fechadas dos da casa impediam os passes verticais de Gabriel e Taarabt, mas não foram suficientes para parar umas das raras combinações entre Grimaldo e Everton, que buscou o jogo pelo meio e achou Darwin de costas, se apresentando para a tabela. O uruguaio, no entanto, resolveu ele mesmo a parada ao girar, meter uma caneta no marcador, Cmormakovic, e bater sem resposta na saída de Bednarek.

Praticamente acabou ali o jogo para os da casa, ainda mais depois que o treinador Darius Zuraw respondeu às mexidas de Jesus (Weigl e Pedrinho nos lugares de Taarabt e Waldschmidt, e depois Tavares na vaga de Grimaldo) tirando seus melhores jogadores para tentar a ligação direta para Cacharava, um desastre cipriota de 1,98m, que até recebeu boas bolas, mas nunca teve capacidade de converter em algo que chegasse próximo a oportunidades claras de gol. 

Ainda houve tempo para que Darwin fizesse o terceiro, com ele mesmo a começar a trabalhar a jogada ao buscar, à esquerda, a aproximação de Gabriel, que buscou Pedrinho, que segurou até a passagem de Gilberto o tempo suficiente para este abrir o necessário para encontrar Rafa na área. Ele levou ao fundo e encontrou o 9 quase dentro do gol, já desmarcado de Dejewski para resolver a questão e abrir, em grande, seu lugar na galeria dos marcadores benfiquistas. 

Pouco mais de 300 quilômetros separam Poznań da portuária Gdansk, na Polônia, onde será disputada a final da Liga Europa. Vi no zerozero.pt que foi na Polônia também que Jorge Jesus fez, pelo Estrela da Amadora, seu primeiro jogo em competições europeias, há pouco mais de duas décadas, em uma cidade chamada Chorzów, perdendo nos pênaltis pela extinta Taça Intertoto.  

É, pois, um país de recordações para o treinador benfiquista, que somou mais uma às que já tem na estreia pela Liga Europa, competição na qual o Benfica não participava da fase de grupos já há pouco mais de uma década, coincidentemente, pelas mãos de JJ. Para voltar às terras polacas, o mister terá que arrumar a casa a partir da sua defesa. E com as peças que tem, tal e qual acontece nos reality shows de arrumação.

Vlachodimos: achas que é sempre que vais sair sem sofrer golos, Ody?
Gilberto: "Vai-te ao inferno" foi a frase que falei para o Gilberto ao menos umas sete vezes. "Grande trabalho!", foi a que eu disse duas vezes; 
Otamendi: segundo parte da imprensa portuguesa, pior que um dos golos do Lech ter saído pelo seu lado foi o fato de Otamendi ter terminado a partida como capitão. Um escândalo, pois, dado o passado portista e o pouco tempo na Luz. Escândalo mesmo é deitar tinta fora por isso;
Vertonghen: a difícil vida de um senhor de quase 33 anos e meio que tem de correr, já consagrado, tendo Grimaldo ou Nuno Tavares ao lado;
Grimaldo: a saída do jogo foi seu melhor momento (Nuno Tavares: a quantidade de ar que deslocou ao errar a bola dentro da sua área foi a mesma que eu gastei num sonoro e intempestivo "Ah, vá pra pqp, Nuno Tavares!"); 
Gabriel: no Brasil, chamamos de 'pau pra toda obra' um gajo que faz o que o Gabriel tem feito algures nos jogos do Benfica, seja na construção, seja na criação. As botas pretas dão um ar operário ao melhor jogador da época;
Taarabt: mais algumas atuações destas e tu estarás no Wolverhampton. Não sei se gosto ou não disto (Weigl: não falei que estarias melhor no banco? Até podes saltar de lá às vezes, que não comprometes);
Pizzi: caro Luís Miguel, trate de imitar as grandes partidas do seu amigo Bruno Fernandes também. O saltinho na grande penalidade é um bom começo, mas não basta (Rafa: felizes os adeptos que têm Rafael Alexandre na equipa. Titular ou não, a magia e a entrega são as mesmas. Pode até deixar crescer a barba à náufrago, que é um direito que só os grandes têm);
Éverton: o único ponto ruim de ter um titular da Seleção Brasileira no time é ter a certeza de que não durará muito (Jardel: por falar em durar muito...);
Waldschmidt: chegamos àquele estágio em que, se o Gian-Luca não resolve o jogo, tendemos a achar que não esteve lá tão bem. Não nos leve a mal, mas somos injustos (Pedrinho: segue apanhando, mas soube que já ganhou seis quilos de massa muscular. Mais uns 15 e já estará mais pesado que o Fernando Farinha); 
Darwin Núnez: o último jogador que fez o que tu fizeste pelo Benfica foi o João Félix. Três golos, a jogar para a equipa, a rir-se a cada vez que fazias um golo, como se isso fosse o mesmo que buscar o jornal ao passeio e fartar-se com as tirinhas do Garfield na volta, até passar pelo alpendre. Vais render alguns muitos milhões, certamente, mas renda alguns troféus antes, SFF.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Manchester City 3 x 1 Porto - Poucas ideia


"Poucas ideia, mano!" É isso o que a gente costuma falar lá em Diadema, onde fui criado e vivi por mais de 30 anos, quando a gente está disposto a resolver algo sem demora, sem lá muito - ou mesmo qualquer - diálogo. A paciência está no fim? Poucas ideia, mano! Não merece atenção? Poucas ideia, mano!

Foi assim, sem dar muita trela aos adversários, que o Porto chegou à Liga dos Campeões. Qualquer que fosse o oponente, buscava resolver sem meios termos a parada. Sem precisar trabalhar muito a bola quando a tinha. Direto ao ponto. Poucas ideia para o contrário. 

Para a Liga dos Campeões, porém, palco onde a discussão acontece em outro nível, Sérgio Conceição sabia que teria que mudar o argumento para tentar ter razão no fim. Saiu o 4-4-2 para entrar um 5-4-1, com Mbemba, Pepe e Sarr no miolo de zaga, Zaidu e Corona nas laterais; o meio com Uribe, Sérgio Oliveira, Fábio Vieira e Luis Díaz e, na frente, o operário Marega. Como o City tem o jogo construído a partir do trio de centrais apoiados ainda por um médio que lá volta para apanhar a bola, os espaços no campo de defesa portista eram, invariavelmente, fechados em bloco pelos visitantes.

Claro que a questão era chegar em um menor tempo possível no gol de Ederson quando tivesse a bola nos pés, mas sem pressionar alto para não espaçar tanto o time. Resultou cedo, quando Rúben Dias foi sair jogando e tentou buscar Bernardo Silva, num erro made in Seixal. Uribe interceptou um bocadinho após a linha do meio-campo e acionou Luis Díaz. O colombiano se aproveitou do caminho que Marega abriu ao levar três dos de azul claro para a área, invadiu em diagonal, levou mais para o lado para atacar o espaço aberto por Fábio Vieira, e bateu cruzado. Um golaço que coroava uma estratégia até então perfeita.

Se em Portugal bastaria para fazer o jogo ficar à feição tripeira, na Liga dos Campeões é preciso mais. Uma desatenção dupla - do sistema defensivo e do árbitro, que não viu um pisão de Gundogan em Marchesín - e a entrada estabanada de Pepe em Sterling no ressalto da bola de Agüero na trave culminaram no pênalti marcado e não invalidado pelo VAR, que não considerou falta no goleiro. E o 1 a 1 veio dos pés de Agüero, que quase pararam nas mãos do arqueiro argentino.

Aí faltou a sorte que sobra em competições domésticas: Marega, cara a cara com Ederson, teve a bola para devolver a vantagem ao Dragão e até superou o tipo com luvas que estava à frente, mas não passou por Walker, praticamente sob o travessão a tirar a bola.

O fado foi o mesmo para a segunda parte. O Porto a fazer um jogo seguro, sólido, mas sem o poderio para definir os detalhes que desatam os nós mais apertados. O adversário, porém, mais apetrechado, foi quem chegou à vitória no golo de falta de Gundogan, em lance muito reclamado pelos de Sérgio Conceição e que ainda fará correr muita tinta. 

Em desvantagem, a estratégia do Porto já não servia mais e Conceição desfez o 5-4-1 para reabilitar o habitual 4-4-2, mas foi o City quem, sem lá muita negociação, chegou ao golo em remate de Ferran Torres após rápida entrada em diagonal e corte seco em Pepe.

Fica a sensação agridoce de ter feito um grande jogo, mas insuficientemente para regressar ao Porto com pelo menos um ponto. As "poucas ideia" que bastam em Portugal não chegaram para a Liga dos Campeões.  

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Rio Ave 0 x 3 Benfica - uma questão matemática


O Benfica 2020-21 vai se ajeitando. Avarias sempre visíveis à parte, é bom frisar, o carro encarnado começa a desenvolver o ritmo de quem se reforçou para dominar tudo o que tiver bola a rolar e que envolva equipas portuguesas. Contra o bom time do Rio Ave, o que se viu no relvado no Estádio dos Arcos foi um domínio total de quem se preparou - dentro e fora de campo - para vencer.

E venceu como venceu porque conhece o adversário, porque sempre teve mais jogadores onde realmente interessava. Jorge Jesus armou a equipa sabendo que o Rio Ave é um time apreciador o jogo construído desde o campo de defesa. Subiu sua linha de defesa à altura do meio-campo e colocou seus 10 elementos de linha todos no campo do adversário, que tentou manter-se fiel aos seus princípios e não mudou a forma de jogar. 

Os valores mataram-no, portanto.

Já ao sexto minuto, a marcação sob pressão resultou. Rafa e Everton abriram  nos alas e obrigaram um desastroso Aderlan Santos a procurar pelo socorro de Geraldes, mas a bola nem chegou ao ex-leonino, sendo interceptada por Gabriel; Rafa alçou na área, Darwin raspou para o segundo pau, onde o calcanhar de Everton desarmou tudo o que era verde e branco e deixou para Waldschmidt encher o pé com gosto.

Um gentil Waldschmidt roubou diretamente da fonte - o pé de Aderlan - e, em vez de ele mesmo resolver com o mesmo afã do sexto minuto, ofereceu a Darwin, ainda virgem de golos com a águia ao peito, mas o VAR flagrou o jovem uruguaio quase meio metro à frente do último defensor. Novamente, o VAR encontrou 10 centímetros do miúdo alemão quando recebeu a bola de Darwin. Mas a dupla voltou a funcionar quando Pizzi, já nos acréscimos, lançou bem pelo alto para o uruguaio, que ganhou na força e no jeito de Ivan Pinto e segurou o necessário para que chegassem não um, mas três de encarnado - ou algo parecido - para concluir. Chegaram Rafa, Everton e Waldschmidt, e foi o alemão que dominou e escolheu o canto mais aprazível para dilatar o placar. Quatro contra um. E 2 a 0 no marcador, desta vez sem contestação.

O mal de Mario Silva foi não se preparar para a resposta de Jorge Jesus. Numa das poucas vezes em que foi o Benfica a errar a saída de bola, haviam Pizzi, Gabriel e Vertonghen para proteger Vlachodimos, que apenas encaixou a bola, que chegou amortecida pela perna do belga. Não havia, por parte dos vilacondenses, um plano de contenção, e quando a escolha é sair jogando curto como saiu, era necessária uma cobertura para quando perdesse a bola. Nunca houve e a vantagem no escore não condisse com o que foi a primeira etapa. 

Naturalmente, as pernas que ocuparam o campo de ataque se cansaram no segundo tempo e o Rio Ave finalmente respirou e achou espaços, mas nunca superou os dois centrais, que fizeram sua primeira partida juntos e pareciam que se conheciam há muito tempo. Aí surgiu uma das boas novidades de Jorge Jesus para o ano: Gabriel, que deixou de buscar passes longos para desmarcar companheiros mais próximos, agora por baixo, e, apoiado por um Weigl cada vez mais bem colocado em campo, se oferecer para ele mesmo terminar as jogadas, como aconteceu já ao pé do minuto 90, quando Pizzi recebeu de Waldschmidt e colocou na cabeça de Seferovic. A bola picou e sobrou para Gabriel bater com força, com gosto, na melhor atuação dos da Luz até aqui, e contra um Rio Ave que exigiu o máximo do Milan e que ainda não havia perdido na época. Só não foi uma jornada sem arranhões porque André Almeida saiu gravemente lesionado, logo no início do jogo, após um choque com Carlos Mané.  

Vlachodimos: obrigado por não falar bem o Português para não entender quando os parvos pediam outro guarda-redes;
André Almeida: volte logo, Almeidinhos (Gilberto: quando me preparei para reclamar da demora para voltar, o gajo que veio daquele time cujo nome não falo me apare
ce do nada e trava um chute que parecia ser daqueles que fazem o Ody mostrar que já aprendeu o baixo calão português);

Otamendi: maroto! Fez um jogo terrível na estreia para que os vilacondenses achassem que seria a mesma coisa;

Vertonghen: onde estavas no ano passado, Jan? A essa altura, o Rúben Dias já seria o melhor zagueiro do mundo apenas só por te ver. Dá para fazer o mesmo com o Ferro? 
Grimaldo: com estes centrais, pode se ocupar em dançar ao pé de Everton Cebolinha. Manafá que se cuide!;
Gabriel: chegamos àquela fase perigosa em que o Gabriel faz a diferença e vai para o DM por períodos longos o suficiente para que o Porto abra distância. Que dure;
Pizzi: o Bernardo Silva de Bragança. Tudo bem, exagerei, então, Luis Miguel, ajuda-me a fazer a comparação sem causar o riso dos dragartos e de toda a gente sensata que há por aí;
Rafa Silva: podes deixar a barba crescer para que eu tenha o que comentar além da exuberância assassina de quem ataca os espaços e os adversários como se fossem defensores franceses ao pé do Ederzito? (Nuno Tavares: como estão as aulas de cruzamento, pá? Sem que jogues, não sabemos. Não estou a reclamar, é claro);
Everton: no dia 17 de janeiro há marcado o jogo com o Porto. Se não for pedir muito, podias dar um passe destes de calcanhar na frente do Marchesín e do Pepe? Continuas cá em janeiro, não? (Weigl: já estou a visualizar-lhe a vestir a camisola do Wolverhampton em janeiro, Julian. Vais gostar);
Waldschmidt: sabes aquela bola que deste para o Darwin? Entendemos que queres retribuir os passes dele para os seus golos, mas não te preocupes, que os dele já já aparecem. Até lá, espero que continues a nos iludir antes que vás para o Atlético de Madri ou para os Wolves. Ah, não és do Jorge Mendes! Então irás passar de meia época aqui; 
Darwin Núñez: quando fores às ordens do Tabares, irás observar como o Suárez e o Cavani fazem. É ver, aprender e trazer para cá, pá (Seferovic: como assim não meteste um golo ao menos, Haris? Estou a brincar, foi bonito usares as pernas do gajo de verde e branco para o Gabriel fazer gosto ao pé. Espero para ver o que farás àqueles que usam essas cores também, e que são mais fáceis).

    

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Portugal 3 x 0 Suécia - sem Ronaldo, há Diogo Jota


Quando Ronaldo testou positivo para a Covid-19, a pergunta que ficou no ar... - Não, melhor evitar esta metáfora. Retomando, a questão a ser respondida foi: há vida sem Ronaldo? A resposta é simples: há, como houve no 4 a 1 com a Croácia.

Uma questão puxa outra e a inevitável - e descabida - polêmica instaurou-se: Portugal é mais forte sem seu melhor jogador? A resposta é óbvia: não,  mas é diferente. E, nestas diferenças,  Fernando Santos armou a melhor versão portuguesa possível sem sua referência, para deleite dos 5 mil adeptos que lá estiveram enquanto ainda é possível haver adeptos e futebol. 

Ora  muito bem! O 11 inicial de Portugal foi anunciado e viu-se um time praticamente como era esperado (ao menos por mim), com exceção de João Moutinho, que ficou no banco para que Danilo e William formassem a dupla de trincos em campo,  com o camisola 14 um pouco mais à frente. Assim, Bernardo Silva, com a saúde e disposição que Deus lhe deu, teria que andar mais para trás para fazer a bola rodar com mais qualidade desde o nascedouro das jogadas e Bruno Fernandes poderia transitar perto da área enquanto João Félix e Diogo Jota revezariam entre o setor esquerdo e o centro da área.  

Em três minutos, duas chances claras criadas davam a noção do que seria o jogo. O primeiro aviso foi de Diogo Jota, em tiro rasante a passar rente ao poste, pouco antes de William Carvalho acertar a trave. Outras chegadas sem lá tanto perigo dos dois lados, mas com um domínio territorial e de ações dos de Fernando Santos. Até que, num momento de pressão na saída de bola em que Rúben Dias subiu até o campo de ataque e cortou a tentativa de ligação direta dos suecos, Bruno Fernandes dominou bem, no meio de três de amarelo, que se esqueceram de um Diogo Jota "enronaldado", que serviu Bernardo Silva e este meteu de esquerda, de primeira, com curva,  a pelota dentro da baliza escandinava. 

Um golo com um toque de casa centro de formação dos grandes: começou no Alcochete, passou pelo Olival e foi o miúdo do Seixal quem desfez o nulo do placar. 

Sabem o que isso significa? Exato: absolutamente nada. Apenas uma coincidência para preparar o terreno para o que veio depois: uma Suécia fisicamente em dia, mas sem os pés lúcidos de  Forsberg para desbravar a defesa onde Pepe era - e é - rei, por cima, por baixo e por onde viesse a bola. Para azar dos visitantes, quase nunca ela chegou ao capitão Marcus Berg, único homem capaz de causar algum embaraço à malta lusitana, como quando girou na área e balançou a trave de Rui Patrício. 

O lance coincidiu com o momento mais baixo de Portugal no jogo, em que espaços eram concedidos, mas a falta de ideias dos visitantes, aliada à enormidade chamada Pepe, fazia com que raramente houvesse hipóteses para finalizar. Foram quatro na primeira parte, nenhuma delas enquadrada. 

Portugal chegou ao segundo golo com o pé encostado no intervalo, quando toda a gente se preparava para fechar o primeiro tempo com a vantagem mínima e o jogo aberto. Mas a atuação em bloco recompensou o time mais organizado dos dois que lá estavam. Com os dez homens de linha agrupados num espaço de 30 e poucos metros, João Cancelo encontrou Diogo Jota infiltrado na linha de quatro da Suécia, entre o lateral (Lustig) e o central que fica mais à direita (Jansson), mas nunca o suficiente porque Bernardo Silva puxou os outros dois para si no outro lado, obrigando um dos centrais a fechar e deixar o espaço que foi aproveitado pelo avançado do Liverpool, que dominou e bateu com força, no cantinho do goleiro Olsen, passageiro da própria sorte no lance. 

Agora sim o descanso, mas com um placar um bocadinho pesado para os de Jan Andersson mereciam pelas dificuldades que impuseram, sobretudo na saída de bola, antecedendo uma segunda parte em que Portugal resolveu controlar a partida, o que muito se deve ao respeito que a Seleção das Quinas impõe a adversários, sejam de que nível eles forem.

Foi dos suecos a primeira chance da etapa final, novamente com Berg, que testou a elasticidade de Rui Patrício com um bom cabeceio antes do quinto minuto. Passado o susto, o jogo ficou equilibrado, com os visitantes chegando quando podiam - e cada vez podendo mais - e os da casa atacando quando queriam - cada vez querendo menos. 

Um chute travado de Bruno Fernandes aqui, um tiro de Claesson bem defendido pelo guarda-redes português ali, uma finalização infeliz acolá, as chances surgiam, mas sem muito potencial para mudar o marcador. Quem quase chegou lá foi a turma de camisas vermelhas e calções verdes (que equipamento lindo!), o que não aconteceu porque João Félix, em má jornada, atirou por cima quando havia somente Olsen à frente, depois de boa combinação com Bruno Fernandes. 

Um pouquinho antes de acontecerem as primeiras mudanças portuguesas, porém, Diogo Jota aprontou mais uma vez e anotou seu primeiro bis a serviço da seleção nacional. William Carvalho irrompeu e acionou o camisola 21 na ponta esquerda. Ele entrou em diagonal, como se não houvesse ninguém por perto - havia três - e executou no contrapé de Olsen, novamente sem ter o que fazer para evitar o tento. 

Daí, até o fim, o ânimo sueco não bastou para evitar a goleada (3 a 0 é goleada sim, senhor!) e, quando conseguiu chegar, havia Rui Patrício novamente em grande para garantir outra jornada sem sofrer golos, a quarta seguida da turma de Fernando Santos. 

No dia em que faltou Ronaldo, sobrou Diogo Jota e houve mais Portugal, que é forte sem seu capitão, mas é uma das três melhores seleções do mundo com ele.

Rui Patrício: imaginem o que passa pela cabeça do goleiro ao jogar no Alvalade com chances menores de ser derrotado. Por anos não foi assim;
João Cancelo: é bom ele viver essa sensação de jogar em Portugal e vencer, coisa que não pode fazer muitas vezes porque saiu cedo do Benfica; 
Pepe: mais um jogo a levar avançados no bolso pra casa. Devolva os gajos de amarelo antes de voltar para o Porto, SFF;
Rúben Dias: deve ser contagioso esse negócio de ser mandante no José Alvalade e jogar mal. Descansa, Rúben, não deve ser aí com a França;
Raphaël Guerreiro: malandrito! Ficaste sabendo que o Fábio Coentrão voltou e trataste de jogar bem em todos os jogos para não perderes o lugar. Fazes bem, francês;
Danilo Pereira: tão seguro que às vezes é irritante;
William Carvalho: é sério que ainda há quem não goste de ti? (João Moutinho: faça o seu quietinho, pá, que uma das vagas para a conquista do bicampeonato europeu será sua. Aí tu metes o golo do título e tudo terá valido a pena);
Bruno Fernandes: é natural os que vestem encarnado vencerem neste campo, pá. Agora estás do lado certo (Renato Sanches: só tem uma vaga para trinco, pá. Agarra-te a ela); 
Bernardo Silva: um golo, um jogo a correr o relvado todo e o brilho discreto de sempre. Mais um dia normal na vida de Bernardo Mota Veiga de Carvalho e Silva (André Silva: não sei se mais alguém viu, mas tenho a impressão de que vi o André Silva a dormir ao pé da trave quase no fim do jogo. Gostava de saber se alguém o acordou ou esqueceram o gajo no relvado); 
João Félix: deve ser contagioso esse negócio de ser mandante no José Alvalade e jogar mal. Descansa, Joãozinho, não deve ser aí com a França (Daniel Podence: bonita a iniciativa da FPF de colocar os miúdos do Sub-15 a jogar com os adultos);
Diogo Jota: "Ain, Portugal só tem o Cristiano Ronalzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz" (Rafa Silva: olha o que faz a reputação. Entrou só para manter o costume de vencer neste campo). 

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Portugal - não haverá o capitão, mas haverá Portugal

VOO CANCELADO - Desta vez, o Rei de Solna não estará onde começou

Aplacado pela Covid-19, Cristiano Ronaldo é carta fora do baralho para a sueca contra a seleção da Suécia, contra quem tem sido bisca, ás e trunfo nos últimos confrontos. Só que, mesmo sem seu jogador mais decisivo, ainda mais pelo histórico apresentado quando o oponente é o nórdico.

Eis a má notícia, posto que em qualquer lugar do mundo a ausência do principal jogador seria mesmo uma má notícia - por que não há de sê-lo em Portugal? A boa notícia, porém, é que quando o astro da camisola 7 e da braçadeira não está disponível, os talentos às ordens de Fernando Santos podem dar conta do recado.

Há vantagens e desvantagens tanto na presença, quanto na ausência do artilheiro. Se com ele as ações são mais centralizadas e torna-se natural que seja o gajo dos 101 golos o homem mais procurado nas zonas de definição, sem Cristiano é forçoso buscar por protagonistas alternativos, mas perde-se aquele que tem a maior capacidade de desatar nós mais justos. É, pois, uma discussão infértil, mas debates desportivos se alimentam deste tipo de pauta e há que se conviver com isso.

Seria parvoíce imaginar que a Suécia resolva encarar à vera o confronto com os lusos, mesmo que uma derrota possa decretar o rebaixamento na Liga das Nações. No entanto, se a fome obriga a presa sair da toca, é expectável que os comandados de Jan Andersson apostem numa formação com duas linhas pouco espaçadas e seus dois avançados a compor também sem a bola. 

Mesmo sem pontuar, os visitantes de logo mais não perderam feio nenhuma das três partidas (0-1 França, 0-2 Portugal e 1-2 Croácia definido no final). Contra Portugal mesmo, no jogo dos golos 100 e 101 de Cristiano, o placar manteve-se nulo quase até o intervalo, somente desfeito do magnífico livre do capitão no lance em que ficaram reduzidos a 10 homens, fator que condicionou o restante do confronto. 

Pode ser que a mesma formação da estreia, com Danilo à frente dos centrais, Moutinho a ser o primeiro construtor e Bruno Fernandes a escudeiros dos três avançados (aposto em João Félix "como falso 9" a revezar com Diogo Jota e Bernardo Silva a fazer de tudo no José Alvalade) seja vista em campo. A mobilidade poderá ser importante para balançar os suecos e encontrar espaços, mas não haverá os pés mais capacitados para converter hipóteses em tentos.

Só ao fim e ao cabo saberemos.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

França 0 x 0 Portugal - respeito é bom e a gente gosta (mas vencer também seria fixe)

Te ganhei no paparico, te papariquei (foto: Franck Fife/AFP)

Para quem, como eu, viveu a época em que Portugal era tratado como uma Finlândia qualquer pelas grandes seleções, o jogo disputado em Paris pela Liga das Nações é emblemático. Não só pelas marcas atingidas por Rui Patrício (a ingressar o Top 10 dos jogadores com mais presenças pela Seleção) e Fernando Santos (o treinador que mais vezes dirigiu a equipe nacional em todos os tempos), mas pela condição que Portugal conquistou.

Enfrentar os atuais campeões do mundo na casa do adversário e encontrar uma postura respeitosa da parte deles é razão para notar o quanto evoluiu o futebol dos "campeões mundiais sem balizas", como disse certa vez o craque argentino Jorge Valdano. Este é o aspecto a se comemorar no primeiro jogo em França depois do título de 2016.

Com os quatro ases juntos em campo novamente, Portugal topou com um adversário também com os seus melhores escalados, mas que resolveu evitar o gol antes de procurar fazê-lo. Se em campo haviam Bernardo Silva, Bruno Fernandes, Cristiano Ronaldo e João Félix, houve no meio a dupla Danilo Pereira e William Carvalho a ocupar os espaços no setor de transição ofensiva gaulesa, fato determinante para que os campeões europeus dominassem as ações na primeira parte.

Quando os minutos corridos cobraram o preço da frescura nas pernas, a França voltou para o segundo tempo tratando de diminuir os espaços de William e de Bruno Fernandes e forçando que a saída de bola portuguesa passasse por pés menos esclarecidos do que lutadores, como os de Danilo Pereira. Aí a superioridade lusitana transformou-se num equilíbrio que só foi possível porque, se a dupla de trincos passou a ser superada, havia dois centrais praticamente intransponíveis, que trataram de anular quase tudo o que para eles chegasse: Pepe e Rúben Dias.

Tudo bem que o trabalho foi simplificado também pela má jornada do trio  Griezmann, Giroud e, principalmente, Mbappé, que chamou mais a atenção pela reverência ao seu ídolo Cristiano Ronaldo do que pelo que (não) produziu no jogo. Somente na segunda parte, quando Griezmann mudou seu posicionamento e passou a reger o jogo com Pogba e Kanté é que a França exigiu maiores cuidados lusitanos, que só voltaram a rondar a baliza de Lloris quando pés e ideias mais frescas, como as de Trincão e Renato Sanches, foram chamados à ação.

A se lamentar, se é que um jogo disputado em grande como este permite, a falta de ambição dos dianteiros portugueses, que pouco finalizaram quando estavam por cima (quatro vezes na primeira etapa, nenhuma delas na direção do gol). Em linhas gerais, caberá a Fernando Santos transformar uma equipa dificílima de ser batida em um conjunto capaz de desatar nós mais apertados, comumente encontrados em jogos contra times do mesmo quilate. Neste caso específico, Bernardo Silva e João Félix, abertos para manter ocupados os laterais franceses e ajudar a fragmentar o time francês, pouco produziram ofensivamente, mas um adversário deste nível (se não for a melhor seleção do mundo, é uma das três) justifica o investimento.  

Ao fim e ao cabo, o nulo - o segundo seguido, fato inédito na gestão Fernando Santos - calhou bem pelo que cada equipa produziu durante seu período de domínio, mesmo que a superioridade francesa na etapa final quase nada tenha sido traduzida em hipóteses mais cristalinas de golo, ao contrário do que apresentou, mesmo que não muito mais, Portugal, que saiu do confronto da mesma forma que entrou: líder da chave.

Para o último dos jogos desta trinca, deverá haver Cancelo a render o mais defensivo Semedo e João Moutinho pode voltar ao 11 no lugar de Danilo ou de William Carvalho, caso Santos não considere que a Suécia, que não pontuou e que está à beira da despromoção, demande maiores cuidados. De todo modo, sempre que a Suécia se apresenta, é com Cristiano que a Equipa das Quinas resolve. E já lá vão dois jogos em branco. Azar da Suécia.

Rui Patrício: banalizou o ato de não sofrer golos de franceses;
Semedo: da próxima vez que for vandalizado pela Mbappé, diga que é amigo do Pepe;
Rúben Dias: ó, rapaz, não era preciso partir a cabeça do gajo deles, mas mais um jogo destes e sairás pela multa. Hã? Não foi assim que saíste? Fdx!; 
Pepe: espero que tenhas devolvido o Mbappé que levavas embora na algibeira;
Raphaël Guerreiro: jogou pertinho de onde nasceu e saiu antes para poder passar em lá frente (João Cancelo:
- Ó, mister, tens uma alteração para fazer ainda!
- Aié? Vês aí quem ainda não tirou as botas e manda entrar.
- Ó, João, vais tu! - e assim ele entrou já ao pé do minuto 90);
Danilo Pereira: já conheceu alguns dos colegas novos de equipa e, a tirar por esta partida, deve ter ficado preocupado pelo que o espera;
William Carvalho: digam-me a última partida mal conseguida dele. Não, no Sporting não conta (João Moutinho: sem Ederzito e Quaresma, entrou para lembrar aos franceses de quem roubou a bola no golo da final da Euro. Foi uma provocação sutil);
Bruno Fernandes: viu que os colegas não vestiam vermelho e, por um instante, pensou ainda estar no Sporting. Aí ficou deprimido e quase não se fez perceber. Que o Engenheiro do Penta cuide disto com um abraço paternal e a cochichar "já passou, já passou" (Renato Sanches: 13 minutos a lembrar aquele miúdo que despontou no Seixal, só que a tomar decisões certas. Ficar mais um ano no Benfica seria uma delas);
Bernardo Silva: nem sempre é o melhor em campo. Acontece. Mas era bom que agisse como se todos os adversários fossem um time mais fácil, como a Holanda, por exemplo (Diogo Jota: entrou para descansar o Bernardo para a Suécia, mas podia ao menos aparecer mais do que quando ralhou com o árbitro em dois idiomas);
Cristiano Ronaldo: meu capitão, peço que tenhas a nobreza de não aproveitar que tens o mesmo empresário do João Félix e não mandes recados ameaçadores a ele por ter lhe tirado o golo. Vem aí a Suécia;
João Félix: ó, Joãozinho, estes gajos de azul não metem medo. São como aqueles outros gajos de azul que vulgarizavas antes de ires embora só com seis meses na equipa principal. Desculpa, é que ainda não superei (Trincão: bom, Francisco, já deste nas vistas que sabes que o Ronaldo é quem manda, mas, da próxima vez, chute o car*** da bola para o golo.

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Portugal 0 x 0 Espanha - meio jogo para lamentar, meio jogo para aplaudir



APLAUSOS O uniforme lindo de Portugal merece. E o craque da 7 também (foto: Mario Cruz/LUSA)

No 200⁰ jogo de Cristiano em todos os escalões da Seleção Portuguesa, que também foi o que deixou Pepe como o defensor com mais jogos pelas Quinas (111 contra 110 de Fernando Couto) e que fez Fernando Santos ombrear com Felipão no posto de técnico que em mais jogos esteve à frente da equipa nacional (74), Portugal e Espanha fizeram uma partida no mínimo divertida. O primeiro tempo foi uma aula espanhola, que mostrou por que vinha de uma sequência de 42 jogos sempre a marcar: tinha bola só para si, paciência e todo domínio do mundo contra um Portugal que parecia voltar ao início dos anos 90, quando era vulgarizado por qualquer time minimamente coordenado. Não fosse por Rui Patrício, os vizinhos de península chegariam ao intervalo com uns 3 a 0, por baixo

Um amistoso, afinal, serve para fazer testes: assim, diversos nomes que costumeiramente ocupam o 11 inicial estavam no banco de suplentes: Rúben Dias, Bernardo Silva, Bruno Fernandes, João Félix, De Gea, Sérgio Ramos, Pau Torres. Do lado do português, Fernando Santos quis ver como reagia a equipa com o puramente técnico João Moutinho à trinco. Não funcionou porque, se queres alguém com leveza para ser o organizador de jogadas desde trás, é preciso que tenhas a bola, coisa que só quem a tinha era a Espanha, que, por sua vez, andou a ver como se saía seu 4-3-3 com os perigosíssimo Dani Olmo e Rodrigo abertos, mas voltando para recompor quando raramente a bola era perdida.

Só quando o ritmo espanhol diminuiu, perto do fim do primeiro tempo, e Fernando Santos mandou a campo um volante-volante para ser o responsável pela proteção no meio, já no intervalo, é que os campeões europeus equilibraram. Não a posse, que sempre foi espanhola, mas o domínio territorial. Desta forma, os campeões mundiais de 2010 retiveram a bola mais no campo de defesa do que perto da área de Portugal, que teve quatro chances gigantes para chegar à vitória (numa mostra do vasto repertório de Cristiano, que rematou à barra de perna esquerda e que serviu de trivela à Quaresma para Renato Sanches também acertar a barra de Kepa com violência), ao passo que a Espanha também criou o suficiente para reclamar um resultado melhor, principalmente a partir da entrada do estreante Adama Traoré, dono e senhor do flanco direito do ataque. 

Resultado por resultado, o jogo que marcou o reencontro com o clássico uniforme com calções verdes e camisolas vermelhas; com adeptos nas bancadas (só 2,5 mil no José Alvalade e serão 5 mil no próximo dia 14, com a Suécia); com Renato Sanches a titular depois de dois anos; e que marcou o lançamento da candidatura ibérica para a Copa de 2030 (tomara que não resulte) acabou bom para todo mundo: para a Espanha, Luís Henrique tem material para rodar a bola, para atacar pelos flancos, para se adaptar a qualquer adversário; para Portugal, Fernando Santos viu que não rende, contra adversários mais fortes, ter João Moutinho como um organizador desde trás, já que é preciso ter a bola para isso. Contra equipes menos fornecidas, será uma boa opção. Não era o caso. 

Foto: Mario Cruz/LUSA 

Rui Patrício: no reencontro com a Seleção contra quem estreou pela equipa principal, mais um nulo para a conta. Faltou aos rapazes da frente marcarem 4 para igualar àquela de 2010. Admito querer mais do que posso;
João Cancelo:
 deve ter dado um abraço no mister por não ter sido ele a ser deslocado à esquerda para marcar - ou tentar - o Traoré;
Pepe: não fez golos, nem mandou ninguém para os cuidados médicos. Uma atuação atípica (Rúben Dias: entrou para ir se acostumando ao que é jogar com o Rúben Semedo. Já jogas na Inglaterra, pá. Não dá para ser feliz o tempo todo);
Raphaël Guerreiro: saiu e não foi colocado sob o risco de ser atropelado pelo Adama Traoré (Nelson Semedo: um dias estás no Barcelona. No outro, tens que marcar seu colega de Wolverhampton, que mais parece dois. Ou três. Espero, para o seu bem, que sempre treine no mesmo time do Adama Traoré);
Rúben Neves
- Ó, mister, mete cá um trinco pra me ajudar, SFF! Achas que estamos a jogar com a Holanda?"
João Moutinho: como quem não quer nada, da próxima vez, fique ao pé do William Carvalho ou do Danilo. Pode ser que o mister perceba que queres jogar com um deles (William Carvalho: ao raio que os partam a todos os que falam mal de ti);
Renato Sanches: retorno em grande do Menino de Ouro da Euro 2016. Firme, com seriedade e tomando decisões corretas, que era como deveria ter saído de Portugal;
Trincão: não, não é um volante de 2,10m. O Trincão é um meia clássico, com um futuro brilhante, e que foi substituído antes que o Adama Traoré o matasse (Diogo Jota: ao menos um Jota é bem aproveitado em Portugal, não é mesmo?);
André Silva: percebi que entrou quando saiu (Bernardo Silva: joga na ponta, chega à linha de fundo, volta para a intermediária para organizar o jogo. Era capaz de ir marcar ao Adama Traoré sem reclamar);
Cristiano Ronaldo: não é todo dia que dá pra fazer três na Espanha, não é mesmo? Em todo caso, a bola no travessão e o passe de três dedos para o Renato Sanches já valeram o esforço dos 2,5 mil que foram ao campo do Sporting (João Félix: não seria bonito marcar o golo ao parceiro de candidatura no último minuto, quando toda a gente já estava a contentar-se com o empate. O Sérgio Ramos, mesmo, ficaria com que cara ao buscar a camisola que ganhou do Ronaldo? Deixe para a França, SFF. 

sábado, 3 de outubro de 2020

Benfica 3 x 2 Farense - os de casa também resolvem

Obrigado, Ody. Se não fosses tu... (Foto: José Sena Goulão/LUSA)

Quando voltou ao Benfica,
Jorge Jesus prometeu uma equipe jogando o triplo em relação à época passada para fazer frente aos compromissos da época. Naturalmente, isso não se consegue em meia dúzia de semanas ou quando o time ainda está a receber peças, coisa que somente cessará com o fecho da janela de transferências, que acontece neste dia 6 de outubro, mas contra equipas menos celebradas, como o recém promovido Farense, é preciso haver Benfica por 90 e tantos minutos.

Até houve, mas somente nos primeiros e nos últimos quartos de hora da partida. Quem esperava o Farense a fazer jus ao inacreditável retrospecto em partidas de primeira divisão, o tempo todo atrás da linha da bola e a jogar por uma falha para fugir do irremediável destino dos perdedores, se enganou redondamente. O sinal já havia sido dado no recente jogo particular de pré-epoca entre as equipas, em que o Benfica venceu no Seixal por 5 a 1, mas com três golos marcados nos últimos 10 minutos

Daquela partida, que também teve gol de Pizzi e o bis de Seferović,  houve Rúben Dias, que também marcou um golito. Agora, teve Otamendi na sua pior versão na segunda parte, depois de um primeiro tempo em bom plano. O debutante argentino, que não vinha sendo aproveitado pelo técnico Guardiola, esteve envolvido diretamente nos dois golos do Farense, que ainda não havia marcado no retorno à Primeira Liga.

Além disso, uma postura pouco combativa de um Benfica estranhamente conformado com as dificuldades impostas pelo 4-5-1 de Sérgio Vieira, com o ex-sportinguista Gauld e Oudrhiri abertos e Isidoro, Falcão e Jonatan a sufocarem a saída de um time lento para retomar a bola e a trocar passes para chegar ao golo de Rafael Defendi, ditaram as dificuldades que quase fizeram falhar o ataque à liderança. 

Em jogos assim, golos normalmente acontecem quando alguém erra. E os centrais dos dois lados foram os portadores da mudança do placar, mas da pior forma. A primeira rateada foi dos visitantes, numa altura em que o Benfica já começava a tomar conta do jogo, ao menos territorialmente: Cássio procurou Fabio Nunes na esquerda, mas Rafa interceptou o passe, apanhou a defesa desorganizada e avançou sem protestos até encontrar Pizzi. Isidoro e Falcão, como que estivessem a respeitar o distanciamento social, nem tentaram diminuir o espaço ao 21, que bateu sem marcação e ainda contou com o desvio de César Martins para abrir os trabalhos. E a primeira parte terminou com o Farense a atirar mais vezes que o Benfica e a obrigar Vlachodimos a ser a figura mais importante da primeira parte.

Aí veio o segundo tempo e o Farense seguiu agressivo e a reforçar Vlachodimos como nome do jogo. Também aqui houve a colaboração da dupla Jardel e Otamendi, após primeiro tempo em grande, que ao final tornou-se numa desastrosa estreia. O interminável brasileiro errou o bote em Stojiljković e Otamendi, que vinha na sobra, errou quase tudo: tempo, bola, exceto o pé do sérvio, flagrado pelo VAR. Aí seguiu o show do Ody: Gauld bateu, ele defendeu e na recarga Falcão marcou, mas o árbitro invalidou o lance por invasão de pelo menos dois elementos de Faro. Nova cobrança, nova defesa, mas para escanteio. Na cobrança do canto, Otamendi não saltou a altura de uma fatia de presunto, errou novamente o tempo da bola e Jonatan empatou, de cabeça.

No minuto seguinte, JJ causou uma revolução. Rafa, Gabriel e Waldschmidt, em má jornada, deram lugar para Pedrinho, Weigl e Seferović respectivamente. Não em tempo de evitar que o VAR salvasse, com correção, a cambalhota no placar imposta pelos visitantes, quando o impedido Gauld assistiu Fabricio dois minutos depois do empate. Mais um par de minutos e Stojiljković exigiu nova intervenção de cinema do arqueiro benfiquista.

Numa noite em que quase todos os reforços estiverem em mau plano, os da casa resolveram. Se o primeiro golo teve Rafa e Pizzi, o segundo saiu a partir do lançamento de Ferro para Grimaldo, que colocou na medida para Seferović recolocar os encarnados à frente. E foi o suíço a bisar na jogada que passou por André Almeida e Weigl antes de chegar ao generosos pés de Darwin Núñez, que deu o quarto passe para gol em outros tantos jogos pelo Benfica.

Ao fim, ainda houve tempo para Otamendi fazer outra das suas, demorar para passar a bola e ser desarmado ridiculamente por Patrick, que diminuiu e deu uma certa justiça pelo que o Farense apresentou.

Ao fim e ao cabo do mercado de inverno, o Benfica investiu €98,5 milhões, mas, às vezes, principalmente no início do trabalho, são os da casa que resolvem.

Vlachodimos:  pergunta ao mister se vai ser assim sempre, já que não é normal um guarda-redes ter que ter mais a bola que o Weigl, por exemplo. Bom, aí é até preferível;
André Almeida: Almeidinhos, meu caro. Estás sossegado assim porque o gajo que veio do Brasil chumbou os exames? 
Otamendi: pronto, já mostraste ao Weigl que é possível ser pior que ele. Já está bom;
Jardel: e não é que estás aí? Seria de bom tom manter-se inteiro até o Ferro recuperar a confiança. É pedir muito? (entrou Ferro: ora viva, Francisco! Nem parece o mesmo da época passada. Quero crer que não é porque ao lado do Otamendi tu parecias o Rúben Dias);
Grimaldo: podias agir como se a época toda fosse véspera do fechamento do mercado, que é quando jogas mais. Ou então até o Nuno Tavares aprender a cruzar;
Gabriel: não nos apetece essa imitação de Weigl (Weigl: nos apetece esta imitação de Gabriel. Esperamos que o Nuno Espírito Santo tenha visto, ó, rapaz. Ainda há dois dias de mercado);
Pizzi: ó, Luís Miguel, torço para que o mister pense no 11 como tu mais dez. Queira facilitar com atuações melhores que a de hoje, SFF;
Rafa Silva: já vás pensado, ó, Rafael Alexandre, em como jogarás quando notarem que és tu aquele gajo com a barba bem feita. Sugiro pintar o cabelo, por exemplo (
Pedrinho: ainda acho que deverias usar algo pra diminuir as olheiras, pá. No mais, sigas assim, rendendo bem em todos os 35 minutos por jogo em que estiveres, começando ou terminando);
Everton: bom, nem sempre as coisas vão correr bem. Sorte que contra equipes mansinhas, como o Farense ou o Sporting, o estrago não é notado;
Waldschmidt: estavas a se guardar para os jogos da Alemanha, Gian-Lucca? (
Seferović: podias fazer aquele gesto do Cristiano Ronaldo a apontar para o relvado e falar "Ich bin hier". Nem sempre é possível. Bom, quase nunca é);
Darwin Núñez: calma lá, rapaz. Ainda vais evoluir do gajo que dá passes de golo para o gajo que faz ele mesmo os golos. Não falei que conseguiria um bom chiste que envolvesse Darwin e evolução? (Chiquinho: gastei minha criatividade no comentário de cima. Entrar aos 88' também não ajuda).