por Vinicius Carrilho*
Foram três anos, cinco títulos e o nome gravado na história do Sport Club Corinthians Paulista para sempre. Assim podemos resumir a segunda vez em que os caminhos do alvinegro e de Tite se cruzaram. Neste período, o clube mudou, o técnico mudou, mas o mundo do futebol permaneceu o mesmo: completamente ingrato.
Certa vez, Machado de Assis disse que “a ingratidão é um direito do qual não se deve fazer uso” e, neste caso, o Corinthians fez uso desse direito completamente imoral. Aliás, não só o Corinthians, parte de sua fiel torcida – cada vez menos maloqueira e sofredora, e mais de sofá – também.
É verdade que Tite não teve uma grande temporada em 2013 (apesar de um segundo semestre espetacular em 2011 e um ano estupendo de 2012), assim como também era notório que seu ciclo parecia estar no fim. Porém, a forma como o treinador deixa o clube é melancólica. Como um fantoche, ele ficará fazendo cena no banco de reservas até dezembro, quando, por decisão da cúpula corinthiana, cederá sua vaga para Mano Menezes.
Não há nada de ilegal no que fez o Corinthians, mas Tite merecia mais respeito. Sai do clube como se sua passagem tivesse sido comum, quando, na verdade, o treinador se aproximou muito – se não passou a ser – do título de maior técnico dos 103 anos de história.
Diz-se por aí que o pensamento no futebol, para o torcedor, tem validade definida a cada quarta e domingo. A sabedoria popular, em 2013, foi confirmada por boa parte da torcida do Corinthians, criando o mais triste dos capítulos deste fim de ciclo. Após conduzir o time no ano mais vitorioso de sua história, alguns dos torcedores – aqueles que sabem tanto de futebol que devem ter inventado o esporte – passaram a considerar Tite fraco, retranqueiro e chegaram ao absurdo de atribuir tudo que tivera conquistado a um único fator: sorte.
Enquanto alguns atletas – que, alias, poderiam criar uma nova categoria promocional de operadores de telefone: a promoção dos créditos eternos – eram claramente blindados, Tite recebia, calado, as mais diversas críticas. E assim passou 2013.
Se faltou gratidão no lado alvinegro, sobrou em Adenor. Em entrevista no Couto Pereira, ele disse: “Alguns clubes me ligaram, eu disse não. Só no Corinthians tenho condição de dar continuidade ao trabalho. Se não ocorrer, vou estudar um pouco, curtir a família, reciclar, assistir a jogos, ir para Caxias do Sul ver minha mãe e cuidar da saúde dela”, depois, completou: “Só quero me ater a uma coisa. Não sei qual é o futuro, mas o que foi construído por todos nesses três anos de Corinthians nenhuma equipe do futebol mundial construiu. Ninguém construiu tamanhas conquistas em três anos. Isso é significativo, ninguém vai tirar de nós. Quero guardar isso para o resto da minha vida”.
Nesta quinta-feira (14), dia em que supostamente foi informado de sua dispensa, Tite comandou o treino dos reservas e apenas limitou-se a dizer aos jornalistas presentes: “Estou em paz. Estou em paz comigo mesmo!”. E assim mesmo deve ficar. Ele deixa não só seu nome na história, nem unicamente a imagem de que um técnico preparado naturalmente torna-se vencedor. Adenor Leonardo Bacchi sai do Corinthians deixando claro que, apesar deste meio podre que é o mundo da bola, ainda há quem possa prosperar com caráter.
Agora, resta apenas a torcida que faça sua parte. Dia 01 de dezembro de 2013, no Estádio do Pacaembu, o Corinthians faz seu último jogo em casa com Tite no banco de reservas. Mais do que tudo, é uma obrigação que todos os presentes façam desta partida uma grande despedida. É o mínimo que se espera para a ocasião. Absolutamente todos devem reverenciar Adenor Leonardo Bacchi, até mesmo se for algo falso. Até porque, como cantava Antônio Marcos:
“Ah, o mundo sempre foi
Um circo sem igual
Onde todos representam
Bem ou mal
Onde a farsa de um palhaço
É natural"
* Vinicius Carrilho tem 22 anos, é jornalista,
morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.