sábado, 30 de julho de 2011

Implacável

A Lusa segue irresistível na sua campanha de volta à divisão maior do futebol brasileiro. Hoje, em Campinas, enfrentou a segunda colocada Ponte Preta e simplesmente não tomou conhecimento do oponente. Aplicou um categórico 3x0, com todos os tentos marcados na segunda parte.


Entre as diversas qualidades do time luso está o fato de nunca voltar pior do intervalo. Esta é mais uma mostra de como o Cantinflas do Canindé, o Jorginho, conhece do negócio. No Moisés Lucareli a Ponte foi mais perigosa no truncadíssimo primeiro tempo, impondo, inclusive, uma bola à barra de Wéverton.


Foi um jogo em que, individualmente, ninguém brilhou. Tanto que os dois primeiros golos surgiram em bolas alçadas na área, anotados pela dupla de beques Leandro Silva e Mateus. Edno não brilhou, embora tenha lutado muito. Henrique e Ivo não tiveram uma jornada bem conseguida, tanto que ficaram no balneário no intervalo. No entanto, Jorginho foi feliz na substituições e a Lusa triturou a Ponte Preta, abrindo quatro pontos na cimeira da tabela.


Outra qualidade que pode ser vista na Lusa é o extenso leque de possibilidades. Num dia em que não seria no toque de bola que se resolveria a fatura, o jeito foi lançar mão da bola levantada na área pelo excelente Marco Antonio. Foram dois golos assim. O terceiro foi consequência do desespero dos anfitriões, que se lançaram à frente e deixaram todo o espaço do mundo para o reserva Rai dominar, cortar a marcação e marcar um belo golo.


E assim segue a nau lusitana, implacável rumo ao porto seguro da Primeira Divisão.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Quem quer passar além do Bojador

Sabe quando você olha na tabela do campeonato e pensa "aqui a gente não ganha nem na marra"? Sábado foi um jogo desses. No Pituaçu, contra o Vitória, a Portuguesa contou com a sorte para trazer na bagagem mais três pontos.

O time estava desfalcado, já que não contava com o médio Henrique e o defesa central Mateus, entrando Leandro Silva e Ivo em seus lugares. Para complicar, o Rubro-Negro baiano jogava com a casa cheia, contava com quatro estreias e vinha de derrota.


E o Vitória, como era de se esperar, tomou conta do jogo. Foram duas bolas atiradas ao poste luso, além da (novamente) ótima atuação do guardarredes Wéverton. Fora os golos incrivelmente perdidos pelo Leão, ora sem goleiro, ora com jogadores livres à frente da moldura lusitana. Em condições assim a Portuguesa costuma perder, ainda mais quando a equipa passa a ser a mais visada, dada a condição de ponteira do certame.

Bolas atiradas ao poste a Lusa também teve. A diferença é que, no caso, ela voltou para o mesmo jogador que a havia atirado, o zagueiro Leandro Silva, que não desperdiçou o troco no lance que abriu o marcador. O mesmo Leandro quase deu o golo de empate, mas a sorte não foi madrasta com a Portuguesa e a igualdade não aconteceu. A boaventurança deu as caras outra vez no segundo golo luso, que nasceu após uma falha igualmente bisonha de um defesa leonino. Entretanto, diferentemente do contrário, Edno não desperdiçou, dando números finais ao escore e a vitória aos comandados de Jorginho.


Jorginho, aliás, foi o maior destaque no dia em que, individualmente, apenas o goleiro luso brilhou. Soube armar o time para segurar a pressão, ter paciência e ser letal no contragolpe.


Quem quer passar além do Bojador tem que passar além da dor, já dizia Fernando Pessoa. E, para tanto, a sorte é fundamental, já que, além de uma boa caravela e uma grande tripulação, é bom que o mar ajude.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Hora da verdade

A campanha da Lusa na Série-B chama a atenção. Além de estar ponteando o certame, o futebol praticado pelos comandados de Jorginho é vistoso, de encher os olhos. E o fato de estar brilhando em uma divisão menor acaba tendo o lado ruim, uma contra-indicação: o interesse dos clubes da Primeira Divisão.

O primeiro a ser sondado foi o próprio Jorginho, que teve propostas de Grêmio e Atlético Paranaense, além de ter seu nome envolvido em boatos vindos do Morumbi, onde a fritura do então treineiro Carpegiani já se encontrava em óleo fervente. Como o Cantinflas do Canindé é luso desde as bancadas e não abandonaria a caravela nem para ir ao Barcelona, não houve mudanças no comando técnico rubro-verde.


Agora o assédio é sobre o elenco. As informações são de que o atacante Jael, o Cruel, que já esteve na ordem do dia de Santos e Grêmio, está prestes a se transferir ao Flamengo. Embora seja um jogador que conta com o apoio dos adeptos lusos, não seria uma perda das maiores, já que mais tem estado suspenso do que jogando. Tem boa técnica, sabe abrir espaços, é raçudo, carismático e fazedor de golos, mas é uma bomba-relógio, pronta para explodir a qualquer momento.


Outro atleta visado é o jovem volante Guilherme. Um volante completo, mesmo aos 20 anos. Marca forte sem dar pancada, dificilmente erra um passe e tem um chute forte e certeiro à longa distância (a torcida esmeraldina que o diga), além da excelente chegada à frente. Seria titular em qualquer time do Brasil. Este sim, caso saia, fará uma falta enorme à Lusa.


É este o momento mais delicado do campeonato. Se a Lusa resistir às investidas dos "co-irmãos", tem tudo para navegar tranquila o revolto mar da Série-B. Caso contrário, a tormenta poderá pôr a pique a nau rubro-verde.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Este é Jorginho



Não é de hoje que venho tecendo elogios ao treinador Jorginho (a quem costumo chamar Jorginus Michels), da Portuguesa, que, além de ser um treinador competente mostra-se uma das pessoas de maior humildade e retidão de caráter. A entrevista que o eterno Cantinflas do Canindé concedeu ao jornalista Renato Pereira, do Blog da Portuguesa, mostra bem quem é Jorginho.

Blog da Portuguesa: Você jogou na Portuguesa nos anos 80, quando o clube fez belas campanhas. O que mudou no clube de quando você era jogador, para hoje, quando você é técnico?

Jorginho: Mudou tudo, a Portuguesa é outra. A começar pela estrutura. Na época, não havia Centro de Treinamentos e aumentaram as dimensões do campo. Os vestiários foram renovados e até o banco de reservas está modificado. Há, ainda, a implantação da sala de musculação e a separação do departamento de futebol profissional do amador. Nem os túneis,que no meu tempo de jogador era horríveis, alagam mais.

BP: A Portuguesa então evoluiu...

J: Sensivelmente. É de fato um outro clube. Não é à toa que o Palmeiras adora jogar aqui. O gramado está muito bom. É uma estrutura de alto nível.Chegamos à nona rodada da Série B, ou seja, quase metade da primeira fase já passou. Já é possível definir quais são os pontos altos e baixos da Portuguesa 2011?A Portuguesa é um time rápido, tem muita muita velocidade. Há a mescla de jogadores experientes com novos. Alguns têm a habilidade como referência; outros o bom toque de bola.Um setor que eu estou tranquilo é a defesa. Desde que cheguei ao clube, não tomamos gols de bolas paradas. Já no ataque, ainda não foram definidos os titulares. No decorrer do jogos,é que eu vou ver quem tem condições de ser titular ou não.


Imagem: Fernanda SO/Portuguesa

sexta-feira, 1 de julho de 2011

A dona da bola e a pasteurização

Há algum tempo fui assistir a uma palestra do apresentador do Globo Esporte, Tiago Leifert, na sede da ACEESP. Na ocasião, o animador do programa esportivo da hora do almoço afirmou que a Globo tem o direito de determinar horários dos jogos e de dar palpites até no regulamento, pois paga, e bem, por isso. Leifert representa a renovação na forma de falar de esporte, mas o comportamento dele é ultra reacionário. Ele reza na cartilha global e defende, com unhas e dentes, aquele que paga seu salário.

Mas não é do apresentador que eu quero falar, e sim da sua emissora. Desde o monstrengo da Copa União em 1987, quando o Clube dos 13 proclamou-se a nata do futebol nacional, a Rede Globo de Televisão tornou-se posseira deste mesmo futebol. Ela, Globo, que é detentora dos direitos de transmissão de quase todas as grandes competições no país, mantém os clubes sob seu jugo com a prática de pagar pouco e adiantar cotas de outros anos.

Assim os clubes, que têm no DNA a má-administração e o clientelismo, vivem com o pires na mão e nas mãos do canal da família Marinho. Ainda sobre mãos, é o conceito do uma-mão-lava-a-outra que deixa os clubes com as suas atadas, clientes da benevolência global.

Como se não bastasse ser a dona dos corpos, agora a TV do plim-plim quer também a alma do futebol. Até a comemoração do gol eles tentam usurpar, com aquele João-Bobo grotesco que vem pululando nos gramados nacionais, e que, desgraçadamente, caiu no gosto de outros bobos, os de chuteira e os de controle remoto nas mãos.

Palmeirenses comemoram gol com a odiável
coreografia (Djalma Vassao/Gazeta Press)
E é exatamente o que a Globo quer: um futebol parecido com a sociedade: pasteurizado, quadrado, adestrado, incapaz de subverter a ordem que ela ajuda a estabelecer desde o golpe de 1964.