"É a Copa do Mundo sem Brasil e Argentina,
amigo!". Falta menos de um ano para esta frase, mais surrada que judas em
Sábado de Aleluia, invadir a sala de todo torcedor que gosta de futebol
europeu.
Ainda assim, o fato é que a Eurocopa é a segunda maior
competição entre seleções do mundo, perdendo apenas para a própria Copa do
Mundo, em relevância e também em tamanho. São 53 selecionados nacionais lutando
pelo direito de estar na fase final. E ficou maior ainda, depois que o lobby
feito pelo presidente Michel Platini, de olho nos votos das federações
nacionais, fez aumentar de 16 para 24 o número de participantes do torneio, que
volta à França pela segunda vez após a primeira edição, de 1960, e que foi
disputado por quatro países.
Se por um lado o inchaço do certame tem razões meramente
eleitoreiras, por outro possibilita países que nunca passaram perto da
possibilidade de o disputarem sonharem com uma das vagas e proporcionaram
momentos de êxtase em lugares como a Irlanda do Norte, uma das estreantes
garantidas para o ano que vem, e que comemorou a vaga ao som de "Sweet
Caroline".
As eliminatórias começaram no dia 07 de setembro de 2014 e,
pouco mais de um ano e um mês depois, chegam à última rodada dos nove grupos.
Entre barbadas, agradáveis surpresas e decepções clamorosas, onze equipes já
garantiram suas respectivas vagas para a 15ª edição, dentre as quais três debutantes: a própria Irlanda do Norte,
Islândia e País de Gales. Além delas, Áustria, Bélgica, Espanha, Inglaterra,
Itália, Portugal, República Tcheca e Suíça já carimbaram o passaporte para
estar na França entre 10 de junho e 10 de julho de 2016.
São 19 vagas diretas para os dois primeiros colocados de
cada grupo e o melhor terceiro, mais quatro, que serão disputadas entre os oito
terceiros restantes, no sistema de mata-mata, além da anfitriã França,
perfazendo, assim, 24 países. Como um dos grupos tem somente cinco equipes, não serão considerados os resultados das partidas entre os terceiros colocados e os lanternas dos respectivos grupos compostos por seis seleções.
Confira, abaixo, grupo por grupo, o que é preciso para
conseguir a apuração e, se for o caso, pegar o terço ou o pé de coelho:
Grupo A
Na sombra: Islândia e República Tcheca
Na briga: Turquia e Holanda
Já foram: Letônia e Cazaquistão
Última rodada nesta terça (13), às 15h45.
No grupo em que a Islândia garantiu sua primeira classificação
à fase final da Euro e a República Tcheca confirmou a quinta presença seguida e
oitava (se a considerarmos herdeira das campanhas da Tchecoslováquia, campeã de
1976), a Holanda corre o risco de ficar de fora pela primeira vez desde 1988,
quando conquistou seu único título.
Para os turcos (15 pontos) avançarem para a repescagem e
continuarem na briga pela terceira vez seguida, basta empatarem com a já
classificada Islândia, fora de casa. Se perderem, torcem pelo tropeço da Holanda
(13), em casa, contra a talvez desinteressada e classificada República Tcheca.
Se terminarem empatados em pontos, a Turquia levará vantagem sobre a seleção
holandesa. Se vencer a Islândia e o lanterna Cazaquistão bater a Letônia, fora de casa, os turcos abiscoitarão a vaga como melhor terceiro colocado, já que terão apenas dois pontos descontados na conta para se aferir a vaga pelo índice técnico.
Palpite do blog: o time do bravo guerreiro Netherland,
vice-campeão do mundo em 2010 e terceiro em 2014, pode até vencer, mas fica
pelo caminho.
Grupo B
Na sombra: Bélgica e País de Gales
Na briga: Bósnia-Herzegóvina, Israel e Chipre
Já foi: Andorra
Última rodada nesta terça (13), às 15h45.
Um dos debutantes dividiu a supremacia do grupo com a
talentosíssima Bélgica, de Hazard, Lukako, Cortois, Chadli, Fellaini e De
Bruyne, que volta à disputa pela primeira vez neste século. É o País de Gales,
do craque Gareth Bale e do artilheiro amaldiçoado Aaron Ramsey. Mesmo perdendo
a invencibilidade para a Bósnia-Herzegóvina, foi beneficiado porque Israel
inventou de perder em casa para o Chipre, resultado que, além de fazer com que
deixasse de depender apenas de si, ainda ressuscitou os cipriotas.
Assim, a última jornada reserva uma briga em que três
equipes têm chances reais de pegar a vaga para a repescagem. Ao time dos Balcãs
(14 pontos), basta vencer o Chipre (12 pontos) fora de casa. Se empatar, terá
que torcer pelo tropeço de Israel (13 pontos), que pega a classificada Bélgica
na casa do adversário. Os israelenses, que não podem nem sonhar com o empate,
ainda precisam secar os bósnios, ao passo que o Chipre, que estava quase morto,
seguirá sonhando com a sua primeira Eurocopa se vencer a Bósnia em casa e
Israel não vencer a Bélgica. Difícil? Sim, mas o Chipre já venceu a Bósnia
nestas eliminatórias, e na casa do adversário.
Palpite do blog: a Bósnia-Herzegóvina, que disputou a Copa
do Mundo de 2014, terá sua sobrevida.
Grupo C
Na sombra: Espanha
Na briga: Eslováquia e Ucrânia
Já foram: Bielorrússia, Luxemburgo e Macedônia
Última rodada nesta segunda (12), às 15h45.
Dona de três títulos e atual bicampeã (e único país a vencer por duas vezes
consecutivas), a Espanha não brilhou, mas se classificou para sua décima (e
sexta seguida) fase final sem maiores problemas numa das chaves mais fáceis,
apesar de ter sido surpreendida logo na segunda rodada pela Eslováquia (19
pontos), que poderia ter garantido por antecipação sua primeira participação se
não tivesse conseguido a proeza de perder em casa para a eliminada Bielorrússia.
Mesmo assim, chega em condições de não precisar do
purgatório para assegurar a presença em terras francesas. Basta não dar mais
sopa para o azar e bater Luxemburgo fora de casa. Já a Ucrânia (19 pontos)
zerou a diferença de seis pontos para os eslovacos em três rodadas, mas o fato
de ter desvantagem no confronto direto, o primeiro critério de desempate, faz
com que os órfãos de Schevchenko tenham que ganhar só da líder Espanha e torcer
pelo tropeço do concorrente.
Palpite do blog: os ucranianos seguirão sentindo falta do
Schevchenko e teremos mais um debutante em Paris. No entanto, pode sair deste grupo o melhor terceiro colocado.
Grupo D
Na sombra: ninguém
Na briga: Alemanha, Polônia e Irlanda
Já foram: Escócia, Geórgia e Gibraltar
Última rodada neste domingo (11), às 15h45.
Ao lado da Espanha, a Alemanha ostenta o maior número de
títulos europeus. São três, sendo o último foi em 1996. Os atuais campeões
mundiais também são os donos da maior sequência de participações seguidas na
fase final da Eurocopa, com dez aparições. Mesmo com este cartel de respeito,
os alemães ainda não carimbaram o passaporte. Poderiam, se não tivessem perdido
para a Irlanda e adiado o apuramento.
Ainda assim, a chance de sobrar é meramente virtual. Com 19
pontos, basta vencer, em casa, a já findada Geórgia. É mel na teta. A briga
mesmo deve ficar entre Polônia e Irlanda, ambas com 18 pontos e que se
engalfinham na última rodada. Os germânicos, inclusive, só saem se perderem e
houver um empate neste duelo, pois o número de gols marcados (primeiro critério
de desempate quando três ou mais equipes ficam com o mesmo número de pontos) é
menor.
Quem vencer o jogo se classifica. Se empatarem, aí dependerá
de quantos gols forem marcados. Como o encontro no primeiro turno, disputado na
Irlanda, acabou 1 a 1, se houver empate sem gols, passam os poloneses, que também jogam pelo empate por um gol e que tem o melhor ataque das eliminatórias, com 31 gols, e Lewandowski, que tem feito gols com a mesma frequência com que Galvão Bueno falou "gol da Alemanha". No caso de empate por dois gols ou mais, passa a Irlanda, pois faria mais gols fora de casa dentro do confronto direto.
Palpite do blog: Alemanha trucida a Geórgia e será o único
lugar onde a cerveja acabará. Na Irlanda, os pubs terão mais duas datas para
esvaziar os barris.
Grupo E
Na sombra: Inglaterra e Suíça
Na briga: Eslovênia, Lituânia e Estônia
Já foi: San Marino
Última rodada nesta segunda (12), às 15h45.
Nunca foi tão fácil para o English Team. Nove jogos, nove
vitórias e único time com aproveitamento pleno de pontos. A última vez que
ficou de fora da fase final da Eurocopa foi em 2008, quando perdeu a vaga em
casa para uma Croácia já classificada, com direito a frango de Scott Carson. A
nova e de enorme potencial geração inglesa, dos excelentes Harry Kane,
Sturridge e Sterling, tem a companhia da sempre chata Suíça, que se classificou
sem sustos ao sapecar 7 a 0 no pobre San Marino, com seis gols no segundo
tempo, sendo três de pênalti.
Aqui o negócio está praticamente definido. A Eslovênia (13
pontos) visita San Marino e tem tudo para chegar a 16. Estônia e Lituânia (10),
além de torcer para San Marino, que nunca venceu ninguém, ganhar sua partida,
teriam que bater Suíça e Inglaterra, respectivamente. Isso sem contar a
incontável diferença de gols a ser
tirada. Esquece, né?
Palpite do blog: a Eslovênia será eliminada na repescagem.
Grupo F
Na sombra: Irlanda do Norte
Na briga: Romênia e Hungria
Já foram: Finlândia, Ilhas Faroe e Grécia
Última rodada neste domingo (11), às 13 h.
Romênia (17) e Hungria (16) decidem quem se classifica e
quem vai para a repescagem. Os romenos, que deixaram de jogar por um simples
empate fora contra as Ilhas Faroe ao empatar em casa com a Finlândia, só
precisam vencer seu jogo, que é contra um time que só pontuou contra a Grécia.
Os magiares têm uma missão mais complicada para voltar à fase aguda da Eurocopa
pela primeira vez depois depois de 1972, não pelo adversário em si, os gregos,
mas porque têm que ganhar e torcer contra os romenos. No improvável caso de a
Romênia perder e a Hungria empatar, eles terminariam iguais em pontos, mas a vantagem
no desempate seria dos húngaros por terem feito um gol a mais fora de casa nos
dois empates entre as seleções.
Palpite do blog: vai ter festa na terra do Conde Drácula,
mas existe a possibilidade de o melhor terceiro colocado sair deste grupo, uma
vez que ambos deixaram pontos pelo caminho contra os gregos, tendo, portanto,
menos pontos a serem descontados na aferição do melhor terceiro entre todos os
grupos.
Grupo G
Na sombra: Áustria
Na briga: Rússia e Suécia
Já foram: Montenegro, Liechtenstein e Moldávia
Última rodada nesta segunda (12), às 13 h.
A única participação austríaca numa fase final de Eurocopa
aconteceu em 2008, quando o país foi uma das sedes do torneio - a outra sede
foi a Suíça. Ainda assim, não foi grande coisa, caindo ainda na fase de grupos,
com apenas um empate. No entanto, aqueles que já foram chamados de Wunderteam
nos anos 1930 não deixaram dúvida nenhuma do que podem fazer na França, com a
segunda melhor campanha (oito vitórias e um empate, na primeira rodada, contra
a Suécia) até aqui entre os 53 postulantes.
A Suécia (15) tinha tudo para estar com a segunda vaga
garantida. Além de ser o único adversário a tirar pontos dos austríacos, vinha
invicta até a sétima rodada, havia ganho seus últimos dois jogos e aberto
quatro pontos de vantagem sobre a Rússia (17). Aí veio o confronto direto com
os russos, que venceram por 1 a 0, num jogo em que Ibrahimovic saiu machucado.
Como desgraça pouca é bobagem, o jogo seguinte, com seu único craque atuando a
meia bomba, foi contra a Áustria, que não foi nada amigável e, mesmo na Friends
Arena, passou como um panzer e venceu por 4 a 1.
Para chegar à sua quinta Eurocopa seguida, os suecos precisam vencer
a molezinha Moldávia em casa e torcer pela derrota russa, que enfrenta
Montenegro, um adversário a quem venceu por 3 a 0 fora, em casa. Para
completar, caso a Suécia vença e a Rússia consiga a proeza de empatar, terminam
juntos, com 18 pontos, e a vantagem do confronto direto é da Rússia, que tem
tudo para chegar à quarta fase final consecutiva e se manter como o país com
mais participações na história do torneio (12 em 15 edições), caso a
consideremos herdeira da União Soviética, campeã da primeira Eurocopa, em
1960.
Palpite do blog: Ibrahimovic vai para outra repescagem. A
boa notícia é que Cristiano Ronaldo não estará em seu caminho.
Grupo H
Na sombra: Itália
Na briga: Noruega e Croácia
Já foram: Bulgária, Azerbaijão e Malta
Última rodada nesta terça (13), às 15h45.
Desde que sagrou-se tetracampeã mundial em 2006, a vida da
Itália não tem sido fácil. Em 2008, foi eliminada pela campeã Espanha nas
quartas-de-final, depois de uma fase de grupos medíocre. É verdade que na
edição seguinte chegou à decisão após se impor sobre a Alemanha nas
semi-finais, mas a tunda de 4 a 0 que levou da Espanha nunca será esquecida.
Neste meio tempo, disputou duas Copas do Mundo e sequer avançou à fase de oitavas-de-final.
A boa notícia é que os intermináveis Pirlo e Buffon seguem
comandando uma Azzurra em reformulação, que, mesmo se empolgar, se classificou
invicta e sem sustos. Noruega (19) e Croácia (17) disputam a segunda vaga da
chave.
A missão norueguesa é mais difícil. Precisa vencer a Itália
fora de casa para não depender do resultado da Croácia, que joga com a baba
Malta e tem tudo para ganhar sem maiores sobressaltos. Se a Noruega empatar e a
Croácia fizer o seu, a vantagem no confronto direto é enxadrezada. A Croácia,
aliás, só está dois pontos atrás dos nórdicos porque foi punida com a perda de um ponto conquistado contra a Itália porque algum imbecil desenhou uma suástica no
gramado.
Palpite do blog: a não ser que consiga perder pontos para
Malta, a Croácia passa. E sem juiz japonês para atrapalhar.
Grupo I
Na sombra: Portugal
Na briga: Dinamarca e Albânia
Já foram: Sérvia e Armênia
Última rodada neste domingo (13), às 13 h.
Depois de três repescagens seguidas (Copas de 2010 e 2014 e
Eurocopa de 2012), finalmente Portugal se classifica de forma direta. O país
vice-campeão em 2004 e semifinalista em 1984, 2000 e em 2012 garantiu, com a vitória
por 1 a 0 sobre a Dinamarca, a participação na fase final da competição pela
sétima vez (a sexta consecutiva), mesmo perdendo em casa na estreia e sendo o
único dos já classificados a trocar de treinador.
Para fazer companhia à Selecção das Quinas, a Albânia (11)
está com a faca e o bukë zize nas mãos, pois a Dinamarca (12), que surpreendeu
o mundo ao ser campeã em 1992, quando foi convidada para ocupar o lugar da
Iugoslávia, punida por causa da guerra, já encerrou sua participação do único
grupo com número ímpar de participantes, o que faz com que uma seleção não
jogue a cada rodada.
Dinamarqueses e Albaneses fazem uma força desgraçada para
irem à repescagem, pois somaram apenas um ponto nos últimos três jogos. A
Albânia, que chega à última rodada com
chances de classificação porque a UEFA lhe deu os pontos do jogo com a Sérvia,
quando o pau comeu porque um drone sobrevoou o gramado com uma bandeira
albanesa em provocação aos sérvios, visita a lanterna Armênia e precisa vencer para
ser mais uma estreante em fases finais da Euro, já que está em desvantagem no
confronto direto com a Dinamarca.
Palpite do blog: apesar dos três jogos sem fazer gols, a
Dinamarca será beneficiada pela ruindade albanesa.