Durou menos de cinco meses. Como era de se esperar, Juan Carlos Osorio não é mais o técnico do São Paulo. Protagonista de um incrível "racha" na crônica esportiva brasileira, ele teve seu desligamento anunciado pelo presidente são paulino Carlos Miguel Aidar nesta terça-feira, um dia após o quiproquó que envolveu até a suspeita de que o presidente tricolor chegou às vias de fato (a popular porrada) com seu vice-presidente de futebol - e defensor do treinador colombiano - Ataíde Gil Guerreiro, em um hotel da Zona Sul paulista.
A efêmera passagem de Osorio pelo clube do Jardim Leonor suscitou paixões e ódios. E levantou a velha discussão acerca do trabalho de treinadores estrangeiros no país. O Brasil é um dos países, incluindo aqui os mais tradicionais da modalidade, que mais apresentam resistência ao trabalho de técnicos estrangeiros. Autossuficiente até o tutano, apresenta ressalvas à vinda de know-how do exterior, mesmo tendo visto passagens vitoriosas, mas remotas, do húngaro Bella Guttmann e do paraguaio Fleitas Solich.
Os últimos resultados dos times daqui e da Seleção Brasileira, mais a diferença do nível do futebol apresentado, se comparado com o que fazem as principais equipes do Velho Continente, fizeram a discussão voltar à ordem do dia. O Tricolor cismou que queria porque queria um treinador que não falasse português (ao menos sem sotaque), então foi atrás de nomes com as características mais variadas: Jorge Sampaoli, Marcelo Bielsa, Juan Carlos Osorio. Quer dizer, não há uma linha de trabalho estabelecida, uma característica em comum, a não ser o fato de terem nascido fora do Brasil.
Veio Osorio, o de currículo menos jubilado, mas de ideias pouco comuns no (pretenso) país do futebol. O que, de partida, fez com que tivesse admiradores na medida em que colecionava críticos pelo seu estilo sincero demais. Bateu de frente com dirigentes do próprio clube, foi criticado abertamente por alguns de seus comandados, embora sempre conseguisse, como o apoio irrestrito do craque-capitão-bandeira Rogério Ceni, contornar a situação dentro do elenco.
Ele, Osorio, desde que foi sondado pela federação de futebol do México, nunca escondeu de ninguém o desejo de participar de uma Copa do Mundo, como deixou bem claro na entrevista coletiva que concedeu após a vitória do São Paulo sobre o Atlético Paranaense, no último sábado. Era uma questão estritamente pessoal, de motivação exclusivamente íntima, que o agora ex-treinador são paulino resolveu externar. Uma situação, portanto, rara, que encontrou, entre os jornalistas, quem considerasse louvável e quem julgasse desrespeitoso com a instituição, que é maior que qualquer treinador, mas que agiu - é bom que se diga - de modo pouco elogiável com o próprio tecnico.
Seja como for, Osorio é apenas um detalhe na discussão. O fato é que o Brasil do imediatismo promovido pelos diretores amadores que tem, e apoiado por considerável parcela da mídia, não está preparado para ter forasteiros no comando. Vivemos exaltando os quase 30 anos de Alex Ferguson à frente do Manchester United ao lembrar que nos primeiros anos ele não ganhou nada com os Red Devils, mas na primeira sequência ruim de qualquer treinador aqui, já falamos em demissão. De um modo geral, não passamos de um bando de hipócritas.
Não adianta pensar nos Rinus Michels, Pepp Guardiolas, Jurgen Kloppes ou Osorios para deixar a cobertura do bolo mais bonita, se o recheio já perdeu a validade.
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