segunda-feira, 18 de maio de 2009

¡Hay que tener cojones!

Há alguns anos a ótima revista Placar, da editora Abril, publicou uma entrevista do craque argentino Diego Maradona, na qual Don Dieguito critica alguns jogadores, dentre os quais Ronaldo e Batistuta. Maradona afirmou à publicação que, apesar de serem ótimos jogadores, faltava-lhes atitude ou, como disse o próprio, "cojones", em bom espanhol.

Não vou entrar no mérito dessa discussão, nem ater-me à polêmica gerada pela declaração do atual técnico da Argentina. Toquei no assunto por considerar que a referência serve "como um par de luvas" para o piloto brasileiro Rubens Barrichello.


É inegável o talento de Rubinho. Apesar de todas as galhofas da imprensa brasileira - não a especializada - para consigo, vejo Rubens, tecnicamente, um patamar acima de pilotos como o atual campeão, o britânico Lewis Hamilton, ou os badalados Kimi Häikkönen e Felipe Massa, este o queridinho da torcida brasileira. Melhor que ele, apenas o espanhol Fernando Alonso, bicampeão correndo pela Renault em 2005 e 2006.

Rubinho estreou na Fórmula 1 pela Jordan (atual Force India). Passou pela Stewart antes de tornar-se o primeiro brasileiro a correr pela Ferrari. É o recordista de GP's disputados, podendo chegar à impressionante marca de 286 GP's, caso dispute todas as provas dessa temporada. É o quarto piloto da história em número de pódios, atrás somente de gente do quilate de Michael Shumacher, Alain Prost e Ayrton Senna. Permaneceu na escuderia de Maranello por oito anos, sagrando-se vicecampeão por duas vezes. Portanto, reuniria tudo para ser um ídolo nacional. A não ser por um detalhe: assim como os citados craques da bola, falta-lhe algo...

O ocorrido no GP da Espanha, o último disputado, quando sua equipe, a Brawn GP, mudou a estratégia de seu companheiro de equipe, o britânico Jenson Button, para que este vencesse a corrida, em detrimento do brasileiro, que liderava com relativa tranquilidade, lembrou a manobra da Ferrari, no longínquo GP da Austria, em maio de 2002. Naquela ocasião, Rubinho liderava a prova até os últimos metros, mas teve que deixar Schumacher, seu "companheiro" de equipe, vencê-la, pois o alemão era o líder (disparado) do campeonato.

A manobra da Brown não foi tão descarada quanto a da Ferrari, mas foi igualmente descabida. Rubinho conquistou a ponta da prova na pista, e se tivesse que perdê-la, que fosse também no asfalto, não no paddock da equipe. Até porque, apesar de, em termos de resultados, o início de temporada de Button ser melhor que o de Rubens, muito do seu sucesso tem o dedo do brasileiro, que trabalhou intensamente no desenvolvimento do monoposto de Ross Brown, quando ainda não havia sequer a garantia de um lugar no grid. Barrichello, notoriamente, é um excelente "acertador de carro", como diz o jargão do automobilismo. O megacampeão Schumacher (sete vezes campeão mundial, das quais cinco ao lado do brasileiro), inclusive, copiava o acerto do carro do brasileiro.

Na entrevista coletiva na qual os pilotos que compuseram o pódio da corrida participam, Rubinho mostrou-se surpreso com a decisão da equipe, e garantiu que cobraria explicações. Após três horas de reunião, tratou de amainar os próprios ânimos, dizendo que "houve um erro, que acontece, e que, infelizmente, caiu sobre minhas costas". Isso ilustra bem o que falta pra ele: levantar, engrossar a voz, cerrar o punho e batê-lo, sem dó, na mesa para cobrar o direito de vencer, adquirido já na concepção do carro.

Reitero: Rubens Barrichello é um grande piloto, mas corre o risco de ficar pra história apenas como um excelente escudeiro, em vez de compor o seleto grupo de campeões do mundo. Assim, se pedissem a Maradona sua opinião sobre Rubinho, certamente El Pibe diria: "¡És bueno, pero hay que tener cojones!"

sábado, 9 de maio de 2009

A Várzea não merece isso

Na semana passada voltei a assistir a jogos de futebol, que é uma das atividades que mais me dão prazer. Confesso que, após a eliminação da Portuguesa no Paulistão, perdi um pouco do interesse pelo esporte bretão - inconcebível para quem estuda jornalismo, diga-se de passagem -, mas como sempre, ele voltou. E da forma mais espetacular possível, na épica classificação do Barcelona, em Londres, frente ao médio-porém-endinheirado Chelsea, para a final da Liga dos Campeões.

Não é de hoje que a UEFA ensina como se organiza uma competição. Times endinheirados, jogadores fantásticos, estádios modernos, jogos transmitidos para todo o mundo.

Enquanto isso, do lado de cá do Atlântico, a Conmebol também dá aula. Ensina com precisão cirúrgica como não se deve organizar um campeonato. A principal competição do hemisfério Sul, a Libertadores da América, virou uma "farra-do-boi". Ou algo pior que isso.

Pra começar, convidaram times do México. Não por razões técnicas, apenas de olho no dinheiro das emissoras de TV daquelas plagas. Tudo bem, a quantia é boa, mas não é rateada entre as equipes. Fica tudo nos cofres da entidade, em Luque, nos arredores de Assunção, Paraguai. Pra completar, caso uma equipe mexicana conquiste o título, esta não poderá jogar o Mundial da FIFA, a não ser que conquiste também a "Concachampions", uma espécie de (perdoem o infame trocadilho) Liga dos Campeões "made in Paraguai" da Concacaf.


Tem também o cargo de Presidente vitalício, atualmente ocupado pelo paraguaio Nicolas Leóz que, a propósito, enveredou no esporte pela Federação Paraguaia de Basquete. Como é quase uma regra no estilo sulamericano de ser, Leóz está no comando da Conmebol desde 1º de maio de 1986, substituindo ao peruano Teófilo Salinas Fuller, que ficou "só" 20 aninhos no cargo. E continuísmo no poder lembra ditadura, que lembra Terceiro Mundo, que lembra América do Sul, que lembra corrupção. Você, estimado leitor, pode mudar a ordem à vontade que o sentido ainda será o mesmo, intocavelmente. Intocável como o cargo de gente como Leóz, Ricardo Teixeira, Júlio Grondona, Hugo Chávez, Evo Morales...

A última proeza da Conmebol foi a forma com a qual tratou da participação dos times mexicanos, após a disseminação da chamada "gripe suína", ou gripe A (H1N1). Um descaso só. É sabido que os tradicionalíssimos São Paulo e Nacional do Uruguai, por falta de garantias, recusaram-se a viajar para a América do Norte, onde deveriam enfrentar, respectivamente, San Luiz e Chivas Guadalajara. Sem iniciativa ou vontade alguma pra resolver o embróglio, o empurraram para os próprios clubes. Com a falta de uma posição por parte da entidade presidida por Leóz, os mexicanos resolveram retirar-se da competição. E como desgraça pouca é bobagem, a Federação Mexicana de Futebol ameaça, seriamente, não disputar mais a Copa América.

Na opinião deste que vos escreve, não farão a menor falta. Mas existem compromissos firmados e estes dever ser respeitados. Não conheço o teor dos contratos, se é que eles existem, mas a palavra empenhada deve valer mais que qualquer assinatura. Portanto esse passa-moleque não tem o menor cabimento.

Numa das edições do ótimo Esporte Notícia, da Rádio Bandeirantes, o igualmente ótimo Ricardo Capriotti classificou como varzeana a organização da Copa Libertadores da América. Atrevo-me a discordar do Capriotti, pois a Várzea não merece isso.