A partir do dia 12 de junho do ano que vem, a bola irá rolar sob os olhares de mais de 6 bilhões de pares de olhos espalhados pelo mundo. Para tanto, bolas menores definiram hoje, na Costa do Sauípe, a sorte (ou falta de) das 32 seleções que farão a festa do mundo da bola.
Já que todo mundo arrisca um palpite aqui, outro acolá, este blog não se furtará disso. No entanto, dessa vez, não é só a qualidade das representações nacionais que deve ser levada em consideração para o preenchimento dos bolões por aí afora: como este é um país de dimensões continentais, a distância percorrida e a expectativa da temperatura na hora do jogo farão sim a diferença. Ademais, por se tratar de um torneio de tiro curto, a própria tabela pode determinar o fado das seleções.
Para não ficar bagunçado, vamos por grupos, a começar pelo do Brasil, o A: tecnicamente, o escrete canarinho deve sobrar. Resta aqui uma vaga para ser tirada no tapa por Croácia, México e Camarões. Destes, Croácia e México trocaram de treinador durante as eliminatórias (ambos passaram pela repescagem) e os africanos ainda dependem de um Eto'o que já virou o fio, embora seja perigoso. Além disso, o ambiente interno é o pior possível. Não acredito que os Leões Indomáveis tenham vida longa.
Engana-se quem pensa que, por conta do nível dos adversários, a vida brasileira será mansa. Os donos da casa viajarão mais de 4 mil quilômetros, passando por São Paulo, pelo calor cearense e pelo clima seco de Brasília. Sem contar que, nas oitavas, seu adversário sairá do Grupo B, onde estão os dois finalistas da última Copa.
Espanha e Holanda, favoritas do grupo, têm o Chile querendo ser a surpresa da chave e a Austrália. O país dos coalas e cangurus deve voltar feliz pro outro lado do mundo se fizer um ponto que seja. Os chilenos se classificaram sem maiores problemas e têm no ótimo técnico Jorge Sampaoli o maior trunfo. Em campo, porém, Vargas e Alexis Sanchez parecem não fazer frente aos espanhóis (já no panteão dos grandes times da história) e holandeses. Para aqueles que ainda tentam diminuir o favoritismo espanhol por causa da tunda que tomou do Brasil na Copa da Confederações, um aviso: o torneio teste para a Copa nunca apontou um campeão que fizesse uma copa decente logo depois.
O Grupo C é um dos mais insossos. A Colômbia, dos excelentes Cuadrado, James Rodriguez, Jackson Martinez e, sobretudo, o mega-goleador Falcão Garcia, tem a companhia de Costa do Marfim, finalmente numa chave acessível, Grécia e Japão. Pela lógica, Colômbia e Costa do Marfim devem passar, mas é bom ficar de olho no Navio Pirata grego, que tem um time experiente, embora envelhecido, mas capaz de se fechar durante os 90 minutos e jogar por uma única bola. Quanto ao Japão, que até tem um time bom, não se espera muito.
Se a chave C não deve ter muitas emoções, o mesmo não se aplica ao Grupo D, que tem "só" três campeões mundiais: Itália, Uruguai e Inglaterra. Apesar do papelão da última copa, quando foi eliminada na primeira fase, nunca se pode fazer pouco da Squadra Azzurra. Pirlo e Buffon insistem em contrariar o tempo e seguem comandando a equipe de Cesare Prandelli. Mesmo não sendo uma geração primorosa, a camisa pesa. A Celeste, semifinalista na África do Sul, mantém a base daquele mundial, mas agora conta com os golos de um Cavani mais experiente e letal. Já a Inglaterra tem um time jovem e talentoso, mas cru. Pode pesar a favor dos uruguaios o confronto entre ingleses e italianos, em Manaus, já na primeira rodada, que deve fazer com que um dos europeus já chegue à segunda ronda precisando do resultado para se manter vivo. Ah, o outro time da chave é a Costa Rica. Próximo!
Grupo E: o grupo da morte de tédio. A França, que passou pelo purgatório de uma repescagem quase perdida, caiu no grupo mais baba da Copa, que tem como cabeça-de-série a Suíça, e os mequetrefes Equador e Honduras. Como se diz "teta" em francês?
A vida francesa deve seguir tranquila ainda nas oitavas, pois seu adversário sairá do Grupo F, que tem a favoritíssima Argentina, de Messi, Aguero, Di Maria e mais uma penca de bons jogadores, o bom time da debutante em Copas Bósnia-Herzegovina e os figurantes Irã e Nigéria. Nuestros hermanitos devem nadar de braçada até chegar aos quartos-de-final. Lionel pode não ter tido uma das temporadas mais fáceis, com lesões no lugar dos títulos, mas deve chegar à Copa nos cascos, física e tecnicamente. Ou seja, esta pode ser a Copa de Messi. O time dos bálcãs, que bateu na trave nas últimas competições (foi eliminado na repescagem da Copa de 2010 e da Euro 2012 por Portugal) vem da escola iugoslava, de toque de bola, e pode ser que avance.
Falando em Portugal, a Selecção das Quinas está no dificílimo Grupo G, ao lado de Alemanha, Gana e Estados Unidos. Os alemães são favoritos na chave, mas podem estar desfalcados de dois de seus principais jogadores no meio-campo, Schweinsteiger e Khedira, mas têm uma geração talentosíssima, repleta de jovens de nível como Götze e Reus. Os jogos no calor de Salvador, Natal, Fortaleza e Brasília podem favorecer o rápido time ganês, sem contar no duelo entre os europeus logo na estreia. No entanto, não se despreza uma seleção que conta com o melhor jogador do mundo em 2013.
Portugal sobreviveu à terceira repescagem seguida. Precisou superar a Suécia para refazer o caminho das Índias mas de 500 anos depois, o que permite entender que, sob pressão, o time de Paulo Bento funciona. Em um grupo no qual o primeiro jogo é contra a Alemanha, trata-se de uma boa notícia. No entanto, as poucas opções de banco podem prejudicar o time da Pátria-Mãe, mas este deve passar, mesmo em segundo lugar. Se o Puto Maravilha mantiver o nível das atuações deste ano, os patrícios não temem ninguém.
Caso avance mesmo em segundo, Portugal deve ter problemas já nas oitavas, quando pode ter pela frente o excelente time da Bélgica, cabeça do Grupo H. Sensação das últimas eliminatórias europeias, os belgas têm os ótimos Courtois, Kompany, Hazard, Lukaku e Witsel. Eles não vêm ao Brasil a passeio, diga-se. O segundo lugar do grupo deve ficar com a Rússia, que mandou Portugal para a repescagem. Coréia do Sul e Argélia brigarão para ver quem não fica na lanterna do grupo e, possivelmente, da Copa.
É óbvio que um tropeço, uma atuação mal conseguida, um erro de arbitragem ou mesmo uma jornada ruim, podem deitar por terra todas as explanações. Mas conjecturas não passam disso: conjecturas.