sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Os doutos donos da lei

Os doutos donos da lei se reuniram na manhã quente da Rua da Ajuda para decidir o fado do futebol brasileiro. Engravatados, os doutos donos da lei tinham o calor suavizado pelos equipamentos de ar-condicionado da sala do tribunal.

Assim, os doutos donos da lei colocaram-se acima do bem e do mal. Inatingíveis, desfilaram um rosário de termos complicados para quem, diferentemente deles, não é sábio, não tem o condão da lei sob o braço ou os pés.

Não os pés que chutam a bola. Estes calçam chuteiras coloridas (ou não), não sapatos de cromo alemão impecavelmente engraxados e, quiçá, nunca estiveram dentro de um kichute, cujo cadarço era amarrado nas canelas. Os pés em questão pisaram na bola.

Parte de um grupo de ungidos não pela Providência Divina, mas pelas benesses de um sistema feudal, os doutos donos da lei foram mais importantes que os 14 gols de um centroavante ou o tento marcado pelo goleiro, já nos acréscimos de um jogo praticamente perdido.

Os doutos donos da lei não julgaram, mas promoveram uma execução sumária. Sob o argumento roto de preservar as leis do jogo, modificaram o resultado aferido dentro de campo. O mesmo rigor não foi adotado com o fluminense (com caixa baixa mesmo) em 2010 ou com o Cruzeiro neste ano que finda em três dias.

Consideraram não haver prejuízo para a competição. Para outros, porém, foi aplicado o rigor da lei: Dura Lex, Sed Lex, disseram os doutos donos da lei. Só que o Dura Lex, Sed Lex não é Ad Aeternum. Depende da cara do freguês.



O comportamento dos doutos donos da lei foi assustador. Pareciam predadores em uma savana, babando diante da presa, à espera pelo momento de refestelarem-se. E assim foi feito o banquete.

O que os doutos donos da lei fizeram não foi manter a lisura da competição. Foi cobrir com lama o pior campeonato brasileiro de todos os tempos.

sábado, 21 de dezembro de 2013

O dia do fico

Quando o STJD puniu a Portuguesa com a perda de quatro pontos por causa da suposta irregularidade na escalação do meia Héverton na última rodada do Brasileirão, eu perdi o tesão pelo futebol. Não por causa da punição, mas da forma.

Ficou a sensação de que, por mais que façamos, não será o suficiente para atender as demandas desse futebol/business, que muitos chamam de moderno. Não que eu considere importante a adequação lusa nesta mesquinharia na qual o futebol se transformou, mas o fato é que nossa simples presença incomoda.

Desde a noite da encenação que teve lugar na Rua da Ajuda, Rio de Janeiro, não assisti a absolutamente nada que fosse relacionado ao futebol. Liga dos Campeões, Mundial de Clubes ou qualquer coisa que ao menos lembre o esporte que Charles Miller trouxe ao Brasil.

Não me via mais naquilo. Não fazia sentido algum sair todos os dias para trabalhar, com raras folgas, para que, por causa da ação nefasta de um procurador qualquer, fosse deitado ao solo tudo o que fizemos durante um ano. 

Por conta disso, resolvi que largaria tudo, voltaria a estudar, faria meu mestrado e seria professor. Afinal de contas, o que eu perdi foi a fé no futebol, não no jornalismo, e como professor eu poderia ao menos passar aos meus alunos os meus valores. No futebol de hoje, caro leitor, há pouco espaço para a lisura e a decência.

Eis que neste sábado resolvi dar mais uma chance para mim mesmo e fui ao protesto organizado pela torcida da Portuguesa na Paulista. Vi tanta gente, com tantas camisas diferentes; vi o maestro João Carlos Martins, o Roberto Leal e, principalmente, gente como o Dr. Michel Muniz, lá da Lusa, e o Carlos Ferreira, que fizeram parte do grupo neste ano. 

Vi o amor e a gana dos torcedores da Portuguesa. Eles, diferentemente de mim, não haviam desistido. Em vez disso, resolveram lutar e mostrar para quem quer que seja que não será um tribunal, um procurador ou seja lá o que for que nos alijará do direito de defender nossa grandeza, essa grandeza forjada na luta, na lágrima, no sangue e no suor. Essa grandeza de verdade, que não é bancada por nenhuma emissora de TV ou estatal. 

Ora muito bem! Não será isso que me fará desistir de lutar pelo que acredito, qualquer que seja o resultado do recurso que será julgado no pleno do STJD na próxima sexta-feira. Ganhamos o direito de permanecer na elite dentro de campo e somente nele é que aceitamos discutir nosso fado. É nisso que eu acredito e é por isso que eu seguirei lutando.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A Lei de Gérson

Montagem feita pelos amigos do site Doentes Por Futebol
Vi torcedores do Tricolor do Rio comemorando na frente do STJD (fica na Rua da Ajuda, é bom que não se perca pelo nome) o resultado do julgamento de hoje como se fosse um título. Um deles, à Fox Sports, usava gravata e mostrava, orgulhoso, o dedo indicador, em alusão à primeira divisão que seu time acabara de ganhar de presente pela terceira vez. Outro, em primeiro plano, dizia que não tinha vergonha do que acontecera minutos antes do tribunal.

Riam feito hienas que acabaram de encontrar um cadáver fresquinho, pronto para ser consumido. São os mesmos que, há alguns dias, foram às ruas protestar por causa do aumento da condução, da corrupção e outras querelas diárias tão comuns neste país.

São os mesmos que bradam feito loucos quando um pênalti legítimo é marcado contra si, mas regozijam-se a cada lance ou armação ou tapetão a favor do seu time. Eis o limite entre o júbilo e a revolta. São os mesmos que, com este comportamento deplorável, fiam as maracutaias existentes em todos os níveis sociais. O "levar um por fora", o "quanto é que eu levo nisso", é inerente a esse tipo de gente.

Para não mostrar a cara dos imbecis que foram fazer troça na frente
do tribunal, publicamos uma foto de um lixão. Dá no mesmo.
Os abraços de felicidade, as lágrimas de alegria que foram derramadas pelos maus torcedores do Tricolor (três cores, uma para cada tapete) são o mais fiel retrato que há da sociedade nos dias que correm. Esta é uma geração praticamente perdida, que pouco ou nada tem para levar consigo como valor. Moral? Virtude? Perdoe-me a expressão, mas FODA-SE! Para ficar no jargão eternizado pelo craque (tricolor, diga-se) Gérson, o negócio é levar vantagem em tudo, certo?

No lugar deles, eu teria vergonha de vestir a camisa do meu time. Mas aí é questão de berço.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Conjecturas

A partir do dia 12 de junho do ano que vem, a bola irá rolar sob os olhares de mais de 6 bilhões de pares de olhos espalhados pelo mundo. Para tanto, bolas menores definiram hoje, na Costa do Sauípe, a sorte (ou falta de) das 32 seleções que farão a festa do mundo da bola.

Já que todo mundo arrisca um palpite aqui, outro acolá, este blog não se furtará disso. No entanto, dessa vez, não é só a qualidade das representações nacionais que deve ser levada em consideração para o preenchimento dos bolões por aí afora: como este é um país de dimensões continentais, a distância percorrida e a expectativa da temperatura na hora do jogo farão sim a diferença. Ademais, por se tratar de um torneio de tiro curto, a própria tabela pode determinar o fado das seleções.

Para não ficar bagunçado, vamos por grupos, a começar pelo do Brasil, o A: tecnicamente, o escrete canarinho deve sobrar. Resta aqui uma vaga para ser tirada no tapa por Croácia, México e Camarões. Destes, Croácia e México trocaram de treinador durante as eliminatórias (ambos passaram pela repescagem) e os africanos ainda dependem de um Eto'o que já virou o fio, embora seja perigoso. Além disso, o ambiente interno é o pior possível. Não acredito que os Leões Indomáveis tenham vida longa. 

Engana-se quem pensa que, por conta do nível dos adversários, a vida brasileira será mansa. Os donos da casa viajarão mais de 4 mil quilômetros, passando por São Paulo, pelo calor cearense e pelo clima seco de Brasília. Sem contar que, nas oitavas, seu adversário sairá do Grupo B, onde estão os dois finalistas da última Copa.

Espanha e Holanda, favoritas do grupo, têm o Chile querendo ser a surpresa da chave e a Austrália. O país dos coalas e cangurus deve voltar feliz pro outro lado do mundo se fizer um ponto que seja. Os chilenos se classificaram sem maiores problemas e têm no ótimo técnico Jorge Sampaoli o maior trunfo. Em campo, porém, Vargas e Alexis Sanchez parecem não fazer frente aos espanhóis (já no panteão dos grandes times da história) e holandeses. Para aqueles que ainda tentam diminuir o favoritismo espanhol por causa da tunda que tomou do Brasil na Copa da Confederações, um aviso: o torneio teste para a Copa nunca apontou um campeão que fizesse uma copa decente logo depois. 

O Grupo C é um dos mais insossos. A Colômbia, dos excelentes Cuadrado, James Rodriguez, Jackson Martinez e, sobretudo, o mega-goleador Falcão Garcia, tem a companhia de Costa do Marfim, finalmente numa chave acessível, Grécia e Japão. Pela lógica, Colômbia e Costa do Marfim devem passar, mas é bom ficar de olho no Navio Pirata grego, que tem um time experiente, embora envelhecido, mas capaz de se fechar durante os 90 minutos e jogar por uma única bola. Quanto ao Japão, que até tem um time bom, não se espera muito.

Se a chave C não deve ter muitas emoções, o mesmo não se aplica ao Grupo D, que tem "só" três campeões mundiais: Itália, Uruguai e Inglaterra. Apesar do papelão da última copa, quando foi eliminada na primeira fase, nunca se pode fazer pouco da Squadra Azzurra. Pirlo e Buffon insistem em contrariar o tempo e seguem comandando a equipe de Cesare Prandelli. Mesmo não sendo uma geração primorosa, a camisa pesa. A Celeste, semifinalista na África do Sul, mantém a base daquele mundial, mas agora conta com os golos de um Cavani mais experiente e letal. Já a Inglaterra tem um time jovem e talentoso, mas cru. Pode pesar a favor dos uruguaios o confronto entre ingleses e italianos, em Manaus, já na primeira rodada, que deve fazer com que um dos europeus já chegue à segunda ronda precisando do resultado para se manter vivo. Ah, o outro time da chave é a Costa Rica. Próximo!

Grupo E: o grupo da morte de tédio. A França, que passou pelo purgatório de uma repescagem quase perdida, caiu no grupo mais baba da Copa, que tem como cabeça-de-série a Suíça, e os mequetrefes Equador e Honduras. Como se diz "teta" em francês?

A vida francesa deve seguir tranquila ainda nas oitavas, pois seu adversário sairá do Grupo F, que tem a favoritíssima Argentina, de Messi, Aguero, Di Maria e mais uma penca de bons jogadores, o bom time da debutante em Copas Bósnia-Herzegovina e os figurantes Irã e Nigéria. Nuestros hermanitos devem nadar de braçada até chegar aos quartos-de-final. Lionel pode não ter tido uma das temporadas mais fáceis, com lesões no lugar dos títulos, mas deve chegar à Copa nos cascos, física e tecnicamente. Ou seja, esta pode ser a Copa de Messi. O time dos bálcãs, que bateu na trave nas últimas competições (foi eliminado na repescagem da Copa de 2010 e da Euro 2012 por Portugal) vem da escola iugoslava, de toque de bola, e pode ser que avance.

Falando em Portugal, a Selecção das Quinas está no dificílimo Grupo G, ao lado de Alemanha, Gana e Estados Unidos. Os alemães são favoritos na chave, mas podem estar desfalcados de dois de seus principais jogadores no meio-campo, Schweinsteiger e Khedira, mas têm uma geração talentosíssima, repleta de jovens de nível como Götze e Reus. Os jogos no calor de Salvador, Natal, Fortaleza e Brasília podem favorecer o rápido time ganês, sem contar no duelo entre os europeus logo na estreia. No entanto, não se despreza uma seleção que conta com o melhor jogador do mundo em 2013. 

Portugal sobreviveu à terceira repescagem seguida. Precisou superar a Suécia para refazer o caminho das Índias mas de 500 anos depois, o que permite entender que, sob pressão, o time de Paulo Bento funciona. Em um grupo no qual o primeiro jogo é contra a Alemanha, trata-se de uma boa notícia. No entanto, as poucas opções de banco podem prejudicar o time da Pátria-Mãe, mas este deve passar, mesmo em segundo lugar.  Se o Puto Maravilha mantiver o nível das atuações deste ano, os patrícios não temem ninguém.

Caso avance mesmo em segundo, Portugal deve ter problemas já nas oitavas, quando pode ter pela frente o excelente time da Bélgica, cabeça do Grupo H. Sensação das últimas eliminatórias europeias, os belgas têm os ótimos Courtois, Kompany, Hazard, Lukaku e Witsel. Eles não vêm ao Brasil a passeio, diga-se. O segundo lugar do grupo deve ficar com a Rússia, que mandou Portugal para a repescagem. Coréia do Sul e Argélia brigarão para ver quem não fica na lanterna do grupo e, possivelmente, da Copa.

É óbvio que um tropeço, uma atuação mal conseguida, um erro de arbitragem ou mesmo uma jornada ruim, podem deitar por terra todas as explanações. Mas conjecturas não passam disso: conjecturas.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Oportunismo fenomenal

Em entrevista concedida na véspera do sorteio dos grupos da Copa de 2014, Ronaldo, cada vez menos Fenômeno, falou que o mundo deveria se habituar com o "jeitinho brasileiro" para justificar o modo "só nosso" de fazer a Copa. O tal do jeitinho é o pai da corrupção, e a mãe é a passividade de pessoas como ele, que tem voz e vez, mas prefere falar somente o que convém.

Também falou sobre o Bom Senso F.C., alertando para o fato de o futebol feminino e os ex-atletas não terem entrado na pauta do movimento. São causas nobres, as apontados pelo ex-jogador. 


Fenômeno? (Sérgio Moraes/Reuters)
O curioso é que, quando esteve em evidência, Ronaldo nunca tocou no assunto, nunca levantou bandeira alguma. Aliás, como a maioria, olhou somente para o seu próprio umbigo (cada vez mais difícil de ser visto) durante a sua vitoriosa e exemplar carreira.

As últimas pérolas podem fazer parte de um lamentável rosário que já tem momentos infelizes, como quando o futuro ex-ídolo nacional declarou que uma Copa do Mundo é feita com estádios, não com hospitais.

Antes espelho para muitos, Ronaldo, o para-raio do COL, mostra estar bem domesticado pela dupla CBF/FIFA. Uma pena.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Goodbye, bafana

por Vinicius Carrilho*

Um dos maiores seres humanos que já passaram pela Terra se foi. Aos 95 anos, Nelson Mandela deixou o mundo. Diante de sua grandeza, qualquer texto escrito passa a ser pequeno ou insuficiente. Logo, nos resta apenas aprender um pouco com um compilado de frases ditas por ele, durante toda sua vida, transformadas em texto:

“Não se esqueça de que os santos são pecadores que continuam tentando. Você não é amado porque você é bom, você é bom porque é amado. Aprendi que a coragem não é a ausência do medo, mas o triunfo sobre ele. O homem corajoso não é aquele que não sente medo, mas o que conquista esse medo. Uma boa cabeça e um bom coração formam sempre uma combinação formidável.

Devemos promover a coragem onde há medo, promover o acordo onde existe conflito, e inspirar esperança onde há desespero. Nosso grande medo não é o de que sejamos incapazes. Nosso maior medo é que sejamos poderosos além da medida. É nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos amedronta. Nos perguntamos: "Quem sou eu para ser brilhante, atraente, talentoso e incrível?" Na verdade, quem é você para não ser tudo isso? Bancar o pequeno não ajuda o mundo. Não há nada de brilhante em encolher-se para que as outras pessoas não se sintam inseguras em torno de você. E à medida que deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo.

Sonho com o dia em que todos levantar-se-ão e compreenderão que foram feitos para viverem como irmãos. Se você falar com um homem numa linguagem que ele compreende, isso entra na cabeça dele. Se você falar com ele em sua própria linguagem, você atinge seu coração. Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar. A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.”

A humanidade pode não ter aprendido boa parte disso, mas agradece sua sabedoria, Nelson Mandela.

*Vinícius Carrilho é osasquense, maloqueiro, sofredor e gostaria
de ganhar a vida contando piadas, mas o Corinthians tem feito
isso por ele e, depois de ontem, talvez nem se lembre que tem 22 anos.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O direito de ser imbecil

Guindaste não teria suportado o próprio peso e caiu sobre
 parte do estádio corintiano (imagem: AE)
Tragédias como a de hoje, nas obras do estádio do Corinthians, mostram como o ser humano pode ser boçal. Não há limites para  a pequenez de espírito quando a falta de humanidade, de valores, é demonstrada dia após dia. É só aparecer a oportunidade.

Alguns se apegam a causas, que defendem com a própria vida, se for o caso. Outros, os desprovidos de bom-senso, limitam-se a agir feito hienas à espreita de carniça. Se arvoram quando têm a chance a sua frente ou no ecrã do computador.

As redes sociais deram voz a quem não tinha, mas, como contra-indicação, espaço a imbecis, a poltrões que falam de tudo, mesmo não tendo base para falar de nada, a não ser da própria inutilidade. No esquema tático da humanidade, estes não servem nem para compor elenco. 

São bufões que desopilam o fígado em nome de uma rivalidade burra, assim como eles. Não enxergam um palmo diante do próprio focinho e gostam de fazer troça de tudo.

Todos têm direito à imbecilidade, mas alguns exageram ao fazê-lo valer.  

sábado, 16 de novembro de 2013

O caminho das Índias

O relógio já avizinhava os 10 minutos finais da segunda parte, no estádio da Luz. O jogo caminhava para um, se não desastroso, ruim empate sem gols entre Portugal e Suécia, na primeira ronda da repescagem europeia para a Copa de 2014, que será aqui, nos superfaturados gramados tupiniquins, quando Miguel Veloso recebeu de Fabio Coentrão e jogou na área. Lá estava Cristiano Ronaldo, que vinha cumprindo uma partida absolutamente insossa, tendo aparecido somente na falta tola sobre o guardarredes sueco, Isaksson, que lhe rendeu uma cartolina amarela, e uma cabeçada bem sutil contra um adversário. O capitão português atirou-se à bola e, quase ao rés-do-chão, venceu o arqueiro e marcou, de cabeça, o golo solitário da partida.

No entanto, para chegar ao porto seguro, o mister Paulo Bento terá que corrigir o péssimo rendimento ofensivo dos trincos portugueses. Miguel Veloso e Raul Meireles houveram-se bem na marcação, mas quando precisaram dar aporte a João Moutinho, o que se viu foi um festival de lançamentos para a área sueca. Todos, invariavelmente, pararam nas mãos do goleiro ou foram rechaçadas pelos zagueiros. Ronaldo, aberto e isolado pela esquerda, limitava-se a trombar com os marcadores.

A defesa, pouco protegida pelos volantes, só não teve problemas porque Ibrahimovic não foi sequer sombra do jogador que vive uma temporada estupenda sob a camisola do novo-rico PSG. Ele foi notado somente no corta-luz que deu para a conclusão de Larsson, esse sim, ao lado de Elmander, um tormento aos mais de 60 mil lusos que lotaram a Catedral da Luz.

BEM-VINDO À SELVA Bem marcado, Ibrahimovic
não causou problemas à zaga lusa (EFE/EPA/Tiago Petinga)

O problema só foi solucionado quando Moutinho veio ter à altura do grande círculo iniciar ele mesmo as tramas ofensivas, com o apoio dos excelentes alas Fabio Coentrão, à esquerda, e João Pereira, do outro lado. Com as linhas avançadas e a equipa compactada, a bola parou de ser rifada e passou a rodar, perto da área, como se deve fazer quando se enfrenta um sistema defensivo cerrado como o sueco. Ainda assim, será preciso ter uma defesa mais consistente, posto que os suecos não se contentarão em terminar o jogo com 37% de posse de bola.

Talvez esse expediente seja desnecessário no jogo da volta, quando a Suécia sairá para o jogo e, por certo, terá que se preocupar com um craque inquestionável que vive uma fase exuberante e que decide os jogos mesmo quando não faz um jogo à altura de si. Dois minutos depois de ter aberto o escore na casa benfiquista, em outra bola alçada na área, dessa vez pelo alto, o Puto Maravilha subiu de cabeça para mandá-la à barra sueca. Esta não entrou, mas serviu de aviso para os suecos (e alento para os lusos): Portugal está vivo e muito disposto a refazer o caminho das Índias 514 anos depois. E o capitão da nau lusitana conhece o caminho. 
EU ESTOU AQUI! Cristiano Ronaldo mostra
 quem manda na disputa pela vaga (Reuters)

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Vitórias, títulos e ingratidão

por Vinicius Carrilho*

Foram três anos, cinco títulos e o nome gravado na história do Sport Club Corinthians Paulista para sempre. Assim podemos resumir a segunda vez em que os caminhos do alvinegro e de Tite se cruzaram. Neste período, o clube mudou, o técnico mudou, mas o mundo do futebol permaneceu o mesmo: completamente ingrato.

Certa vez, Machado de Assis disse que “a ingratidão é um direito do qual não se deve fazer uso” e, neste caso, o Corinthians fez uso desse direito completamente imoral. Aliás, não só o Corinthians, parte de sua fiel torcida – cada vez menos maloqueira e sofredora, e mais de sofá – também.

É verdade que Tite não teve uma grande temporada em 2013 (apesar de um segundo semestre espetacular em 2011 e um ano estupendo de 2012), assim como também era notório que seu ciclo parecia estar no fim. Porém, a forma como o treinador deixa o clube é melancólica. Como um fantoche, ele ficará fazendo cena no banco de reservas até dezembro, quando, por decisão da cúpula corinthiana, cederá sua vaga para Mano Menezes.

Não há nada de ilegal no que fez o Corinthians, mas Tite merecia mais respeito. Sai do clube como se sua passagem tivesse sido comum, quando, na verdade, o treinador se aproximou muito – se não passou a ser – do título de maior técnico dos 103 anos de história.

Diz-se por aí que o pensamento no futebol, para o torcedor, tem validade definida a cada quarta e domingo. A sabedoria popular, em 2013, foi confirmada por boa parte da torcida do Corinthians, criando o mais triste dos capítulos deste fim de ciclo. Após conduzir o time no ano mais vitorioso de sua história, alguns dos torcedores – aqueles que sabem tanto de futebol que devem ter inventado o esporte – passaram a considerar Tite fraco, retranqueiro e chegaram ao absurdo de atribuir tudo que tivera conquistado a um único fator: sorte.

Enquanto alguns atletas – que, alias, poderiam criar uma nova categoria promocional de operadores de telefone: a promoção dos créditos eternos – eram claramente blindados, Tite recebia, calado, as mais diversas críticas. E assim passou 2013.

Se faltou gratidão no lado alvinegro, sobrou em Adenor. Em entrevista no Couto Pereira, ele disse: “Alguns clubes me ligaram, eu disse não. Só no Corinthians tenho condição de dar continuidade ao trabalho. Se não ocorrer, vou estudar um pouco, curtir a família, reciclar, assistir a jogos, ir para Caxias do Sul ver minha mãe e cuidar da saúde dela”, depois, completou: “Só quero me ater a uma coisa. Não sei qual é o futuro, mas o que foi construído por todos nesses três anos de Corinthians nenhuma equipe do futebol mundial construiu. Ninguém construiu tamanhas conquistas em três anos. Isso é significativo, ninguém vai tirar de nós. Quero guardar isso para o resto da minha vida”.

Nesta quinta-feira (14), dia em que supostamente foi informado de sua dispensa, Tite comandou o treino dos reservas e apenas limitou-se a dizer aos jornalistas presentes: “Estou em paz. Estou em paz comigo mesmo!”. E assim mesmo deve ficar. Ele deixa não só seu nome na história, nem unicamente a imagem de que um técnico preparado naturalmente torna-se vencedor. Adenor Leonardo Bacchi sai do Corinthians deixando claro que, apesar deste meio podre que é o mundo da bola, ainda há quem possa prosperar com caráter.

Agora, resta apenas a torcida que faça sua parte. Dia 01 de dezembro de 2013, no Estádio do Pacaembu, o Corinthians faz seu último jogo em casa com Tite no banco de reservas. Mais do que tudo, é uma obrigação que todos os presentes façam desta partida uma grande despedida. É o mínimo que se espera para a ocasião. Absolutamente todos devem reverenciar Adenor Leonardo Bacchi, até mesmo se for algo falso. Até porque, como cantava Antônio Marcos:

“Ah, o mundo sempre foi
Um circo sem igual
Onde todos representam
Bem ou mal
Onde a farsa de um palhaço
É natural"

* Vinicius Carrilho tem 22 anos, é jornalista, 
morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida 
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

IPTU

Sabe a aprovação do aumento do IPTU? Esqueçam as discussões acaloradas, o Fla-Flu, o PT vs PSDB e a balela da mídia golpista. O buraco é mais embaixo, muito mais. É bem rasteiro, na verdade.

Teve de tudo: ameaça de represália, de exoneração, remanejamento de funções a toque de caixa, barganha política com direito à farta distribuição de cargos no segundo e terceiro escalões e, pasmem, a antecipação em um dia para não correr o risco de que a turma do Hassab (ou Kaddad? Ah, é o Haddad) sofresse uma clamorosa derrota. Hoje, que Inês é morta, como diria Pedro, o primeiro, haverá a discussão acerca da votação. "Bela merda", como diz meu pai.

Sabe-se que, antes de votações de tamanha importância, acontecem audiências públicas para discutir o projeto, inclusive para que os nossos estimados votantes-representantes saibam no que estão votando e não digam depois, como já está acontecendo, que foram ludibriados. Se você não sabia, meu incauto leitor, agora sabe. É como a qualidade (ou falta dela) do parlamentar que te representa na Casa.

Abaixo, eis a lista, em ordem alfabética, dos que votaram a favor ou contra o projeto de lei de autoria do prefeito Haddad. Ah, não se iludam. Nem todos os votos contrários ao achaque são ideológicos. Quase nenhum é, na verdade. Quando o PT era oposição, votou contra, e quando a situação era PSDB/DEM(o)/Turma do Kassabinho, o voto foi favorável.

Imagem: Wilson Dias / ABr
Votos a favor
Alessandro Guedes - PT
Alfredinho - PT
Ari Friedenbach (o pai da menina que foi morta pelo Champinha, lembram?) - PROS
Arselino Tatto - PT
Atilio Francisco - PRB
Calvo - PMDB
Conte Lopes - PTB
George Hato - PMDB
Jair Tatto - PT
Jean Madeira - PRB
José Américo - PT
Juliana Cardoso - PT
Laércio Benko - PHS
Marquito (aquele em quem o Ratinho disse que votaria) - PTB
Milton Leite - DEM
Nabil Bonduki - PT
Nelo Rodolfo - PMDB
Noemi Nonato - Pros
Orlando Silva (o ex-ministro dos Esportes, que perdeu o cargo por causa do escândalo dos cartões corporativos) - PCdoB
Paulo Fiorilo - PT
Paulo Frange - PTB
Edemilson Chaves - PP
Reis - PT
Ricardo Nunes -PMDB
Senival Moura - PT
Souza Santos (não teria seguido a orientação do partido porque foi preterido do cargo de líder do partido na câmara) - PSD
Vavá - PT
Wadih Mutran (não participou da primeira votação por causa de uma conjuntivite, mas nem era preciso. Ontem, que precisava do seu voto pra fechar a conta, e abrir sua carteira, eleitor, ele compareceu de óculos escuros, mas compareceu) - PP
Ricardo Teixeira (foi exonerado via liminar da Secretaria do Meio Ambiente para que seu suplente, Abo Anni, que votou contra na primeira votação, não tivesse direito a voto) - PV

Imagem: George Gianni/PSDB
Votos contrários
Adilson Amadeu - PTB
Andrea Matarazzo - PSDB
Aurélio Miguel - PR
Aurélio Nomura - PSDB
Claudinho de Souza - PSDB
Coronel Camilo - PSD
Coronel Telhada - PSDB
Dalton Silvano - PV
David Soares - PSD
Edir Sales - PSD
Eduardo Tuma - PSDB
Floriano Pesaro - PSDB
Gilsoin Barreto - PSDB
Goulart - PSD
Police Neto - PSD
Marco Aurélio Cunha - PSD
Mário Covas Neto - PSDB
Marta Costa - PSD
Natalini - PV
Ota - Pros
Patricia Bezerra - PSDB
Ricardo Young - PPS
Roberto Tripoli - PV
Sandra Tadeu - DEM
Toninho Paiva - PR
Toninho Vespoli - Psol

Manual do neomanifestante

Está por fora da onda de protestos? Quer ser um rebelde sem causa? Quer pagar de Black Bloc pros parça? Opa, tá fácil! É só seguir o Manual do Neomanifestante que trazemos a você.

1 - Encontre outros desocupados, como você. Nem precisa de muito, umas três dúzias servem, só pra ficar na baciada;

2 - Arrume uns 15 vagabundos, como você, dispostos a depredar as coisas. Mas devem ser vagabundos e covardes, como você;

3 - Cubra o rosto com alguma coisa. Pode ser um capuz, uma blusa da GAP, da Abercrombie ou uma lata de lixo. Se quiser um look mais adequado a sua personalidade, use a lata de lixo, pois combina com você;

4 - Saia quebrando tudo e corra. Afinal, você é covarde. Faça tudo em bando. Afinal, você é covarde;

5 - Queime os carros e saqueie o comércio, esses símbolos da burguesia e do neoliberalismo tucano, do jeitinho que te ensinaram na USP;

6 - Só não faça isso com os carros e as empresas do seu pai. Ele é burguês, mas é seu pai, e pode descontar da mesada;

7 - Arrume uma personalidade pra te apoiar, tipo o Caetano Veloso. Pode ser o próprio;

8 - Poste as fotos no Facebook ou no Instagram e marque seus amigos. Não é uma atitude inteligente, mas quem falou que você é?;
8.1 (parágrafo único): use uma foto dessas como avatar do seu perfil no Facebook.

9 - Ah, você precisa de uma causa. Pode ser qualquer uma, desde que seja lida no Facebook;

Pronto! Vá as ruas e proteste. E diga que não é por 20 centavos.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Um preço alto por ser forte

A força está ligada a muitos significados. Podemos defini-la como alguém que busca vencer na vida, que está doente e precisa melhorar de saúde, fazer esforço físico, dar um chute em uma bola de futebol, arremessar uma bola de beisebol, superar problemas familiares. São inúmeros os assuntos a serem tratados com essa palavra, que mexe tanto com a parte física quanto psicológica.

Porém, a força física pode se adquirir com treinamentos, o ato de levantar peso, praticar algum esporte, cuja consequência é a pessoa realizar algumas das opões citadas no primeiro paragrafo. Mas quero me referir à força psicológica, que vem de dentro, essa sim é a verdadeira guerreira. Sem ela o corpo só é um objetivo comum.

Fato é que o ser humano começa a descobrir sua força interior nos momentos mais difíceis de sua vida, ou melhor, usá-la, porque esta é usada em situações especificas e muitos não sabem o próprio poder que têm.

Certa vez ouvi de uma pessoa a seguinte frase: “Deus não dá uma pedra maior para quem não consegue carregá-la”. Não deixa de ser uma frase interessante e que lá no fundo tem o seu significado. Sempre reflito sobre ela por diversas e diversas vezes. O lado “positivo” é que sim, são poucas as pessoas que conseguem não deixar o pedregulho cair. Apesar dos sérios problemas, pode tombar, mas não cai. A força (mental) que se adquire ao longo do tempo deixa o ser humano mais forte (mentalmente).

Mas e o lado das perguntas? Dos por quês? Esse é um lado negativo ou pode se tornar positivo ao longo do tempo? É difícil dizer. Muitas pessoas exclamam que em tudo na vida existe um porque. Até lá nós vamos aprendendo, sofrendo, superando obstáculos, tentando levar a vida da melhor maneira possível.  

Ao longo do tempo o ser humano pode ir fortalecendo a sua força ou com insistentes problemas perdê-la de uma só vez, e quando isso acontece, o pedregulho cai ladeira abaixo e carrega o homem junto com ele. Usar a força que temos dentro de nós para continuar caminhando é preciso. Mas até onde vai a força psicológica de nós, seres humanos? Existe um limite? A vida acaba cobrando o seu preço lá na frente? Só Deus sabe.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Saudades de tempos recentes

Foto: Revista Veja/ Uol Esporte
Poderia escrever sobre mais uma barbárie das torcidas organizadas, mas vou optar pelos comentários acerca do Majestoso no Morumbi.

Saudade de tempos recentes, quando assistíamos a um duelo entre Emerson Sheik e o menino Lucas. Saudade de ver o Rogério Ceni em grande forma. Saudade de Ralf e Paulinho destruindo no meio-campo. Saudade do Jadson, que era jogador de Seleção Brasileira. Saudade de torcida que torcia e não batia (evidentemente, há muito tempo, algumas pessoas começaram a confundir torcida com bandidagem).

O clássico no Morumbi só retratou o momento ruim de duas equipes que há um ano brilhavam e mostraram que planejamento e bom trabalho davam resultado. O Corinthians era o então campeão da Libertadores e mais tarde campeão do mundo. O São Paulo, o melhor time do segundo turno do Brasileirão e tempos depois vencedor da Copa Sul-Americana.

O tempo passou. O professor Adenor caiu no marasmo e, junto dele, principalmente, o comodismo de boa parte do elenco alvinegro. O São Paulo trocou o comando, jogadores e travou na falta de planejamento para 2013. Recorreu a Autuori, que naufragou com seu barco. Apelou para Muricy, que busca de todas as formas salvar o time do descenso.

Engraçado é ver que ambos os times tinham perspectivas gigantescas para esta temporada. Fizeram boas contratações, dentre elas Alexandre Pato e Lucio. Até agora nenhuma deu certo. O ultimo, aliás, deve rescindir seu contrato em breve com o Tricolor.

Dizem que a saudade só aparece depois de muito tempo. Os torcedores e apaixonados pelo bom futebol já a sentem depois de quase um ano de títulos importantes dos dois clubes.

A temporada ainda não acabou, mas é bom São Paulo e Corinthians tomarem cuidado, afinal em dois meses muita coisa pode mudar.

domingo, 13 de outubro de 2013

Não são torcedores

Vejo corintianos nas redes sociais urrando por punição ao São Paulo por conta da barbárie de alguns delinquentes (não são torcedores) nas arquibancadas do Morumbi.  Normal, visto que, por causa da atitude semelhante da marginália (não são torcedores) com a camisa do seu time, o Corinthians foi punido. Até aí, nada mais justo, pois a mesma pena deve ser aplicada quando ocorre o mesmo delito.

É óbvio que o São Paulo, que está numa pendura desgraçada, corre sério risco de perder alguns mandos de campo por causa desses parvos (não são torcedores). O problema é que punir o clube, qualquer que seja ele, não vai resolver a questão, pois esses patifes (não são torcedores) estão pouco se lixando para "seus" times. A punição tem que ser sobre eles, os arruaceiros (não são torcedores). Não será a primeira vez, mas não acontecerá picas com eles.

A primeira medida deveria partir do próprio distintivo: processar essa chusma de ignóbeis (não são torcedores), cobrar deles os prejuízos que acabam sobrando para os clubes. Em vez disso, alguns cartolas continuarão passando a mão na cabeça dessa horda (não são torcedores) e a imprensa (sim, também temos nosso quinhão de culpa) dirá que a polícia é despreparada.

Ah, sim, um processo criminal viria bem a calhar também. Para isso, é preciso identificar os patifes (não são torcedores). E é possível. Se não, vejamos:


Na imagem, só de saída, dá para apontar pelo menos quatro crimes: formação de quadrilha, desacato a autoridade, desordem pública e crime de rixa. A cara dos vagabundos (não são torcedores) está aí, para quem quiser. Basta as autoridades quererem.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Titanic preto e branco

por Vinicius Carrilho

Grandioso, aparentemente indestrutível e que acabou em tragédia. Dessa forma, as histórias do Titanic e do Corinthians de 2013 se cruzam. Talvez com uma diferença: no alvinegro, todos os presentes merecem receber uma parcela de culpa pelos acontecimentos.

É quase uma lei natural humana: um homem, quando chega ao topo, tem grandes dificuldades de encontrar uma nova meta e, sem qualquer ambição, torna-se acomodado. Acomodação é a palavra que melhor define o que aconteceu após o ano de 2012 com essa equipe que até conseguiu dois títulos em 2013 – de pouquíssima expressão, é verdade –, mas decepcionou a todos.

Talvez grande personagem – porém não único - da fase vivida pelos remanescentes, Emerson Sheik seguiu por muito tempo prestigiado, mesmo não tendo uma partida de destaque desde 04 de julho de 2012. No começo do ano afirmou estar um menino, apesar de seus 35 anos. De fato, não mentiu. Suas atitudes na temporada foram de um verdadeiro juvenil. Com míseros cinco gols em quase dez meses, o jogador envolveu-se em polêmicas desnecessárias, bateu o pé para forçar uma renovação contratual de dois anos, recebeu 17 cartões amarelos e atingiu recordes inacreditáveis para um atacante, como três suspensões em pouco mais de um mês.

Dos que chegaram, Alexandre Pato pode ser apontado como o mais fiel retrato dos acontecimentos. Contratado por 40 milhões de reais e muito badalado, o jogador tornou-se uma espécie de Túlio Maravilha da nova era. Assim como o artilheiro dos quase mil gols – contagem que também é “quase” verdadeira -, Pato passou boa parte do tempo na reserva, mesmo sendo um dos artilheiros da temporada. Se o futebol não é nada vistoso, os números mostram o atacante efetivo e a história aponta que ele acabará como Túlio, em 1997: vai embora sem deixar nenhuma saudade.

Se outrora foi merecedora de inúmeros elogios, neste momento a diretoria também merece ser criticada. Perder Paulinho para o futebol europeu era inevitável, mas repor a perda com Ibson e Maldonado beirou a insanidade. Apesar das várias lesões terem atrapalhado a equipe no segundo semestre, a montagem do elenco acabou mostrando-se equivocada. Além de atletas sem a menor capacidade de fazer parte do plantel corinthiano, as categorias de base do clube cada vez mais dão sinais de total falência, não conseguindo revelar sequer um jogador mediano para compor o grupo.

O mais pressionado dos personagens, Tite é quem menos tem culpa em todo o dramático enredo. Sem conseguir repetir escalações e comandando profissionais sem qualquer ambição, o técnico acabou tornando-se um verdadeiro passageiro da agonia. Porém, em alguns momentos – estes, aliás, assumidos pelo próprio – se equivocou em escolhas e deixou o seu característico “me-re-ci-men-to” de lado para apostar em suas convicções. Com contrato até o final deste ano, deve ser o primeiro a puxar a fila das despedidas.

Por fim, bandidos fantasiados de torcedores e até verdadeiros adeptos também atrapalharam a equipe em 2013. Perdas de mandos de jogos por mau comportamento tornaram-se uma constante no alvinegro. Sem contar que a fiel torcida não deixou de ser fiel, mas perdeu sua essência humilde, maloqueira e sofredora. Se antes os gritos eram de Corinthians e a satisfação vinha de um simples carrinho ou daquele gol nos acréscimos, hoje a prepotência e soberba fazem da torcida uma espécie de plateia de teatro, que só se manifesta gritando o nome de jogadores ou exigindo um espetáculo em campo.


É com todo esse drama digno de cinema que se encerra o ciclo daquela que talvez tenha sido a equipe mais vitoriosa dos 103 anos de Sport Club Corinthians Paulista. Ainda restam pouco mais de dois meses de temporada e, no mais otimista dos cenários, o Titanic preto e branco seguirá afundando, até esse 2013 – que de fato foi um ano “treze” para o alvinegro – acabar. Talvez como uma justa homenagem, enquanto o naufrágio acontece, assim como no filme, a banda não irá parar de tocar e, caso não seja o melancólico Hino Circunstancial, a canção provavelmente será a clássica Valsa da Despedida. 

*Vinícius Carrilho é osasquense, maloqueiro, sofredor e gostaria
de ganhar a vida contando piadas, mas o Corinthians tem feito
isso por ele e, depois de ontem, talvez nem se lembre que tem 22 anos.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Acabou o amor?

por Breno Benedito*
A paciência começou a se esgotar no Parque São Jorge.  Domingo, diante de pouco mais de 20 mil torcedores num ensolarado e perfeito dia para voltar a vencer, o Corinthians foi de novo um time totalmente desorganizado. Será mesmo que o time está assim? Ou então um time sem ouvidos para um treinador que gosta de ter a intensidade? Parece que perdeu liga, ou mais um sinal de cansaço também pode ser o motivo, ou relaxamento por tantos títulos? 
Ao certo não sabemos o que está acontecendo com o campeão do mundo. Parece que os gritos de Tite à beira do campo não surtem mais efeitos com seus comandados dentro de campo. Pode ser que ele esteja começando a dar sinais de cansaço. O treinador gaúcho também parece meio perdido, não sabe o que fazer diante de um elenco que tantos dizem ser numeroso, mas ao mesmo tempo não é.
Tite não usa o que tem, não faz teste. Ele é agradecido aos jogadores que foram campeões da América e do mundo. O time é previsível demais, todos marcam o Corinthians e por acomodação não saem desta marcação. O planejamento era claro, vencer novamente a Libertadores, mas coisas estranhas fizeram adiar.
Venceu o Paulista, e o título da Recopa Sul-americana diante de um combalido São Paulo. Mas nas alamedas do Parque São Jorge o medo de escapar a chance de disputar mais uma competição continental é visível. Hoje são 19 pontos que separam o Corinthians do líder Cruzeiro. Além disso, o problema são as apresentações dentro das quatro linhas. Será frustrante um time milionário ficar de fora da Libertadores.
A diretoria diz que não abre mão do técnico que tem e quer dar um choque no elenco, porém a cada jogo isso pode estar mudando. O presidente quer a renovação antecipada do comandante, entretanto, vendo a apatia do time, começa a levantar a dúvida da permanência de treinador. 
O técnico tinha dinheiro na mão pra reforçar, para mudar um time velho e cansado. Alessandro, Fabio Santos, Danilo, Sheik (jogadores que estão acima dos 30 anos) não conseguem manter o mesmo ritmo. Guerrero parece que ficou em 2012. Pato, um dos jogadores contratados, ainda não rendeu o esperado.   
Qual será o destino? O maior medo da diretoria é a cobrança da torcida, que no Pacaembu já começou a dar sinais de cansaço com o time. Nem tinha acabado o jogo e o coro já vinha das arquibancadas. Os créditos estão se acabando, então é hora de mudar alguma coisa. Alguns já começam a calcular os prejuízos caso esse time fique de fora da Libertadores do ano quem. Quem pagará o Pato, literalmente falando?
*Breno Benedito é corintiano, estudante de 
Jornalismo e trabalha na Federação Paulista de Futebol

terça-feira, 10 de setembro de 2013

A mão que balança a cesta

por Vinicius Carrilho*

Vivemos em um país onde ídolos são tratados como produtos descartáveis. Na verdade, muitos deles só são lembrados a partir do momento que deixam este mundo. Também há muitos outros que sequer ganham uma respeitosa recordação depois que cumprem sua missão na Terra. Porém, não é em todos os países que as coisas funcionam assim.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a cultura com os ídolos parece ser a mesma cantada por Nelson Cavaquinho, em seu esplendoroso samba “O dia em que eu me chamar saudade”:

"Sei que amanhã quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer que eu tinha um bom coração
Alguns até hão de chorar, querer me homenagear
Fazendo de ouro um violão.
Mas depois que o tempo passar, sei que ninguém vai se lembrar
Que eu fui embora.
Por isso é que eu penso assim: Se alguém quiser fazer por mim
Que faça agora."

Oscar Daniel Bezerra Schmidt, um dos maiores jogadores de basquete que esse país já teve, alcançou no último domingo (8) um patamar onde poucos tiveram a honra de chegar: entrou para o hall da fama do basquete. A homenagem, realizada por americanos, aconteceu em Springfield, berço do esporte.

Durante seu discurso, o Mão Santa – que na verdade de santa não tem nada. É treinada mesmo, como afirma Oscar – arrancou risadas da plateia e, em inglês, recordou quando deixou de assinar um contrato com o New Jersey Jets, da NBA, para defender a Seleção Brasileira: “Me ofereceram um contrato para jogar no New Jersey Jets e eu disse: “Muito obrigado, mas se eu fizer um jogo aqui, nunca mais jogarei na minha seleção”. Essa era a regra na época. (...) Três anos depois, em 1987, ganhamos dos americanos nos Estados Unidos. Me desculpem (risos)”.

No fim de sua fala, que durou pouco menos de 15 minutos, as risadas se transformaram em lágrimas de emoção quando ele agradeceu Cristina, sua esposa: “Você é a melhor pessoa que já conheci. Se você não estivesse comigo, eu não estaria aqui, tenho certeza. Eu te agradeço por tudo. Já estamos juntos há 38 anos e eu espero ficar com você até o dia em que eu morrer”.

Único estrangeiro entre os 12 homenageados da solenidade, ninguém do país de Oscar Schmidt pode acompanhar o momento, já que não houve transmissão do evento. Aliás, tal feito pouco foi falado e divulgado. A preferência nos últimos tempos foi por informações sobre o estado de saúde do ex-jogador – que luta contra um câncer no cérebro - e sua opinião sobre a Seleção Brasileira de Basquete, que recentemente passou vergonha na Copa América, perdendo, pela primeira vez, a vaga no mundial.

Porém, com ou sem reconhecimento, a dedicação de Oscar Schmidt pelo esporte brasileiro jamais será apagada. Que um dia, de preferência enquanto ele ainda estiver por aqui, seja realizada em seu país, por seus compatriotas, uma cerimônia tão grandiosa como a feita no domingo. É um dever do esporte brasileiro retribuir, seja lá de que forma for, tudo que Oscar fez por ele durante muitos anos.

Enquanto isso não acontece, nos resta apenas torcer para que o ídolo nacional consiga vencer mais esse jogo, dessa vez contra a doença que o acomete. Sabendo da sua valentia e garra, fica a certeza que a vitória será tão fácil quanto era um lance livre para o Mão Santa.

Por tudo, obrigado, Oscar!


Vocês já viram muitos jogadores melhores que eu. Mas não vão ver nenhum que tenha treinado mais e que tenha tanta obstinação pelo basquete quanto eu” - Oscar Schmidt

* Vinicius Carrilho tem 22 anos, é jornalista, 
morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida 
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.