domingo, 30 de junho de 2024

BRASIL - Vini Jr, do Real, decide pela Seleção

Por Waldir Manoel do Nascimento*

(Reprodução TV Globo/Globoplay)

Dorival Júnior fez mudanças, mas não a que a gente queria. Venceu o Paraguai por 4 a 1 na segunda rodada do Grupo D da Copa América sem recorrer a um centroavante no time. Insistiu com seu sistema e foi premiado com uma vitória tendo seu trio ofensivo de pontas como protagonista. Em especial, Vini Jr que foi na seleção o que costuma ser no Real Madrid, o que o credencia a ser o melhor do mundo na temporada.

Com Wendell na lateral esquerda na vaga de Guilherme Arana, que realmente jogou muito mal contra a Costa Rica, e Savinho na vaga de Raphinha na ponta direita, o Brasil enfrentou um Paraguai que não se acovardou, não ficou com os 11 na defesa esperando espaços para um contra-ataque.

Pelo contrário.

Embora a Seleção Brasileira tivesse ímpeto ofensivo desde o início da partida, ps paraguaios foram mais efetivos até a abertura do placar. Damián Bobadilla, volante do São Paulo, finalizou e contou com o desvio em Éder Militão para quase vencer Alisson que, por sua vez, conseguiu evitar o gol.

Até ali o goleiro Morinigo pouco ou quase nada trabalhara.

Mas o jogo mudou e o Brasil abriu 3 a 0 em menos de 15 minutos. Antes, Lucas Paquetá mandou (muito) para fora, aos 31 minutos, cobrança de pênalti após a bola bater na mão de um defensor paraguaio. Quatro minutos depois, porém, o mesmo Paquetá recebeu de Bruno Guimarães e com um toque deixou Vini Jr na frente do goleiro. Vini foi o Vini do Real, teve velocidade e tranquilidade para se livrar da marcação e, com o gol praticamente aberto, abrir o placar.

Se efetivamente não merecia aquele placar, o time de Dorival Júnior fez por merecer ampliá-lo ao não se acomodar. Sufocado, oito minutos depois o Paraguai viu Rodrygo se desvencilhar da zaga pela esquerda e, já dentro da área, bater forte para Savinho aproveitar o rebote do goleiro e a falha da defesa para ampliar. Com quatro minutos de acréscimos Vini Jr abafou a zaga adversária, que errou e proporcionou ao atacante do Real o terceiro gol brasileiro.

Mérito total da equipe brasileira que não se acomodou com o resultado favorável em momento algum para construir um placar tranquilo.

Logo no começo do segundo tempo o bom zagueiro Alderete diminuiu para os paraguaios, mas Lucas Paquetá teve uma segunda chance em outro pênalti em que a bola também bateu na mão de um defensor e decretou o 4 a 1, a primeira vitória do Brasil na Copa América 2024.

Chamou atenção a aparente apatia do relegado Endrick. Espero estar errado.

Para fechar a primeira fase, o Brasil enfrenta a líder Colômbia na terça-feira, 2 de julho, às 22h, pela liderança da chave. Nessa disputa, o empate favorece o bom time colombiano.

*Cosplay do maior trio de jogadores brasileiros de toda a história.

sexta-feira, 28 de junho de 2024

BRASIL - Bota 9, Dorival!

Por Waldir Manoel do Nascimento*


Foi-se o tempo em que a escalação da Seleção Brasileira povoava os pensamentos e as preocupações de 11 em cada 10 torcedores brasileiros. Num processo de deterioração da imagem junto ao torcedor que começou há décadas, poucos realmente se importam com o escrete canarinho e quem estará em campo por ele. Não existe mais o Zé da Galera, personagem do Jô Soares que atormentou o técnico Telê Santana às vésperas da Copa do Mundo da Espanha, em 1982, pedindo a escalação de um ponta direita na equipe. "Bota ponta, Telê!", repetia o Zé da Galera.

Aquele time tinha um ponta do lado esquerdo, Éder, que tinha a companhia de Serginho Chulapa no ataque abastecido pelos meias Zico, Sócrates e Falcão, resguardados pelo volante Toninho Cerezo e os zagueiros Oscar e Luizinho, e apoiados por Leandro e Júnior nas laterais. Um time que encantou e fez o Brasil chorar quando perdeu para a Itália de Paolo Rossi. Mesmo assim, antes de iniciado o Mundial, Zé da Galera cobrava: "Bota ponta, Telê!"

Sem entrar no mérito da comparação entre as épocas - não é essa ideia neste texto -, os que se interessam pela Seleção Brasileira parecem unânimes em dizer: falta um centroavante ao time de Dorival Júnior que enfrenta o Paraguai nesta sexta-feira, 28 de junho, às 22h de Brasília, pela segunda rodada do Grupo D da Copa América.

O treinador brasileiro tem optado por escalar três pontas no ataque - estaria feliz o Zé da Galera? -- com Raphinha e Vini Jr. pelos lados e Rodrygo, o camisa 10, por dentro. Porém, pela ineficiência do trio até aqui, ainda não deu para entender se a intenção é que o jogador centralizado seja o falso 9 ou se a ideia é que os pontas façam este papel, entrando na área no espaço deixado por Rodrygo ao sair para armar o time.

Seja qual for a ideia, não parece estar funcionando, vide a dificuldade que teve o Brasil no amistoso frente aos Estados Unidos e na estreia da Copa América contra a Costa Rica. O time considerado reserva, com Evanílson de centroavante contra o México, funcionou melhor e construiu a vitória já no primeiro tempo do confronto.

Hoje, quem olha com carinho o time de Dorival sente a falta de um jogador de referência na área, mais especificamente de Endrick. Ainda que entenda que é preciso ter calma pela pouca idade do agora atacante do Real Madrid, seria mais simples para o treinador colocá-lo em campo e transferir a responsabilidade a ele. Em qualquer situação Dorival se sairá bem: se arrebentar, soube a hora de escalar e, se isso não acontecer, estava com a razão ao pedir paciência com o que é só um menino ainda.

Na dúvida, bota 9, Dorival!

Este texto, porém, quase teve outro título: bota meia, Dorival.

Ainda que a seleção paraguaia se apresente com dois volantes, um meia, dois pontas e um centroavante - teoricamente ofensivo -, o time de Daniel Garnero deve repetir o expediente costa-riquenho e se fechar na defesa desde o primeiro minuto, tentando surpreender os brasileiros no contra-ataque e, sendo assim, a presença de um meia na vaga de um dos volantes, pode ser interessante.

Mas, e por isso o tema do texto não é este, não se trata de uma mudança urgente a ser feita. Todos os volantes brasileiros sabem jogar, e se a mudança no ataque surtir efeito e fizer a seleção ser efetiva e vazar a meta paraguaia, ter um time equilibrado pode ser interessante para obter os importantíssimos três pontos válidos no confronto.

*Cosplay do maior trio de jogadores brasileiros de toda a história.

PORTUGAL - Vivendo e aprendendo a jogar

*Originalmente publicado no Netlusa

PESADELO Na noite em que nada resultou, Portugal sofreu sua primeira
derrota oficial com Roberto Martinez (Foto: Patrícia Melo Moreira/AFP)

Portugal tem motivos para reclamar na primeira derrota em jogos oficiais sob o comando de Roberto Martinez e que impede o registro limpo na primeira fase. Pode reclamar do pênalti não marcado sobre Cristiano Ronaldo quando o placar ainda apontava o 1-0 ofertado por um infeliz e deslocado António Silva; poderá reclamar do suíço que estava a dormir na cabine do VAR, enquanto o outro suíço estava a cochilar no relvado, a ponto de não ver o puxão que testou a elasticidade da belíssima camisola azulejada do capitão; poderá reclamar da monstruosa atuação de Mamardashvili, que já havia feito pela vida contra os turcos. Mas o maior motivo de reclamação deve ser endereçado às escolhas de Martinez, da abordagem ao jogo ao onze que escolheu. Ao cabo, os maiores responsáveis pela derrota terão sido o próprio selecionado e seu selecionador.

Martinez, que escolheu dar minutos a uns e descansar outros, voltou ao sistema com o trio de centrais, formado por Danilo, ao centro, ladeado pelos jovens António Silva e Gonçalo Inácio. Nas alas, Diogo Dalot e um estranho Pedro Neto dariam largura para que a dupla de Joões – Palhinha e Neto – tivesse algum espaço para avançar com a bola e levá-la a Francisco Conceição, enquanto Cristiano Ronaldo e João Félix teriam liberdade para trocar de lugar e criar alguma dificuldade para o sistema defensivo de Willy Sagnol.

Com menos de dois minutos, toda a gente se colocou no campo de ataque e António Silva carregou, carregou, carregou. Era um tanto cedo para essa desorganização. Mais fora de hora ainda para o passe errado, com desleixo, de quem esteve intimamente ligado também ao segundo tento, e que apanhou tudo fora do lugar e acabou com Kvaratskhelia a comemorar seu primeiro golo na prova do jeito que mais lhes apetecia: o roubo da bola em zona proibida, a descida em velocidade e a bola no pé do seu melhor jogador.

Fora de lugar. Se as escolhas da estreia foram justificadas pela expectativa de uma Chéquia que mudou a si própria para enganar Portugal – e conseguiu -, a falta de rotina numa defesa a três do jovem benfiquista novamente foi flagrante. Da mesma forma, Pedro Neto não tem as valências defensivas de Nuno Mendes e sua presença na ala era, é e será algo injustificável.

Também não se explica, a não ser pela possibilidade de deixar o capitão levar o pão à sopa e afastar a ansiedade que costumeiramente atrapalha e contamina toda a gente, a presença de Cristiano Ronaldo no time que começou o jogo, mesmo que Diogo Jota e Gonçalo Ramos tenham feito somente um treino.

Mesmo assim, Portugal ainda fez por onde merecer melhor sorte, sobretudo porque João Félix e Francisco Conceição estiveram à altura da missão, que talvez seria mais bem conseguida com Vítinha, melhor português da Euro, pudesse encher as medidas do campo como o fez nos outros dois jogos.

Haverá a reclamação pela grande penalidade sonegada pela arbitragem, e com o auxílio da vídeo arbitragem é ainda mais inaceitável que o lance tenha passado sem maiores consequências. Mas há que ser perguntar: i) por que escalar Pedro Neto em vez de João Cancelo?) por que diabos Dalot, se Nelson Semedo está em melhor forma e vai mais ao fundo? iii) por que João Palhinha, se era para sair ao intervalo para evitar um segundo cartão amarelo e a suspensão nos oitavos? e iv) por que voltar ao sistema em que toda a gente fica desconfortável e que nunca resultou?

Pelas características de quem estava em campo, faltou paciência e critério para furar o bloqueio com cinco ou até seis defensores. Como na estreia, havia gente para conduzir, não para passar a bola ou buscar um passe a rasgar entre os contrários. A essa altura, ao cabo da fase em que ainda era permitido perder sem maiores consequências diretas no apuramento, é preocupante tornar a ver os mesmos problemas da estreia.

Enquanto Portugal usou o jogo para poupar e dar a chance de Cristiano Ronaldo marcar um gol – o fantasma do dono do time que se coloca acima dos interesses do grupo sempre aparece quando as coisas não correm a contento -, a Geórgia ousou sonhar e, com seus dois craques a decidir, fez história e se classificou logo na sua primeira fase final de uma grande competição. Aqui, o sonho foi capaz de abrandar as terríveis falhas defensivas que fizeram do seu goleiro o melhor da posição na primeira fase.

Com a derrota, calhou-nos a Eslovênia, mesmo adversário de um dos amigáveis depois da fazer de classificação. Na ocasião, Roberto Martinez convocou mais de 30 jogadores e os distribuiu em em três turmas, resultando numa equipe alternativa na primeira derrota de Portugal sob sua direção. Dali, tirou notas sobre como não jogar.

Que o desaire frente aos georgianos tenha servido ao menos para isso.

***

As avaliações a seguir têm um certo exagero, galhofa e quase nenhuma base técnica. É favor não levar tão a sério.

Diogo Costa: Camisolas azuis e brancas, golos oferecidos. Parecia que estavas a defender o Porto;
António Silva: era preciso avisar que, no jogo entre malta de camisolas vermelhas e os de azul e branco, tu estavas com esses últimos? (Nelson Semedo: se a sua missão era ser melhor que o António Silva, já o farias se dissesse seu nome corretamente a quem eventualmente perguntasse);
Danilo Pereira: podias estar de férias, podias estar a pensar em como fazer para o timinho que tô defendes de em França ganhar qualquer um car*** além das fronteiras. Tô sabes que não estavas, Comendador?
Gonçalo Inácio: Ora viva! Tu foste o melhor dos três da defesa. Não era preciso muita coisa, que fique claro;
Diogo Dalot: quando o mister disser que tu precisas jogar como um avançado, será de bom tom dar com algo teso na cabeça dele. Se não for possível, queiras tropeçar na escada da saída do balneário. Não havia escadas? Então fica difícil, pá. Mais difícil que furar defesas a cinco, como a que vem aí;
João Palhinha: entre as perguntas que deverias fazer antes do jogo, a principal seria “Eh, pá! Vais mesmo me escalar sendo o único gajo a arriscar uma suspensão para o jogo a doer? Não que ficar resultar, mas ficava o registo (Rúben Neves: o mister sabe que não és avançado?);
João Neves: Saudade do Florentino, né, meu filho? (Matheus Nunes: Até o fim do Euro, será que consegues jogar um tempo completo? Já disseste ao mister que podes?);
Pedro Neto: Ó, miúdo, faz favor, anda cá. O mister disse que te escalou a ala porque já havias jogado assim no Wolverhampton. Por que caralhas não disseste que não eras tu? (Diogo Jota: foste o único a entrar na posição certa. Aproveite essa predileção para, sei lá, fazer com que o Rafael Leão fique no banco caso Portugal passe pelos eslovenos);
Francisco Conceição: ao par de João Félix, teu melhor amigo, eras o mais inconformado com o que – não – aconteceu. Faça o favor de ser amigo de todos os outros também. E do mister;
Cristiano Ronaldo: Peça o quadro usado pelo Rafael Leão após a estreia e escrevas o seguinte, quanto baste: “Os interesses coletivos estão acima dos individuais”. Pela atenção, obrigado (Gonçalo Ramos: não jogas no Paris, não jogas na seleção nacional. Sabia que na Segunda Circular, em Lisboa, há um clube em que tu jogarias? Não, não é o Sporting, lá também não);
João Félix: se este jogo serviu pra algo, foi pra mostrar que há vida no gajo que não quer ser um flop. Depende mais de ti que dos outros;
Roberto Martinez: cantas A Portuguesa e és teimoso feito um cavalo. Para ser um português completo, falta gritar ao Ronaldo: “Ó, pá, pro caraças com os recordes! Fod*-se! Vês que não falta muito.

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Pílulas amadoras - 18

*Por Humberto Pereira da Silva



Uma cousa que eu realmente hoje não discuto no futebol: marcação ou não de pênalti e uso do VAR para uma decisão dessa natureza. 

Quando não havia o árbitro de vídeo e bem menos câmaras eram usadas, a dúvida gerava toda discussão e o folclore do futebol. Reza a lenda que a bola não entrou no gol da Inglaterra em 66. Hoje a tecnologia diria se foi ou não gol. E não foi.

Hoje, com a VAR, certas coisas eu realmente não entendo. O juiz suíço não "viu" pênalti em CR7 e também não viu a favor da Geórgia. O VAR suíço entrou em ação numa situação e em outra, não.

Sem maldade, e sem conhecida ignorância de jogador de futebol, já ouvi jogador não entender os "critérios" na marcação de pênalti: bola na mão, mão na bola... e tudo fica assim: no bar o garçom pergunta que cerveja eu quero, eu paro, penso pergunto o que tem e digo o que quero... mas poderia querer... e na verdade em momento algum fui para o bar pra tomar Antártica, Brahma.

Com o VAR assim é a marcação de um pênalti. O do Gentile, que rasgou a camisa do Zico em 82, faz parte do folclore, da lenda. Como o do Nilton Santos em 62. Se o VAR ontem num lance solicitou revisão e n'outro não, e se eu não entendo atuação da máfia, do crime organizado, ou da contravenção, acho insulto à minha inteligência discutir razões de marcação numa situação e não n'outra. 

Bem entendido, como ocorreria antes sem o VAR, não duas situações o juíz não teve CORAGEM pra assumir decisão e indicar a marca do cal. 

Como não tenho qualquer elemento pra suspeitar de atuação do crime organizado na Euro, que haja maquinação contra Portugal (!) e não li regulamentos e regras no papel e assim acredito em bruxas, não sei se por LEI quando o VAR pede revisão, o apitador não pode não ir ver o lance como não pode iniciar um jogo sem apitar o início, como apita o fim, com apita uma falta.

Se o juiz pode não rever um lance solicitado pelo VAR, ele não tem dúvida alguma do que viu e interpretou e tem absoluta convicção da decisão, sou levado a especular sobre excentricidades humanas. Não maldade, mas excentricidade, esquisitice. Eu, de repente, não gosto de quem usa rabo de cavalo ou quem pinta o cabelo, usa brinco... sei lá... Daniel Passarela passou a não gostar de cabeludo depois que parou de jogar.

Sendo assim, também tenho "direito" a esquisitice, desconfiança. A suspeitar, meio que teoria conspiratória, que decisões de juízes envolvem caprichos, coisas como NÃO GOSTO DE UM JOGADOR CHAMADO CRISTIANO RONALDO. E olha que, quando Portugal massacrou a Suiça ns oitavos-de-final da última Copa do Mundo, Cristiano entrou em campo com a goleada já construída.

Viagem minha? Acho que certos árbitros podem não gostar de certos jogadores e levar suas antipatias para dentro do relvado. Como Passarela não gostava de cabeludos... o que gira em torno de CR7 pode muito bem para mim afetar decisões num jogo de futebol.

Sinceramente, é o que para mim pareceu. Alguma coisa estranha, além do pênalti, na relação CR7 e juíz suíço. Eu vi o jogo. O lance do pênalti não foi isolado. Houve outros, digamos, atritos de marcação e ao seu estilo depois de receber o cartão, como também já fez em outra ocasião, CR7 "abandonou" o jogo.

A gesticulação dele, a saída de campo ao fim do primeiro tempo e depois sendo substituído, foram bem filmadas pelas centenas de câmeras hoje. 

*Humberto Pereira da Silva é professor de Ética em Jornalismo

terça-feira, 25 de junho de 2024

BRASIL - Sem alegria, nem ousadia

ENGESSADO Brasil parou na marcação e na falta de
criatividade do sistema de jogo (Patrick T. Fallon/AFP)


No primeiro jogo oficial sob o comando de Dorival Júnior, um insosso 0 a 0 com a Costa Rica, o Brasil teve uma estreia muito abaixo do esperado na Copa América do Tio Sam, competição na qual tentará o décimo troféu.  

Como sempre, a seleção brasileira está exposta ao exagero, qualquer que seja a fase e o desempenho apresentado em campo. Como o Brasil partiu do nada deixado por Fernando Diniz para o aceitável com o Dorival - que recebeu a batata quente em forma de previsão de goleadas contra Inglaterra e Espanha -, a malta voltou a achar que o "futebol penta campeão" engrenar. E ainda há a passagem de bastão do Neymar, que não foi sombra do que poderia, para o Vinícius Júnior, favorito por ora à Bola de Ouro, mas que ainda não esteve à altura na seleção por uma série de fatores. 

Aí, é sempre bom lembrar que todos os adversários têm um trabalho em andamento. O Brasil, por absoluta incapacidade da CBF, ainda está engatinhando. Essa foi a quinta partida do Dorival, salvo engano. Não se faz um time em meia-dúzia de jogos.

E tem a estupidez da Conmebol, que aceita que a Copa América seja jogada em campos menores, $abe-$e lá por quai$ motivo$, e essa é mais uma dificuldade para quem tem que sair para o jogo. 

Longe de mim querer achar que sei mais de futebol que ele, mas um campo quatro metros mais estreito e cinco metros mais curto reduz a chance de sucesso contra times que jogam com uma linha de cinco atrás. Isso requer um jogo mais pausado, com paciência, com movimentação na frente e circulação da bola para  bagunçar a marcação e achar espaços. Aí existem dois problemas: sem um 9 de referência (Rodrygo não é centroavante) para incomodar os zagueiros e fazer aparecer esses espaços para o proveito dos que vêm de trás, o Brasil ficou correndo com a bola, afoito. Tinha dois volantes sem lá muita função e, para ajudar, Vini Jr foi anulado pela marcação costarriquenha, também porque não havia espaço para jogar como gosta no Real Madrid. Nas poucas vezes em que superou seu marcador, a jogada morreu na sobra. A presença de um 9 possivelmente criaria esse espaço.

Dorival Júnior, como qualquer outro treinador, deve pensar em um time base para que as rotinas de cada posição dentro do processo sejam assimiladas, mas alguns jogos requerem jogadores de características distintas. Contra uma defesa fechadinha, seria mais proveitoso que o lateral Yan Couto ocupasse a vaga de Danilo, pois é mais ofensivo e poderia auxiliar o ponta que estivesse em campo, fosse ele Raphinha ou Savinho. 

Com 10 ou 15 dias de treinos, além dos períodos de cinco ou seis dias espalhados pela Data-FIFA anterior, o máximo que dá para fazer é ver quem se encaixa nas ideias do treinador ou como o Dorival pode ser adequar ao que tem. Não é razoável achar que a seleção, em retomada de trabalho, chegaria à Copa América em ponto de rebuçado. Da mesma forma, a tendência é ter uma cara de time bem definida quando for disputar a Copa de 2026, para a qual obviamente se classificará.

Ser mais ousado, porém, não depende disso.

BRASIL - Empate na conta do Dorival

Por Waldir Manoel do Nascimento*

Rodrygo lamenta chance desperdiçada (Kevork Djansezian/Getty Images)


Invicto em seu breve início à frente da Seleção Brasileira - 5 jogos com 3 empates e 2 vitórias -, Dorival Júnior parece ter sentido o peso de sua primeira partida por uma competição oficial, o empate sem gols com a Costa Rica na estreia da Copa América. Não pelo semblante à beira do campo. O comandante estava muito bem trajado com o uniforme branco que remetia a Mario Jorge Lobo Zagallo em sua última passagem como técnico do Brasil.

A impressão de que Dorival sentiu o peso da luta por três pontos vem da sua escalação e, especialmente, da demora em mudar o seu time diante de uma equipe jovem - o que traz a imprevisibilidade para campo - mas extremamente sem forças para atacar e assustar o gol de Alisson.

É justo que Dorival tenha o seu time e esquema preferido com dois (bons) volantes, como são Bruno Guimarães e João Gomes, e é justo que tente dar conjunto a este time e inicie uma competição com o que julga ser o melhor à sua disposição. Assim como é justo que ele entenda que Raphinha é hoje melhor para o time que Endrick ou Savinho. Mas também é justo discordar dele.

A forma como a partida diante dos costa-riquenhos se desenhou pedia um time um pouco mais solto, menos travado e abrindo mão da atenção defensiva de dois volantes. Não era nenhum absurdo ter um meio de campo com Bruno Guimarães, Andreas Pereira e Lucas Paquetá. Tanto Andreas, quanto Paquetá, reúnem condições de marcar sem a bola e dar qualidade quando a têm. São meias que já atuaram como segundos volantes, por exemplo, e que gostam de ter o jogo de frente. Podem jogar juntos, podem contribuir sem a bola com um único volante e podem, com a bola, ser muito úteis ao trio de atacantes.

Ao mesmo tempo, qual é o melhor tridente ofensivo? Vini Jr. e Rodrygo são titulares incontestáveis, e surge a dúvida sobre o terceiro nome. O imediatismo pede a entrada de Endrick, o que deslocaria Rodrygo - um falso 9 na formação inicial - para a ponta direita, onde atualmente está Raphinha, com a forte sombra de Savinho.

Para além das escolhas individuais e pensando muito mais nas características de cada jogador e no momento da seleção, meu titular hoje seria o Endrick. Por ser um centroavante, simplificaria o esquema, apesar de obrigar Rodrygo a seguir atuando pela direita, enquanto Vini Jr ocupa a ponta esquerda. Ao mesmo tempo, porém, Paquetá pode inverter essa posição com o camisa 10, jogando o atacante para perto de Endrick, por dentro e com Andreas armando o jogo, resguardado por Bruno Guimarães.

No melhor estilo nostálgico, Bruno Guimarães seria o 5; Andreas, o 8; Paquetá, o 10; Rodrygo, o 7; Endrick, o 9; e Vini Jr, o 11. Esta seria a minha formação para o confronto com o Paraguai, outra equipe que deve se fechar com os 11 atrás da linha da bola, na expectativa de encontrar, em um lance, a chance de marcar e se segurar ainda mais.

Pensando em classificação - e consequentemente na continuidade do trabalho do treinador -, a vitória é fundamental!

*Cosplay do maior trio de jogadores brasileiros de toda a história.

segunda-feira, 24 de junho de 2024

PORTUGAL - O altruísmo, a sorte e o domínio absoluto

 Texto originalmente publicado no Netlusa

CASA PORTUGUESA A alegria está na riqueza de dar e
ficar contente (Federação Portuguesa de Futebol)
 

Já está! O primeiro dos objetivos de Portugal no Euro foi atingido já na segunda jornada do Grupo F, com a vitória por um insuspeito 3 a 0 contra uma tão perigosa quanto inocente Turquia.

Se a passividade vista na estreia ligava as luzes de alerta, a concentração para não cair na esparrela das respostas fáceis notou-se quando o onze de Portugal foi anunciado. Por muito menos, revoluções já foram promovidas depois de uma partida mal conseguida, mas a atuação cinzenta em Leipzig esteve mais ligada à abordagem ao jogo do que problemas técnicos ou exibicionais. Por nomes, Roberto Martinez trocou somente Diogo Dalot por João Palhinha, que era o que o jogo com os turcos, ricos de talento no setor de criação, exigia.

Assim, o trio de centrais que se esfumaçou às condições com o tchecos não retornou sequer em eventuais descidas de Palhinha ou encaixes de Nuno Mendes. Pelo contrário, uma clara e sólida linha de quatro defensores foi formada com João Cancelo e Nuno Mendes nas laterais e os habituais Pepe e Rubén Dias ao centro.

À frente, eram protegidos pelo médio-centro-limpa-trilhos que deve deixar o Fulham, e pelo multifuncional Vitinha, novamente soberbo em campo. Livre das amarras da cabeça-de-área; o ataque se manteve com o trio da estreia: Bernardo Silva, Cristiano Ronaldo e Rafael Leão.

Diversos comentadores pediam Palhinha, mas queriam que Bernardo e Leão dessem lugar a Chico Conceição e Diogo Jota, como se as condições da primeira partida se repetissem. Não existem jogos iguais e as características do jogo da Turquia indicava dificuldades – e oportunidades – diferentes. Se os tchecos eram praticamente herméticos e mal se aventuravam no ataque, os turcos podiam até ter jogadores de qualidade inquestionável, mas nunca foi um time confiávle defensivamente – já o mostrara na estreia.

Do lado turco, o italiano Vincenzo Montella poupou o ótimo Arda Guler, apoquentado por problemas físicos, mas ainda assim havia quem espalhasse perfume no Signal Iduna Park, casa do Borussia Dortmund e da temida Muralha Amarela, tingida de vermelho e branco numa proporção 4 x 1 em que as vozes portuguesas mal eram ouvidas.

Com Kökçü, Çalhanoglu e Aktürkoglu capazes de causar problemas, a presença de Palhinha foi essencial para impedir que a bola chegasse aos pés de Yilmaz, bem vigiado pelos centrais. Pepe, a cada lance, dava uma aula de vitalidade, posicionamento e liderança em campo. O lance, já no segundo tempo, em que desarma um abusado Arda Guler, como a dizer “tens muito o que aprender, miúdo, fez levantar o estádio em reverência à lenda brasileira que chegou a Portugal e teve que optar entre comprar uma sandes ou ligar para a mãe.

Na frente, Rafael Leão se aproveitava da companhia de Nuno Mendes para causar dores de cabeça a Çelik. O primeiro gol português nasce de uma jogada deles, em que o lateral do PSG foi ao fundo e procurou Cristiano Ronaldo, mas o desvio no pé de Kökçü levou a bola a Bernardo Silva, que bateu com gosto, com curva, com a alegria de quem marcou seu primeiro gol em fases finais de competições.

Lembram-se da sorte da estreia? João Cancelo roubou a bola no meio e deu um passe completamente disparatado para Cristiano, que desatou a ralhar. A câmera fechou no lateral e só abriu depois de que o sorriso repentino do português denunciou a trapalhada de Akaydin, que desrespeitou um dos princípios básicos do jogo: não se deve atrasar a bola ao goleiro na direção do gol. Mais que isso, recuou no contrapé, e um eventual mal-estar acabou na comemoração do insólito gol que basicamente definiu o jogo ainda antes dos 30 minutos.

A partir daí, Portugal empilhou chances de ampliar, mas viu Rafael Leão simular uma falta e receber o segundo cartão amarelo na prova, e pelo mesmo motivo. Palhinha, um dos responsáveis pela exibição em grande de toda a equipe, também foi advertido e, para não correr o risco de recolocar a Turquia no jogo, Roberto Martinez deixou ambos no balneário e voltou para a segunda parte com Pedro Neto e Rúben Neves. Havia quem esperasse Diogo Jota ou mesmo Francisco Conceição, mas o treinador quis manter o sistema com um jogador que abrisse o jogo e desse espaço para o jogo interior de Nuno Mendes, que pode ter feito sua melhor partida pela equipa nacional.

Com os turcos entregues, exceto por um ou outro fogachinho no ataque, Portugal usou o segundo tempo para gerir a partida. Logo no décimo minuto, um lance que pode marcar uma nova era: antes, a paciente troca de passes de um lado para outro do campo com o objetivo de criar espaços e desorganizações defensivas, com Nuno Mendes a buscar Bernardo Silva e este a acionar Rúben Neves, o homem dos passes teleguiados, que encontrou Cristiano Ronaldo livre, somente com o goleiro Bayindir para tentar evitar que escrevesse seu nome pela sexta vez na lista de goleadores em que já é o líder com folga, mas Bruno Fernandes estava livre ao seu lado para receber o passe do solidário CR7.

A partir daí, a missão portuguesa passou a ser fazer de Cristiano um dos goleadores do dia, ao passo que aos turcos coube tentar evitar. Assim, o jogo perdeu algum fulgor, mas serviu para demonstrar que Pepe, aos 41 anos, é um dos melhores zagueiros do mundo e que o Porto cometerá um erro terrível se não prolongar por mais um ano o vínculo com este monumento de jogador.

Com seis pontos e a liderança do Grupo F garantida, Roberto Martinez deverá usar o jogo com a Geórgia para dar minutos a quem não teve e descansar algumas pernas. É mister, porém, notar que entre o jogo de ontem e as oitavas, vão nove dias, tempo suficiente para perder ritmo de jogo. Uma revolução no onze é perigosa, pois.

O adversário dos oitavos-de-finais será um dos terceiros colocados dos grupos A, B ou C, e só o saberemos ao final da primeira fase.

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As avaliações a seguir têm um certo exagero, galhofa e quase nenhuma base técnica. É favor não levar tão a sério.

Diogo Costa: Foi tão bem com os pés que usou um deles para defender a única investida no alvo dos turcos;
João Cancelo: Mais uma atuação dessas e é capaz de o Guardiola pedir desculpas e chamar de volta. Façamos votos para que estejas assim até 15 de julho (Nelson Semedo: façamos assim: o Cancelo joga 60 e tu, os outros 30. E todos ficam felizes pra caraças);
Rúben Dias: “Eu é que não vou perder a vaga para este miúdo do Sporting”, terá pensado o Rúben. Segue assim, ao mais alto nível, e é capaz de seres o capitão quando o Cristiano se retirar, depois de ser o primeiro acima de 50 anos a jogar a fase final de uma grande competição;
Pepe: Foi visto no vestiário adversário devolvendo os 16 turcos que estavam no bolso ao fim do jogo porque eles ainda jogam com os tchecos (António Silva: Poderá dizer aos netos que substituiu o maior zagueiro da história do futebol português);
Nuno Mendes: O Nuno Alexandre Tavares Mendes é o único Nuno Tavares do mundo que sabe jogar como lateral. E dos bons. E se precisar, ainda é um extremo bem porreiro;
Bruno Fernandes: Não sendo brilhante, esteve ligado ao segundo gol e marcou o terceiro porque estava disponível para receber a prenda do Cristiano;
João Palhinha: Tivesse jogado além do primeiro tempo, teria sido o melhor em campo. Um polvo a esticar os tentáculos por todo o campo – ou algures havia algum turco mal-intencionado com a bola e chance de causar estragos. Quanto não esteve para cobrir, fez a falta tática perfeita que resultou no cartão amarelo (Rúben Neves: Desculpa lá pelas vezes em que disse que a falta de competitividade do Arabão deveria contar para não ser chamado. A capacidade do passe teleguiado não se perde);
Vitinha: Procure um jogador melhor que o Vitinha na Eurocopa e falhe miseravelmente (*João Neves: Cinco minutos hoje, seis no próximo jogo, até a final, com alguma sorte, jogas uns 10 minutinhos;
Bernardo Silva: Já prometa ao João Cancelo que, se continuarem assim juntos, voltarás com ele para Manchester. Duvido que o mister Martinez se oponha;
Cristiano Ronaldo: Este camisola 7 lembra bastante aquele outro camisola 7 que só encheu o saco no Qatar. Gostamos mais deste, que fique claro;
Rafael Leão: Já que não vais acertar o passe depois do drible mesmo, que bom que o mister meteu ao seu pé o Nuno Mendes para fazer a parte mais difícil. Mudando de assunto, tens andado a tomar dicas com o Taremi? Que mania do caraças essa de se jogar, pá (Pedro Neto: entrou para manter o desenho tático e a capacidade de errar os passes. Cumpriu à risca);
Roberto Martinez: Se ele se aprofundar na cultura portuguesa, já terá aprendido alguns clássicos, como Casa Portuguesa, que poderá ter cantado que "essa franqueza fica bem e o povo nunca desmente que a alegria da pobreza está na riqueza de dar e ficar contente", quando Cristiano ofertou o golo quase certo a Bruno Fernandes. Espero que ele saiba a Caninha Verde e não caia numa esparrela, caso pense em trocar toda a malta para o próximo jogo. Seja como for, temos um técnico.

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Pílulas amadoras - 17

 *Por Humberto Pereira da Silva

Imagem: Getty Images/iStockphoto

Dudu é um bom jogador. Ou seja, é mediano, como tantos na história do futebol brasileiro. É de conhecimento geral o que ele simboliza no Palmeiras desde sua chegada ao Verdão, em 2015. É um dos expoentes de uma das equipes mais vitoriosas do Brasil nos dez anos recentes. 

Mas, mediano, será esquecido em alguns anos, como tantos foram. Hoje, tenho certeza, poucos se lembram de Ailton Lira (do Santos), Pita (do São Paulo), Tupãzinho (do Corinthians), Edu Manga (do Palmeiras). Tendo a crer que, como esses aqui citados, que foram ídolos nos quatro grandes de São Paulo, Dudu, mediano como eles, será pouco lembrado.

Ao contrário deles, contudo, Dudu incluiu um dado em sua biografia. Ele se envolveu num mal explicado episódio de transferência do Palmeiras para o Cruzeiro. Se seus feitos no Palmeiras são insuficientes para fazer dele um ídolo eterno, caso seja lembrado no futuro, carregará uma marca: a trapalhada absurdamente constrangedora nessa negociação.

É muita ingenuidade supor um jogador de futebol profissional jogar por amor à camisa. É praticamente um contrassenso pensar isso em um mercado periférico economicamente, como o Brasil. Um jogador de futebol profissional projeta a carreira com o horizonte em contratos irrecusáveis. São profissionais, o que significa negociar pensando no quanto podem ganhar. O clube, e eventualmente a seleção, são vitrines para receber propostas com altos valores contratuais.

Dudu, a esse respeito, não se diferencia da cultura de negociação contratual de um jogador de futebol. Mas ele se atrapalhou muito nesse episódio de transferência mal sucedida e exibiu o que se deve esconder: a ganância. Mesmo antes, quando chegou ao Palmeiras, o jogador foi alvo de uma disputa que envolveu o Trio de Ferro (além de Palmeiras, Corinthians e São Paulo), chegando a estar apalavrado justamente com o Timão, maior rival histórico dos palestrinos.

(Montagem: ge.globo)


O caso é que, bem entendido, apesar de simbolizar um momento glorioso do Palmeira nos dez anos recentes, não é a primeira vez que Dudu se enrola em negociação. Esse atual episódio com o Cruzeiro tem antecedente. Sua ida ao futebol do Catar, em 2020, com "proposta irrecusável". Não deu certo por lá e voltou para o Palmeiras.

Novamente seduzido por "proposta irrecusável", Dudu se enrosca outra vez, agora com um agravante. Ele, por livre e espontânea vontade, procurou o Cruzeiro. É o que ficou patente nas declarações dos presidentes dos clubes. 

Não é o caso, óbvio, de julgar decisão profissional de ninguém. Mas é o caso considerar os efeitos de uma má decisão. E nessa atabalhoada decisão, a ganância. Se for esquecido no futuro, sua ganância será igualmente esquecida. O contrário, não sendo esquecido, é esse mal explicado episódio será lembrado. 

A constrangedora atrapalhada de Dudu, infelizmente para ele, o exibiu nu quando todos fingem não ver a nudez. Refiro-me ao conto "A roupa nova do rei", de Hans Christian Andersen. Na cadeia alimentar regulada pelo mercado internacional de transferências, a camisa que um jogador de futebol profissional no Brasil veste é só fantasia, pois contratos com "proposta irrecusáveis" exibem os interesses que todos sabem e fingem não ver.

A ganância é defeito de caráter. Malícia para driblá-la é virtude. Vivemos num mundo de aparências.  Dudu, e o antecedente só reafirma, infelizmente não teve habilidade para driblar a própria ganância.

* Humberto Pereira da Silva é professor de Ética em Jornalismo

Pílulas amadoras - 16

Por Humberto Pereira da Silva*

DRAMA E REDENÇÃO Contusão foi o ponto de viragem
na decisão de 2016 (Fotos: AFP/Getty)

O editor deste blogue, meu aluno Marcos Teixeira, sofreu o bom sofrer da estreia de Portugal na Eurocopa. A República Tcheca é previsível jogar atrás. Acho que a Turquia , que oferece outro tipo de dificuldade, vai propor jogo.  A natureza do jogo será outra. 

As facilidades e dificuldades de um jogo para o outro, de qualquer forma, estão sujeitas ao casuísmo que o futebol tem no nível que praticamente não existe em outros esportes coletivos: um gol em começo da partida, uma expulsão. Na final contra a França, em 2016, CR7 se machucou... 

O que pode, pode bem entendido, se tirar de positivo no jogo contra a Tcheca? O poder de reação.  A falha do zagueiro no final pra mim diz muito desse poder. Contra Marrocos, na Copa do Mundo de 2022, um gol e o jogo acabou pra Portugal. Na Euro do ano anterior, contra a Bélgica, algo parecido após o tento marcado por Thorgan Hazard.

A mim me parece que Portugal, como nenhuma outra seleção de ponta, sente o peso na hora H.

* Humberto Pereira da Silva é professor de Ética em Jornalismo


quinta-feira, 20 de junho de 2024

PORTUGAL - O vira à espanhola da tocata de Martinez

Texto originalmente publicado no Netlusa

No encontro entre dois times que não jogaram como sabem,
venceu quem tentou vencer e, ao cabo, teve mais
sorte (Foto: 
Lisi Niesner/UEFA/Getty Images)

Johann Sebastian Bach é um dos grandes gênios da música universal. Nasceu em Leipzig e uma de suas obras mais consagradas é a Tocata e Fuga em Ré Maior. Roberto Martinez, por sua vez, é espanhol. Não sei se é um fã do maestro alemão, mas já deve ter ouvido alguma tocata portuguesa com suas concertinas, bumbo, reco-recos e cavaquinhos – a castanhola é opcional.

A concertina é o principal instrumento das tocatas dos ranchos folclóricos portugueses. Quanto aos demais, é prudente que o gajo que toca o cavaquinho saiba tocar o cavaquinho, como ao senhor responsável pelo bumbo pede-se a perícia necessária para não atravessar o ritmo.

Mas que raio tem a ver isso aí com o jogo de Portugal? Ora, tudo! Basta ver como a equipe entrou em campo e perceber que, se se tratasse do conjunto que acompanha os dançarinos, os instrumentos estariam trocados. 

Prevendo uma linha de marcação capaz de pressionar a saída de bola lusa com Schick, Kuchta, Souček e Provod, Martinez escalou Portugal com três zagueiros e quatro (ou cinco) no meio e três (ou dois) no ataque. A surpresa era a presença de Nuno Mendes jogando terceiro central, pela esquerda. Assim, João Cancelo faria a ala de mesmo lado, com Diogo Dalot na direita, o que não é novidade. Quem dançou foi João Palhinha, de grande imposição física, para que Vitinha fizesse a saída de bola atrás dos marcadores.

“Jogadores mais técnicos para romper essa primeira barreira”, deve ter pensado o espanhol. 

Com a bola, Nuno Mendes avançava como lateral e Cancelo tinha liberdade para vadiar pelo meio e Portugal passava a jogar num 4-3-3 para explorar os espaços que surgiriam depois que fosse superada a primeira linha de marcação. O problema é que a República Tcheca surpreendeu, chegando a ter até seis jogadores alinhados à frente da sua área, com os outros quatro mal cruzando a linha de meio-campo, e os atacantes Kuchta e Schick só sendo assim chamados na ficha do jogo.

Vocês já devem ter visto o episódio do Pica-pau envelhecido e amassando o bico quando tentava passar uma árvore. Foi a representação perfeita de Portugal no primeiro tempo: tentava o passe em profundidade e a bola batia e voltava, muito em função de o jogo pedir o passe a rasgar para um dos da frente receber em diagonal, mas o que havia era um excesso de carregadores de bola e avançados com pouca movimentação. Vitinha desfilava, Cristiano saia da área e buscava associações e o acerto do último quase não acontecia. O melhor passador, Bruno Fernandes, estava encaixotado pela marcação e a falta de movimentação dos gajos frente não ajudava em nada.

Para piorar, a segunda bola na defesa nos poucos momentos em que os tchecos afastaram o rabo da sua linha de fundo era deles. E foi assim que saiu o gol tcheco, no início do segundo tempo: dois cruzamentos seguidos, sete dos de vermelho na área e ninguém para impedir que Provod pegasse sozinho para inaugurar o placar.

Imediatamente, Rafael Leão – que ganhava todas as jogadas e as desperdiçava, uma a uma – e Diogo Dalot foram trocados por Diogo Jota e Gonçalo Inácio, respectivamente. Portugal assumia de vez o 3-5-2, mas sem improvisações e com laterais capazes de chegar ao fundo. E o empate veio com uma boa dose de: Bernardo Silva recuou as soberbo Vitinha, que cruzou no segundo pau, onde fechava Nuno Mendes. Stanek espalmou para a frente e encontrou a perna de um infeliz Hranác - que voltaria a estar ligado ao infortúnio dos seus. E foi justamente a tempo de impedir que uma pressão maior pesasse sobre Portugal, que seguiu criando pouco e, com o tempo, com o cansaço acusando.

Não sei se Roberto Martinez confia muito nos titulares e pouco nos suplentes que ele mesmo escolheu, mas a demora a voltar a trocar jogadores por mais frescura nas pernas teria feito inveja a Fernando Santos em seus dias mais, digamos, sonolentos. Só no minuto 90 é que atirou os seus à frente. Um pouquinho antes, em nova jogada pela direita, o penúltimo dos 29 cruzamento encontrou a cabeça de Cristiano Ronaldo, que atirou ao poste e sorriu ao ver Diogo Jota carregar a recarga também de cabeça para o gol, anulado por meio peito de CR7 à frente.

Quando tudo parecia definido e nos preparávamos a voltar ao velho hábito de sacar a calculadora à algibeira – ou a caneta à orelha -, a sorte decidiu soprar a careca de Martinez novamente: Pedro Neto e Francisco Conceição, o “espalha brasas”, mal haviam entrado e decidiram o jogo na única intervenção de ambos. O extremo do Wolverhampton ganhou a dividida pela esquerda, tal como Leão teria feito, mas passou tenso para área, onde haveria um desvio, como Leão não teria conseguido fazer. Hranác se enrolou todo com a bola e ela ficou às ordens do portista, que encheu o pé e carregou Sérgio Conceição para o grupo em que somente os italianos Enrico (o pai) e Federico Chiesa (o filho) estavam: o de marcadores na Eurocopa sendo pai e filho.

No próximo sábado, dificilmente a Turquia dará tanto campo a Portugal. Também não é razoável pensar que Vitinha será suficiente para segurar Çalhanoğlu, Kökçü e Arda Guler, ainda mais com tantos turcos a viverem na Alemanha, suficientes para transformar o Signal Iduna Park em uma sucursal do inferno para alguém que se demonstrou incapaz de reagir às adversidades tão logo apareceram.

Que a tocata de Martinez esteja ensaiada e com cada gajo com o instrumento de costume.

***

As avaliações a seguir têm um certo exagero, galhofa e quase nenhuma base técnica. É favor não levar tão a sério.

Diogo Costa: apanhou uma chuva do caraças à toa. Espero que tenha tomado um bagaço após o jogo. Ajuda? Claro que não, mas nunca se deve dispensar um bagaço;
Rúben Dias: de tanto esperar algo acontecer ao pé de si, foi ter do outro lado para poder justificar os minutos em campo. Calma, pá! Contra a Turquia terás trabalho;
Pepe: é sério que o Villas-Boas dispensou o Pepe e mandou voltar o David Carmo? Olha, se quiser jogar na Lusa até os 50 anos, faço questão de buscar o gajo em Cumbica;
Nuno Mendes: convém lembrar ao mister que cinco centrais foram convocados e tu não és um deles, SFF (Pedro Neto: podes mostrar ao Rafael Leão como dar continuidade sem estragar a jogada?);
Diogo Dalot: quando fores dormir, ó, José Diogo, poderias pegar uns auriculares para fixar o mantra "posso tabelar e chegar ao fundo"? (Gonçalo Inácio: onde estavas durante a semana, que o mister escolheu outro? Faça assim, sente-se ao lado dele, ande ao pé do careca e ele não se esquecerá que tu és o gajo para jogar pela esquerda);
Vitinha: o gajo de Santo Tirso não sabe jogar mal (Francisco Conceição: primeiro toque na bola na sua primeira Euro para espalhar brasas e salvar a pele do professor Martinez em seu momento Roger Schmidt);
Bruno Fernandes: "Como é, pá? Algum puto vai se movimentar ou querem a pelota ao colo, car***? F***"", terá dito o senhor Bruno Miguel quando tentou, sem sucesso, achar alguém para um passe dos seus";
João Cancelo: dizem que o mister ficou admirado quando descobriu que o João Cancelo também pode jogar, e bem, pela ala direita (Nélson Semedo: entrou para poder participar da comemoração do gol da vitória como reconhecimento por não ter reclamado que deveria ter entrado mais cedo);
Bernardo Silva: é importante explicar ao mister que o fato de teres "e Silva" em seu nome não significa que és mais que um, então jogar sozinho na ponta não deve resultar, como nunca resulta;
Cristiano Ronaldo: interessante essa tática de bater um recorde por vez: primeiro, jogar em seis edições; depois, marcar em seis edições. Era bom já ser com os turcos, pá; 
Rafael Leão: que seja providenciada uma lousa na concentração para que o Rafael Alexandre escreva cinquenta vezes "Devo olhar antes de passar a bola e buscar algum gajo com uma camisola igual à minha" (Diogo Jota: o tipo de atuação em que bastava acertar o nome de um companheiro para faze mais que o que saiu);
Roberto Martinez: experimente perguntar à malta em que posição eles jogam antes do treino, SFF. 

segunda-feira, 17 de junho de 2024

BRASIL - O desinteresse pela seleção brasileira: reflexões sobre Cultura, Política e Economia do futebol

(Foto: Divulgação/Conmebol;UEFA)

*Texto originalmente publicado no Ludopédio

A Eurocopa começou e, com ela, emergiu a radicalização do discurso nas redes sociais contra os "colonizadinhos" que se interessam mais pelo futebol europeu do que pelo futebol-penta-campeão-do-mundo-aqui-é-brasil-com-muito-orgulho-com-muito-amor, uma releitura moderna da “síndrome de vira-lata”. É dever afirmar que “radicalização” e “redes sociais” são praticamente irmãos siameses, mas as disputas simultâneas de Eurocopa e Copa América devem potencializar essa polarização.

Sugiro que tentemos aprofundar o debate e fugir de respostas fáceis: por que a seleção não desperta o mesmo interesse de há 20 e poucos anos? Por que muita gente prefere um rival, como a Argentina? Por que reclamam quando jogadores de seus clubes são convocados?

Eu, que tenho ascendência portuguesa e me identifico como torcedor da seleção de Portugal, não sou exemplo de nada, tampouco sirvo para explicar qualquer tendência neste sentido. Além da minha origem, existe o aspecto cultural, e pesa a safadeza feita em 2013 com a Portuguesa, clube do qual sou torcedor e era assessor de imprensa à ocasião. Isso fez com que eu enterrasse de vez qualquer simpatia por qualquer coisa que tenha a chancela da CBF (exceto o futebol feminino, que não tem a devida atenção de todos os setores que atuam no futebol).

A mesma CBF, desde que repassou o direito de negociar os jogos da seleção para empresas de marketing esportivo, que passaram a levar a maioria dos amistosos para o exterior, afastou o torcedor (entre 2000 e 2019, foram disputados 135 amistosos, dos quais, 112 no exterior). Ainda assim, quando joga em território nacional, o preço é proibitivo. Para se ter uma ideia, em outubro do ano passado, quem gastou menos para ver o Brasil levar um gol de bicicleta da Venezuela na Arena Pantanal pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022 terá desembolsado R$200,00 caso tenha tido direito à meia-entrada. O preço cheio variou entre R$400,00 e R$600,00 – pouco menos da metade do salário-mínimo vigente em 2023 (R$1.320,00). Aqui mesmo, publiquei uma comparação dos custos para um torcedor ver o jogo de sua seleção no Brasil e em Portugal.

O recente incremento financeiro no futebol brasileiro fez com que alguns atletas selecionáveis possam permanecer no Brasil, mas isso não significa que os clubes tenham fôlego para segurar seus principais talentos. Por outro lado, trouxe o inchaço do calendário, que recebe cada vez mais jogos e impede que haja, por exemplo, uma pré-temporada minimamente decente. Diferentemente do que acontece na Europa, o futebol daqui não vai parar durante a competição de seleções. "Ah, quando há jogo da Seleção, os clubes não jogam”. Sim, jogam, mas no dia seguinte. Então, desfalques irão ocorrer do mesmo jeito. E a culpa de uma eventual derrota será da seleção, já que ninguém tem a dignidade de assumir os próprios erros. Convenhamos: é fácil tacar pedra na Geni.

Outro ponto que traz chateação é o chamado "vírus-FIFA" (lesões ocorridas em jogos das seleções), essa ideia rasa que tenta convencer que os jogos entre selecionados, e não esse monte de competições de clubes, são os excedentes. Reitero: é confortável para dirigentes e treinadores transferirem a responsabilidade. Além do mais, está assim, ó, de torcedores que adoram achar que seu time está sempre contra-tudo-e-contra-todos, numa cruzada antissistema que só existe na cabeça vazia dessa malta.

Repito, não tenho a intenção de responder todas as questões ou passar o que penso como verdade inquestionável. Outros pontos que me escapam podem e devem ser considerados para ajudar a explicar esse afastamento.

A obrigação doentia de vencer a qualquer custo e que se lasquem os métodos que podem aproximar projetos de conquistas também não ajuda. Assim, muitos treinadores daqui adotam posturas defensivas porque precisam satisfazer a sanha do torcedor barulhento, alimentada por um sem-número de debates mais barulhentos ainda, para manter seus empregos. Boa parte da mídia também tem culpa no nível do futebol praticado e dos programas apresentados, que às vezes resvalam na indigência. Sequer temos uma escola tática, um estilo próprio, e isso tem influência direta do que é praticado lá fora.

Neste sentido, o período sem títulos nas Copas do Mundo diminui o interesse do torcedor que aprendeu que só quem vence é digno de respeito e os outros são um bando de fracassados. Não basta ganhar outras competições, como as continentais ou a Olimpíada, tem que ser o dono do mundo. Desde a primeira conquista brasileira, em 1958, o maior jejum de títulos correspondia a cinco edições, entre 1974 e 1990, igualado em 2022.   

A popularização das ligas estrangeiras também causa consequências no nível do nosso jogo, como se fosse simples emular o que é feito na Europa. Para isso, precisaríamos entender os conceitos, assimilar e dar tempo para que os trabalhos possam amadurecer. É como querer construir uma casa a partir do teto. Em vez disso, meia-dúzia de jogos bastam para definir se fulano ou cicrano servem – normalmente não servem. E essa histeria é alimentada pelos repetitivos programas de debates e suas "sensacionais e originais" enquetes para ouvir a "voz do torcedor". Como só vencer serve, criamos uma geração de consumidores, não de torcedores, que gritam "não pago meu sócio-torcedor pra isso!”

A facilidade para acompanhar campeonatos muito melhores também não ajuda, quando comparados com o que é praticado aqui. Então, a molecada que cresceu ouvindo que só a vitória interessa, vai gritar "meu City, meu PSG, halla Madrid!" Ou outro fortão da vez, pois isso também muda. Ou alguém vê mais camisas do Milan, febre da primeira década desse século, quando tinha brasileiros inquestionáveis na seleção, como Kaká, Cafu e Dida, do que de um desses endinheirados da vez?

Aí, criamos outro tipo de torcedor: o que torce pelo seu jogador preferido e leva uma leva de gente para onde for. Messi e Cristiano Ronaldo – e Neymar também bateu aí – são os expoentes dessa modalidade. Notem quantas camisas do Inter de Miami e do Al Nassr estão sendo expostas por aí, sobretudo nas crianças. E isso acaba refletindo também no futebol de seleções. Ao cabo, os candidatos a ídolos brasileiros não esquentam lugar, nem criam laços com clubes daqui, e muita gente não se sente representada, nem é brasileira-com-muito-orgulho-com-muito-amor.

Há outro ponto importante na comparação entre Copa América e Eurocopa: como o produto é trabalhado - e não adianta encampar o ódio-eterno-ao-futebol-moderno. É lidar, como diz-se em Portugal. A partir daí, entender como valorizar a competição como produto. Na sua coluna no Guia da Copa América e da Eurocopa da Placar - mesmo tratamento para ambas, mesmo espaço, bola dentro! -, o jornalista Vitor Sérgio Rodrigues fala, e bem, do desgaste causado pela exposição exagerada da Copa América, a ponto de ser banalizada. A Euro, uma mini-Copa do Mundo, é feita para ser exatamente isso. A competição da lamentável Conmebol - não que a UEFA seja muito melhor, mas sabe trabalhar - caminha para ser mais respeitada. Estabilizar o intervalo entre as edições é um dos passos pais importantes. 

Portanto, cada um que acompanhe o que quiser, sem essa de rotular sem contextualizar porque é mais fácil. Esta Copa América, que a Conmebol entregou para os Estados Unidos colocarem em gramados cujas dimensões são diferentes do que veremos na próxima Copa do Mundo (enquanto a Eurocopa é organizada como a própria Copa do Mundo), tem como maior atrativo ser provavelmente a última competição de Messi pela Argentina.

E todos somos responsáveis por isso.