quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

PORTUGUESA - SAF-se quem puder?

Divulgação

Com a aprovação da Lei das SAFs (Sociedades Anônimas de Futebol), que permite transformar os clubes de futebol em empresas, sancionada recentemente pelo presidente da República, passou a ser o objetivo, ou melhor, o sonho de muitos torcedores de diversos clubes que o seu seja agraciado com a venda para algum multimilionário que estiver dando sopa por aqui e, ao ver que o distintivo está no mercado, atrás de investidores, perguntar a si mesmo “e por que não?” antes de despejar muitos milhões e transformar emblemas combalidos em potências do futebol mundial da noite para o dia.

Querem um "velho da lancha", um sugar daddy.

Essa espécie de loteria, desejo do torcedor, ficou ainda mais forte quando Ronaldo Fenômeno comprou o Cruzeiro e a venda do Botafogo para o investidor americano John Textor está a ponto de ser sacramentada. Textor, vale lembrar, detém 18% das ações do Crystal Palace-ING e andou balançando seu gordo cofre para a SAD do Benfica, que não quis saber de negócio.

Naturalmente, a torcida da Lusa não é diferente - ou ao menos a parte que costuma se manifestar em redes sociais. Quando a Red Bull tornou-se parceira do Bragantino, muito foi falado nas alamedas do Canindé que o negócio poderia ter sido feito com a Lusa. Aí está um ponto importante e pouco agradável de ser tocado: o Bragantino, à época, disputava a Série B do Brasileirão e a Série A1 do Paulista, estando numa posição muito mais interessante para a empresa austríaca, que já tinha seu time aqui, o Red Bull Brasil, que, como não conseguia avançar no cenário nacional ameaçava largar o projeto. Ou seja, a Portuguesa não tinha - e ainda não tem - condição de oferecer o que eles queriam. O que vinha depois, que era a mudança do distintivo, do nome e das cores, é outro ponto de discussão que não cabe aqui, no momento.

É isso o que a malta rubro-verde precisa perceber: o que temos a oferecer hoje, além da nossa tradição e da nossa história? Claro que isso é um cenário que pode mudar em dois ou três anos, mas até lá a Portuguesa ainda luta para voltar à Série D e à A1 do Paulista, e, é bom que se diga, não é algo lá que atraia os investidores mais graúdos para os nossos lados. E é importante também entender que um investidor não é um mecenas. Muito pelo contrário. Relações como a que tínhamos com o saudoso dono dos Armarinhos Fernando são bem diferentes de alguém - ou algum grupo - que queira usar a Portuguesa para ganhar dinheiro, que é, afinal, o resultado esperado em todo investimento.

A mudança para que a Lusa se transforme em uma SAF é o caminho natural - e até aconselhável -, mas que isso não faça o torcedor achar que todos os problemas serão solucionados. Não é raro haver uma espécie de fetiche com relação às chamadas gestões empresariais, como se elas significassem boa governança e garantia de sucesso. Empresas quebram todos os dias e por diversos motivos, e a Portuguesa, ou outro clube qualquer, não estão livres disso, mesmo sendo SAF ou não. Vejam casos como o do Desportivo das Aves, e d’Os Belenenses, em Portugal, ou no Chile, onde o Colo-Colo passa por aperto desde que foi comprado. São estes, bem como a Espanha, os países que serviram como modelos para os autores da Lei 14.193/2021. Para tanto, sugiro a leitura do livro “Clube-Empresa - Abordagens críticas globais às sociedades anônimas no futebol”, de diversos autores, organizado pelo jornalista Irlan Simões.

Eventual mudança de modelo de gestão não significa, necessariamente, a solução para os nossos problemas, como mostra o exemplo do Colo-Colo, quase rebaixado no Chile (Getty Images)

Além do mais, a legislação, por obra e desgraça do presidente, não obriga o investidor a ter sua identidade revelada sob o pretexto de que isso poderia espantar eventuais interessados que preferem se manter no anonimato (diferentemente do que era previsto no PL e foi um dos itens vetados pelo presidente. O Senado Federal ainda derrubou alguns vetos, mas este foi mantido), justamente o ponto que garantiria transparência no negócio. Em outras palavras, abre as portas dos clubes para quem quer lavar dinheiro sujo e não quer, obviamente, mostrar a origem da grana.

E é aí que está o negócio - ou o ponto mais importante dele. Devemos ter muito cuidado com quem irá colocar o dinheiro, de onde ele vem, o modelo da gestão e, principalmente, as diferenças no plano de negócios nas ações de curto, médio e longo prazo. É isso ou será mais um capítulo a ser lamentado na nossa história. E, convenhamos, capítulos lamentáveis não nos têm faltado.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Porto x Lisboa, capitão antifascista e uniformes da Casa Pia - há 100 anos, estreava a Seleção de Portugal


O primeiro jogo da história da Seleção Portuguesa, que perdeu para a Espanha por 3 a 1, foi uma esculhambação. Começou ainda na convocação. A imprensa, que já era chata pra diabo há um século, questionou a presença de Francisco Pereira, dos Belenenses, fazendo com que ele renunciasse à chamada. Com isso, outros jogadores da equipe lisboeta resolveram recusar a convocação, inclusive seu irmão, Artur José Pereira, considerado o melhor do país na época, o que fez com que Augusto Sabbo, que também era técnico do Sporting, entregasse o boné.

Resolveram então fazer uma junta, formada por seis integrantes da Associação de Futebol de Lisboa, para convocar os jogadores para o tal jogo com os espanhois, que estava de rosca desde 1912, quando nem havia ainda Federação Portuguesa de Futebol, e que não saiu na ocasião porque os vizinhos queriam que Portugal bancasse todas as despesas. O fato de a tal junta ter só o pessoal do Sul causou a insatisfação dos clubes da Associação de Futebol do Porto, principalmente os Dragões. Além do mais, somente Artur Augusto, que jogava no Porto, foi convocado para além dos jogadores de fora da associação lisboeta, o que era mais um motivo de queixa dos nortenhos, que proibiram os seus jogadores de servirem à debutante seleção. Inclusive, Artur Augusto ter nascido em Lisboa reforçaria a tese de que aquela não era uma seleção nacional, mas da Capital.

Ainda assim, Artur resolveu que jogaria. E jogou. E ajudou a escrever a história do futebol português, sofrendo o pênalti convertido pelo irmão, Alberto Augusto, que jogava no Benfica, portanto, o primeiro gol da história de "Equipa das Quinas". Destaca-se aqui o nome do goleiro espanhol: o mítico Zamora, que viria a ser o arqueiro da equipe na Copa do Mundo de 1934, quando defendeu um pênalti cobrado por Waldemar de Brito, o descobridor do Rei Pelé, que hoje dá o nome ao prêmio de melhor goleiro da Liga Espanhola.

A base do time era formada por cinco jogadores do Casa Pia, que também forneceu os belíssimos uniformes negros utilizados na partida. O capitão era Cândido de Oliveira, homenageado com o nome da Supertaça e que ainda foi jornalista e um dos fundadores do jornal A Bola, além de técnico e selecionador nacional. Notabilizou-se também no combate ao fascismo, tornando-se agente secreto a serviço dos aliados durante a Segunda Guerra Mundial. Capturado pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado, uma espécie de DOPS da desgraçada ditadura salazarista), foi enviado a um campo de concentração em Cabo Verde, sendo libertado após o fim da guerra.

Outro nome está ligado ao combate ao salazarismo: o benfiquista Vitor Gonçalves era pai do General Vasco Gonçalves, um dos militares que participaram da Revolução dos Cravos e que foi primeiro-ministro de Portugal no II, III, IV e V Governos Provisórios, o chamado PREC (Período Revolucionário em Curso). Outro fundador d’A Bola também alinhou no 11 português: Ribeiro dos Reis, também casapiano como Cândido de Oliveira, que posteriormente foi o treinador de Portugal na primeira vitória da seleção, contra a Itália, quatro anos mais tarde, cujo gol foi marcado pelo leonino João Francisco, que também esteve em campo naquele 18 de dezembro de 1921. 

O jogo? Bem, o jogo foi 3 a 1 para a Espanha, que já tinha alguma experiência internacional, tendo inclusive conquistado a medalha de prata nos Jogos Olímpicos da Antuérpia, no ano anterior. Com 10 minutos, Meana e Alcantara já haviam feito 2 a 0 para os espanhóis e, só depois, Portugal conseguiu equilibrar as ações e evitar uma goleada. No início do segundo tempo, a Espanha voltou melhor, mas fez o terceiro só aos 21, novamente com Alcantara. Nove minutos depois, Portugal diminuiu com Alberto Augusto, fechando o placar. 

Portugal alinhou com Carlos Guimarães (CIF); Pinho (Casa Pia) e Jorge Vieira (Sporting); João Francisco (Sporting), Vitor Gonçalves (Benfica) e Cândido de Oliveira (cap, Casa Pia); José Gralha (Casa Pia), António Augusto Lopes (Casa Pia), Ribeiro dos Reis (Casa Pia), Artur Augusto (Benfica) e Alberto Augusto (Porto), tendo Carlos Villar, presidente do CIF, como treinador. A Espanha foi a campo Zamora (Barcelona); Meana (Gijón) e Fajardo (Atlético); Balbino (Fortuna), Pololo (Atlético), Arrate (cap. Real Sociedad); Sesúmaga (Sama), Arbide (Real Sociedad), Pagaza (Racing Santander), Olaso (Atletico) e Alcantara (Barcelona) - Técnicos: Manuel Castro e Julian Ruéte.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

PORTUGUESA - Quase fomos

* Texto originalmente publicado no NetLusa


Era um dia diferente. Era um domingo diferente. Era dia de decisão do Campeonato Brasileiro, algo especial por si só. O pessoal de hoje, com seus extremos desequilibrantes, wingers, box-to-boxes e hat-tricks, não faz ideia, mas campeonato com final era legal pra caramba, não essa bobagem de pontos corridos em que “todo-jogo-é-decisivo”. O escambau que é!

Só que aquele 15 de dezembro de 1996 não era igual aos outros 25 dias parecidos que aconteceram desde 1971 (repitam comigo: “O Campeonato Brasileiro começou em 1971"): nenhum deles teve a honra de ter a Portuguesa em campo. E com a vantagem de ter vencido por 2 a 0 o primeiro jogo, numa quarta-feira de muita chuva e atuação de gala de Gallo, Caio, Zé Roberto e Rodrigo.


Para chegar ali, foi preciso passar pelas águas tortuosas das 23 rodadas da primeira fase, que distribuía oito vagas para o mata-mata. Na última delas, a gente estava em 11º lugar e dependia de uma combinação enorme para passar: era preciso torcer contra três dos quatro concorrentes às duas vagas que restavam (Goiás, que jogaria com o classificado Grêmio em Porto Alegre; Internacional, que visitaria o rebaixado Bragantino; Sport, que visitaria o também classificado Palmeiras; e São Paulo, que pegaria o eliminado Paraná, fora de casa), além de vencer o Botafogo, campeão em título, mas que não brigava por nada. 


Como o Canindé havia sido interditado porque alguns gênios resolveram atirar objetos no gramado na partida com o Vitória, os últimos dois jogos como mandante da primeira fase foram disputados longe, bem longe, da nossa casa. Pior: o time vinha de duas derrotas seguidas, para o Internacional em São Januário, no primeiro dos jogos em que cumpriu a punição, e para o Coritiba, uma sova de 4 a 0.


Aí, o inesperado: um incontestável 4 a 1 no Fogão, com direito a cai-cai quando o goleiro Clemer se preparava para bater um pênalti, combinado com as derrotas do sétimo colocado Inter (gol do ex-luso Esquerdinha) e do oitavo Sport, e o empate do Tricolor, bastaram para a Lusa avançar. Por força do imbecil regulamento da época, os jogos a partir das quartas-de-finais não poderiam ser disputados no Canindé, que não tinha a capacidade mínima exigida para dali em diante. Toca para o Morumbi, então.


Desde o milagre da última rodada, tudo parecia possível. Bater o líder Cruzeiro? Opa, tranquilo. Toma um 3 a 0 aqui com show do saudoso Alex Alves. Veio o grande Atlético Mineiro, que ainda não era esse troço cheio de grana de construtora e nova vitória “em casa”, mas pela margem mínima. Havia ainda, no Mineirão, mais de 80 mil vozes enlouquecidas gritando “lutar, lutar, lutar!”. Lutamos, viramos e seguramos um 2 a 2 com a força das nossas almas. Quase não deu, mas deu. 


Faltava a final com o copeiro Grêmio.


Que dias foram aqueles! Como o Guarani e o Palmeiras rodaram já na segunda fase - e cabe um adendo aqui: os quatro melhores colocados foram eliminados por quem teria que decidir a sorte longe de casa e as semifinais foram disputadas por Atlético Mineiro, Goiás, Grêmio e Portuguesa. Voltando, como o Bugre e o Verdão dançaram, a Lusa foi a única representante paulista dali em diante e, exceto os gremistas e um ou outro ser de coração ruim, todo brasileiro que não era indiferente ao futebol vestiu nossas cores. E foram todos muito bem-vindos. Eu mesmo cansei de levar amigos que não tinham a sorte suprema na vida de serem torcedores da Portuguesa ao Canindé. E todos com camisa da Lusa, emprestadas por mim, claro. Por que diabos não receberia de bom grado este reforço de última hora? Acho que todo mundo tem direito de ser feliz na vida, mesmo que por somente 90 minutos.


Desde que Clemer fez uma defesa sobrenatural no chute do volante Moacir - que seria um dos nossos no ano seguinte - e segurou o 2 a 2 no Mineirão, o Canindé havia se tornado o epicentro do futebol brasileiro. Imprensa todos os dias, páginas, páginas e mais páginas dos jornais, Globo Esporte na hora do almoço. Galvão Bueno gritando “ééééé da Luuuusaaa!” (com licença, Flávio Gomes) no domingo. Era tudo nosso e tudo era Lusa. 


No primeiro jogo, disputado sob um dilúvio, Alex Alves seguiu endiabrado. Foi ele quem sofreu a falta na qual saiu o primeiro gol. Marco Antonio, lateral que substituiu Arce, foi expulso e, segundos depois, a perfeição esteve no gramado, na forma da cobrança de Gallo, da meia lua, no ângulo de Danrlei. Um golaço. Mesmo com um a mais, o nervosismo lusitano era flagrante e o Grêmio, forjado para jogos como aquele, perdeu um caminhão de gols. Ainda assim, o 2 a 0, reforçado pelo tento de Rodrigo, outro jogador em estado de graça e craque daquele campeonato, nos levou ao Olímpico podendo perder por até um gol. A vantagem era grande demais. Até então, somente em uma ocasião um time havia conseguido superar uma desvantagem dessas.


Era o Grêmio.


O início do jogo foi o pior possível. Uma posse de bola besta perdida no campo de defesa, um escanteio. A bola mal rebatida e o gol de pé esquerdo do destro Paulo Nunes. Três minutos de jogo. 55 mil pessoas fazendo o Olímpico tremer. “Era tudo o que o Grêmio queria!”, disse Galvão Bueno. Avizinhava-se, pois, o inferno. Mas não. A Lusa fez-se cascuda nos jogos com os mineiros, quando segurou o melhor time nas quartas e virou o placar nas semifinais, cedendo o empate já no fim, mas era o suficiente. Com os nervos no lugar, a Lusa colocou a bola no chão, equilibrou o jogo e criou chances para empatar com Rodrigo e Caio. 


Desperdício. Fatalidade.


Já no fim do jogo, um aparentemente inofensivo arremesso lateral cobrado à altura do meio-campo encontrou Carlos Miguel desmarcado. Aos 39 minutos do segundo tempo, a única tática para quem precisa marcar é a absoluta falta de alguma tática. Daí, a bola esticada para ver no que dava. Ninguém avisou que o lance era morto e César, impecável até ali, cabeceou mal e a bola caiu no pé esquerdo de Ailton, destro como Paulo Nunes. E o chute saiu indefensável, na veia, tão improvável quanto a combinação de resultados da 23ª rodada da primeira fase. 


Frustração. Tristeza. Estávamos tão perto. No dia seguinte, fui à escola vestindo a camisa da Lusa, pronto para partir pra porrada com quem risse da minha desgraça. Mas não riram e, em vez de ser alvo de toda troça, plenamente justificável, ouvi aplausos, o que me deixou irritado na mesma. 


Jamais tive coragem de rever aquela final e este relato pode ter alguma das confusões que a memória nos prega e, 25 anos depois, ainda me pergunto o que teria sido de nós se Caio tivesse marcado o gol depois da saída errada de Danrlei, se Rodrigo tivesse devolvido a bola para o Alex Alves quando eram os dois contra um zagueiro só. Ou se Rodrigo não chutasse em cima do Arce a última das chances claras da Portuguesa antes do Sobrenatural de Almeida vestir a camisa gremista. 


25 anos depois, agora me pergunto: o que será de nós?


quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

PORTUGUESA - O ano que não terminou

Texto originalmente publicado no NetLusa*


“Lemniscata” é um termo originado do Latim que significa, no Esoterismo, a eterna recriação e a repetição do Universo. É a infinitude representada por uma espécie de 8 deitado.

Este é um número cheio de significado para mim, na minha relação com a Portuguesa. Era o número do Toninho, meu primeiro ídolo; Dener, o craque que o tempo nos negou, usava a oito na histórica Copa São Paulo de 1991; Enéas, o gênio esquecido, que aterrorizou defesas adversárias com a Cruz de Avis ao peito e o 8 às costas, tornou-se eternidade oito anos depois de ter saído da Lusa.

Era um 27 de dezembro, exatos 25 anos antes do dia 27 de dezembro de 2013, dia em que o farsante STJD condenou a Portuguesa à Série B graças à escalação do meia Héverton na última rodada do Brasileirão daquele ano, no último jogo da Lusa na Série A.

O dia? Oito de dezembro. Há exatos oito anos.

Não vale a pena relembrar nestas linhas o ocorrido, pois uma simples busca no Google traz toda a sorte de informações e opiniões, estas nem sempre corretas, do que aconteceu para que a Portuguesa pusesse-se a jeito, como diz-se em Portugal. Como também não faz sentido nenhum não admitir tantos erros que nos deixaram ao alcance da armação que teve lugar na malfadada Rua da Ajuda.

Mau fado este, o nosso. Um fado cantado com melancolia, como todo bom fado deveria ser, caso este fosse bom. Não se enganem: faça o que fizer, a Portuguesa só começará a sair do limbo em que se encontra no dia em que exorcizar seu maior fantasma. No dia em que o ano de 2013 deixar de ser eterno.

Só depois disso é que será possível retomar alguma coisa. Até lá, o samba do mestre Cartola, que nasceu em 1908 e partiu em 1980, cairá como uma luva para o fado lusitano: “Em cada amor tu herdarás só o cinismo, quando notares, estás à beira do abismo. Abismo que cavaste com seus pés”.

E este abismo já dura oito anos de um sofrimento perene, contínuo, uma eterna recriação, uma repetição de um pesadelo que não acaba.

Lemniscata.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

PORTUGUESA - A busca pela perfeição – ou o mais próximo disso que puder

Texto originalmente publicado no Netlusa

SEM DIREITO DE ERRAR sem margem para erros, Lusa
 terá que ser cirúrgica em tudo o que fizer em 2022

A gestão do presidente Antonio Carlos Castanheira tem tido mais acertos que erros na condução do clube e acredito que isto seja ponto pacífico entre todos aqueles que analisam a Portuguesa isentos de viés político. Mesmo alguns pontos que hoje são vistos como equivocados, foram medidas coerentes, em princípio.

A escolha do nome de Flávio Alves para tocar o projeto do futebol no começo da gestão talvez seja a mais emblemática delas. Alves chegou ao Canindé tendo no currículo duas semifinais de Copa Paulista nos dois anos anteriores, por Atibaia e EC São Bernardo, tendo emendado mais duas – a primeira delas com o título – na passagem pela Portuguesa.

Como era este o caminho mais curto para satisfazer a urgência de ter um calendário nacional, o mais indicado seria alguém não só com experiência na competição, mas com bons trabalhos nela. Por mais que pareça clichê, quanto mais se conhece o caminho, menos penoso é o percurso.

Como o projeto fez água com a queda precoce na Série D, nada mais natural do que fazer as correções da rota. Por isso a chegada de um profissional como Toninho Cecílio deve ser vista com bons olhos, mais do que qualquer que fosse o treinador, pois uma coisa está ligada à outra, bem como a formação do elenco, inclusive nos critérios para enxugá-lo.

Erros como o inchaço do grupo de jogadores não podem mais ocorrer. Em 2014, naquela missa de corpo presente e de 38 rodadas que foi a disputa da Série B, um dos maiores erros cometidos pela direção foi ter um plantel com mais de 60 atletas, entre chegadas, afastamentos e dispensas na insana dança das cadeiras que foi o cargo de treinador da Lusa naquela temporada. É impossível trabalhar com esse excedente.

Então, cabe ao gerente de futebol se valer do bom nome que tem entre agentes e atletas (o chamado “mercado do futebol”) para reduzir ao mínimo possível os equívocos na formação do elenco que, em 2022, defenderá a Portuguesa no último ano da atual gestão, que não pode sequer sonhar em chegar ao fim do ano sem a garantia do calendário nacional na temporada seguinte, e, de preferência, com o retorno à Série A1 do Paulistão também na algibeira.

Sem margem de manobra, a Lusa não pode mais entrar para disputar e ver no que vai dar. Será preciso montar um time com casca e que conheça a competição, bem como para tudo o que for disputado, pois não serve mais andar ao largo do rebaixamento, é preciso conquistar. Ou então um projeto com potencial enorme morrerá antes mesmo de aprender a andar sozinho.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

O inferno da repescagem


Procurei em sites brasileiros e do exterior como é a dinâmica da repescagem das Eliminatórias da Europa para a Copa do Mundo. Como não achei - e sou um jornalista, afinal -, fui ao site da UEFA e peguei as informações que precisava. Conta feita aqui, projeção feita acolá, eis o que será a demoníaca repescagem europeia para a Copa de 2022.

São 12 seleções disputando três carimbos no passaporte para o Catar, divididas em dois potes: os seis melhores segundos colocados no um e os quatro restantes, além dos dois melhores da última Liga das Nações que não se classificaram diretamente ou ficaram em segundo, no pote dois.

O formato é simples: serão três grupos com quatro seleções em cada, com uma semifinal e uma final dentro de cada grupo, sempre em jogo único, com o campeão de cada quadrangular garantindo a vaga para a Copa do Mundo. Os seis melhores jogam em casa e a "final" terá o mando de campo sorteado.

Até o momento, estão confirmados na repescagem: Portugal, Suécia, Itália, Escócia, Rússia, Polônia, Macedônia do Norte, Áustria (via Liga das Nações), Gales (segundo do E ou via Liga das Nações) e República Tcheca (idem). Restariam ainda duas vagas.

No Grupo D, Finlândia (11 pontos/dois gols de saldo) e Ucrânia (9/1) ainda jogam. Os nórdicos pegam a classificada França em casa e os ucranianos visitam a eliminada Bósnia. Como o primeiro critério de desempate é o saldo de gols, tudo pode acontecer.

No demoníaco Grupo D, está tudo em aberto: a Holanda lidera com 20 pontos e saldo "infinito" de 23; Turquia e Noruega têm 18, com vantagem no saldo para os turcos (10 a 9), que visitam a eliminada Montenegro. Já a Noruega tem confronto direto com a Holanda, fora. A Laranja Mecânica, que se enrolou ao empatar com Montenegro após abrir 2 a 0 e mantar o placar até o minuto 80, ficou de fora da última Copa e lhe basta empatar para evitar outra hecatombe e garantir a vaga direta do Grupo G, já que a Turquia não vai tirar a diferença de 13 gols no saldo nem a pau. Os turcos precisam empatar para garantirem no mínimo a repescagem. Vencendo, esperam pelo resultado de Holanda x Noruega para saber se comemoram ou se vão ao purgatório.

A Noruega, por sua vez, também tem que vencer para garantir ao menos a segunda colocação. Aí secaria a Turquia ou precisa fazer ao menos dois de saldo a mais, já que nos gols marcados (terceiro critério de desempate), os turcos têm 25 a 15 na frente). Se perder, a conta é a mesma: tem que esperar pela derrota turca com pelo menos dois gols a mais de diferença. Voltando à Holanda, se perder, terá que secar os turcos, ou então já era até a repescagem.

No Grupo E, que tem Gales em segundo (14 pontos e cinco gols de saldo) e República Tcheca em terceiro (11/3), a dúvida é saber para qual pote os britânicos vão. Basta vencer a classificada Bélgica para estar entre os seis melhores. Se empatar, segue o mesmo caminho de a Turquia não golear por quatro gols de diferença. Se perder, vai para o pote dois.

Neste momento, a distribuição está assim, entre os já classificados: Pote 1, já garantidos: Portugal, Escócia, Itália e Suécia; Na briga, mas que já jogaram: Suécia (15/6) e Polônia (14/8); ainda jogam: Gales (14/5), Turquia (12/1) e Finlândia (11/2); Pote 2, já dentro: Macedônia do Norte, República Tcheca e Áustria.

A Noruega, em terceiro no grupo G, tem 12 pontos e dois gols de saldo. Como há grupos com seis e com cinco seleções, os resultados contra os últimos colocados nos grupos com mais seleções são descartados para a definição dos melhores segundos colocados.

Mas qual é a vantagem de estar no pote um? Além de jogar o primeiro mata em casa, livra a seleção do confronto já nesta fase contra um dos outros cinco melhores. É a única separação e aqui é onde o filho chora e a mãe não vê. Pode ter gente grande se matando por uma vaga!

Serão três quadrangulares, A, B e C, nos quais serão distribuídas primeiro as seis do pote um e, depois, as do outro lote. Se, por um acaso, a ordem do sorteio de Portugal e Itália - para ficar em duas favoritas à Copa que quebraram a cara na última rodada - for 1 e 2, 3 e 4 ou 5 e 6, só um deles irá ao Catar, considerando que vençam a primeira partida, evidentemente.

Assim como pode acontecer com a Holanda, caso ela fique em segundo no grupo dela, pois com 14 pontos e saldo de gols de 18 (já descontados os jogos com Gibraltar), seria no mínimo a sexta melhor campanha, desde que não perca para a Noruega e a Turquia não vença, claro, pois aí ficaria em terceiro, como já foi falado aqui. Ou seja, se a Holanda passar em segundo, a chance de haver um confronto entre duas destas três grandes seleções é muito grande, pois ocuparão metade das vagas dos cabeças-de-chave.

Sem contar que, das seleções menos festejadas, ainda pode pintar um Haaland, um Bale ou um Lewandowski pelo caminho. Ou seja, o pau vai torar bonito e pode sim ter gente graúda vendo a Copa pela TV.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

PORTUGAL 1 X 2 SÉRVIA - o gajo da anedota da casca da banana

(Foto: Pedro Nunes/Reuters)

Já ouviram a piada do português que estava andando na rua e, resignado, ao ver uma casca de banana à frente, diz "ai, Jesus, outro tombo"? Certamente, Fernando Santos não. Se tivesse ouvido, não teria caído na mesma armadilha do jogo com a Irlanda, quando a saída de bola foi sufocada e Portugal teve que quebrar a todo instante. Mesmo o gol madrugador de Renato Sanches, no segundo minuto de jogo, não tirou da Sérvia a ideia de não dar espaço para os portugueses tentarem a construção desde os centrais. 

Assim, a bola batia e voltava. E tome a Sérvia com a bola. E tome Tadić, Kostić e Milinković-Savić encontrando espaços entre as linhas de marcação de Portugal e Živković tocando o terror pra cima de um apavorado Nuno Mendes. 

Assim, o time comandado pelo cracaço Dragan Stojković adiantou a marcação, matou a saída de bola dos donos da casa e obrigou Portugal a quebrar, tirando o time de Fernando Santos da sua zona de conforto, que é o jogo no meio com a bola no chão. O gol de empate, que teve a sorte nos pés de Tadić e o azar no desvio em Danilo, foi fruto dessa desarrumação lusitana, que permitiu a troca de passes na entrada da área até o chute torto do camisa 10. Antes, uma bola de Vlahović na trave foi o aviso que deveria ser sido notado.

Para o segundo tempo, Fernando Santos poderia sacar Nuno Mendes, passar João Cancelo para o seu lado e acabar com a graça de Živković, ou tirar Cristiano Ronaldo da área para fazer fluir o jogo. Ou esperar o time sérvio cansar, o que viria a acontecer. Só que, neste momento, Portugal seguiu afoito, tentando resolver a partida em dois ou três passes, em vez de jogar com o tempo a favor e tirar da Sérvia a única opção que havia sobrado, a bola longa pelo alto. A única chance de gol digna de nota esteve nos pés de Renato Sanches, um dos melhores jogadores lusos em campo em um jogo em que, pela característica de muito combate e pouca lucidez com a bola, sequer deveria começar no onze titular. 

Isso diz muito sobre o que foi o jogo. 

Fora isso, nenhum jogador de Portugal conseguiu segurar a bola e só havia um pingo de lucidez quando ela chegava em Cristiano Ronaldo ou em Bernardo Silva, que teve que sair quando faltaram-lhe pernas. Com o jogo morno, o negócio seria colocar o capitão aberto e ir de André Silva. Aí teria um centroavante segurando os zagueiros e um jogador capaz de manter a bola na frente, atrair adversários para a marcação e, de quebra, abrir espaço para Bruno Fernandes ou Bernardo Silva, caso este não tivesse saído, deixar o jogo à feição de Portugal. 

Era preciso desacelerar o jogo, coisa que Portugal jamais teve a capacidade de fazer, muito em função da incapacidade de Fernando Santos em ler o jogo, o que já havia acontecido na Eurocopa. Não tirar da Sérvia a possibilidade de ter a bola e jogar pelo alto tornou previsível o gol de Mitrović, já ao pé do minuto 90. Não o tento em si, mas a forma como foi marcado. 

Em vez de fazer valer a maior capacidade técnica de sua equipe, Fernando Santos resolveu defender o resultado que bastava. Desceu Danilo para fazer uma linha de três zagueiros quando o melhor seria buscar superioridade no meio-campo. Dessa forma, quando deveria condicionar as ações do jogo - porque time para isso ele tem -, permitiu à Sérvia fazer o jogo que lhe interessava. 

Não era difícil prever.

Agora, vem o purgatório da repescagem, um caminho que Portugal já fez e se classificou nas três vezes em que por lá esteve, mas não no formato demoníaco que se avizinha: três grupos com quatro seleções (as 10 segundas colocadas de cada chave mais os dois melhores da Liga das Nações que não terminarem entre os dois de seus grupos), com duas semifinais e uma final, sempre em jogo único dentro de cada grupo para apontar os três que vão ao Catar. O mando de campo na semifinal será do melhor ranqueado e Portugal, que é o sexto, só jogaria fora se o adversário fosse a Itália, único país à frente que ainda não se classificou, mas a condição de cabeça de chave tira desde já os transalpinos do caminho, assim como o outro dos três de melhor campanha. O mando da final, porém, será definido por sorteio.

Esta pode ser a única boa notícia para Portugal. A má é que o treinador pode muito bem ser o gajo da anedota, aquele incapaz de desviar da casca da banana.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

O relativismo de Renato Portaluppi é um retrato do Brasil

Renato, um brasileiro (Divulgação/Grêmio)

Renato Portaluppi elogiou a arbitragem do jogo entre Flamengo e Bahia, vencido ontem pelos cariocas por 3 a 0, em que seu time foi muito beneficiado pelo apito ao ter um pênalti imaginário marcado a seu favor, quando o placar ainda apontava um nulo e este lance acabou condicionando o restante do jogo. Pior, neste caso, é que o soprador de apito ainda foi alertado pelo VAR e, mesmo assim, brigou com a imagem e se abraçou ao erro. 

Fazendo uma busca rápida e com o recorte nesta edição do Campeonato Brasileiro, é possível encontrar reclamações dele nos jogos contra Cuiabá, Athlético, Chapecoense e InternacionalVê-se que o mesmo Renato reclamou, não sem razão, quando se sentiu prejudicado em outros jogos - e de fato foi -, mas achou legal falar bem antes mesmo de ver o lance, como ele mesmo admitiu, e ainda se justificou citando o fato de que pênalti fora marcado em campo e revisado, o que, na sua visão estreitada pela possibilidade de ganho, ratificaria qualquer decisão, mesmo que equivocada. Renato é o retrato do Brasil.

Este comportamento mostra que ele não está preocupado com o nível da arbitragem, e sim que está preocupado em ganhar, mesmo que isso aconteça com a ajuda de quem tem o poder de mudar o resultado dentro das regras, que é a equipe de arbitragem. Renato, assim, perde completamente o direito de chiar quando for prejudicado.

O cenário é ainda mais agravado dentro do contexto do futebol brasileiro, no qual a cultura existente é a de induzir a arbitragem ao erro favorável. A reclamação pela reclamação nada mais é que um investimento visando ao ganho no lance seguinte. Reclama-se de tudo, simula-se a torto e a direito, joga-se a arbitragem, que já não é lá essas coisas, contra a torcida.

Profissionais como Renato Portaluppi não agregam em nada. A imprensa, e eu me incluo nisso, costuma passar o pano porque ele é um grande personagem e isso é inegável, mas não o coloca acima do bem e do mal. Renato, ao cabo, é só mais brasileiro que adora ser beneficiado e reclama mesmo quando não tem razão.

É o comportamento típico de quem não devolveria um troco eventualmente devolvido a mais, de quem torce por favores, por benesses,  mesmo que sejam à margem da lei e em todos os níveis, desde o cafezinho para o guarda à propina do fiscal.

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Amor e esperança: 10 anos de Barcelusa

*Texto publicado originalmente no Netlusa

Foto: Agência Estado

Recebi, pela manhã, o trailer do documentário “Barcelusa, O Filme”, a próxima maravilha produzida pelo Acervo da Bola, no qual sou um dos entrevistados. Com o perdão da repetição, um filme passou na minha cabeça.

A criação do termo, numa troca de mensagens despretensiosa com o também jornalista/lusitano Flávio Gomes, e que ajudou a tornar imortal para o mundo um time que já o seria para a torcida; a comoção no Canindé a cada jogo mais pintado de rubro-verde, a faixa virada, o acesso, o título, a beleza, a imortalidade, a esperança.

“Vou torcer pra Lusa bebendo vinho. A Série A é o meu caminho!” era o mantra que emanava na Casa Portuguesa, jogo sim, jogo também. O futebol bonito, vistoso, os apelidos dados pelos torcedores: Ananiesta, Xavi Antonio, Leonedno Messi, Canindé Nou. Enfim, o orgulho. Enfim, a Portuguesa.

Orgulho. Força. Superação. As vezes em que o retorno ao nosso lugar ficou no quase, na trave, a um ponto, a três pontos, por detalhes. Tudo isso ficou para trás quando o capitão Marco Antônio acertou o pombo sem asas para empatar o jogo; quando o Luís Ricardo deixou meio Sport pelo caminho para virar o placar; quando o 2 a 2 foi o suficiente para soltar o grito de campeão que tanto queríamos. E que fomos. E que somos.

O vira que a Lusa fez o Brasil dançar, simbolizado na faixa que a Leões virou quando o acesso deixou de ser mera questão matemática, talvez seja o ponto alto de tanta grandiosidade, de um momento em que a Portuguesa mostrou qual é o seu lugar no cenário do futebol brasileiro.

Em 10 anos, muita coisa aconteceu e quase tudo de ruim caiu sobre a cabeça de quem carrega a Cruz de Avis na camisa e a Portuguesa no coração, mas não tratemos disso hoje. Pelo menos por hoje, na data que marca os 10 anos do título que coroou o futebol mais bonito do país, falemos somente dos substantivos abstratos que pulsavam naquele 2011: amor e esperança.

O amor é incondicional, mas a esperança depende do ambiente para florescer. Rever o que foi aquela campanha reaviva a esperança de que dias melhores são possíveis; que a Barcelusa é eterna; que a Portuguesa vive.

sábado, 6 de novembro de 2021

Os idiotas e a elitização da Seleção Brasileira

A FESTA É PARA QUEM? Delmiro Junior/Raw Image

Recebi no meu celular a notificação de que os ingressos para o jogo entre Portugal e Sérvia, que decidirá no próximo dia 14 uma vaga direta à Copa do Mundo de 2022, estão à venda. Não, não comprarei, mas fiquei curioso para ver quanto morre nessa brincadeira aí. Então, entrei no site da Federação Portuguesa de Futebol e vi que os bilhetes mais baratos, disponíveis para os setores atrás dos gols do Estádio da Luz, custam entre €10 e €12,5.

-Não pode ser!, pensei. Daí fiz o que tinha que ser feito: falei com quem mora lá para confirmar. É isso mesmo, este é o preço dos ingressos para ver qualquer jogo da Seleção de Portugal dentro do país! Como o salário mínimo em Portugal é €665 e a carga horária mensal é de, no máximo, 200 horas, o torcedor português que recebe a menor remuneração oficial do país (€3,325 por hora) terá que trabalhar por um poucochinho a menos de quatro horas (3h45min36, para ser mais exato) para poder adquirir a entrada mais cara entre as disponíveis. A mais barata custa 3h06 de trabalho, e ainda sobrarão 30 cêntimos de troco.

Que o torcedor brasileiro é tratado como idiota, não é novidade nenhuma. O que talvez a gente não note, ou se nota nem se importa mais, é que somos tratados como idiotas ricos - ou então como idiotas dispostos a gastar o que não temos para ver a Seleção Brasileira. No último jogo da equipe do técnico Tite em solo brasileiro, a vitória por 4 a 1 contra o Uruguai, pela 12ª rodada das Eliminatórias - para pegar uma competição equivalente -, as entradas mais acessíveis custaram R$125,00 (meia entrada). Como o salário mínimo no Brasil é R$1100,00 (sem os descontos), o torcedor brasileiro precisou ralar bem mais que o gajo que quererá ver Cristiano Ronaldo e cia em ação: deixou no mínimo 11,36% do que ganha pela entrada mais barata, que é o equivalente a 25 horas de trabalho, considerando a carga horária mensal de quem ainda está sob o regime da CLT de (220 horas), o que dá R$5 por hora trabalhada. Isso se ele tiver o direito ao benefício de pagar meia. Caso não, é só dobrar os valores e o tempo equivalente. Ou seja, sem a carteirinha, o tempo de trabalho ultrapassa uma semana - sem os descontos, é bom lembrar.

Ainda assim, a comparação é feita entre um jogo que, por mais que seja contra um rival histórico, o Uruguai, não passa de mera formalidade imposta pelas intermináveis 18 rodadas que, ao cabo, terão o Brasil classificado, e o jogo que decidirá o fado da Seleção Portuguesa, que dependendo do que arranjar na Irlanda no dia 11, jogará pelo empate ou precisando vencer os sérvios no estádio do Benfica para garantirem uma das 13 vagas europeias do mundial sem depender de passar pelo purgatório da repescagem, que nesta edição terá 12 participantes e pode haver gente grande por lá, já que Espanha, Itália e Holanda, assim como Portugal, ainda fazem contas, sem contar que pode aparecer um Haaland ou um Lewandowski pelo caminho.

Se formos incluir os gastos com o transporte, então, vai faltar maquiagem e nariz vermelho para tanto palhaço: por se tratar de um país pequeno, é possível varrer todo o território português de trem. Usando o trajeto entre as duas principais cidades portuguesas como exemplo, a viagem mais barata entre Porto e Lisboa leva 3h10 e custa €25,10. De ônibus, porém, sai a €19, mas leva de 3h30 a 4h25. Como o torcedor deverá voltar para casa, aplica-se o valor aproximado para o retorno e temos um gasto, entre ingresso e trajeto, menor que €100, isso se pensarmos em quem não reside onde o jogo será disputado. Se quiser, existe também a opção pelo trem de alta velocidade, o Alfa Pendular, que é mais caro - ou bem mais caro, de acordo com a classe escolhida -, mas ainda assim cabe na algibeira do trabalhador lusitano, que levará cerca de 2h40 até chegar à capital.

É óbvio que a realidade brasileira é outra, mas se atendo ao porte do local de partida até a cidade onde o jogo foi realizado, um torcedor que saiu de São Paulo pode ter gastado somente com passagens de ida e volta mais de R$2 mil reais, isso sem contar o custo de hospedagem na capital amazonense ou n'algures onde pudesse ter um teto sobre a cabeça, se considerarmos pouco provável que o torcedor/palhaço tenha voltado para casa logo após o jogo. Neste caso, quem conta as moedas para fazer o dinheiro preencher mais dias no calendário está automaticamente descartado.

MAIS CLARO: o perfil nas arquibancadas mudou (Foto: Conmebol)

Assim, não é preciso ser um gênio matemático para perceber que ver os jogos da Seleção Brasileira in loco não é um programa para qualquer bolso, e isso passa a ser aplicado aos clubes, que tem disputado - e perdido - o coração do torcedor tupiniquim com os ricos e bem organizados distintivos do futebol europeu. Também não é necessário ser nenhum deus da lógica para concluir que trata-se de um processo de gentrificação, há muito em curso na América do Sul para manter o pobre e o preto longe do negócio, mas este é tema para muito mais tinta.

"GERALDINOS": pretos e pobres não têm mais lugar nas
modernas arenas brasileiras (Foto: Custódio Coimbra)

Por fim, outro gasto também incompreensível é o do tempo que a imprensa leva para discutir os porquês de a paixão do torcedor pela Seleção ter diminuído. Não é só porque o calendário atrapalha os clubes e a identificação com a “amarelinha” diminuiu. É pertencimento. É respeito. E respeito é um item que quem determina por onde e para quem a bola rola por aqui não costuma ter por quem paga as contas para além das bilheterias e camisas de 400 reais.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

É preciso mais, Portuguesa

*Originalmente publicado no Netlusa

Portuguesa/Divulgação

Não é necessário dizer que a derrota fora de casa por 3 a 1 para o Botafogo, pelas semifinais da Copa Paulista, deixa a Lusa novamente fora de qualquer competição nacional no ano que vem. Na melhor das hipóteses, o clube terá que vencer a Copa Paulista, que ninguém mais suporta ter que disputar, em 2022 para voltar à Série D em 2023. É um caminho longo, mas necessário. 

A atual gestão do clube tem feito um trabalho notável para recuperar a imagem da Portuguesa e tornar a sua existência viável. Tem conseguido, mas falta o principal: resultados dentro de campo. Por mais duro que seja, este é o único jeito.

A reconstrução é lenta. É a diferença entre dar uma ajeitada em uma casa condenada e reconstruir um imóvel firme. A longo prazo, a Portuguesa precisa de uma estrutura que impeça que ela bata e volte. Só que o futebol de competição exige resultados, ainda mais em um clube onde a política não é das mais amigáveis. 

Depois de temporadas a fio lutando como dava para não ser rebaixada à Série A3 do Campeonato Paulista e passando vergonha atrás de vexame na Copa Paulista, a Lusa precisava ser competitiva. Após a queda precoce na Série D de 2017, quando foi a última colocada de seu grupo, quase a Lusa caiu para a Série A2, escapando nas últimas rodadas; o mesmo filme em 2019, ano em que ficou somente dois pontos acima do primeiro rebaixado, o Nacional. Na Copa Paulista, torneio que disputa assiduamente desde 2017, a melhor campanha havia sido a semifinal no primeiro ano, quando perdeu para a Ferroviária, que viria a ser campeã. Depois disso, um fraco desempenho em 2018, caindo na primeira fase, e o descalabro de 2019, quando ficou na lanterna em um grupo de seis times em que passavam quatro e que tinha, entre eles, o Sub-23 do Corinthians, que também não avançou.  

Nas duas últimas edições da A2, a Lusa passou de fase e flertou com a volta à elite do Estadual, caindo nos jogos eliminatórios. Na Copa Paulista, além da chegada à malograda semifinal de ontem, a Portuguesa venceu a edição da temporada passada e, assim, voltou a disputar uma competição nacional, mas também ficou pelo meio do caminho quando começaram os mata-matas, o que tem sido rotina. Um clube que está no quase, batendo na trave, precisa entender onde está o erro para dar o passo que falta. Para jogos decisivos, além de times bem montados, é necessário ter no elenco jogadores talhados para estes momentos. E é assim em qualquer nível, seja na Copa Paulista ou na Liga dos Campeões. 

O ideal é haver tempo, mas no futebol brasileiro os resultados é que garantem a viabilidade de um projeto, não o contrário. Por isso, é urgente que a Lusa garanta um calendário nacional para, mais que ter  tranquilidade, conseguir o mínimo de condições políticas para que os mesmos que a jogaram no poço onde está não voltem, que é o que costuma acontecer quando grupos distintos disputam o poder.

Se há algo que a Portuguesa não precisa, são fórmulas mágicas ou receitas fáceis - e estes discursos barulhentos e vazios funcionam porque política é política em qualquer lugar. Somente o trabalho sério levará a nau lusitana a águas navegáveis. E de preferência com uma tripulação sem um histórico de naufrágios.

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Sobre a má vontade, o melindre, a imprensa e o Abel Ferreira

Imagem: Conmebol TV


Vamos direto ao ponto: sabem por que Abel Ferreira sofre tanto nas mãos de parte da crítica? Porque ele incomoda. E incomoda porque, vindo de fora, põe o dedo na ferida. Erra? Erra muito, mas em tudo tem método. E parte da imprensa não suporta isso. Principalmente porque ela também é parte do problema.

Muitos dos jornalistas que trabalham no futebol, em vez de analisar projetos, cobram pelo resultado. E daí que não treina? Boa parte de quem analisa sequer entende o futebol praticado hoje, dentro dos conceitos que, pejorativamente, chamam de "futebol moderno". Aí, quando vem alguém de um lugar "que-nunca-ganhou-nada-quem-são-eles-para-ensinar-o-futebol-pentacampeão-mundial?", é pior que tomar de 7 a 1 da Alemanha em casa. A mesma Alemanha sangrou para ganhar da Argélia no jogo anterior, é bom lembrar.

Abel colabora? Opa! E como! Seu espelho é o José Mourinho, então tudo o que vemos Abel fazer, seja em campo ou fora dele, é inspirado no treinador português mais famoso. É bonito? Isso é relativo. É eficaz? Os números e os troféus mostram que é. Daí, para o debate descambar, "é dois palito". Até a vinda da Família Real Portuguesa em 1808 e seus inquestionáveis danos à cultura e à formação do povo brasileiro são citados, como se Abel tivesse alguma culpa nisso.

A exaltação ao caráter europeu e português em comparação à suposta indolência brasileira citada pelo treinador do Palmeiras na coletiva que desencadeou a última das desinteligências envolvendo seu nome não é mais que a resposta atravessada de quem é visto como inferior por não ter tido a dádiva suprema de ter nascido no país do futebol, abençoado por Deus e bonito por natureza, essa resposta mimada e infantil, comum de quem busca somente desqualificar o outro em vez de trazer pontos válidos para o debate.

Precisava? Não sei. Acho que não. Mas não se condena a reação sem colocar a ação no contexto. No fim, evoca-se a vitoriosa história do futebol brasileiro para sentar-se em cima dela e fazer de conta que nada está errado, quando a realidade é bem diferente disso. Está errado e não é pouco não. Em muitos setores envolvidos com o futebol, aí pode ser na prática, na organização ou na mídia, todos erram muito, mas nem todos estão dispostos a enxergar isso. Aí, Portugal, um país cuja população é 20 vezes menor que a do Brasil, reconhecendo suas limitações naturais, tratou de diminuir o impacto disso através de muito estudo e muito trabalho. O contingente de treinadores portugueses espalhado pelos principais campeonatos do mundo não se deu por geração espontânea ou brotamento, é o fruto deste esforço, que o PVC explica em seu blog no UOL.

Por aqui, escorados nas cinco estrelas, seguimos apostando no conhecimento empírico, no "quem-nunca-chutou-uma-bola-não-tem-que-falar-nada". E assim seguimos. Rejeitamos os ensinamentos de um português só porque é português. Sim, ao pé do Brasil, a história portuguesa no futebol é irrelevante, mas evocar nosso passado glorioso para defender o nosso jeito de pensar o jogo em relação à Europa só aumentará o oceano que nos separa.

Em outras palavras, o técnico pode fazer o time jogar feio, desde que gostemos dele. Do técnico, claro. 

E perdem todos: o futebol brasileiro, que demora para acompanhar a inevitável evolução do esporte; e o próprio Abel, que vive às turras com parte da imprensa e da torcida porque, bem, ele é assim e isso faz parte do pacote. Honestamente, não sei até que ponto compensa para ele insistir em ser esse agente transformador.

quinta-feira, 8 de julho de 2021

EUROCOPA 2020 VAR para a pqp


Assim como aconteceu no jogo entre Portugal e França, quando um pênalti inexistente foi marcado e não houve interferência do árbitro assistente de vídeo, o (pouco) popular VAR, outra penalidade máxima fajuta foi marcada na Euro. Esta, que beneficiou a Inglaterra na prorrogação da semifinal contra a Dinamarca, possivelmente só facilitou a provável classificação inglesa à final, já que os dinamarqueses apenas se defendiam e o tento inglês parecia questão de tempo. No entanto, por mais flagrante que fosse a superioridade do beneficiado, o jogo não estava definido. E acabou por sê-lo a partir de um erro claro e grave da arbitragem.


Mais uma vez, o árbitro de vídeo da vez, o neerlandês Pol van Boekel, não alertou o soprador de apito da vez, o holandês Danny Makkelie, sobre a bobagem que fez, transformando em pênalti o mergulho de Sterling, o que não é novidade alguma, diga-se. Ora, se um erro flagrante - e era - não pode ser analisado por se tratar de um lance interpretativo - aqui, ó, que era -, para que caralha serve a tecnologia? A propósito, o mesmo Makkelie era o árbitro no Sérvia-Portugal em que o gol da vitória portuguesa, marcado por Cristiano Ronaldo, não valeu porque o auxiliar não viu que a bola entrou meio metro.


Antonio Mateu Lahoz, o espanhol que caiu na conversa de Mbappé no França-Portugal e que foi o único a apitar três jogos na primeira fase, era cotado para seguir apitando nas fases seguintes da Eurocopa e até na final, caso a Espanha não chegasse. O erro, que contou com a colaboração do árbitro de vídeo Alejandro Hernández, causou o afastamento da equipe de arbitragem envolvida. Agora, se muito, haverá um comunicado da UEFA reconhecendo o erro. "Bela merda!", como diria meu pai.


É para lances assim que a ferramenta foi criada, mas o tal protocolo é desastroso porque os critérios não são claros e, do jeito que é feito, acaba tornando-se uma forma de legitimar erros escabrosos, mas haverá quem defenda o ocorrido "porque o protocolo foi respeitado".

segunda-feira, 21 de junho de 2021

EUROCOPA 2020 - Alemanha 4 x 2 Portugal - os mesmos remédios para sintomas distintos

A crônica de pós-jogo da surra que Portugal levou da Alemanha pela segunda jornada do Grupo F da Euro 2020 vem com um atraso parecido com o que Fernando Santos viu que um meio-de-campo pouco agressivo a lutar pela bola resultaria no jogo em que Portugal sofreu mais gols desde que assumiu o leme da nau lusitana. Mas nem seria preciso e, sem medo de parecer um engenheiro de obra pronta, digo ao "Engenheiro do Penta": a Alemanha não é a Hungria e, sabia-se que, desde que D. Sebastião sumiu em Marrocos, seriam eles a ter a bola e a buscar espaços. E olha que isto não faltou. Com Portugal completamente desmembrado e dando todo tempo do mundo para os pés pensantes de Kroos e Gündoğan organizarem o jogo, Joachim Löw meteu lá Gnabry e Havertz a transitar no espaço que havia entre os trincos (Danilo e William Carvalho) e os centrais (Rúben Dias e Pepe). Como desgraça pouca é bobagem, Nelson Semedo teve uma atuação para esquecer e, tendo os centrais que subirem para socorrer os (neste jogo) terríveis volantes, suas costas viraram o parque de diversões de Gosens e Müller e quantos mais comedores de chucrute aparecessem por ali. Era óbvio que não daria certo.

Nem depois que Portugal escapou do gol madrugador de Gosens por um fora-de-jogo de um intrometido Gnabry e abriu o placar pouco depois, em um contragolpe de proporções bíblicas, que começou no desvio à própria área de Ronaldo para terminar num sprint fantástico do talvez maior jogador europeu de todos os tempos, as coisas funcionaram. Afinal, os de Löw sabiam que o gol foi mais uma ação fortuita do que uma jogada que poderia ocorrer mais vezes.

Assim, trataram de aumentar a pressão e a agressividade no meio, puxaram para fora os centrais lusos e fizeram a festa nos espaços criados pelas tentativas de coberturas dos laterais, principalmente Nelson Semedo, que nunca foi capaz de confrontar, com seus 1,77m, os 1,85m - fora a impulsão em velocidade - do lateral do Atalanta, tanto que os quatro gols alemães foram marcados dentro da pequena área. E a primeira etapa terminou com a Alemanha já à frente, com dois autogolos dos azarados Rúben Dias e Raphaël Guerreiro, mas em lances em que a bola cruzou a cara do gol e terminou por desarrumar a defesa portuguesa, que dificilmente poderia fazer algo melhor.

Mal começou a segunda parte, já com Renato Sanches do lugar de Bernardo Silva, e o filme se repetiu, desta feita com a bola finalmente desviada por um pé alemão, o de Havertz. Nem houve tempo para ver o efeito prático desta alteração, tampouco da entrada de Rafa, que rendeu William, e a Mannschaft já havia chegado ao quarto gol, agora válido, de Gosens, que parecia um Porsche em cima de um AGB IPA com o motor fundido, que atende pelo nome de Nelson Semedo.

Quando parecia que o 7 a 1 sobre a Metrópole seria uma questão de tempo, Löw resolveu fazer a gestão de minutos no Nationalef. Assim, Gosens e Hummels deixaram o campo, entrando  Halstenberg e Can. Do perdido lado português, João Moutinho ocupou a vaga do inoperante Bruno Fernandes - André Silva também foi a campo, repetindo as entradas contra os húngaros -, numa altura em que a Alemanha já dava campo a Portugal, que era outro time sem a dupla de volantes e com a disposição sobretudo de Renato para brigar pela bola, dando aos campeões europeus um poucochinho da agressividade que só se via nos que usavam camisolas brancas e calções pretos.

Dos pés do jogador do Lille, inclusive, saiu a paulada de longe que acertou o poste e que poderia dar um pouquinho de emoção aos dez minutos que restavam até o fim de um jogo no qual um time que se assumiu como grande que é, venceu como quis.

Pouca coisa antes, Diogo Jota diminuiu a diferença, marcando um gol muito parecido com os quatro que Portugal sofreu e devolvendo um pouco da dignidade aos campeões, que só não estão completamente enrolados por causa do bom saldo que  amealharam na estreia e este é o primeiro critério de desempate. Pelo que apresentaram, porém, o prejuízo português poderia ser maior.

Na quarta-feira, quando voltar à Puskás Arena para enfrentar a França, Fernando Santos saberá exatamente o resultado que precisará para avançar, mas será preciso entender também que tem à disposição um time que pode muito mais do que apenas se defender quando enfrenta um adversário forte.


Rui Patrício: a última vez que havia levado quatro gols pela seleção foi na Copa de 2014, contra a Alemanha. Terá medo até de comer um eisbein;

Nelson Semedo: tive saudade do Cédric. Sabe lá o que é isso, Nelson Cabral?;

Rúben Dias: minha esperança é que raramente o Gato joga duas partidas seguidas tão ruins;

Pepe: no último jogo a doer com a Alemanha, foi expulso logo no início. Agora, não faria mal a uma mosca se ela zunisse em Alemão. Precisamos de um meio termo, pá;

Raphaël Guerreiro: "Podia ser pior. Eu poderia ser o Nelson Semedo", pode ter pensado o gajo para não achar que o jogo foi uma merda completa, mesmo fazendo um autogolo;

Danilo: dizem que viu um Porsche no estacionamento e quase entrou debaixo do autocarro da Seleção;

William Carvalho: dizem que o Danilo só não entrou sob o autocarro porque o William já estava lá (Rafa: ó, Rafael Alexandre, podias ter perguntado ao mister se era isso mesmo quando ele mandou-lhe entrar);

Bruno Fernandes: um ilusionista, pois saiu sem ter entrado (João Moutinho: não fosse pelo passe que pariu o segundo golo português, a malta teria achado que era o Bruno Fernandes. Não, João Filipe, não é um elogio. Longe disso);

Bernardo Silva: como prêmio pelo passe teleguiado no primeiro gol, saiu ao intervalo para passar só metade da vergonha (Renato Sanches: já vista o colete dos titulares no próximo treino. Nem espera pela ordem do mister. Se ele reclamar, arme um motim, mas é mais fácil, pelo sentido que tomou do jogo de Munique, que ele fale, já ao fim do treino, “escuta, aquele gajo ali na equipa titular não é o Renato?”);

Diogo J: de certa forma, foi eficaz nos oito ou nove segundos em que participou ativamente do jogo, com o golo e o passe para o golo de Cristiano Ronaldo (André Silva: praticamente a mesma coisa que o Diogo J, exceto pelo golo e pelo passe para o golo de Cristiano Ronaldo);

Cristiano Ronaldo: igualou a marca de gols de Klose, o maior marcador somando as fases finais de Eurocopas e Copas do Mundo. Também igualou sua melhor marca de golos em Euros, já que chegou a três, o mesmo número de 2012. Não adiantou coisa alguma, mas foi histórico - ou "foi histórico, mas não adiantou coisa alguma". Vai do gosto do freguês. Ou do desgosto;

Fernando Santos: se é pra perder, que seja com o mínimo de dignidade. Portanto, mister, deixe os gajos jogarem à bola, ó, caraças!

 

Foto: UEFA/Divulgação