quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Manchester City 3 x 1 Porto - Poucas ideia


"Poucas ideia, mano!" É isso o que a gente costuma falar lá em Diadema, onde fui criado e vivi por mais de 30 anos, quando a gente está disposto a resolver algo sem demora, sem lá muito - ou mesmo qualquer - diálogo. A paciência está no fim? Poucas ideia, mano! Não merece atenção? Poucas ideia, mano!

Foi assim, sem dar muita trela aos adversários, que o Porto chegou à Liga dos Campeões. Qualquer que fosse o oponente, buscava resolver sem meios termos a parada. Sem precisar trabalhar muito a bola quando a tinha. Direto ao ponto. Poucas ideia para o contrário. 

Para a Liga dos Campeões, porém, palco onde a discussão acontece em outro nível, Sérgio Conceição sabia que teria que mudar o argumento para tentar ter razão no fim. Saiu o 4-4-2 para entrar um 5-4-1, com Mbemba, Pepe e Sarr no miolo de zaga, Zaidu e Corona nas laterais; o meio com Uribe, Sérgio Oliveira, Fábio Vieira e Luis Díaz e, na frente, o operário Marega. Como o City tem o jogo construído a partir do trio de centrais apoiados ainda por um médio que lá volta para apanhar a bola, os espaços no campo de defesa portista eram, invariavelmente, fechados em bloco pelos visitantes.

Claro que a questão era chegar em um menor tempo possível no gol de Ederson quando tivesse a bola nos pés, mas sem pressionar alto para não espaçar tanto o time. Resultou cedo, quando Rúben Dias foi sair jogando e tentou buscar Bernardo Silva, num erro made in Seixal. Uribe interceptou um bocadinho após a linha do meio-campo e acionou Luis Díaz. O colombiano se aproveitou do caminho que Marega abriu ao levar três dos de azul claro para a área, invadiu em diagonal, levou mais para o lado para atacar o espaço aberto por Fábio Vieira, e bateu cruzado. Um golaço que coroava uma estratégia até então perfeita.

Se em Portugal bastaria para fazer o jogo ficar à feição tripeira, na Liga dos Campeões é preciso mais. Uma desatenção dupla - do sistema defensivo e do árbitro, que não viu um pisão de Gundogan em Marchesín - e a entrada estabanada de Pepe em Sterling no ressalto da bola de Agüero na trave culminaram no pênalti marcado e não invalidado pelo VAR, que não considerou falta no goleiro. E o 1 a 1 veio dos pés de Agüero, que quase pararam nas mãos do arqueiro argentino.

Aí faltou a sorte que sobra em competições domésticas: Marega, cara a cara com Ederson, teve a bola para devolver a vantagem ao Dragão e até superou o tipo com luvas que estava à frente, mas não passou por Walker, praticamente sob o travessão a tirar a bola.

O fado foi o mesmo para a segunda parte. O Porto a fazer um jogo seguro, sólido, mas sem o poderio para definir os detalhes que desatam os nós mais apertados. O adversário, porém, mais apetrechado, foi quem chegou à vitória no golo de falta de Gundogan, em lance muito reclamado pelos de Sérgio Conceição e que ainda fará correr muita tinta. 

Em desvantagem, a estratégia do Porto já não servia mais e Conceição desfez o 5-4-1 para reabilitar o habitual 4-4-2, mas foi o City quem, sem lá muita negociação, chegou ao golo em remate de Ferran Torres após rápida entrada em diagonal e corte seco em Pepe.

Fica a sensação agridoce de ter feito um grande jogo, mas insuficientemente para regressar ao Porto com pelo menos um ponto. As "poucas ideia" que bastam em Portugal não chegaram para a Liga dos Campeões.  

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