* por Vinícius Carrilho
Como o próprio subtítulo diz, este é
um blog que fala "sobre a bola e outros mundos menos importantes". Falarei hoje
de uma pessoa que não fez sua história em parceria com uma bola, mas conhecia
de um certo círculo de borracha como nenhum outro na história. Os mais velhos,
como o genial dono deste espaço, ao ler sobre este personagem, vão se lembrar
de um quadro do grande radialista Eli Correa, chamado “que saudade de você!” .
Pois bem, essa semana de Páscoa é
de extremo saudosismo para o esporte brasileiro. No domingo, comemorou-se o 22º
aniversário da primeira vitória de Ayrton Senna da Silva no Brasil. Em Interlagos,
após sete frustradas tentativas, sua genialidade venceu o problema na caixa de
câmbio. Em minutos, sua McLaren perdeu a terceira, quarta e quinta marcha,
fazendo com que o brasileiro tivesse que completar a prova apenas com a
primeira, segunda e sexta. Por si só, a vitória naquelas condições já seria
inesquecível, porém, a imagem de Senna completamente exausto, sem conseguir
sequer levantar a bandeira brasileira ou o troféu, seguido do histórico
banho de champanhe, jamais sairá da memória dos brasileiros.
Já nesta quinta-feira, comemora-se
o 20º aniversário daquela que seria sua última vitória em solo brasileiro. Em 1993, a McLaren não vivia
seus melhores momentos e a Williams, que contava com Alain Prost (que seria o campeão ao fim da temporada) e Damon Hill,
era a equipe a ser batida. O cenário era completamente desfavorável. As duas
Williams largavam na primeira fila e Senna vinha logo atrás, com Michael
Schumacher (um menino talentoso, apesar da desconfiança de muitos) ao seu lado.
A bandeirada verde foi dada, Senna era claramente mais lento que as Williams e
foi aí que uma ajuda caiu do céu, literalmente.
Senna era espetacular em pista
seca, mas, na chuva, superava qualquer limite imaginário. São Pedro, que,
segundo José Simão, é brasileiro e fuma Marlboro, mandou o tão esperado temporal,
para o deleite de Senna. Aliando uma perfeita estratégia, sua habilidade e um
bom bocado de sorte, como a batida de Prost e a entrada do safety-car, que o
aproximou do então líder Damon Hill, Senna pressionou, até que na 42ª volta, na
curva do Laranjinha, assumiu a ponta. Depois disso, o que se viu foi um show de
pilotagem, daqueles que só quem é Ayrton Senna consegue dar. Porém, a imagem
mais marcante ainda estava por vir.
O brasileiro cruza a linha de
chegada 16 segundos longe do segundo colocado. Após a curva do “S”, entra na reta
oposta e então sua McLaren apaga. Naquela época, como tudo no mundo, a Fórmula
1 não tinha tantos protocolos e cuidados. Quando o carro parou, o público
presente no autódromo invadiu a pista e então o herói foi para os braços de seu
povo. Torcedores, fiscais, policiais e Ayrton Senna protagonizavam, naquele
momento, uma das imagens mais marcantes da história do esporte.
Ayrton Senna foi espetacular para
o automobilismo, para o Brasil e para os brasileiros. Virou herói não só por
suas vitórias, mas também por não ter vergonha alguma de mostrar para o mundo
inteiro que era brasileiro, mesmo com o país afundado em uma crise financeira e
vivendo na miséria. A bandeira verde e amarela era sua companheira em muitas
manhãs de domingo, durante a volta de comemoração. O Tema da Vitória, graças a
ele, tornou-se um hino para grandes conquistas. O brasileiro, graças a ele,
sentiu-se orgulhoso de poder ter um herói para chamar de seu.
Em 1994, a curva Tamburello,
em Ímola, acabou levando Senna deste mundo, provavelmente o levando de volta
para aquele do qual ele veio. Depois daquele cinzento e triste domingo, 01/05/1994,
ninguém nunca mais foi e provavelmente nunca mais será Senna. Depois daquele
dia, as manhãs de domingo nunca mais foram as mesmas, ficaram vazias, faltando
algo. Depois daquele domingo, só nos restou lembrar-nos de nosso herói com a
velha frase de Eli Correa: Ayrton Senna da Silva, ou melhor, Ayrton Senna DO
BRASIL, que saudade de você!
“Não importa o que você seja, quem você seja ou que deseja na vida, a ousadia em ser diferente reflete na sua personalidade,
no seu caráter, naquilo que você é. E é assim que as pessoas lembrarão de você
um dia” – Ayrton Senna da Silva
* Vinicius Carrilho tem 22 anos, é jornalista,
morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.
** E exagera muito ao chamar me chamar de gênio.
** E exagera muito ao chamar me chamar de gênio.