sábado, 12 de dezembro de 2015

Futebol, amor e idolatria - Obrigado, Rogério Ceni

*por Guto Monte Ablas

O ÚLTIMO ATO O amor do camisa 10 do gol, simbolizado no beijo do distintivo
 tricolor (Imagem publicada no Instagram oficial do São Paulo, 
@saopaulofc)  
Rogério Ceni pode não ter sido o maior goleiro da história, sequer o maior do São Paulo, que teve Zetti, Gilmar, Valdir, Poy, King... mas, sem dúvida, foi o goleiro que mais amou um clube de futebol.

Juntar 60 mil pessoas numa noite de sexta-feira não é pra qualquer um! Rogério Ceni se aposentando é a última pá de terra no pior ano da história do São Paulo. Como será o ano que vem? Sem craques, sem técnico, sem dinheiro, diretoria batendo cabeça, SEM ÍDOLO!

Depois de 19 anos o Tricolor terá um novo dono da camisa 1 (camisa 1, pois a 01 ninguém nunca mais usará) e depois de 19 anos terá de aprender a idolatrar outros nomes. Não terá mais aquele que ontem, emocionado, pedia para suas cinzas serem depositadas no campo do Morumbi, de sua casa, de seu amor.

Caras como Rogério Ceni estão extintos do futebol brasileiro. Símbolos de amor a um clube e a uma carreira. Não me envergonho de dizer que chorei durante a festa e lamentei a falta que um ídolo fará em nossa história.

Obrigado, Rogério Ceni, por me ensinar sobre futebol, amor e idolatria; obrigado por, dos seus 26 anos de carreira, 25 você tenha dedicado a nós!

Todos tiveram goleiros; só nós tivemos Rogério Ceni: goleiro, artilheiro, atacante, guitarrista, são paulino e m1to. Você nos deu o mundo, nós te demos nosso coração.

Que apesar da imensa tristeza de sua aposentadoria, possamos lembrar com alegria de sua história da qual, apesar de fechadas as contas, você ocupa para sempre a página 01.


*Guto Monte Ablas, 28, é jurisfilósofo, jornalista e radieiro.
Trabalha com esporte desde 2008, é sãopaulino desde 1986
e Rogério Ceni desde 1997, além de Fábio Jr desde sempre.
Atualmente no iG Esportes

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Obrigado, M1TO!

Por Douglas Sato*
PARA A HISTÓRIA Titular e capitão na conquista da Libertadores
 da América de 2005 (Alexandre Batibugli/Abril)
Craque, líder, mito, capitão, artilheiro, goleiro e provavelmente o maior jogador da história do São Paulo. Esse é o tamanho de Rogério Mücke Ceni, mais conhecido como Rogério Ceni, no mundo da bola. É o jogador que mais representa o que é jogar no Morumbi, um dos templos do futebol, o que mais representou uma torcida que canta, apoia e emociona. Por volta das 19 horas do domingo (06), o árbitro Ricardo Marques Ribeiro encerrou o duelo entre Goiás e São Paulo, com vitória da equipe paulista por 1 a 0, no estádio Serra Dourada, em Goiânia, e decretou o começo de uma nova fase para o time do Morumbi. 

Aos 42 anos e mais de 1,2 mil jogos pelo São Paulo, o arqueiro se aposentou do futebol. “Se você pensar, 25 anos em uma mesma empresa em que você se expõe publicamente para ser julgado quarta e domingo, é bastante tempo. É uma carreira toda e chegar aos 42 anos jogando é difícil”, disse Rogério Ceni em diversas mídias.

O adeus do capitão faz o clube romper (pelo menos dentro de campo) com o último remanescente de duas eras vitoriosas. O goleiro estava no Tricolor durante o título mundial de 1993 e ajudou a reconduzir a equipe ao topo, com as conquistas do Mundial de Clubes da FIFA e a Libertadores de 2005, seguido pelo tricampeonato brasileiro nos anos seguintes e a Copa Sul-Americana de 2012.

Os quase 20 títulos em sua carreira, incluindo a Copa do Mundo de 2002, ganharam ainda mais destaque pela habilidade paralela como batedor de faltas e pênaltis. Foram 131 gols, recorde no futebol mundial para um arqueiro, feito acompanhado pela liderança fora de campo.

CEM VEZES CENI Rogério comemora o centésimo gol
da carreira (Wagner Carmo/Inovafoto/Vipcomm)
  
Agora, caro leitor, sei parece estranho. Afinal, após todos esses dados, aonde quero chegar? Nem eu realmente sei. Como posso falar ou opinar sobre um cara que por 90 minutos foi maior do que o Liverpool? Um cara que pode ter superado a mística de Telê Santana no São Paulo? Que desbancou ídolos como Serginho Chulapa, Luis Fabiano, Raí, Zetti, Poy, Valdir Peres, Fórlan e é considerado o maior atleta de um clube profissional de futebol? É uma tarefa difícil para mim e ainda maior para o São Paulo.

O MUNDO ÀS SUAS MÃOS Após atuação antológica, Rogério
 ergue a taça de campeão do mundo (Getty Images)
Fora Pelé, ninguém é insubstituível. Mas, como preencher a lacuna deixada por um goleiro que suspirou? Suou. Superou. Mitou. Volto a dizer: não sei. E o São Paulo? Só o tempo dirá. Mas, enquanto não tivermos resposta, só posso dizer que Rogério Ceni fez muito dentro e fora de campo para o São Paulo. Merece todas as festas e honrarias, e vindo deste singelo texto uma palavra de carinho. “Até breve, capitão. Para sempre campeão!”

Principais títulos pelo São Paulo (ordem cronológica):
1992: Campeonato Paulista; 
1993: Copa Libertadores da América, Recopa Sul-Americana, Supercopa da Taça Libertadores da América, Mundial de Clubes; 
1994: Copa Conmebol, Recopa Sul-Americana; 
1996: Copa Master Conmebol; 
1998: Campeonato Paulista; 
2000: Campeonato Paulista; 
2001: Torneio Rio-S. Paulo; 
2005: Campeonato Paulista, Copa Libertadores da América, Mundial de Clubes; 
2006: Campeonato Brasileiro; 
2007: Campeonato Brasileiro; 
2008: Campeonato Brasileiro; 
2012: Copa Sul-Americana.



Pela Seleção Brasileira:
1997: Copa das Confederações; 
2002: Copa do Mundo 2002. 

* Douglas Sato tem 26 anos, é músico e jornalista (nesta ordem)
e, nas horas vagas, é imitado pela dupla Cesar Menotti e Fabiano.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

As tuas glórias vêm só do passado?

Por Douglas Sato*

A temporada de 2015 já está quase no fim, graças a Deus para a torcida tricolor, e as previsões feitas para o São Paulo se confirmaram. Após fiascos no Estadual e na Libertadores, o caso Maidana, contrata CEO, demite CEO,  o soco de Ataíde Gil Guerreiro no “presidente” Aidar, Cinira, Juan Carlos Osorio, Doriva. Alguns falam em uma crise mais duradoura, que deve alcançar o próximo ano, outros falam que o time do Morumbi subirá um pouco de produção (tem como descer?), e uma meia dúzia afirma que apenas uma reestruturação total dará jeito na situação.

Em meio a este cenário, demissões, saídas de atletas e dirigentes, ir além de uma reorganização interna é comum. Afinal, ninguém quer ficar no vermelho e correr riscos no próximo ano. Porém, em tempos de crise, a primeira coisa a ser feita é não perder a cabeça, manter a calma e ter uma atitude positiva, e não conformista. Por enquanto, existem previsões e nenhuma certeza, e, por isso, esta é uma boa hora para identificar as oportunidades e tentar se reerguer.

Primeiro ato
Aproveitar o dinheiro extra: O fato é que a folha salarial do São Paulo aumentou exorbitantemente. Entretanto, com as saídas de Rogério Ceni, que se aposentará, de Luis Fabiano, que irá para a China, e Alexandre Pato, que voltará ao Corinthians, o clube poderá economizar cerca de R$ 1,65 milhão por mês, que é aproximadamente o que o trio, somado, recebe, o que não é pouco. E essa dinheirama poderá ser utilizado em contratações e outras despesas importantes do futebol do clube.

Segundo ato
A base: O São Paulo é um bom vendedor: Lucas para o PSG por R$ 86,5 milhões, Lucas Piazon para o Chelsea por 16,9 milhões, Oscar para o Internacional e Chelsea por 15 milhões, Casemiro para o Real Madrid por 13,4 milhões e Boschilia para o Monaco por 34,7 milhões. Porém, quando necessita da assistência da base, vide este último Brasileirão, o clube vendeu seus jogadores mais promissores e dependeu de jovens apostas, inexperientes, afobados e sem responsabilidade. Uma das soluções para 2016 é cuidar de Cotia, manter os bons atletas, trabalhá-los com calma e, na medida do possível, dar espaço na equipe profissional.

Terceiro ato
Jogadores que voltarão de empréstimo: Ao todo são seis laterais, dois zagueiros, um volante, dois meias e dois atacantes os jogadores que voltam para defender (ou não) as cores do São Paulo na próxima temporada. Entre eles estão Luis Ricardo e Carleto (Botafogo), Cortêz** (Albirex Niigata-JAP), João Felipe (Tricolor carioca), Luiz Eduardo (Juventude), Wellington (Internacional-RS), Maicon (Grêmio), Ademilson (Yokohama Marinos-JAP) e Ewandro (Atlético Paranaense). Já que o dinheiro é sempre pauta, o clube bem que poderia aproveitar grande parte desses nomes na equipe de 2016 (para evitar gastar montantes em taxas de transferência de atletas) ou até vender alguns nomes excedentes para fazer caixa e investir em um plantel qualificado.

Quarto ato
O Presidente do Clube: Juvenal Juvêncio é o dirigente que mais venceu na história do São Paulo se for levada em conta também a época em que comandava o departamento de futebol na gestão do saudoso Marcelo Portugal Gouvêa. O time época de Juvenal resistiu à ruptura do Clube dos 13, em 2011, e contribuiu para a queda de Ricardo Teixeira como presidente da CBF. 

No entanto, Juvenal mudou o estatuto social do clube e acabou passando por cima de tudo e de todos, centralizou o poder e, ainda assim (ou talvez por causa disso), perdeu a abertura da Copa do Mundo de 2014 para o co-irmão Corinthians. No novo estatuto, o tempo de mandato passou de dois para três anos. Além disso, adotou uma interpretação do estatuto que lhe permitiu a reeleição.  

Assim ele praticamente virou um posseiro no Morumbi e conseguiu cumprir, na mão-de-ferro, oito anos no comando. Mas, apesar de tudo isso, Juvenal Juvêncio, ou JJ, como é conhecido, era respeitado pelos jogadores, diretoria e a torcida. Já seu sucessor Carlos Miguel Aidar, com quem rompeu logo depois de ajudar a eleger, fez do clube um salão de festas, onde pessoas entram e saem a todo momento. As declarações do ex-presidente, incluindo brigas com equipes rivais, fizeram do São Paulo um exemplo de desorganização e fragilidade.

Agora nos resta saber qual será a posição que o atual presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, adotará em 2016, primeiro, em 25 anos, sem o capitão Rogério Ceni. Será bom o suficiente para reorganizar o outrora exemplar São Paulo? Terá respeito e respaldo? Ou será apenas mais um a conduzir o barco para outro iceberg?

* Douglas Sato tem 26 anos, é músico e jornalista (nesta ordem) 
e, nas horas vagas, é imitado pela dupla Cesar Menotti e Fabiano.


**NE Que ele, responsável pela derrota do Benfica na última Eusébio Cup com o Pantera Negra ainda vivo, encerre a carreira na obscuridade de uma quarta divisão de algum campeonato qualquer.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Jogos Vorazes das Organizadas

Faltando pouco mais de quatro horas para o jogo entre Vasco e Corinthians, o pau já cantou entre alguns dos ordeiros membros de torcidas organizadas (não os chamarei de torcedores. Não são). Como hoje em dia é tudo mais difícil, este blog deixa claro que não tem nada contra as torcidas organizadas, e sim contra essa meia dúzia de vagabundos que se infiltram nelas e comentem toda sorte de imundícies.

Não adianta picas ficar dizendo que deveria prender, que fazem o que fazem por causa da impunidade e o escambau de Madureira. Então, tenho uma sugestão para que todo mundo fique feliz: um reality show!


Sim! Um reality show, desses aí que existem ao montes. Mas não um qualquer. Seria uma espécie de Jogos Vorazes. Imaginem: um terreno baldio, duas ou mais equipes e uma única regra: sair vivo. Afinal de contas, se se matar é o que eles querem, vamos fazer de um jeito divertido.

Existiriam provas de resistência, como assistir a um jogo de futebol que não seja do seu time; de raciocínio, como a tabuada do cinco ou frases inteiras sem erros de concordância; ou mesmo dos dois juntos. Provas difíceis pra eles, como cantar algo que não seja o hino do próprio clube. Pode ser Parabéns pra Você, Atirei O Pau No Gato ou qualquer porcaria que a Xuxa gravou. Aí quem ganhar escolhe as armas (tacapes, correntes, porretes, pedras ou mesmo sinalizadores navais) para usar nos confrontos, que é quando eles praticam o que sabem de melhor. que é trocar porrada entre si.

Aí, na segunda temporada, poderíamos incluir os Barras Bravas de toda a América do Sul e os Ultras da Europa. A carnificina seria sucesso absoluto. 

No fim, ganha quem conseguir sair de lá andando. Os perdedores, um caminhão de lixo passa e leva embora.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Para o gasto

FREGUÊS PREFERENCIAL Douglas Costa (à dir) marcou seu segundo gol
pela Seleção Brasileira, o segundo contra o Peru (André Mourão/MoWA Press)
A atuação do Brasil na vitória sobre o Peru, se esteve longe de ser primorosa, não deu espaço para sustos. Tá certo que o adversário é uma piada, o que não permitiu trocadilhos do tipo "o Peru tá começando a crescer", mas o fato é que, mesmo sem lá muita convicção, Dunga pode ter, finalmente, encontrado uma formação equilibrada.

Sem um camisa 9 de ofício trocando cotoveladas na área (e pela falta de jogadores para disputar com o santista Ricardo Oliveira a função), o Brasil jogou com Neymar um pouco mais à frente, mas tendo a companhia de dois jogadores abertos (William e Douglas Costa, o melhor em campo), o que não o sobrecarregou.

No meio, Elias e Renato Augusto aproveitaram o entrosamento que têm no clube e, como não tinha quem marcar, Elias pôde até sair para ajudar na armação, deixando a função de cão de guarda a cargo do Luiz Gustavo, que não foi o ladrão de bolso furado (rouba aqui e perdi ali) que é de costume. Como tudo deu certo até antes do jogo, a expulsão idiota de David Luiz no empate com a Argentina abriu espaço para a entrada de Gil. Se Dunga for minimamente esperto, o cabeludo peladeiro não volta mais ao time titular.

Vale repetir que o adversário não exigiu o mínimo esforço para ser batido e não houve brilho por parte da Seleção, muito também pela atuação abaixo da crítica do – sabe-se lá por quê – capitão. Se Neymar estivesse em um dia normal, a vitória por 3 a 0 seria ainda acachapante.

Resta saber se, em caso de adversários mais duros que o Peru (viva os trocadilhos), Dunga manterá o desenho tático e as funções desempenhadas em campo. Na sua volta ao comando da equipe nacional, ele venceu apenas Peru e Venezuela em partidas oficiais, na Copa América e nas Eliminatórias. E não convenceu em nenhum destes jogos.  

Resta saber também se o próprio Dunga continuará como selecionador. Eu não apostaria um bolinho de bacalhau nisso.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O jornalismo na lama

Helicóptero sobrevoa área atingida por avalanche de lama, 
em Bento Rodrigues (Antônio Cruz/Agência Brasil)

Que na última quinta-feira um desastre ambiental praticamente riscou do mapa Bento Rodrigues, distrito que fica (ou ficava) em Mariana (MG), não é novidade para ninguém. O que salta aos olhos é a passividade de parte da imprensa na cobertura do que alguns veículos chamaram de acidente, como se fosse algo inevitável ou mera obra do acaso.

Pior que isso, é a preguiça, para não dizer jornalismo mal intencionado. O jornalismo não aceita a mera reprodução de um release com a versão da empresa como reportagem. Nem é preciso adjetivar como sério, pois o jornalismo que não é sério não pode ser tratado como jornalismo.
  
O jornalista existe para instigar; para intrigar; para investigar; para incomodar. Sempre que vejo a inércia desse "jornalismo" insosso, me lembro do que diz o professor e historiador Fabio Venturini de quem tive a honra de ser aluno e hoje tenho a sorte de ser amigo: os jornalões e emissoras de TV, que são a mídia tradicional, não passam de empresas burguesas, que visam lucro. Elas querem deixar as coisas como estão, pois têm interesse nisso. E o interesse não é o leitor ou espectador.

Um jornalismo engajado e honesto derruba até um presidente de uma nação poderosa (Nixon que o diga), mas aí teria que ser engajado e honesto. Se você, jornalista que me lê, discorda, eu lamento, mas você está fazendo isso errado. E muito. E erra feio, muito feio.


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Sobre Neymar, arte e futuro

É DE PLACA Neymar corre para abraçar Suárez
 depois do gol antológico (Josep Lago/AFP/Getty Images)
Por Leandro Marçal*
Quem estiver lendo este texto no ano de 2100 saberá que em 8 de novembro de 2015, há 85 anos, Neymar fez um gol antológico aos 40 minutos do segundo tempo na vitória do Barcelona por 3 a 0 sobre o Villarreal, pelo Campeonato Espanhol.

Agora que ele já se aposentou, vou lhes dizer algo que os livros de histórias sobre o futebol não vão contar: em minha época, quando ele goleava, fazia obras de arte em gramados de futebol, rivalizava com os maiores de sua época e ainda havia os que teimavam em contestá-lo de alguma forma.

Inveja, despeito, raiva, ódio? Não sei. Mas ainda que ele registrasse na história um lance antológico como este que deixou o narrador Paulo Andrade, que transmitia o jogo pela ESPN Brasil (ainda existe a ESPN?), sem palavras para descrevê-lo, sempre havia alguém para desqualificá-lo com comentários do tipo: “Ah, mas não foi um chapéu”.
NOSSA SENHORA! Neymar aplica o chapéu em Jaume Costa
 e vai para a rede (Josep Lago/AFP/Getty Images)
E antes disso ouvíamos coisas como “ele só joga como craque no campeonato paulista”, “dão muita moral para esse moleque”, “ele não é protagonista na seleção”, “ele se acha demais”. Como se fosse necessário ser santo para ser craque. Como se não fosse permitido ter talento. Como se ele tivesse culpa em ser uma ilha de enorme talento num oceano de mediocridade que inunda o futebol brasileiro.

Para vocês deve parecer estranho, pois ele já deve ter ganhado prêmio de melhor do mundo algumas vezes, deve ter vencido mais um caminhão de títulos e uma tonelada de recordes deverão ter sido batidos depois destas linhas.

Mas saibam que, ainda assim, em 2015, arrumavam alguma forma de contestar seu talento dentro de campo. Acreditem!

Não sei se quando lerem essas insignificantes palavras ele terá vencido uma Copa do Mundo para a Seleção Brasileira, tomada de assalto há algum tempo por uma Confederação desnecessária. Também não sei se com o passar dos anos viraremos o jogo do atraso, no qual estamos perdendo de muito tempo com dirigentes e autoridades mancomunados com o que mais de podre existe: roubos, individualismo, interesses espúrios, falta de coletividade.

Só sei que há 85 anos eu pensava há mais de dez anos que há mais de 100 o futebol também era capaz de produzir obras de arte. Que como todas as outras, devem apenas ser apreciadas para que sejamos tocados.

Paulo Andrade tinha razão: ninguém é capaz de descrever o que ele fez. Nem hoje, nem em 2100.

*Leandro Marçal é um jornalista de 24 anos, torce pelo Tricolor Paulista
 e por um mundo menos hipócrita e com mais bom humor.
E, apesar do nome de sambista, é incapaz de tocar um reco-reco.
Ainda assim, é o Rei da Noite de São Vicente.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Anjos não passam jamais


Caso estivesse vivo, Mané Garrincha faria 82 anos neste dia 28 de outubro. Carlos Drummond de Andrade, craque da pena, escreveu isto sobre o Anjo das Pernas Tortas:

"Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho."

Ele não percebeu sua condição de agente divino e deixou-se ser vilipendiado pelos dirigentes do seu Botafogo, que ganhava mais dinheiro nos amistosos quando tinha à disposição o homem que era a Alegria do Povo. Mané precisava parar para cuidar dos joelhos, arrebentados pela truculência de um monte de Joões que enfileirou pelos gramados.

Mané foi vítima de si mesmo. Posto de lado quando precisava do carinho de quem o explorou por tanto tempo e sua mais valia não valia mais, nem o amor de Elza Soares foi capaz de impedir que partisse tão cedo. Ela era, provavelmente, a única que se preocupou de verdade com ele.

A torcida de sonhos, cantada por outro craque, Moacyr Franco, não aplaude mais. Outros craques não repetem suas jogadas, talvez por não interessar mais, ou porque são incapazes mesmo.

Cadê você, Mané? Não sabemos, mas deve estar em um lugar melhor do que o médico que te liberou para jogar quando não podia.


Não, Moacyr! Mané Garrincha não passou. Gênios - e anjos - não passam jamais.

Crédito da imagem: Blog do Barão lhkz

domingo, 25 de outubro de 2015

O Brasil através do espelho

Por Fábio Venturini*
TORTURADO E MORTO Morte do jornalista Vladimir
Herzog completa 40 anos neste dia 25 de outubro
O filósofo alemão Walter Benjamin escreveu em suas famosas teses sobre o conceito de História que “os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer”. Neste 25 de outubro, exatamente 40 anos após o assassinato decorrente de tortura de Vladimir Herzog em uma cela do Destacamento de Operações Internas – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), em São Paulo, continuamos a matar os nossos mortos e a exaltar o inimigo de vitória incessante.

Às vezes é difícil explicar para jovens e nem tão jovens o que ocorreu naquela época. Alguns ignoram por falta de interesse, outros por interesse em ignorar, mas eu sempre tento.

Os militares deram um golpe de Estado em 1964 (com apoio maciço do empresariado brasileiro e das classes médias) alegando estar prevenindo o Brasil de um golpe planejado pelo presidente legítimo João Goulart para implantar no Brasil o comunismo ou uma “república sindical”. O medo era o Brasil virar Cuba.

Era patético naquela época, bem menos do que é hoje, mas o fato é que tal versão correu por muito tempo, visto que os militares controlaram instituições ideológicas, como escolas, universidades e imprensa, por 21 anos, valendo-se de expedientes como prisão, tortura, desaparecimento de pessoas e cadáveres, demissão ilegal de milhares de pessoas, incluindo professores e jornalistas.

Em nenhuma historiografia séria e minimamente documentada esta versão se sustenta. Não passa de uma mentira, um discurso ideológico e vazio de uma direita mentirosa, fascista, violenta e sociopata (com o perdão do pleonasmo) para levantar a cortina de fumaça que permita atacar os direitos trabalhistas e deixar as coisas mais fáceis para a grande empresa privada, seja ela local ou estrangeira.

Como boa prática fascista, alguns sicofantas eram mantidos em postos-chave para justificar moralmente o extermínio de opositores. Nas redações havia até um grupo de jornalistas autointitulado “Comando de Caça aos Comunistas”, ou CCC, que deduravam os colegas para que fossem presos, torturados e exterminados.

Você pode pensar que esses delatores se deram mal nas carreiras. Nas últimas décadas eles foram vistos ancorando telejornais, mediando debates eleitorais como arautos da democracia. E por aí vai. Apoiar a ditadura foi um excelente negócio. Nenhum, absolutamente nenhum, agente público ou privado envolvido em centenas de crimes cometidos de modo apócrifo em nome do povo brasileiro foi punido. Pelo contrário, construíram fortunas e permaneceram com livre trânsito no círculo palaciano de todos os governos civis pós-1985.

Cartolas e a farsa
Alguns apoiadores de vanguarda, de última hora do golpe ou orgânicos do regime foram recrutados nos grandes clubes de futebol, os quais, como mostrou em farta documentação o historiador René Armand Dreifuss (1964, A conquista do Estado), ajudaram no golpe. José Maria Marin foi atacante do São Paulo FC, clube do qual se manteve como conselheiro e também teve outros de seus “cardeais” profundamente ligados e beneficiados pela ditadura, tal como o governador biônico Laudo Natel. Como deputado estadual pela Arena se juntou a Wadih Helu, que presidiu o Sport Club Corinthians Paulista entre 1961 e 1971, na realização dos serviços de papagaios da ditadura. Sim, até o Corinthians, que tanto se vangloria da tal “Democracia”, estava lá articulando a derrubada de Goulart, depois de 1971, fornecendo quadros para a ditadura.

Herzog era militante do Partido Comunista Brasileiro e dirigia o jornalismo da TV Cultura. Cometeu o crime de não fazer propaganda da ditadura e bancar jornalismo honesto. Paulo Markun, também militante do PCB, foi preso e torturado para entregar o amigo. Resistiu. Os torturadores então sequestraram a família de Markun e começaram a torturar sua esposa, bem à sua frente. Ele então cedeu.

Herzog foi avisado de que seria procurado, mas não fugiu. Sabia que era um defunto caro. A história é contada no documentário "Vlado 30 anos Depois", lançado em 2005 e dirigido por João Batista de Andrade.

Sempre que algum defunto caro entrava na lista dos homens da tortura, como o delegado Sergio Fleury, sicofantas como Marin e Helu proferiam discursos patrióticos anticomunistas para justificar alguma ação de captura. Ambos promoveram uma campanha implacável na Assembleia Legislativa de SP para exoneração do diretor de jornalismo que “queria transformar a TV Cultura numa emissora comunista”. Foram complementados por colunas do jornalista Cláudio Marques, dos jornais Shopping News e City News. A farsa estava montada.

ESTOPIM Discursos dos deputados José Maria Marin (à esquerda) e Wadih Helu,
 além de colunas como a Coluna Um, de Cláudio Marques, fizeram parte
 da perseguição a Vlado Herzog. Na montagem, à direita, o delegado
 Sergio Paranhos Fleury, conhecido como o "Príncipe da Dor"
Vladimir Herzog foi preso em 24 de outubro de 1975. Depois de torturado e assassinado no Doi-Codi, teve seu corpo usado numa foto que tentou construir um falso suicídio, tudo realizado por agentes pagos com dinheiro do povo brasileiro e de uma caixinha de empresários, os mesmos que enriqueceram com a ditadura e até hoje passeiam, eles próprios ou seus filhos,nas colunas sociais com grandes brasileiros e grandes empreendedores.

Depois do labirinto de espelhos
Herzog acertou ao crer que era um defunto caro. Sua morte motivou movimentos pela abertura da ditadura. Entre os milhares de presos, torturados, mortos e desaparecidos, até hoje é o mais lembrado e rememorado. Não foi apenas choro de Marias e de Clarisses. Mas como a esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.

Entre 2003 e 2013, o Brasil estava em uma sala acariciando o gato, quando resolveu atravessar o espelho. O que ele viu lá foi mais do mesmo: agentes do estado prendendo, torturando, matando e sumindo com os corpos; o Estado combatendo sua população; os mesmos corruptos da ditadura abrindo a caixa de ferramentas com os discursos anticomunistas para tomarem para si o butim que está com um governo que não lhes agrada; racismo, homofobia e misoginia estruturais; cultura do estupro; imprensa burguesa mentirosa, articulada, sugando a vida de um exército de jornalistas, seja no pescoção dos fechamentos ou na bala de borracha.

Os pedidos de revisão da lei de anistia foram indeferidos pelo Supremo Tribunal Federal. Tortura, sequestro e assassinato cometidos por um Estado são crimes contra a humanidade, imprescritíveis segundo todos acordos internacionais assinados pelo Brasil e incluídos na Constituição, a qual deveria ser protegida pelo STF. A recusa em punir é o sinal para que os fascistas atuais matem, forjem, torturem e exijam a impunidade.

José Maria Marin presidia a CBF durante a Copa do Mundo, recebeu chefes de Estado e estádios construídos por empresas que se fizeram durante a ditadura, foi o recepcionista de um país que premeia torturadores e assassinos, cúmplices e financiadores da tortura.

Em 2015, depois de perder nas urnas, o empresariado continua querendo caçar direitos trabalhistas, emparedou a presidência da república, convocou com sua imprensa, a mesma de 1964, os fascistas que saíram às ruas usando o discurso do anticomunismo para sequestrar o mandato, impedir o projeto de governo escolhido nas urnas e prontamente abandonado pelo Partido dos Trabalhadores perante a banca.

Há poucos dias o assassino, sequestrador e torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra morreu sem ser punido. Recebia aposentadoria integral referente ao posto de coronel do Exército paga pela União. Foi celebrado por deputados oriundos das polícias militares.

A única coisa que foi tirada com a ditadura foi a própria ditadura. Os seus principais parceiros estão até hoje fazendo troça do povo, do trabalhador. Cada vez que um motorista tenta atropelar um ciclista chamando-o de comunista, Herzog é novamente torturado.

Sempre que um jovem apoia as balas perdidas, as execuções e gosta quando PMs ameaçam o delegado que prendeu um sargento pelo crime hediondo e imprescritível de tortura, Vlado é novamente assassinado por agentes do Estado. Sempre que fascistas e pseudomoderados condenam um professor por recitar um poema, a foto para fraudar um assassinato como suicídio é clicada novamente. A cada programa policial um novo Doi-Codi é revigorado.

Não temos o direito de alegar desconhecimento, pois a Rainha Vermelha já nos levou para a colina e vimos o jogo de xadrez. Também sabemos fazer o peão andar duas casas.

Nossos mortos não estão dormindo em paz e o inimigo não tem cessado de vencer. 

*Fábio Venturini é professor e historiador.

domingo, 11 de outubro de 2015

Confira o que cada seleção precisa fazer para se garantir na fase final da Eurocopa


"É a Copa do Mundo sem Brasil e Argentina, amigo!". Falta menos de um ano para esta frase, mais surrada que judas em Sábado de Aleluia, invadir a sala de todo torcedor que gosta de futebol europeu.

Ainda assim, o fato é que a Eurocopa é a segunda maior competição entre seleções do mundo, perdendo apenas para a própria Copa do Mundo, em relevância e também em tamanho. São 53 selecionados nacionais lutando pelo direito de estar na fase final. E ficou maior ainda, depois que o lobby feito pelo presidente Michel Platini, de olho nos votos das federações nacionais, fez aumentar de 16 para 24 o número de participantes do torneio, que volta à França pela segunda vez após a primeira edição, de 1960, e que foi disputado por quatro países.

Se por um lado o inchaço do certame tem razões meramente eleitoreiras, por outro possibilita países que nunca passaram perto da possibilidade de o disputarem sonharem com uma das vagas e proporcionaram momentos de êxtase em lugares como a Irlanda do Norte, uma das estreantes garantidas para o ano que vem, e que comemorou a vaga ao som de "Sweet Caroline".

As eliminatórias começaram no dia 07 de setembro de 2014 e, pouco mais de um ano e um mês depois, chegam à última rodada dos nove grupos. Entre barbadas, agradáveis surpresas e decepções clamorosas, onze equipes já garantiram suas respectivas vagas para a 15ª edição, dentre as quais três debutantes: a própria Irlanda do Norte, Islândia e País de Gales. Além delas, Áustria, Bélgica, Espanha, Inglaterra, Itália, Portugal, República Tcheca e Suíça já carimbaram o passaporte para estar na França entre 10 de junho e 10 de julho de 2016.

São 19 vagas diretas para os dois primeiros colocados de cada grupo e o melhor terceiro, mais quatro, que serão disputadas entre os oito terceiros restantes, no sistema de mata-mata, além da anfitriã França, perfazendo, assim, 24 países. Como um dos grupos tem somente cinco equipes, não serão considerados os resultados das partidas entre os terceiros colocados e os lanternas dos respectivos grupos compostos por seis seleções.

Confira, abaixo, grupo por grupo, o que é preciso para conseguir a apuração e, se for o caso, pegar o terço ou o pé de coelho:

Grupo A
Na sombra: Islândia e República Tcheca
Na briga: Turquia e Holanda
Já foram: Letônia e Cazaquistão
Última rodada nesta terça (13), às 15h45.

No grupo em que a Islândia garantiu sua primeira classificação à fase final da Euro e a República Tcheca confirmou a quinta presença seguida e oitava (se a considerarmos herdeira das campanhas da Tchecoslováquia, campeã de 1976), a Holanda corre o risco de ficar de fora pela primeira vez desde 1988, quando conquistou seu único título.

Para os turcos (15 pontos) avançarem para a repescagem e continuarem na briga pela terceira vez seguida, basta empatarem com a já classificada Islândia, fora de casa. Se perderem, torcem pelo tropeço da Holanda (13), em casa, contra a talvez desinteressada e classificada República Tcheca. Se terminarem empatados em pontos, a Turquia levará vantagem sobre a seleção holandesa. Se vencer a Islândia e o lanterna Cazaquistão bater a Letônia, fora de casa, os turcos abiscoitarão a vaga como melhor terceiro colocado, já que terão apenas dois pontos descontados na conta para se aferir a vaga pelo índice técnico.

Palpite do blog: o time do bravo guerreiro Netherland, vice-campeão do mundo em 2010 e terceiro em 2014, pode até vencer, mas fica pelo caminho.

Grupo B
Na sombra: Bélgica e País de Gales
Na briga: Bósnia-Herzegóvina, Israel e Chipre
Já foi: Andorra

Última rodada nesta terça (13), às 15h45.

Um dos debutantes dividiu a supremacia do grupo com a talentosíssima Bélgica, de Hazard, Lukako, Cortois, Chadli, Fellaini e De Bruyne, que volta à disputa pela primeira vez neste século. É o País de Gales, do craque Gareth Bale e do artilheiro amaldiçoado Aaron Ramsey. Mesmo perdendo a invencibilidade para a Bósnia-Herzegóvina, foi beneficiado porque Israel inventou de perder em casa para o Chipre, resultado que, além de fazer com que deixasse de depender apenas de si, ainda ressuscitou os cipriotas.

Assim, a última jornada reserva uma briga em que três equipes têm chances reais de pegar a vaga para a repescagem. Ao time dos Balcãs (14 pontos), basta vencer o Chipre (12 pontos) fora de casa. Se empatar, terá que torcer pelo tropeço de Israel (13 pontos), que pega a classificada Bélgica na casa do adversário. Os israelenses, que não podem nem sonhar com o empate, ainda precisam secar os bósnios, ao passo que o Chipre, que estava quase morto, seguirá sonhando com a sua primeira Eurocopa se vencer a Bósnia em casa e Israel não vencer a Bélgica. Difícil? Sim, mas o Chipre já venceu a Bósnia nestas eliminatórias, e na casa do adversário.

Palpite do blog: a Bósnia-Herzegóvina, que disputou a Copa do Mundo de 2014, terá sua sobrevida.

Grupo C
Na sombra: Espanha
Na briga: Eslováquia e Ucrânia
Já foram: Bielorrússia, Luxemburgo e Macedônia
Última rodada nesta segunda (12), às 15h45.

Dona de três títulos e atual bicampeã (e único país a vencer por duas vezes consecutivas), a Espanha não brilhou, mas se classificou para sua décima (e sexta seguida) fase final sem maiores problemas numa das chaves mais fáceis, apesar de ter sido surpreendida logo na segunda rodada pela Eslováquia (19 pontos), que poderia ter garantido por antecipação sua primeira participação se não tivesse conseguido a proeza de perder em casa para a eliminada Bielorrússia.

Mesmo assim, chega em condições de não precisar do purgatório para assegurar a presença em terras francesas. Basta não dar mais sopa para o azar e bater Luxemburgo fora de casa. Já a Ucrânia (19 pontos) zerou a diferença de seis pontos para os eslovacos em três rodadas, mas o fato de ter desvantagem no confronto direto, o primeiro critério de desempate, faz com que os órfãos de Schevchenko tenham que ganhar só da líder Espanha e torcer pelo tropeço do concorrente.

Palpite do blog: os ucranianos seguirão sentindo falta do Schevchenko e teremos mais um debutante em Paris. No entanto, pode sair deste grupo o melhor terceiro colocado.

Grupo D
Na sombra: ninguém
Na briga: Alemanha, Polônia e Irlanda
Já foram: Escócia, Geórgia e Gibraltar

Última rodada neste domingo (11), às 15h45.

Ao lado da Espanha, a Alemanha ostenta o maior número de títulos europeus. São três, sendo o último foi em 1996. Os atuais campeões mundiais também são os donos da maior sequência de participações seguidas na fase final da Eurocopa, com dez aparições. Mesmo com este cartel de respeito, os alemães ainda não carimbaram o passaporte. Poderiam, se não tivessem perdido para a Irlanda e adiado o apuramento.

Ainda assim, a chance de sobrar é meramente virtual. Com 19 pontos, basta vencer, em casa, a já findada Geórgia. É mel na teta. A briga mesmo deve ficar entre Polônia e Irlanda, ambas com 18 pontos e que se engalfinham na última rodada. Os germânicos, inclusive, só saem se perderem e houver um empate neste duelo, pois o número de gols marcados (primeiro critério de desempate quando três ou mais equipes ficam com o mesmo número de pontos) é menor.

Quem vencer o jogo se classifica. Se empatarem, aí dependerá de quantos gols forem marcados. Como o encontro no primeiro turno, disputado na Irlanda, acabou 1 a 1, se houver empate sem gols, passam os poloneses, que também jogam pelo empate por um gol e que tem o melhor ataque das eliminatórias, com 31 gols, e Lewandowski, que tem feito gols com a mesma frequência com que Galvão Bueno falou "gol da Alemanha". No caso de empate por dois gols ou mais, passa a Irlanda, pois faria mais gols fora de casa dentro do confronto direto. 

Palpite do blog: Alemanha trucida a Geórgia e será o único lugar onde a cerveja acabará. Na Irlanda, os pubs terão mais duas datas para esvaziar os barris.

Grupo E
Na sombra: Inglaterra e Suíça
Na briga: Eslovênia, Lituânia e Estônia
Já foi: San Marino

Última rodada nesta segunda (12), às 15h45.

Nunca foi tão fácil para o English Team. Nove jogos, nove vitórias e único time com aproveitamento pleno de pontos. A última vez que ficou de fora da fase final da Eurocopa foi em 2008, quando perdeu a vaga em casa para uma Croácia já classificada, com direito a frango de Scott Carson. A nova e de enorme potencial geração inglesa, dos excelentes Harry Kane, Sturridge e Sterling, tem a companhia da sempre chata Suíça, que se classificou sem sustos ao sapecar 7 a 0 no pobre San Marino, com seis gols no segundo tempo, sendo três de pênalti.

Aqui o negócio está praticamente definido. A Eslovênia (13 pontos) visita San Marino e tem tudo para chegar a 16. Estônia e Lituânia (10), além de torcer para San Marino, que nunca venceu ninguém, ganhar sua partida, teriam que bater Suíça e Inglaterra, respectivamente. Isso sem contar a incontável  diferença de gols a ser tirada. Esquece, né?

Palpite do blog: a Eslovênia será eliminada na repescagem.

Grupo F
Na sombra: Irlanda do Norte
Na briga: Romênia e Hungria
Já foram: Finlândia, Ilhas Faroe e Grécia

Última rodada neste domingo (11), às 13 h.

"Sweet Caroline, (Oooh) good times never seem so good Oh I've been inclined (Oooh) to believe it never would"
Foi assim, ao som de Neil Diamond, que os norte irlandeses comemoraram a vitória sobre a Grécia e a inédita classificação à fase final da Eurocopa. Uma festa espetacular para coroar uma campanha igualmente memorável do país de George Best. O papelão ficou a cargo do Navio Pirata, campeão em 2004 e que vinha de um papel decente na Copa do Mundo. A Grécia fica fora da sua primeira Euro depois de três participações seguidas.

Romênia (17) e Hungria (16) decidem quem se classifica e quem vai para a repescagem. Os romenos, que deixaram de jogar por um simples empate fora contra as Ilhas Faroe ao empatar em casa com a Finlândia, só precisam vencer seu jogo, que é contra um time que só pontuou contra a Grécia. Os magiares têm uma missão mais complicada para voltar à fase aguda da Eurocopa pela primeira vez depois depois de 1972, não pelo adversário em si, os gregos, mas porque têm que ganhar e torcer contra os romenos. No improvável caso de a Romênia perder e a Hungria empatar, eles terminariam iguais em pontos, mas a vantagem no desempate seria dos húngaros por terem feito um gol a mais fora de casa nos dois empates entre as seleções.

Palpite do blog: vai ter festa na terra do Conde Drácula, mas existe a possibilidade de o melhor terceiro colocado sair deste grupo, uma vez que ambos deixaram pontos pelo caminho contra os gregos, tendo, portanto, menos pontos a serem descontados na aferição do melhor terceiro entre todos os grupos.

Grupo G
Na sombra: Áustria
Na briga: Rússia e Suécia
Já foram: Montenegro, Liechtenstein e Moldávia

Última rodada nesta segunda (12), às 13 h.

A única participação austríaca numa fase final de Eurocopa aconteceu em 2008, quando o país foi uma das sedes do torneio - a outra sede foi a Suíça. Ainda assim, não foi grande coisa, caindo ainda na fase de grupos, com apenas um empate. No entanto, aqueles que já foram chamados de Wunderteam nos anos 1930 não deixaram dúvida nenhuma do que podem fazer na França, com a segunda melhor campanha (oito vitórias e um empate, na primeira rodada, contra a Suécia) até aqui entre os 53 postulantes.

A Suécia (15) tinha tudo para estar com a segunda vaga garantida. Além de ser o único adversário a tirar pontos dos austríacos, vinha invicta até a sétima rodada, havia ganho seus últimos dois jogos e aberto quatro pontos de vantagem sobre a Rússia (17). Aí veio o confronto direto com os russos, que venceram por 1 a 0, num jogo em que Ibrahimovic saiu machucado. Como desgraça pouca é bobagem, o jogo seguinte, com seu único craque atuando a meia bomba, foi contra a Áustria, que não foi nada amigável e, mesmo na Friends Arena, passou como um panzer e venceu por 4 a 1.

Para chegar à sua quinta Eurocopa seguida, os suecos precisam vencer a molezinha Moldávia em casa e torcer pela derrota russa, que enfrenta Montenegro, um adversário a quem venceu por 3 a 0 fora, em casa. Para completar, caso a Suécia vença e a Rússia consiga a proeza de empatar, terminam juntos, com 18 pontos, e a vantagem do confronto direto é da Rússia, que tem tudo para chegar à quarta fase final consecutiva e se manter como o país com mais participações na história do torneio (12 em 15 edições), caso a consideremos herdeira da União Soviética, campeã da primeira Eurocopa, em 1960.
        
Palpite do blog: Ibrahimovic vai para outra repescagem. A boa notícia é que Cristiano Ronaldo não estará em seu caminho.

Grupo H
Na sombra: Itália
Na briga: Noruega e Croácia
Já foram: Bulgária, Azerbaijão e Malta

Última rodada nesta terça (13), às 15h45.

Desde que sagrou-se tetracampeã mundial em 2006, a vida da Itália não tem sido fácil. Em 2008, foi eliminada pela campeã Espanha nas quartas-de-final, depois de uma fase de grupos medíocre. É verdade que na edição seguinte chegou à decisão após se impor sobre a Alemanha nas semi-finais, mas a tunda de 4 a 0 que levou da Espanha nunca será esquecida. Neste meio tempo, disputou duas Copas do Mundo e sequer avançou à fase de oitavas-de-final.

A boa notícia é que os intermináveis Pirlo e Buffon seguem comandando uma Azzurra em reformulação, que, mesmo se empolgar, se classificou invicta e sem sustos. Noruega (19) e Croácia (17) disputam a segunda vaga da chave.

A missão norueguesa é mais difícil. Precisa vencer a Itália fora de casa para não depender do resultado da Croácia, que joga com a baba Malta e tem tudo para ganhar sem maiores sobressaltos. Se a Noruega empatar e a Croácia fizer o seu, a vantagem no confronto direto é enxadrezada. A Croácia, aliás, só está dois pontos atrás dos nórdicos porque foi punida com a perda de um ponto conquistado contra a Itália porque algum imbecil desenhou uma suástica no gramado.

Palpite do blog: a não ser que consiga perder pontos para Malta, a Croácia passa. E sem juiz japonês para atrapalhar.

Grupo I
Na sombra: Portugal
Na briga: Dinamarca e Albânia
Já foram: Sérvia e Armênia

Última rodada neste domingo (13), às 13 h.

Depois de três repescagens seguidas (Copas de 2010 e 2014 e Eurocopa de 2012), finalmente Portugal se classifica de forma direta. O país vice-campeão em 2004 e semifinalista em 1984, 2000 e em 2012 garantiu, com a vitória por 1 a 0 sobre a Dinamarca, a participação na fase final da competição pela sétima vez (a sexta consecutiva), mesmo perdendo em casa na estreia e sendo o único dos já classificados a trocar de treinador.

Para fazer companhia à Selecção das Quinas, a Albânia (11) está com a faca e o bukë zize nas mãos, pois a Dinamarca (12), que surpreendeu o mundo ao ser campeã em 1992, quando foi convidada para ocupar o lugar da Iugoslávia, punida por causa da guerra, já encerrou sua participação do único grupo com número ímpar de participantes, o que faz com que uma seleção não jogue a cada rodada.

Dinamarqueses e Albaneses fazem uma força desgraçada para irem à repescagem, pois somaram apenas um ponto nos últimos três jogos. A Albânia, que  chega à última rodada com chances de classificação porque a UEFA lhe deu os pontos do jogo com a Sérvia, quando o pau comeu porque um drone sobrevoou o gramado com uma bandeira albanesa em provocação aos sérvios, visita a lanterna Armênia e precisa vencer para ser mais uma estreante em fases finais da Euro, já que está em desvantagem no confronto direto com a Dinamarca. 

Palpite do blog: apesar dos três jogos sem fazer gols, a Dinamarca será beneficiada pela ruindade albanesa.