O Campeonato Brasileiro está uma vergonha. Não bastasse o paupérrimo nível técnico, agora o apagão é moral. Entrega-se o jogo com uma facilidade absurda, sem o menor pudor. Pudor, aliás, nem no discurso tem tido lugar. Resquícios do final do campeonato do ano passado, quando Grêmio e Corinthians macularam suas histórias para prejudicar rivais que buscavam o título, o que explica, mas não justifica, a falta de decoro. O que se faz hoje é o revide, o nivelamento por baixo, bem por baixo.
Os torcedores de Palmeiras e São Paulo riem feito hienas. Curiosamente, são os mesmos que esbravejaram no ano passado, quando foram as vítimas do pseudo-goleiro Felipe e seus colegas da falta de decoro corintiana. São os mesmos que elegem políticos corruptos, fazendo com que tenhamos que clamar por uma lei para evitar o voto em quem tem o passado espúrio. São os mesmos que reclamam da arbitragem quando um pênalti claro é marcado contra si, mas adoram ver os homens do apito os favorecendo.
O excelente Moacyr Franco, que deve estar envergonhado pelo que o seu Palestra se prestou a fazer, criou o personagem Mendigo, que andava com um jornal amassado sob o braço e repetia o bordão "e quanto é que eu levo nisso?" quando reclamava da vida. Nos dias que correm, a resposta para o bordão é o que tem determinado a distância entre o esfregar das mãos e a indignação.
O problema, pois, é cultural, é de berço, de (falta de) retidão de caráter. O cidadão que, ao se vestir de torcedor, aceita qualquer calhordice que favoreça seu time, despe-se da moral. Mas ao contrário do Mendigo de Moacyr Franco, sua mendicância é vil, é desprezível. Ele mendiga por favores, por benesses, mesmo que seja à margem da lei e em todos os níveis, desde o cafezinho para o guarda à propina do fiscal.