segunda-feira, 30 de março de 2009

Com as barbas de molho

A fase classificatória do Paulistão 2009 está chegando ao fim. Faltando apenas duas rodadas, todos os jogos têm as cores das decisões. É neste momento que fatos estranhos (leia-se arbitragens suspeitas) costumam acontecer. E como bom torcedor da Lusa que sou, já estou com as barbas devidamente de molho.



Historicamente somos as vítimas contumazes do antigos "homens de preto", mas nas duas últimas rodadas, estranhamente, muito estranhamente, fomos os beneficiados.

Senão, vejamos: na rodada passada, contra o Mirassol, foi validado um gol escandalosamente feito com a mão pelo atacante Fabrício Carvalho. Hoje, contra o Marília, uma sequência de lances capitais no mínimo discutíveis, e todos interpretados a favor do time do Canindé.



Já no confronto entre Barueri e Santos, adversário direto da Portuguesa por uma vaga nas meias-finais, foi invalidado um gol legítimo do time da Vila Belmiro e o jogo acabou sem abertura de placar.

Por mais que pareça ser a Lusa a beneficiada, não duvido que essa ajuda nada mais seja que um simples pretexto pra que nos tirem a vaga já no jogo contra o Santos, na próxima quinta-feira à tarde, na Vila Belmiro.

Pra provar que não se trata de algum tipo de "teoria da conspiração", relembrarei a famosa arbitragem do segundo jogo da semi-final de 98, disputada por Corínthians e Portuguesa, quando o argentino Castrilli pôs o alvinegro na final: durante o jogo ele expulsou o meia corintiano Marcelinho Carioca, o que daria à arbitragem um certo ar de idoneidade, para, no fim do jogo, inventar, de maneira escabrosa, um pênalti a favor do Timão.

Espero, sinceramente, estar enganado, mas como os interesses comerciais costumam sobrepujar-se à disputa dentro das quatro linhas, prefiro ficar com os dois pés atrás. E com as barbas de molho.

terça-feira, 24 de março de 2009

Por um preço alto demais


A FIFA adiou, no último dia 11, a divulgação da escolha das cidades-sede da Copa de 2014, que, infelizmente, será realizada no Brasil. Foi a primeira vez que ocorreu tal fato.

A princípio, o anúncio estava marcado para o dia 20 de março, em Zurique. Oficialmente, a causa foi o aumento do número de subsedes de 10 para 12, necessitando, portanto, de mais tempo para análise das cidades interessadas. Sendo assim, a divulgação será feita na apresentação do Congresso FIFA 2009, a ser realizado nas Bahamas, no final de maio.

Tudo conversa-pra-boi-dormir. As verdadeiras razões são outras. Como já foi citado, ocorreu um aumento no número de subsedes. As motivações são meramente políticas, ou alguém acha, em sã consciência, que tal aumento não seja para acolher mais aliados políticos, visando vantagens futuras?



Acontece que quando os membros da entidade máxima do futebol mundial estiveram no país, nos meses de janeiro e fevereiro, para visitar as 17 cidades que têm interesse em receber os jogos, não encontraram uma sequer que realmente estivesse estruturada para tanto. Curitiba, por exemplo, tida como cidade-modelo para todo o país, sequer dispõe de metrô.

Cidades que certamente serão escolhidas, como Rio de Janeiro e São Paulo, apresentam problemas imensos, quase insolúveis, em segurança e transporte públicos. Falando em transporte, querem ligar as cidades através do novíssimo, empreendedor e fantástico trem bala. A viagem duraria pouco mais de uma hora. No melhor estilo Organizações Tabajara, nossos problemas terão acabado. Mas pra isso, custará cerca de US$ 9 bilhões, só pra fazer o super-ferrorama. Fora as obras de expansão de metrô, melhorias nas telecomunicações e outros gastos. E estamos falando de São Paulo e Rio, que em tese são duas das cidades de melhor infraestrututa no país.

Pra se ter uma ideia, mesmo que vaga, de quanto vai ser desviado pros bolsos dos verdadeiros interessados, quando foi feito o famigerado Pan do Rio, em 2007, o orçamento inicial era de cerca de R$ 470 milhões. Ficou em mais de R$ 5 bilhões. E o poder público entrou com 2/3. DINHEIRO PÚBLICO!!! Poderia ir pra saúde, pra educação, mas foi pro bolso dos organizadores e seus amiguinhos. De acordo com dados divulgados no blog de Juca Kfouri, só a REFORMA do Maracanã, inicialmente orçada em R$ 71 milhões, saiu por mais de R$ 240 milhões. E ainda assim é obsoleto. Pra fazer o Engenhão gastaram mais de 350 paus. Só pra comparar, o de Leipzig, usado na Copa da Alemanha de 2006, saiu por R$ 244 milhões e o de Seogwipo (Coréia do Sul, 2002) ficou em R$ 203 milhões. Querem saber o valor inicial do Engenhão? R$ 60 milhões.



Hoje o Engenhão não pode ser usado em grandes jogos, devido à sua "ótima" localização. Sem contar que foi cedido para o Botafogo pela bagatela de R$ 30 mil por mês. É o pior negócio no mercado imobiliário em todos os tempos, já que, por este valor, levar-se-á 973 anos para que seja recuperado o investimento. O clube carioca teria, entre outras atribuições, que realizar a manutenção do estádio. Mas nem isso faz.

Os organizadores da Copa no Brasil querem que o Pantanal seja uma das sedes. Eis o maior de todos os descalabros! Fazer um estádio no Pantanal? Pra quê? E depois da Copa, farão o quê com ele? Imagino os grandes jogos que terão lugar no "Pantanão": Jacarés de Desportos x SC Tuiuiús? FC Tamanduá Bandeira x Mico Leão Dourado FC?



Temos seríssimos problemas sociais, uma parcela significativa da população tem uma renda menor que meio salário mínimo, a educação é uma piada de péssimo gosto e, ao contrário do que diz o Presidente da República, a saúde pública só não está na UTI por falta de vaga.

Pois é. A Copa do Mundo é nossa, entretanto por um preço alto demais.

domingo, 22 de março de 2009

Contrariando a lógica

O futebol é um dos solos mais férteis para a criação de frases de efeito. "Quem não faz, toma", "em time que está ganhando não se mexe", "futebol é uma caixinha de surpresas (esta é clássica)"... Enfim, há uma infinidade de opções pra todos os gostos. Particularmente a minha preferida é "o futebol não tem lógica". Por causa desta preferência não posso me furtar a comentar o que está ocorrendo com a Lusa.

Contrariando todas as lógicas existentes - mesmo que não existam -, a Portuguesa está muito, muito próxima de apurar-se à fase semi-final do Paulistão. Desde 2000, quando era treinada pelo Nelsinho Batista e a dupla de ataque era formada por Leandro e Bentinho, não reúne condições tão claras para tal. E naquele ano não chegou. A última vez em que a Lusa foi semifinalista no Paulistão foi em 98, no famoso jogo da "Castrillada".

Outrora nossos adversários eram os árbitros, eternos algozes. Desde Armando Marques até o já citado Javier Castrilli, exemplos não faltam.

Mas neste ano o maior oponente da Lusa é... ela própria! O planejamento, se é que houve, foi equivocadíssimo. Manteve o Estevam Soares após o descenso no Brasileirão e após a primeira rodada trocou o comando da equipe. As razões nunca serão reveladas, tamanha a gravidade dos fatos. Trouxe o Mário Sérgio, que recolocou o time no caminho das vitórias mas perdeu o comando sobre o elenco. Aí a queda iminente só aconteceu após a tão improvável quanto previsível eliminação frente ao Icasa, na Copa do Brasil, dentro do Canindé.

Ora muito bem. Foi contratado o Paulo Bonamigo. Uma indicação do Felipão, segundo o jornalista Cosme Rímole. Bonamigo, gaúcho de Ijuí, 48 anos. Como treinador venceu três estaduais no Nordeste. No ano passado dirigiu, sem sucesso, Goiás, Paraná e Ponte Preta. Ou seja, um currículo não muito alentador para a tão exigente, e às vezes chata, torcida da Portuguesa.

Aí veio o jogo contra a Ponte, quando a Lusa seria dirigida pelo preparador físico Flávio Trevisan -sob a bênção de seu amigo Mario Sérgio, que não se opôs à sua permanência na Lusa. Entretanto, Bonamigo, mesmo sem comandar apenas um treino que fosse, resolveu assumir já naquele jogo. O resultado foi um sofrido e sofrível 1 a 0 pra Lusa.

Desde então foram quatro jogos e outras tantas vitórias. Cinco golos marcados e nenhum sofrido. De quebra, a entrada no G-4, faltando apenas quatro rodadas para o fim da primeira fase. E dos quatro jogos restantes, três são em seu relvado.




O time do Canindé depende apenas do seu futebol pra chegar às meias-finais. Agora a imprensa terá, mesmo que à contra-gosto, que virar seus holofotes para o Canindé.

O problema é que, historicamente, quando se espera que a Lusa alcance resultados maiores, ela emperra. Tomara que essa seja mais uma das inexistentes lógicas futebolísticas contrariadas pela Portuguesa, e que este ano seja diferente, apesar dela mesma.

domingo, 8 de março de 2009

Imensurável



Logo mais, às 18h30, Lusa e Ponte Preta adentrarão no relvado do Canindé para mais uma partida, válida pela 12ª rodada do Paulistão 2009. Para a Macaca, trata-se de um jogo importante, pois briga diretamente com Santos, Santo André, Barueri e a própria Portuguesa pela quarta vaga na próxima fase, já que é quase improvável que Palmeiras, Corinthians e São Paulo falhem às semifinais.

No entanto, pra nós, lusos, esta partida terá uma importância muito maior. Imensurável, digamos, pois estará posta à prova não só as chances de apuramento à próxima fase, como também o confuso planejamento iniciado após o rebaixamento do ano passado.

Após 11 rodadas, o preparador físico Flávio Trevisan será o terceiro (!) treinador a comandar a Portuguesa à beira do gramado. Antes dele, estiveram no cargo Estevam Soares, demitido sob condições absolutamente nebulosas, após o revés frente o Guarani, ainda na rodada de abertura do campeonato. Assumiu, em seu lugar, Mário Sérgio Pontes de Paiva, que estreou com derrota, mas emplacou uma ótima sequência de resultados, chegando a nove jogos sem derrota, ente Paulistão e Copa de Brasil. Após a quebra de tal marca foi exposta uma fragilidade no relacionamento entre o técnico e o grupo de jogadores, já abordado nesta tribuna.



Trevisan ocupará o cargo de forma interina, é verdade, pois não é qualificado para tal, como ele mesmo vem afirmando. A partir de amanhã o comando técnico caberá ao recém chegado Paulo Bonamigo, que terá a incumbência de não só recolocar a Lusa nos trilhos, dando continuidade ao bom trabalho (em termos de resultados) do antecessor, como também será o responsável por comandar a equipe na Série-B, quando tentaremos voltar à primeira divisão do futebol nacional, o que, aliás, deve ser a meta principal da Lusa.

A não ser que seja mantida a inacreditável média de um técnico por mês. Caso isso ocorra, poderemos não voltar, mas ao menos figuraremos no Guiness.

sexta-feira, 6 de março de 2009

A crônica da tragédia anunciada

O dia 4 de março de 2009, uma quarta-feira de temperatura agradável, estará pra sempre na memória de todo torcedor da Portuguesa como o dia em que a Lusa, de tantas glórias, foi eliminada da Copa do Brasil pelo valente, porém fraquíssimo, time do Icasa, o obscuro penúltimo colocado do Campeonato Cearense.

Mas foi apenas o desfecho de uma tragédia previamente anunciada dois dias antes, na reunião entre o elenco e o técnico, Mário Sérgio, que culminou com o afastamento dos meias Fellype Gabriel e Preto. E que serviu para externar o quão frágil é o relacionamento entre comandante e comandados.

Quanto ao jogo em si, talvez esse episódio não tenha influenciado no comportamento do time em campo, mas as ausências dos afastados tornaram ainda mais diminutas as opções do ténico.

Além de que a equipe hoje foi muito, mas muito mal armada. Tínhamos no ataque dois jogadores de área, Christian e Fabrício Carvalho, sendo que este sequer vinha sendo relacionado para os jogos. O Edno, que vinha jogando mais à frente, desempenhou a função de armador, a qual não vinha fazendo, ultimamente. Duvido, inclusive, que tenha treinado com essa formação.

Quando o Rei do Gatilho mexeu, o fez errado. Ao tirar o Fabrício Carvalho pra pôr o Fernando, fê-lo pra ganhar o meio de campo, mas como tomou o gol logo em seguida a sua ideia foi pro espaço. Adiantou o Edno e ficou apenas com o Marco Antonio na armação, que vinha atuando sempre como o volante de saída. Quer dizer, precisávamos atacar, mas ficamos com 3 volantes de contenção (Fernando, Rai e Erick) e que sequer tinham jogado juntos, e o único “gancho” do time na verdade era outro “trinco”, só que atuando mais avançado.

Pra completar, tirou o Christian pra pôr o Rogério. Não se tira o atacante mais agudo numa ocasião dessas. Isso é básico. Quando o Edno se machucou, teve que pôr o Goiano, pois não tinha opções mais criativas - no banco, além dos jogadores que entraram, estavam à disposição o goleiro Victor, o lateral esquerda Guigov, o zagueiro Ediglê e o volante Ygor. Afinal, o Preto e o Fellype Gabriel estavam afastados do elenco e o Heverton estava suspenso. Às vésperas de um jogo decisivo o técnico deveria ter administrado melhor a situação criada por ele mesmo. Talvez por duvidar da possibilidade de uma improvável eliminação, que, merecidamente aconteceu.

Enfim, faltou tudo pro Mario Sergio. Jogo de cintura, ousadia e principalmente, inteligência. Isso posto, somado aos acontecimentos dessa semana, acredito que ele tenha assinado seu aviso prévio nessa melancólica e fria noite de quarta-feira.