quarta-feira, 12 de junho de 2024

PORTUGAL - A melhor versão é a de sempre: a que tem Ronaldo

 

UM DIA COMO OUTROS QUALQUER Em Aveiro, aquele que tem Aveiro
no nome fez história outra vez e sepultou as dúvidas
sobre seu papel no Euro (Foto: Gualter Fatia)

"Cristiano Ronaldo atingiu uma marca histórica…” Esta crônica começa como tantas outras desde que o maior artilheiro do futebol de seleções de todos os tempos colocou na cabeça que não anda atrás dos recordes, são estes que o perseguem. Contra a República da Irlanda, contra quem já havia eternizado seu nome como o maior artilheiro de equipes nacionais nas eliminatórias para a Copa de 2022, o capitão chegou a incríveis e inimagináveis 130 gols com a camisa das Quinas, além de ser o primeiro da história, segundo informou o ótimo Leonardo Bertozzi durante a transmissão, pela ESPN, a marcar em 21 temporadas seguidas em jogos de selecionados nacionais.

Não é pouca coisa. Como também não será pequeno aquilo que ele deverá alcançar, de hoje a oito, quando Portugal estrear na competição, contra a Chéquia, caso nada fora do normal ocorrer até lá: estar em campo em seis edições. Não só não é para qualquer um, como ele será o único até então.

Se havia alguma dúvida sobre ele estar no onze inicial, esta dissipou-se no belíssimo e praticamente inútil Estádio Municipal de Aveiro, cujo costumeiro mandante anda a rastejar-se no quarto escalão do futebol nacional. E não foi o CR7 de costume, também porque o jogo pedia que não o fosse.

Roberto Martinez trouxe preocupações por causa da permeabilidade que a defesa apresentou nos últimos quatro jogos, contra Suécia, Eslovênia, Finlândia e Croácia. Por isso, e porque tinha Pepe de volta ao menos por meio tempo, armou o time com um trio defensivo de raíz, com o monumental zagueiro ladeado à direita por António Silva e à esquerda por Gonçalo Inácio, numa inusitada mistura de Benfica, Porto e Sporting, pelo menos enquanto por lá estiverem.

Em vez de Palhinha, João Neves na vértice mais recuado do losango, tendo à frente Bruno Fernandes e, nas alas, Diogo Dalot e João Cancelo, com papéis diferentes em cada lado do campo: o primeiro a abrir e a buscar combinações com Bruno Fernandes e o outro, centralizando para Rafael Leão atacar os adversários como se estivesse a correr numa savana. João Félix e Cristiano, sem posicionamento fixo, tinham liberdade para tentar combinações, com a diferença do (bem) mais jovem ser imbuído de obrigações defensivas para atrasar um bocado a saída de bola irlandesa.

É o ônus de ter Cristiano na equipe: não haverá pressão para tentar retomar a bola o mais perto possível do gol adversário. Por outro lado, Portugal com Cristiano tem o que mais ninguém tem ou teve: o próprio Cristiano. E o melhor: numa versão mais solidária, jogando para o time, não tentando resolver sozinho. E nem poderia ser assim, com tantos pés pensantes juntos.

Félix, que havia roçado a inutilidade contra os croatas, fez um grande primeiro tempo e foi premiado com um belíssimo gol segundos depois de ter visto um, também muito bonito, negado pelo goleiraço do Liverpool, Kelleher, depois de boa trama que envolveu Dalot e Ronaldo, que viu seu tento na primeira parte negado pela trave em cobrança de falta que desviou na barreira e pelo pênalti não marcado.

A segunda etapa chegou com mudanças (Dalot e Cancelo por Semedo e Nuno Mendes, Pepe por Danilo, João Félix por Rúben Neves e Diogo Jota por Rafael Leão). A presença de Rúben Neves fez com que o outro Neves tivesse companhia no papel de marcador no meio e acabou com o fogo que vez ou outra aparecia pelo lado dos bebedores de cerveja e liberou Bruno Fernandes, o que faria com que qualquer time do mundo ficasse mais forte.

As férias fizeram bem a Rúben Neves, que deu um passe teleguiado de 30 metros (com margem de erro de cinco metros, para mais ou menos, que seja) para Ronaldo tirar um defensor cujo nome eu não sei duvido que ele saiba depois do que se passou e atirar com efeito, no ângulo e de esquerda, numa obra de arte que faz por merecer estar entre os cinco mais bonitos dos 129 até então. Este número durou por 10 minutos, quando Diogo Jota tirou a bola de um contrário com uma facilidade constrangedora e deu de trivela para o 130, também de esquerda.

Mesmo com muitos reparos a serem feitos na defesa, sobretudo na saída de bola, cujos erros podem ser fatais contra equipes não tão mansinhas no ataque como a Irlanda, é provável que Roberto Martinez tenha encontrado a melhor formação na volta do balneário. Aí, não se trata dos nomes, e sim do papel que cada um desempenhará, principalmente um certo senhor que, mesmo praticando um futebol altruísta muito raro para os seus padrões, não deixou o faro de gol na Arábia.

***
As avaliações a seguir têm um certo exagero, galhofa e quase nenhuma base técnica. É favor não levar tão a sério.

Diogo Costa: podia ter aproveitado a noite para assar umas castanhas ou defumar um chouriço. Ou então gritar para alguns cabrões pararem de errar passes no campo de defesa;
António Silva: está até mais fortinho, o gajo. Ouvi dizer que ganhou oito quilos de músculos. Só falta jogar sem essa cara de criança para poder assustar os contrários. Podia pedir umas dicas ao Pepe;
Pepe: quando não anda às cacetadas, é um monumento de jogador, mesmo jogando com medo de se machucar. Nessa idade é difícil, eu sei (Danilo Pereira: espero que essas atuações bisonhas sejam para que o mister ocupe a cabeça com problemas mais difíceis de resolver, como o Rafael Leão aprender a passar a bola ou o Gonçalo Inácio não atravessar a bola na frente da própria área quando por lá estiverem alguns gajos com camisolas diferentes das dele);
Gonçalo Inácio: uma ou outra rateada na primeira parte. Impecável na segunda, quando os irlandeses pararam de atacar;
Diogo Dalot: nota-se a alegria de quem não precisará voltar para Manchester nos próximos dias. Que isso ajude a esticar a estada na Alemanha até o dia 14 do mês que vem (Nelson Semedo: até lembra aquele gajo que apareceu no Benfica e depois não jogou em lugar nenhum. Qual era o nome mesmo? Nelson? Isso, esse mesmo);
João Neves: querido João, faça o favor de não mostrar este futebol soberbo na Eurocopa, ou acontecerá a ti o que ocorreu ao Renato Sanches. Não, não falo da carreira deitada fora pelas lesões, e sim de uma transferência que faria o Benfica gastar todo o dinheiro com jogadores que não precisa (Matheus Nunes: entrou para desenferrujar um bocadinho a mais, já que o Guardiola usa pouco);
Bruno Fernandes: o gajo não joga mal nem se tentar; 
João Félix: ora veja! Um grande jogo do Joãozinho! Como todos em que não era preciso ajudar na marcação. Pena que na Euro não haverá partidas assim a partir dos oitavos (Rúben Neves: disseram que não deveria ser convocado por jogar contra camelos mancos. Ele, com o orgulho de quem foi o capitão mais jovem da história do Porto, resolveu mostrar que também pode jogar contra irlandeses, o que é praticamente a mesma coisa);
João Cancelo: quando estiveres à esquerda, cochiche ao Rafael Leão que é aconselhável olhar para onde quer meter a bola antes de tentar fazê-lo (Nuno Mendes: mais um jogo em grande, mais um jogo sem sair lesionado. Como faz bem ficar longe dos preparadores físicos do PSG);
Cristiano Ronaldo: associativo e solidário. Nem parecia aquele gajo que deitou tudo a perder em 2022 porque Fernando Santos estragou seus planos de mostrar a língua ao Ten Hag. Viu como é possível jogar pela equipa e marcar golos?
Rafael Leão: é o Sandoval Quaresma português: faz tudo certinho até chegar ao momento do 10. Depois é o que se viu. Resolveria olhar antes de passar a bola (Diogo Jota: se vais convencer o mister que deves ser o titular, que sigas a fazer isso durante a competição).
Roberto Martinez: já que a versão avassaladora voltou das eliminatórias voltou, fica a pergunta: e nos jogos contra os que não são fraquinhos? Na Euro, para a primeira fase - e contra os ingleses -, o que temos visto, dá. 
 

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