quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Anjos não passam jamais


Caso estivesse vivo, Mané Garrincha faria 82 anos neste dia 28 de outubro. Carlos Drummond de Andrade, craque da pena, escreveu isto sobre o Anjo das Pernas Tortas:

"Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho."

Ele não percebeu sua condição de agente divino e deixou-se ser vilipendiado pelos dirigentes do seu Botafogo, que ganhava mais dinheiro nos amistosos quando tinha à disposição o homem que era a Alegria do Povo. Mané precisava parar para cuidar dos joelhos, arrebentados pela truculência de um monte de Joões que enfileirou pelos gramados.

Mané foi vítima de si mesmo. Posto de lado quando precisava do carinho de quem o explorou por tanto tempo e sua mais valia não valia mais, nem o amor de Elza Soares foi capaz de impedir que partisse tão cedo. Ela era, provavelmente, a única que se preocupou de verdade com ele.

A torcida de sonhos, cantada por outro craque, Moacyr Franco, não aplaude mais. Outros craques não repetem suas jogadas, talvez por não interessar mais, ou porque são incapazes mesmo.

Cadê você, Mané? Não sabemos, mas deve estar em um lugar melhor do que o médico que te liberou para jogar quando não podia.


Não, Moacyr! Mané Garrincha não passou. Gênios - e anjos - não passam jamais.

Crédito da imagem: Blog do Barão lhkz

domingo, 25 de outubro de 2015

O Brasil através do espelho

Por Fábio Venturini*
TORTURADO E MORTO Morte do jornalista Vladimir
Herzog completa 40 anos neste dia 25 de outubro
O filósofo alemão Walter Benjamin escreveu em suas famosas teses sobre o conceito de História que “os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer”. Neste 25 de outubro, exatamente 40 anos após o assassinato decorrente de tortura de Vladimir Herzog em uma cela do Destacamento de Operações Internas – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), em São Paulo, continuamos a matar os nossos mortos e a exaltar o inimigo de vitória incessante.

Às vezes é difícil explicar para jovens e nem tão jovens o que ocorreu naquela época. Alguns ignoram por falta de interesse, outros por interesse em ignorar, mas eu sempre tento.

Os militares deram um golpe de Estado em 1964 (com apoio maciço do empresariado brasileiro e das classes médias) alegando estar prevenindo o Brasil de um golpe planejado pelo presidente legítimo João Goulart para implantar no Brasil o comunismo ou uma “república sindical”. O medo era o Brasil virar Cuba.

Era patético naquela época, bem menos do que é hoje, mas o fato é que tal versão correu por muito tempo, visto que os militares controlaram instituições ideológicas, como escolas, universidades e imprensa, por 21 anos, valendo-se de expedientes como prisão, tortura, desaparecimento de pessoas e cadáveres, demissão ilegal de milhares de pessoas, incluindo professores e jornalistas.

Em nenhuma historiografia séria e minimamente documentada esta versão se sustenta. Não passa de uma mentira, um discurso ideológico e vazio de uma direita mentirosa, fascista, violenta e sociopata (com o perdão do pleonasmo) para levantar a cortina de fumaça que permita atacar os direitos trabalhistas e deixar as coisas mais fáceis para a grande empresa privada, seja ela local ou estrangeira.

Como boa prática fascista, alguns sicofantas eram mantidos em postos-chave para justificar moralmente o extermínio de opositores. Nas redações havia até um grupo de jornalistas autointitulado “Comando de Caça aos Comunistas”, ou CCC, que deduravam os colegas para que fossem presos, torturados e exterminados.

Você pode pensar que esses delatores se deram mal nas carreiras. Nas últimas décadas eles foram vistos ancorando telejornais, mediando debates eleitorais como arautos da democracia. E por aí vai. Apoiar a ditadura foi um excelente negócio. Nenhum, absolutamente nenhum, agente público ou privado envolvido em centenas de crimes cometidos de modo apócrifo em nome do povo brasileiro foi punido. Pelo contrário, construíram fortunas e permaneceram com livre trânsito no círculo palaciano de todos os governos civis pós-1985.

Cartolas e a farsa
Alguns apoiadores de vanguarda, de última hora do golpe ou orgânicos do regime foram recrutados nos grandes clubes de futebol, os quais, como mostrou em farta documentação o historiador René Armand Dreifuss (1964, A conquista do Estado), ajudaram no golpe. José Maria Marin foi atacante do São Paulo FC, clube do qual se manteve como conselheiro e também teve outros de seus “cardeais” profundamente ligados e beneficiados pela ditadura, tal como o governador biônico Laudo Natel. Como deputado estadual pela Arena se juntou a Wadih Helu, que presidiu o Sport Club Corinthians Paulista entre 1961 e 1971, na realização dos serviços de papagaios da ditadura. Sim, até o Corinthians, que tanto se vangloria da tal “Democracia”, estava lá articulando a derrubada de Goulart, depois de 1971, fornecendo quadros para a ditadura.

Herzog era militante do Partido Comunista Brasileiro e dirigia o jornalismo da TV Cultura. Cometeu o crime de não fazer propaganda da ditadura e bancar jornalismo honesto. Paulo Markun, também militante do PCB, foi preso e torturado para entregar o amigo. Resistiu. Os torturadores então sequestraram a família de Markun e começaram a torturar sua esposa, bem à sua frente. Ele então cedeu.

Herzog foi avisado de que seria procurado, mas não fugiu. Sabia que era um defunto caro. A história é contada no documentário "Vlado 30 anos Depois", lançado em 2005 e dirigido por João Batista de Andrade.

Sempre que algum defunto caro entrava na lista dos homens da tortura, como o delegado Sergio Fleury, sicofantas como Marin e Helu proferiam discursos patrióticos anticomunistas para justificar alguma ação de captura. Ambos promoveram uma campanha implacável na Assembleia Legislativa de SP para exoneração do diretor de jornalismo que “queria transformar a TV Cultura numa emissora comunista”. Foram complementados por colunas do jornalista Cláudio Marques, dos jornais Shopping News e City News. A farsa estava montada.

ESTOPIM Discursos dos deputados José Maria Marin (à esquerda) e Wadih Helu,
 além de colunas como a Coluna Um, de Cláudio Marques, fizeram parte
 da perseguição a Vlado Herzog. Na montagem, à direita, o delegado
 Sergio Paranhos Fleury, conhecido como o "Príncipe da Dor"
Vladimir Herzog foi preso em 24 de outubro de 1975. Depois de torturado e assassinado no Doi-Codi, teve seu corpo usado numa foto que tentou construir um falso suicídio, tudo realizado por agentes pagos com dinheiro do povo brasileiro e de uma caixinha de empresários, os mesmos que enriqueceram com a ditadura e até hoje passeiam, eles próprios ou seus filhos,nas colunas sociais com grandes brasileiros e grandes empreendedores.

Depois do labirinto de espelhos
Herzog acertou ao crer que era um defunto caro. Sua morte motivou movimentos pela abertura da ditadura. Entre os milhares de presos, torturados, mortos e desaparecidos, até hoje é o mais lembrado e rememorado. Não foi apenas choro de Marias e de Clarisses. Mas como a esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.

Entre 2003 e 2013, o Brasil estava em uma sala acariciando o gato, quando resolveu atravessar o espelho. O que ele viu lá foi mais do mesmo: agentes do estado prendendo, torturando, matando e sumindo com os corpos; o Estado combatendo sua população; os mesmos corruptos da ditadura abrindo a caixa de ferramentas com os discursos anticomunistas para tomarem para si o butim que está com um governo que não lhes agrada; racismo, homofobia e misoginia estruturais; cultura do estupro; imprensa burguesa mentirosa, articulada, sugando a vida de um exército de jornalistas, seja no pescoção dos fechamentos ou na bala de borracha.

Os pedidos de revisão da lei de anistia foram indeferidos pelo Supremo Tribunal Federal. Tortura, sequestro e assassinato cometidos por um Estado são crimes contra a humanidade, imprescritíveis segundo todos acordos internacionais assinados pelo Brasil e incluídos na Constituição, a qual deveria ser protegida pelo STF. A recusa em punir é o sinal para que os fascistas atuais matem, forjem, torturem e exijam a impunidade.

José Maria Marin presidia a CBF durante a Copa do Mundo, recebeu chefes de Estado e estádios construídos por empresas que se fizeram durante a ditadura, foi o recepcionista de um país que premeia torturadores e assassinos, cúmplices e financiadores da tortura.

Em 2015, depois de perder nas urnas, o empresariado continua querendo caçar direitos trabalhistas, emparedou a presidência da república, convocou com sua imprensa, a mesma de 1964, os fascistas que saíram às ruas usando o discurso do anticomunismo para sequestrar o mandato, impedir o projeto de governo escolhido nas urnas e prontamente abandonado pelo Partido dos Trabalhadores perante a banca.

Há poucos dias o assassino, sequestrador e torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra morreu sem ser punido. Recebia aposentadoria integral referente ao posto de coronel do Exército paga pela União. Foi celebrado por deputados oriundos das polícias militares.

A única coisa que foi tirada com a ditadura foi a própria ditadura. Os seus principais parceiros estão até hoje fazendo troça do povo, do trabalhador. Cada vez que um motorista tenta atropelar um ciclista chamando-o de comunista, Herzog é novamente torturado.

Sempre que um jovem apoia as balas perdidas, as execuções e gosta quando PMs ameaçam o delegado que prendeu um sargento pelo crime hediondo e imprescritível de tortura, Vlado é novamente assassinado por agentes do Estado. Sempre que fascistas e pseudomoderados condenam um professor por recitar um poema, a foto para fraudar um assassinato como suicídio é clicada novamente. A cada programa policial um novo Doi-Codi é revigorado.

Não temos o direito de alegar desconhecimento, pois a Rainha Vermelha já nos levou para a colina e vimos o jogo de xadrez. Também sabemos fazer o peão andar duas casas.

Nossos mortos não estão dormindo em paz e o inimigo não tem cessado de vencer. 

*Fábio Venturini é professor e historiador.

domingo, 11 de outubro de 2015

Confira o que cada seleção precisa fazer para se garantir na fase final da Eurocopa


"É a Copa do Mundo sem Brasil e Argentina, amigo!". Falta menos de um ano para esta frase, mais surrada que judas em Sábado de Aleluia, invadir a sala de todo torcedor que gosta de futebol europeu.

Ainda assim, o fato é que a Eurocopa é a segunda maior competição entre seleções do mundo, perdendo apenas para a própria Copa do Mundo, em relevância e também em tamanho. São 53 selecionados nacionais lutando pelo direito de estar na fase final. E ficou maior ainda, depois que o lobby feito pelo presidente Michel Platini, de olho nos votos das federações nacionais, fez aumentar de 16 para 24 o número de participantes do torneio, que volta à França pela segunda vez após a primeira edição, de 1960, e que foi disputado por quatro países.

Se por um lado o inchaço do certame tem razões meramente eleitoreiras, por outro possibilita países que nunca passaram perto da possibilidade de o disputarem sonharem com uma das vagas e proporcionaram momentos de êxtase em lugares como a Irlanda do Norte, uma das estreantes garantidas para o ano que vem, e que comemorou a vaga ao som de "Sweet Caroline".

As eliminatórias começaram no dia 07 de setembro de 2014 e, pouco mais de um ano e um mês depois, chegam à última rodada dos nove grupos. Entre barbadas, agradáveis surpresas e decepções clamorosas, onze equipes já garantiram suas respectivas vagas para a 15ª edição, dentre as quais três debutantes: a própria Irlanda do Norte, Islândia e País de Gales. Além delas, Áustria, Bélgica, Espanha, Inglaterra, Itália, Portugal, República Tcheca e Suíça já carimbaram o passaporte para estar na França entre 10 de junho e 10 de julho de 2016.

São 19 vagas diretas para os dois primeiros colocados de cada grupo e o melhor terceiro, mais quatro, que serão disputadas entre os oito terceiros restantes, no sistema de mata-mata, além da anfitriã França, perfazendo, assim, 24 países. Como um dos grupos tem somente cinco equipes, não serão considerados os resultados das partidas entre os terceiros colocados e os lanternas dos respectivos grupos compostos por seis seleções.

Confira, abaixo, grupo por grupo, o que é preciso para conseguir a apuração e, se for o caso, pegar o terço ou o pé de coelho:

Grupo A
Na sombra: Islândia e República Tcheca
Na briga: Turquia e Holanda
Já foram: Letônia e Cazaquistão
Última rodada nesta terça (13), às 15h45.

No grupo em que a Islândia garantiu sua primeira classificação à fase final da Euro e a República Tcheca confirmou a quinta presença seguida e oitava (se a considerarmos herdeira das campanhas da Tchecoslováquia, campeã de 1976), a Holanda corre o risco de ficar de fora pela primeira vez desde 1988, quando conquistou seu único título.

Para os turcos (15 pontos) avançarem para a repescagem e continuarem na briga pela terceira vez seguida, basta empatarem com a já classificada Islândia, fora de casa. Se perderem, torcem pelo tropeço da Holanda (13), em casa, contra a talvez desinteressada e classificada República Tcheca. Se terminarem empatados em pontos, a Turquia levará vantagem sobre a seleção holandesa. Se vencer a Islândia e o lanterna Cazaquistão bater a Letônia, fora de casa, os turcos abiscoitarão a vaga como melhor terceiro colocado, já que terão apenas dois pontos descontados na conta para se aferir a vaga pelo índice técnico.

Palpite do blog: o time do bravo guerreiro Netherland, vice-campeão do mundo em 2010 e terceiro em 2014, pode até vencer, mas fica pelo caminho.

Grupo B
Na sombra: Bélgica e País de Gales
Na briga: Bósnia-Herzegóvina, Israel e Chipre
Já foi: Andorra

Última rodada nesta terça (13), às 15h45.

Um dos debutantes dividiu a supremacia do grupo com a talentosíssima Bélgica, de Hazard, Lukako, Cortois, Chadli, Fellaini e De Bruyne, que volta à disputa pela primeira vez neste século. É o País de Gales, do craque Gareth Bale e do artilheiro amaldiçoado Aaron Ramsey. Mesmo perdendo a invencibilidade para a Bósnia-Herzegóvina, foi beneficiado porque Israel inventou de perder em casa para o Chipre, resultado que, além de fazer com que deixasse de depender apenas de si, ainda ressuscitou os cipriotas.

Assim, a última jornada reserva uma briga em que três equipes têm chances reais de pegar a vaga para a repescagem. Ao time dos Balcãs (14 pontos), basta vencer o Chipre (12 pontos) fora de casa. Se empatar, terá que torcer pelo tropeço de Israel (13 pontos), que pega a classificada Bélgica na casa do adversário. Os israelenses, que não podem nem sonhar com o empate, ainda precisam secar os bósnios, ao passo que o Chipre, que estava quase morto, seguirá sonhando com a sua primeira Eurocopa se vencer a Bósnia em casa e Israel não vencer a Bélgica. Difícil? Sim, mas o Chipre já venceu a Bósnia nestas eliminatórias, e na casa do adversário.

Palpite do blog: a Bósnia-Herzegóvina, que disputou a Copa do Mundo de 2014, terá sua sobrevida.

Grupo C
Na sombra: Espanha
Na briga: Eslováquia e Ucrânia
Já foram: Bielorrússia, Luxemburgo e Macedônia
Última rodada nesta segunda (12), às 15h45.

Dona de três títulos e atual bicampeã (e único país a vencer por duas vezes consecutivas), a Espanha não brilhou, mas se classificou para sua décima (e sexta seguida) fase final sem maiores problemas numa das chaves mais fáceis, apesar de ter sido surpreendida logo na segunda rodada pela Eslováquia (19 pontos), que poderia ter garantido por antecipação sua primeira participação se não tivesse conseguido a proeza de perder em casa para a eliminada Bielorrússia.

Mesmo assim, chega em condições de não precisar do purgatório para assegurar a presença em terras francesas. Basta não dar mais sopa para o azar e bater Luxemburgo fora de casa. Já a Ucrânia (19 pontos) zerou a diferença de seis pontos para os eslovacos em três rodadas, mas o fato de ter desvantagem no confronto direto, o primeiro critério de desempate, faz com que os órfãos de Schevchenko tenham que ganhar só da líder Espanha e torcer pelo tropeço do concorrente.

Palpite do blog: os ucranianos seguirão sentindo falta do Schevchenko e teremos mais um debutante em Paris. No entanto, pode sair deste grupo o melhor terceiro colocado.

Grupo D
Na sombra: ninguém
Na briga: Alemanha, Polônia e Irlanda
Já foram: Escócia, Geórgia e Gibraltar

Última rodada neste domingo (11), às 15h45.

Ao lado da Espanha, a Alemanha ostenta o maior número de títulos europeus. São três, sendo o último foi em 1996. Os atuais campeões mundiais também são os donos da maior sequência de participações seguidas na fase final da Eurocopa, com dez aparições. Mesmo com este cartel de respeito, os alemães ainda não carimbaram o passaporte. Poderiam, se não tivessem perdido para a Irlanda e adiado o apuramento.

Ainda assim, a chance de sobrar é meramente virtual. Com 19 pontos, basta vencer, em casa, a já findada Geórgia. É mel na teta. A briga mesmo deve ficar entre Polônia e Irlanda, ambas com 18 pontos e que se engalfinham na última rodada. Os germânicos, inclusive, só saem se perderem e houver um empate neste duelo, pois o número de gols marcados (primeiro critério de desempate quando três ou mais equipes ficam com o mesmo número de pontos) é menor.

Quem vencer o jogo se classifica. Se empatarem, aí dependerá de quantos gols forem marcados. Como o encontro no primeiro turno, disputado na Irlanda, acabou 1 a 1, se houver empate sem gols, passam os poloneses, que também jogam pelo empate por um gol e que tem o melhor ataque das eliminatórias, com 31 gols, e Lewandowski, que tem feito gols com a mesma frequência com que Galvão Bueno falou "gol da Alemanha". No caso de empate por dois gols ou mais, passa a Irlanda, pois faria mais gols fora de casa dentro do confronto direto. 

Palpite do blog: Alemanha trucida a Geórgia e será o único lugar onde a cerveja acabará. Na Irlanda, os pubs terão mais duas datas para esvaziar os barris.

Grupo E
Na sombra: Inglaterra e Suíça
Na briga: Eslovênia, Lituânia e Estônia
Já foi: San Marino

Última rodada nesta segunda (12), às 15h45.

Nunca foi tão fácil para o English Team. Nove jogos, nove vitórias e único time com aproveitamento pleno de pontos. A última vez que ficou de fora da fase final da Eurocopa foi em 2008, quando perdeu a vaga em casa para uma Croácia já classificada, com direito a frango de Scott Carson. A nova e de enorme potencial geração inglesa, dos excelentes Harry Kane, Sturridge e Sterling, tem a companhia da sempre chata Suíça, que se classificou sem sustos ao sapecar 7 a 0 no pobre San Marino, com seis gols no segundo tempo, sendo três de pênalti.

Aqui o negócio está praticamente definido. A Eslovênia (13 pontos) visita San Marino e tem tudo para chegar a 16. Estônia e Lituânia (10), além de torcer para San Marino, que nunca venceu ninguém, ganhar sua partida, teriam que bater Suíça e Inglaterra, respectivamente. Isso sem contar a incontável  diferença de gols a ser tirada. Esquece, né?

Palpite do blog: a Eslovênia será eliminada na repescagem.

Grupo F
Na sombra: Irlanda do Norte
Na briga: Romênia e Hungria
Já foram: Finlândia, Ilhas Faroe e Grécia

Última rodada neste domingo (11), às 13 h.

"Sweet Caroline, (Oooh) good times never seem so good Oh I've been inclined (Oooh) to believe it never would"
Foi assim, ao som de Neil Diamond, que os norte irlandeses comemoraram a vitória sobre a Grécia e a inédita classificação à fase final da Eurocopa. Uma festa espetacular para coroar uma campanha igualmente memorável do país de George Best. O papelão ficou a cargo do Navio Pirata, campeão em 2004 e que vinha de um papel decente na Copa do Mundo. A Grécia fica fora da sua primeira Euro depois de três participações seguidas.

Romênia (17) e Hungria (16) decidem quem se classifica e quem vai para a repescagem. Os romenos, que deixaram de jogar por um simples empate fora contra as Ilhas Faroe ao empatar em casa com a Finlândia, só precisam vencer seu jogo, que é contra um time que só pontuou contra a Grécia. Os magiares têm uma missão mais complicada para voltar à fase aguda da Eurocopa pela primeira vez depois depois de 1972, não pelo adversário em si, os gregos, mas porque têm que ganhar e torcer contra os romenos. No improvável caso de a Romênia perder e a Hungria empatar, eles terminariam iguais em pontos, mas a vantagem no desempate seria dos húngaros por terem feito um gol a mais fora de casa nos dois empates entre as seleções.

Palpite do blog: vai ter festa na terra do Conde Drácula, mas existe a possibilidade de o melhor terceiro colocado sair deste grupo, uma vez que ambos deixaram pontos pelo caminho contra os gregos, tendo, portanto, menos pontos a serem descontados na aferição do melhor terceiro entre todos os grupos.

Grupo G
Na sombra: Áustria
Na briga: Rússia e Suécia
Já foram: Montenegro, Liechtenstein e Moldávia

Última rodada nesta segunda (12), às 13 h.

A única participação austríaca numa fase final de Eurocopa aconteceu em 2008, quando o país foi uma das sedes do torneio - a outra sede foi a Suíça. Ainda assim, não foi grande coisa, caindo ainda na fase de grupos, com apenas um empate. No entanto, aqueles que já foram chamados de Wunderteam nos anos 1930 não deixaram dúvida nenhuma do que podem fazer na França, com a segunda melhor campanha (oito vitórias e um empate, na primeira rodada, contra a Suécia) até aqui entre os 53 postulantes.

A Suécia (15) tinha tudo para estar com a segunda vaga garantida. Além de ser o único adversário a tirar pontos dos austríacos, vinha invicta até a sétima rodada, havia ganho seus últimos dois jogos e aberto quatro pontos de vantagem sobre a Rússia (17). Aí veio o confronto direto com os russos, que venceram por 1 a 0, num jogo em que Ibrahimovic saiu machucado. Como desgraça pouca é bobagem, o jogo seguinte, com seu único craque atuando a meia bomba, foi contra a Áustria, que não foi nada amigável e, mesmo na Friends Arena, passou como um panzer e venceu por 4 a 1.

Para chegar à sua quinta Eurocopa seguida, os suecos precisam vencer a molezinha Moldávia em casa e torcer pela derrota russa, que enfrenta Montenegro, um adversário a quem venceu por 3 a 0 fora, em casa. Para completar, caso a Suécia vença e a Rússia consiga a proeza de empatar, terminam juntos, com 18 pontos, e a vantagem do confronto direto é da Rússia, que tem tudo para chegar à quarta fase final consecutiva e se manter como o país com mais participações na história do torneio (12 em 15 edições), caso a consideremos herdeira da União Soviética, campeã da primeira Eurocopa, em 1960.
        
Palpite do blog: Ibrahimovic vai para outra repescagem. A boa notícia é que Cristiano Ronaldo não estará em seu caminho.

Grupo H
Na sombra: Itália
Na briga: Noruega e Croácia
Já foram: Bulgária, Azerbaijão e Malta

Última rodada nesta terça (13), às 15h45.

Desde que sagrou-se tetracampeã mundial em 2006, a vida da Itália não tem sido fácil. Em 2008, foi eliminada pela campeã Espanha nas quartas-de-final, depois de uma fase de grupos medíocre. É verdade que na edição seguinte chegou à decisão após se impor sobre a Alemanha nas semi-finais, mas a tunda de 4 a 0 que levou da Espanha nunca será esquecida. Neste meio tempo, disputou duas Copas do Mundo e sequer avançou à fase de oitavas-de-final.

A boa notícia é que os intermináveis Pirlo e Buffon seguem comandando uma Azzurra em reformulação, que, mesmo se empolgar, se classificou invicta e sem sustos. Noruega (19) e Croácia (17) disputam a segunda vaga da chave.

A missão norueguesa é mais difícil. Precisa vencer a Itália fora de casa para não depender do resultado da Croácia, que joga com a baba Malta e tem tudo para ganhar sem maiores sobressaltos. Se a Noruega empatar e a Croácia fizer o seu, a vantagem no confronto direto é enxadrezada. A Croácia, aliás, só está dois pontos atrás dos nórdicos porque foi punida com a perda de um ponto conquistado contra a Itália porque algum imbecil desenhou uma suástica no gramado.

Palpite do blog: a não ser que consiga perder pontos para Malta, a Croácia passa. E sem juiz japonês para atrapalhar.

Grupo I
Na sombra: Portugal
Na briga: Dinamarca e Albânia
Já foram: Sérvia e Armênia

Última rodada neste domingo (13), às 13 h.

Depois de três repescagens seguidas (Copas de 2010 e 2014 e Eurocopa de 2012), finalmente Portugal se classifica de forma direta. O país vice-campeão em 2004 e semifinalista em 1984, 2000 e em 2012 garantiu, com a vitória por 1 a 0 sobre a Dinamarca, a participação na fase final da competição pela sétima vez (a sexta consecutiva), mesmo perdendo em casa na estreia e sendo o único dos já classificados a trocar de treinador.

Para fazer companhia à Selecção das Quinas, a Albânia (11) está com a faca e o bukë zize nas mãos, pois a Dinamarca (12), que surpreendeu o mundo ao ser campeã em 1992, quando foi convidada para ocupar o lugar da Iugoslávia, punida por causa da guerra, já encerrou sua participação do único grupo com número ímpar de participantes, o que faz com que uma seleção não jogue a cada rodada.

Dinamarqueses e Albaneses fazem uma força desgraçada para irem à repescagem, pois somaram apenas um ponto nos últimos três jogos. A Albânia, que  chega à última rodada com chances de classificação porque a UEFA lhe deu os pontos do jogo com a Sérvia, quando o pau comeu porque um drone sobrevoou o gramado com uma bandeira albanesa em provocação aos sérvios, visita a lanterna Armênia e precisa vencer para ser mais uma estreante em fases finais da Euro, já que está em desvantagem no confronto direto com a Dinamarca. 

Palpite do blog: apesar dos três jogos sem fazer gols, a Dinamarca será beneficiada pela ruindade albanesa.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A diferença

Jorge Sampaoli (de costas), engoliu Dunga na abertura
das Eliminatórias (Ian Kington/AFP/Getty Images)
Quando percebeu que estava perdendo campo para o adversário, Jorge Sampaoli tirou um dos três zagueiros e colocou um agudo Mark González no time, isso ainda no primeiro tempo. Assim, desafogou Vidal e, de quebra, segurou Dani Alves na defesa. No outro banco, Dunga via seu meio de campo absolutamente insípido, com o volante Elias preso num esquema de jogo ultrapassado e Oscar sem sequer ser notado em campo.  

O que fez o "técnico" do Brasil? Tirou Oscar? Liberou Elias para atuar como joga no Corinthians? Reforçou o meio para ter a bola no pé? Não! Tirou o volante Luis Gustavo, que tinha cartão amarelo, fazendo entrar Lucas Lima. Antes, havia trocado Hulk, inexplicavelmente na função de centroavante, por Ricardo Oliveira, companheiro de Santos do Lucas Lima. As chuteiras de Lucas, porém, mal roçaram a bola.

Essa foi a diferença mais notável e significativa no Estádio Nacional. O Chile tem um grande treinador, um argentino que chegou à seleção depois de um grande trabalho em um dos principais clubes do país, a Universidad de Chile, ao passo que o Brasil tem um espectro de técnico no banco, que comandou a própria equipe nacional na Copa de 2010 e o Internacional de Porto Alegre, onde foi ídolo, por sete meses. Um cara que está preso aos paradigmas do passado. Um cara que acha que os volantes só marcam e que tenta fechar o grupo no esquema todos contra nós.

Quando Sampaoli tirou o zagueiro Silva e colocou Mark Gonzales na ponta-esquerda, praticamente matou o Brasil, que recuou no segundo tempo e começou a apostar no que faz de melhor sob a gestão de Dunga: o contra-ataque. Poderia ter ganho o jogo assim, pois chance para isso teve, mas, com (ou sem) Oscar e William, errou todos os contragolpes.
Pior em campo, Oscar não foi substituído por Dunga (Mario Ruiz/EFE)
Valdívia estava apagado. Matías Fernandez entrou em seu lugar. E foi ele que sofreu a estúpida falta que originou o primeiro gol chileno. E foi ele quem bateu a falta no pé de Vargas. O segundo gol do Chile saiu pelo meio, onde estaria um volante, caso não fosse sacado do time, e Alexis Sanchez, o melhor jogador da Roja, teve toda liberdade para avançar, tabelar com Vidal e matar o jogo.

Quando resolveu mexer, Sampaoli ganhou o jogo. Quando precisou mexer, Dunga matou de vez o Brasil. Depois do jogo, Sampaoli admitiu ter errado na escalação. Dunga, por sua vez, não reconheceu o mérito do adversário e falou que não ganhou o jogo por uma bola. Com Sampaoli, o Chile campeão da Copa América dominou o Brasil. Com Dunga, o Brasil pentacampeão mundial se prestou a jogar por uma bola, como time pequeno.

Eis a diferença, mas a comparação é injusta: Sampaoli é um dos melhores treinadores do mundo. Dunga, convenhamos, nem treinador é.  

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Juan Carlos Osorio e o recheio do bolo

"SINCERICÍDIO"? Osorio deixa claro, após vitória contra o Atlético Paranaense,
que poderia sair do Tricolor. Decisão, que seria anunciada pelo treinador na quinta-feira, 

foi confirmada dois dias antes pelo presidente Aidar (ESPN.com)
Durou menos de cinco meses. Como era de se esperar, Juan Carlos Osorio não é mais o técnico do São Paulo. Protagonista de um incrível "racha" na crônica esportiva brasileira, ele teve seu desligamento anunciado pelo presidente são paulino Carlos Miguel Aidar nesta terça-feira, um dia após o quiproquó que envolveu até a suspeita de que o presidente tricolor chegou às vias de fato (a popular porrada) com seu vice-presidente de futebol - e defensor do treinador colombiano - Ataíde Gil Guerreiro, em um hotel da Zona Sul paulista.

A efêmera passagem de Osorio pelo clube do Jardim Leonor suscitou paixões e ódios. E levantou a velha discussão acerca do trabalho de treinadores estrangeiros no país. O Brasil é um dos países, incluindo aqui os mais tradicionais da modalidade, que mais apresentam resistência ao trabalho de técnicos estrangeiros. Autossuficiente até o tutano, apresenta ressalvas à vinda de know-how do exterior, mesmo tendo visto passagens vitoriosas, mas remotas, do húngaro Bella Guttmann e do paraguaio Fleitas Solich.

Os últimos resultados dos times daqui e da Seleção Brasileira, mais a diferença do nível do futebol apresentado, se comparado com o que fazem as principais equipes do Velho Continente, fizeram a discussão voltar à ordem do dia. O Tricolor cismou que queria porque queria um treinador que não falasse português (ao menos sem sotaque), então foi atrás de nomes com as características mais variadas: Jorge Sampaoli, Marcelo Bielsa, Juan Carlos Osorio. Quer dizer, não há uma linha de trabalho estabelecida, uma característica em comum, a não ser o fato de terem nascido fora do Brasil. 

Veio Osorio, o de currículo menos jubilado, mas de ideias pouco comuns no (pretenso) país do futebol. O que, de partida, fez com que tivesse admiradores na medida em que colecionava críticos pelo seu estilo sincero demais. Bateu de frente com dirigentes do próprio clube, foi criticado abertamente por alguns de seus comandados, embora sempre conseguisse, como o apoio irrestrito do craque-capitão-bandeira Rogério Ceni, contornar a situação dentro do elenco.

Ele, Osorio, desde que foi sondado pela federação de futebol do México, nunca escondeu de ninguém o desejo de participar de uma Copa do Mundo, como deixou bem claro na entrevista coletiva que concedeu após a vitória do São Paulo sobre o Atlético Paranaense, no último sábado. Era uma questão estritamente pessoal, de motivação exclusivamente íntima, que o agora ex-treinador são paulino resolveu externar. Uma situação, portanto, rara, que encontrou, entre os jornalistas, quem considerasse louvável e quem julgasse desrespeitoso com a instituição, que é maior que qualquer treinador, mas que agiu - é bom que se diga - de modo pouco elogiável com o próprio tecnico.

Seja como for, Osorio é apenas um detalhe na discussão. O fato é que o Brasil do imediatismo promovido pelos diretores amadores que tem, e apoiado por considerável parcela da mídia, não está preparado para ter forasteiros no comando. Vivemos exaltando os quase 30 anos de Alex Ferguson à frente do Manchester United ao lembrar que nos primeiros anos ele não ganhou nada com os Red Devils, mas na primeira sequência ruim de qualquer treinador aqui, já falamos em demissão. De um modo geral, não passamos de um bando de hipócritas. 

Não adianta pensar nos Rinus Michels, Pepp Guardiolas, Jurgen Kloppes ou Osorios para deixar a cobertura do bolo mais bonita, se o recheio já perdeu a validade.