quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Freud e os idiotas

Sigmund Freud é o criador da psicanálise. Você pode não saber o que é isso, mas certamente já ouviu falar sobre ele. Com a sua ajuda, o homem passou a se conhecer melhor, passou a entender os meandros do comportamento.

Mas uma coisa eu duvido que, fosse vivo, Freud explicaria: a torcida da Portuguesa.

De algum tempo pra cá nos habituamos a comer o pão que o diabo amassou. Se antes o costume era entrar nos campeonatos pra fazer número, nossa realidade passou a ser tentar nos mantermos. Começamos a almejar o décimo lugar. Daí pra baixo.

Eis que vem um treinador experiente, conhecedor do “futebolês” em seu estado mais bruto, e nos devolve o prazer de lutar pelas primeiras posições na classificação, de voltar a disputar uma meia-final de Paulistão depois de ONZE anos. E ainda assim tem “torcedor” que faz questão de comprar seu ingresso só pra achincalhar o técnico! Sem contar que esses mesmos “sábios” dispendem o mesmo tratamento ao artilheiro do time, o meia-atacante Edno.



É verdade que ele andou dizendo que não queria ficar no time, que era jogador de primeira divisão. Mas ele ficou. E está jogando bem. Ainda assim insistem em vaiá-lo. Ambos são importantes no processo de reestruturação da Lusa. Não faz sentido serem tratados como estão sendo.

A impressão que fica é que essa meia-dúzia de pseudo-entendedores espera ansiosa as coisas irem mal pra poder bater no peito e dizer, orgulhosa: ‘Eu sabia!’. Os motivos é que são, ao meu ver, bastante duvidosos.

Basta o time tomar um gol, e lá vão eles pra trás do banco de reservas, mas até aí, tudo bem, pois paixão e racionalidade não andam juntas, ainda mais nas arquibancadas de um estádio de futebol. Até aí.

Vivemos numa democracia, e como tal, todos têm o direito de expressar seus sentimentos e opiniões. Isso é sagrado. Da mesma forma, também têm o direito de agir como idiotas, ou de aceitarem ser usados como massa de manobra. E é aí que mora o perigo. A quem interessa o time em crise? Por que não o deixar trabalhar em paz? Essas são perguntas que devem ser respondidas.

Quem há de respondê-las? Não sei, sinceramente. Talvez Freud pudesse. Mas pensando bem…

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Com o lado da manteiga virado pra cima

Novos tempos no Monumental do Pari, o nosso Canindé.

No ano passado cansamos de ver a Portuguesa jogando muita bola, de encher os olhos mesmo, mas no final era sempre a mesma coisa. A ponto do Muricy Ramalho, na penúltima rodada, perguntar pra um repórter, ainda no campo, quanto tinha ficado o jogo da Lusa. Quando soube da nossa queda, disse, com tristeza: ‘não merecia, não merecia’.

Agora o que se vê é um futebol e resultados em estado bruto. Não digo que estejamos jogando mal. Estamos jogando feio, extremamente feio. Mas está dando certo.

Nossa estreia na Copa do Brasil, contra o Icasa, foi mais um jogo desses. Mas ao contrário dos outros jogos sob o comando do Mário Sérgio, nesse, sim, nós jogamos mal. Talvez por estar com a cabeça no clássico. Quero crer que sim.

O que me incomodou foi a postura inicial do time. É sabido que os times menores que jogam a Copa do Brasil querem, ao menos, garantir o jogo da volta, pois é na volta que eles aparecem, jogando em praças mais visíveis, digamos assim. Portanto, quem teria que sair pro jogo era justamente a Portuguesa. Mas o que vimos foi um time desinteressado, recuado. Só buscou o gol na metade final do segundo tempo. E conseguiu num lance de sorte, o que normalmente não acontece com a Lusa. Ou o estimado leitor é capaz de lembrar de um jogo, apenas um, no qual evitamos a derrota com um gol contra nos acréscimos?

Com o empate com golos, agora quem tem a obrigação de marcar gol é o Icasa. Zero a zero, dá Lusa.

Pois é. Nosso futebol não vem sendo dos mais bonitos, mas que fazia tempo que nosso pão não caía com o lado da manteiga virado pra cima, ah, como fazia…

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Nossos hooligans, os cartolas e a imprensa: um triângulo nada amoroso

"...Após o jogo ocorreram incidentes lamentáveis: corre-corre, torcedores pisoteados, policiais feridos..."

Não, este intróito não se refere ao espetáculo dantesco ocorrido após o clássico do último domingo, entre São Paulo e Corínthians. Mas poderia ser. Aliás, encaixa-se perfeitamente numa porção de episódios semelhantes. E todos têm pontos em comum: a intolerância, a suposta onipotência desses marginais travestidos de torcedores, a impunidade.

Soma-se a isso o papel de parte da imprensa e dos dirigentes, que além de dar espaço pra marginália, fomentam o ódio já enraizado nessas facções. Deve-se salientar que as torcidas organizadas são formadas na sua maioria por pessoas de bem, mas a ação dos bandidos nelas infiltrados é tão forte e constante que é praticamente impossível desvincular as torcidas em si das barbáries.

Caso o leitor não concorde com a tese deste humilde escriba, explicarei usando os episódios que antecederam o jogo de domingo, já que foi o caso mais recente da barbárie promovida pelas quadrilhas, ou gangues, ou "torcidas organizadas", como queiram.

Durante a semana os dirigentes de ambos os clubes usaram a imprensa pra trocar farpas publicamente. O motivo era o número diminuto de ingressos destinados à torcida do Corínthians, que, na condição de visitante, receberia apenas 10% da carga total de ingressos, que é o limite mínimo determinado por lei.

Não satisfeitos com a postura adotada pelos dirigentes sãopaulinos, seus congêneres corintianos (leia-se Mário Gobbi e Andrés Sánches) desfiaram um verdadeiros rosário de baboseiras via imprensa, acusando-os de arrogantes, mesquinhos, elitistas e outros adjetivos pouco ou nada abonadores. Como isso dá audiência, já viu. A imprensa, ávida por um quiproquó, parecia urubu sobrevoando carniça, e os cartolas apareceram mais que aqueles que deveriam ser os protagonistas do clássico, os jogadores.

Semana de clássico é sempre recheada de polêmicas. Inclusive, clássico recebe essa alcunha por ser diferenciado, por si só. Como dizem os ditos populares, vai além dos noventa minutos, ou das quatro linhas. Ou seja, não precisa disso.

E isso acaba passando pras arquibancadas. Ou alguém, em sã consciência, é capaz de imaginar que aquela horda que se dirigia ao estádio sob os gritos de "a violência voltou" o fizera apenas para ver o jogo, civilizadamente?

Há muitos anos, lá pros idos da década de 40, o grande Thomaz Mazzoni, d'A Gazeta Esportiva, batizou o São Paulo x Corínthians de 'O Majestoso'. Pra não perder essa aura, sugiro que "importem", do Reino Unido, a Margaret Tatcher. Só ela pra dar jeito nos nossos hooligans.

Ah, antes que me esqueça, o sal-de-fruta continua por minha conta.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Ronaldo, Ronaldo...não é por aí!

Hoje, na hora do almoço, assisti, como de costume, a dois ou três programas esportivos. Entre reportagens repetitivas, debates tão improdutívos quanto dispensáveis e corintianismos exacerbados - como a TV aberta é pobre! -, chamaram-me a atenção duas notícias, de forma ambígua: a punição imposta ao nadador estadunidense Michael Phelps e uma declaração sobre Phelps, por parte do Ronaldo (cada vez menos) Fenômeno.

Caso o leitor não estivera no Planeta Azul nos últimos dias e não saiba o que houve com o nadador mais completo da história, explico: Phelps fora flagrado fumando maconha numa espécie de narguile, durante uma "inocente" festinha universitária, no seu país natal. Como a foto rodou por todas as partes do mundo, restou a Phelps apenas pedir desculpas pelo - segundo o próprio - momento de fraqueza.

Apesar de o fato ter acontecido em novembro, portanto sem riscos de comprometer Phelps em algum exame antidoping, o supercampeão foi punido pela federação de natação daquele país com três meses de afastamento de qualquer competição, além de perder seu apoio financeiro enquanto cumprir a suspensão. Não obstante, ainda perdeu o patrocínio de uma empresa de cereais.

Do lado de cá do Atlântico, durante uma entrevista coletiva - até porque ele só concede exclusivas a uma certa rede de TV -, entre uma reclamação e outra, dada a marcação cerrada dos fotógrafos, por conta das últimas fotos tiradas numa boate paulistana, Ronaldo defendeu o nadador, dizendo que ele (Phelps), por suas conquistas, não teria que dar satisfações a quem quer que fosse e poderia fazer o que bem entendesse.

O que o Fenômeno esquece é que Phelps é um exemplo pra milhões de pessoas e todas as suas atitudes repercutem imensuravelmente, para o bem e para o mal, logicamente. O estranho é que, apesar de viver constantemente sobre o mesmo fio-da-navalha, o atacante parece não ter aprendido essa lição.

Ronaldo hoje é o herói de milhões de brasileiros, principalmente dos pequenos corintianos e, como tal, deve ter cuidado ao agir e principalmente ao falar, ainda mais quando se trata dessas sandices proferidas na referida entrevista.

Como diz meu tio Bino, "melhor ouvir isso que ser surdo." Mas, sinceramente, tenho cá minhas dúvidas...

Irmãos, é preciso coragem

O decepcionante empate frente ao Oeste, na última quarta-feira, foi um dos jogos que mais me deixaram na boca um "gosto de cabo de guarda-chuva" que eu me lembre, nos últimos anos. É difícil, muito difícil mesmo, aceitar que uma vitória certa se esvaia pelos dedos, como ocorreu.

Não que o jogo tenha sido um primor, longe disso. Qualquer terapeuta receitaria o VT do primeiro tempo pra ser usado por insones, na busca pelo sono perdido. Seria "tiro-e-queda", indubitavelmente. Mas a partir do segundo tempo a coisa mudou. Chances de gol sendo criadas- e desperdiçadas, como sempre -, nem a saída do Fábio, nosso ótimo guarda-redes, era motivo de preocupação, dada a fragilidade do adversário.

Com o César Prates numa noite inspiradíssima, a opção do Mário Sérgio, deslocando-o pra ala-esquerda pra fazer entrar no time o Wilton Goiano, e o Athirson indo pro meio, pro lugar do substituído Fellype Gabriel, foi das mais acertadas. Dos pés de Prates não só saíam as principais jogadas de ataque, como também o gol da Lusa foi fruto de uma jogada individual sua.

Eis que o Rei do Gatilho resolve tirar o Christian, que reestreava com a camisa rubro-verde, pra entrar o zagueiro Ediglê. Praxe de todo treinador retranqueiro, em vez de aproveitar o baque de quem sofre um gol e tentar aumentar o placar, recua o time pra garantir a vitória.

Não que a atitude em si tenha feito o Oeste tomar conta do campo luso, pois ainda assim a Portuguesa criava chances, mantinha a posse de bola e não era ameaçada. Mas ao fazer a mudança, o treinador luso assumiu todo o risco de ser responsabilizado no caso de a vitória escapar, o que, no fim das contas, aconteceu.

Uma das maneiras de um time inferior tecnicamente se igualar ao mais forte é levantando a bola na área. Isso é o básico do básico. E foi assim que o Oeste chegou à igualdade. Numa falta boba, mas boba mesmo. E ninguém teve a decência de impedir que o contrário ficasse sozinho, na entrada da pequena área, pra fuzilar, com uma cabeçada tão isolada quanto certeira, o goleiro Victor. Time que tem três zagueiros não pode, em hipótese alguma, tomar gol de cabeça numa cobrança de falta frontal.

Faltou entrosamento? Talvez. Faltou competência? Provavelmente. Faltou matar o jogo quando ainda estava 1 a 0? Pode ser que sim. A única certeza é que faltou coragem pra sufocar, dentro de casa, um time medonho, cujo destino deverá ser lutar contra o decenso.

O próximo jogo da Portuguesa é o clássico frente ao Corínthians, sábado, no Pacaembu, e estejam certos de que será um jogo bem mais difícil do que foi esse contra o "garboso" Oeste. E será a chance do nosso treinador se redimir dos erros cometidos. Ou de mostrar de uma vez por todas que está ultrapassado, e que o rótulo de retranqueiro lhe cai como uma luva.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A vez do Rei do Gatilho

Mário Sérgio Pontes de Paiva foi um jogador dos mais brilhantes. Numa eleição recente, promovida pela revista Placar, ele ficou entre os maiores craques da história tanto do Grêmio, sendo campeão do mundo em 1983, quanto do Vitória. No caso do rubro-negro baiano, ele foi apontado como o número 1.

O polêmico craque recebeu algumas alcunhas durante sua carreira, duas a destacar: “Vesgo”, por olhar para um lado e tocar para outro  mais ou menos o que tenta fazer hoje o Ronaldinho Gaúcho –, e “Rei do Gatilho”, graças a um incidente ocorrido em 1981, após o jogo entre o seu São Paulo e o São José. A torcida do time do Vale do Paraíba estava apedrejando o ônibus em que estava a delegação do Tricolor  e ele sacou um revólver que estava em sua bolsa e atirou para o alto, dispersando os baderneiros. De acordo com o próprio, as balas eram de festim.



Como comentarista, foi um dos melhores, senão o melhor. Ao contrário da maioria de ex-boleiros que maltratam nossos tímpanos com comentários do tipo “ele pegou mal na bola” ou “a bola passou longe do gol” pra lances de desfecho infeliz – afinal, nós estamos vendo isso, não precisamos de um pseudo-entendido pra falar o óbvio 
, Mário não fazia pouco caso da inteligência do telespectador. Além de apontar a falha dos times em campo, sugeria quais seriam as correções.

Dirigiu, com sucesso, equipes como Corinthians, São Paulo e, mais recentemente, o Figueirense, sendo vice-campeão da Copa do Brasil. Colheu insucessos também, como no mesmo Figueirense, sendo demitido após poucas partidas no último Brasileirão.

Agora o Rei do Gatilho está no comando da Portuguesa, em substituição a Estevam Soares, que caiu após a primeira rodada do Paulistão. Com Estevam. a Lusa jogava um futebol vistoso, de bom toque de bola e várias chances de gol. Mas inacreditavelmente, a bola não entrava. Já a dos adversários conhecia muito bem o caminho do gol luso. Foram 70, em 38 rodadas.



Agora, sob o comando do Mário Sérgio, a Lusa tem tomado maiores cuidados defensivos. Ele, como grande conhecedor dos meandros da bola, sabe que deve se acertar um time a partir da defesa. O futebol vistoso dos tempos de Estevam não tem aparecido, mas é sob o atual comando que a Lusa conseguiu, após muito tempo, duas vitórias seguidas.

Que o Vesgo consiga enxergar melhor que seus antecessores.