Caso estivesse vivo, Mané Garrincha faria 82 anos neste dia
28 de outubro. Carlos Drummond de Andrade, craque da pena, escreveu isto sobre
o Anjo das Pernas Tortas:
"Se há um deus que regula o futebol, esse deus é
sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos
de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um deus cruel,
tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente
divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar
suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam e não há outro Garrincha
disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho."
Ele não percebeu sua condição de agente divino e deixou-se
ser vilipendiado pelos dirigentes do seu Botafogo, que ganhava mais dinheiro
nos amistosos quando tinha à disposição o homem que era a Alegria do Povo. Mané
precisava parar para cuidar dos joelhos, arrebentados pela truculência de um
monte de Joões que enfileirou pelos gramados.
Mané foi vítima de si mesmo. Posto de lado quando precisava
do carinho de quem o explorou por tanto tempo e sua mais valia não valia mais,
nem o amor de Elza Soares foi capaz de impedir que partisse tão cedo. Ela era,
provavelmente, a única que se preocupou de verdade com ele.
A torcida de sonhos, cantada por outro craque, Moacyr
Franco, não aplaude mais. Outros craques não repetem suas jogadas, talvez por
não interessar mais, ou porque são incapazes mesmo.
Cadê você, Mané? Não sabemos, mas deve estar em um lugar
melhor do que o médico que te liberou para jogar quando não podia.
Não, Moacyr! Mané Garrincha não passou. Gênios - e anjos -
não passam jamais.
Crédito da imagem: Blog do Barão lhkz
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