terça-feira, 24 de março de 2009

Por um preço alto demais


A FIFA adiou, no último dia 11, a divulgação da escolha das cidades-sede da Copa de 2014, que, infelizmente, será realizada no Brasil. Foi a primeira vez que ocorreu tal fato.

A princípio, o anúncio estava marcado para o dia 20 de março, em Zurique. Oficialmente, a causa foi o aumento do número de subsedes de 10 para 12, necessitando, portanto, de mais tempo para análise das cidades interessadas. Sendo assim, a divulgação será feita na apresentação do Congresso FIFA 2009, a ser realizado nas Bahamas, no final de maio.

Tudo conversa-pra-boi-dormir. As verdadeiras razões são outras. Como já foi citado, ocorreu um aumento no número de subsedes. As motivações são meramente políticas, ou alguém acha, em sã consciência, que tal aumento não seja para acolher mais aliados políticos, visando vantagens futuras?



Acontece que quando os membros da entidade máxima do futebol mundial estiveram no país, nos meses de janeiro e fevereiro, para visitar as 17 cidades que têm interesse em receber os jogos, não encontraram uma sequer que realmente estivesse estruturada para tanto. Curitiba, por exemplo, tida como cidade-modelo para todo o país, sequer dispõe de metrô.

Cidades que certamente serão escolhidas, como Rio de Janeiro e São Paulo, apresentam problemas imensos, quase insolúveis, em segurança e transporte públicos. Falando em transporte, querem ligar as cidades através do novíssimo, empreendedor e fantástico trem bala. A viagem duraria pouco mais de uma hora. No melhor estilo Organizações Tabajara, nossos problemas terão acabado. Mas pra isso, custará cerca de US$ 9 bilhões, só pra fazer o super-ferrorama. Fora as obras de expansão de metrô, melhorias nas telecomunicações e outros gastos. E estamos falando de São Paulo e Rio, que em tese são duas das cidades de melhor infraestrututa no país.

Pra se ter uma ideia, mesmo que vaga, de quanto vai ser desviado pros bolsos dos verdadeiros interessados, quando foi feito o famigerado Pan do Rio, em 2007, o orçamento inicial era de cerca de R$ 470 milhões. Ficou em mais de R$ 5 bilhões. E o poder público entrou com 2/3. DINHEIRO PÚBLICO!!! Poderia ir pra saúde, pra educação, mas foi pro bolso dos organizadores e seus amiguinhos. De acordo com dados divulgados no blog de Juca Kfouri, só a REFORMA do Maracanã, inicialmente orçada em R$ 71 milhões, saiu por mais de R$ 240 milhões. E ainda assim é obsoleto. Pra fazer o Engenhão gastaram mais de 350 paus. Só pra comparar, o de Leipzig, usado na Copa da Alemanha de 2006, saiu por R$ 244 milhões e o de Seogwipo (Coréia do Sul, 2002) ficou em R$ 203 milhões. Querem saber o valor inicial do Engenhão? R$ 60 milhões.



Hoje o Engenhão não pode ser usado em grandes jogos, devido à sua "ótima" localização. Sem contar que foi cedido para o Botafogo pela bagatela de R$ 30 mil por mês. É o pior negócio no mercado imobiliário em todos os tempos, já que, por este valor, levar-se-á 973 anos para que seja recuperado o investimento. O clube carioca teria, entre outras atribuições, que realizar a manutenção do estádio. Mas nem isso faz.

Os organizadores da Copa no Brasil querem que o Pantanal seja uma das sedes. Eis o maior de todos os descalabros! Fazer um estádio no Pantanal? Pra quê? E depois da Copa, farão o quê com ele? Imagino os grandes jogos que terão lugar no "Pantanão": Jacarés de Desportos x SC Tuiuiús? FC Tamanduá Bandeira x Mico Leão Dourado FC?



Temos seríssimos problemas sociais, uma parcela significativa da população tem uma renda menor que meio salário mínimo, a educação é uma piada de péssimo gosto e, ao contrário do que diz o Presidente da República, a saúde pública só não está na UTI por falta de vaga.

Pois é. A Copa do Mundo é nossa, entretanto por um preço alto demais.

Sem comentários: