sexta-feira, 28 de junho de 2024

BRASIL - Bota 9, Dorival!

Por Waldir Manoel do Nascimento*


Foi-se o tempo em que a escalação da Seleção Brasileira povoava os pensamentos e as preocupações de 11 em cada 10 torcedores brasileiros. Num processo de deterioração da imagem junto ao torcedor que começou há décadas, poucos realmente se importam com o escrete canarinho e quem estará em campo por ele. Não existe mais o Zé da Galera, personagem do Jô Soares que atormentou o técnico Telê Santana às vésperas da Copa do Mundo da Espanha, em 1982, pedindo a escalação de um ponta direita na equipe. "Bota ponta, Telê!", repetia o Zé da Galera.

Aquele time tinha um ponta do lado esquerdo, Éder, que tinha a companhia de Serginho Chulapa no ataque abastecido pelos meias Zico, Sócrates e Falcão, resguardados pelo volante Toninho Cerezo e os zagueiros Oscar e Luizinho, e apoiados por Leandro e Júnior nas laterais. Um time que encantou e fez o Brasil chorar quando perdeu para a Itália de Paolo Rossi. Mesmo assim, antes de iniciado o Mundial, Zé da Galera cobrava: "Bota ponta, Telê!"

Sem entrar no mérito da comparação entre as épocas - não é essa ideia neste texto -, os que se interessam pela Seleção Brasileira parecem unânimes em dizer: falta um centroavante ao time de Dorival Júnior que enfrenta o Paraguai nesta sexta-feira, 28 de junho, às 22h de Brasília, pela segunda rodada do Grupo D da Copa América.

O treinador brasileiro tem optado por escalar três pontas no ataque - estaria feliz o Zé da Galera? -- com Raphinha e Vini Jr. pelos lados e Rodrygo, o camisa 10, por dentro. Porém, pela ineficiência do trio até aqui, ainda não deu para entender se a intenção é que o jogador centralizado seja o falso 9 ou se a ideia é que os pontas façam este papel, entrando na área no espaço deixado por Rodrygo ao sair para armar o time.

Seja qual for a ideia, não parece estar funcionando, vide a dificuldade que teve o Brasil no amistoso frente aos Estados Unidos e na estreia da Copa América contra a Costa Rica. O time considerado reserva, com Evanílson de centroavante contra o México, funcionou melhor e construiu a vitória já no primeiro tempo do confronto.

Hoje, quem olha com carinho o time de Dorival sente a falta de um jogador de referência na área, mais especificamente de Endrick. Ainda que entenda que é preciso ter calma pela pouca idade do agora atacante do Real Madrid, seria mais simples para o treinador colocá-lo em campo e transferir a responsabilidade a ele. Em qualquer situação Dorival se sairá bem: se arrebentar, soube a hora de escalar e, se isso não acontecer, estava com a razão ao pedir paciência com o que é só um menino ainda.

Na dúvida, bota 9, Dorival!

Este texto, porém, quase teve outro título: bota meia, Dorival.

Ainda que a seleção paraguaia se apresente com dois volantes, um meia, dois pontas e um centroavante - teoricamente ofensivo -, o time de Daniel Garnero deve repetir o expediente costa-riquenho e se fechar na defesa desde o primeiro minuto, tentando surpreender os brasileiros no contra-ataque e, sendo assim, a presença de um meia na vaga de um dos volantes, pode ser interessante.

Mas, e por isso o tema do texto não é este, não se trata de uma mudança urgente a ser feita. Todos os volantes brasileiros sabem jogar, e se a mudança no ataque surtir efeito e fizer a seleção ser efetiva e vazar a meta paraguaia, ter um time equilibrado pode ser interessante para obter os importantíssimos três pontos válidos no confronto.

*Cosplay do maior trio de jogadores brasileiros de toda a história.

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