sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Benfica 3 x 0 Standard Liège - pera doce à europeia



Ao fim do Benfica 3, Standard Liége 0 pela Liga Europa, o ex-benfiquista Medih Carcela disse que os encarnados pareciam o Barcelona, tamanha foi a posse de bola no campo ofensivo. O marroquino, campeão português e da Taça da Liga na temporada 2015/16, esteve de volta à Luz, como exatos 4.785 adeptos, nesta completa loucura de tentar retornar alguma normalidade no dia em que 40 pessoas morreram em decorrência da Covid-19 em Portugal

Isso serviu para dar algum tempero à partida, já que Jorge Jesus inventou de falar que a comparação só terá sido boa se for com o Barcelona de outras épocas, não com o de agora e, também na falta de algo melhor para fazer, alguns jornais catalães consideraram que houve ali uma provocação. Certamente, os culés esquecerão da crise que culminou com a demissão de toda a direção para pensar n'alguma resposta à altura.

Ao menos serviu para divertir um pouco o pós jogo de uma partida que colocou frente a frente dois times completamente inversos. Um, mesmo com as rotações promovidas pelo treinador, a ter a bola e buscar o ataque durante todo o jogo, e outro, que tinha lá uma série de desfalques graças aos efeitos da pandemia e que não teve a menor vergonha de jogar para impedir que o adversário marcasse.

Ao fim e ao cabo, deu tudo certo para os da casa: rodaram o elenco (Pedrinho começou o jogo), testaram soluções (como Diogo Gonçalves na lateral direita) e venceram a sétima partida seguida na época, desta feita sem sustos.  

A estratégia do técnico Philippe Montanier até que funcionou bem na primeira parte, com todos os jogadores praticamente amontoados num 5-4-1 da intermediária para trás, transformando o goleiro Vlachodimos no gajo, entre os presentes na Luz, a melhor observar as regras de distanciamento social. Foi assim durante quase todo o jogo, tendo sido chamado a intervir uma única vez, e num chute apertado do zagueiro Zinho Vanheusden. Com o pouco atrevimento dos desfalcados visitantes, que não seriam lá grande coisa com o time completo, o Benfica pode atuar com dois laterais que jamais serão lembrados pelos dotes defensivos e com somente Gabriel como volante de ofício, tendo à frente Pizzi com liberdade para fazer o que quisesse em campo, com Pedrinho a ajudar na construção, embora a jornada tenha sido infeliz.

Enfrentando um time estático e fechado no tal 4-5-1, sendo o 1 um gajo que não deve ter tocado à bola cinco vezes, o Benfica finalizou sete vezes na primeira parte, tendo só duas a direção do golo, mas em chutes de fora, defendidos sem maiores protestos por Bodart. Isso ainda porque a movimentação do trio Everton, Waldschmidt e Darwin Núñez transformava a vida da defesa belga num verdadeiro inferno, mas com pouco espaço para meter a bola no golo.

Isso tudo ruiu em cinco minutos na volta do intervalo, quando Rafa voltou para o lugar do brasileiro que ainda não desencantou com a águia ao peito. Todos os visitantes estavam no campo de defesa, mas nenhum tentou encurtar os espaços de Diogo Gonçalves, que avançou como quis e acionou Waldschmidt na área, que fez tentou proteger a bola, mas foi atropelado por Bope. Pizzi foi chamado à cobrança e, sem pulinhos ou ressaltos, deslocou o goleiro para abrir o marcador.

A névoa grossa e cerrada que impedia o avanço se dissipou com o golo e a obrigatoriedade de quem já havia perdido na estreia de buscar uma melhor sorte, e os espaços apareceram. O segundo golo também foi de pênalti, num lance que teve o passe perfeito entre linhas de Gabriel para Nuno Tavares, e que, honestamente, não pareceu lá uma falta muita clara - nem se foi falta ou sequer se foi dentro da área. Em vez do capitão, foi lá Waldschmidt encher o pé esquerdo, cruzado, no canto alto de Bodart.

Darwin então foi descansar após o serviço de desbravar as linhas belgas cumprido e Seferovic, de menor movimentação, mas de boa presença na área, estava em campo. E foi ele quem recebeu de Pizzi pelo alto e brigou com os três ou quatro de preto que lá estavam, e a bola ficou novamente com Pizzi, já dentro da área. Ele ajeitou para o pé direito e bateu buscando o ângulo. A bola ainda tocou às costas de um azarado Bope antes de encobrir o goleiro e fazer a alegria dos quase cinco mil que se aventuraram a ir à Luz.

Daí até o fim da noite, foi torcer para que algo interessante acontecesse e que justificasse uma citação além de um protocolar texto de pós jogo entre dois times tão díspares. Ainda bem que esteve lá o Carcela, que ao fim ainda trocou a camisola com o compatriotaTaarabt.

Vlachodimos: podia ter assado umas castanhas para ajudar a passar o tempo e espantar o frio;
Diogo Gonçalves: já ao fim do jogo, o Standard teve a chance de diminuir o placar, mas um decidido Diogo Gonçalves resolveu mostrar ao mister que também sabe defender. Pronto, já é um lateral melhor que o Gilberto; 
Otamendi: se ainda resta alguma dúvida quanto à abnegação do argentino, olhem o carrinho que ele deu à altura do meio-campo. É argentino, caraças! Como podem duvidar disso?
Vertonghen: viste como fizeste bem em escolher o Benfica para a reforma em vez de voltar ao seu país, Jan? 
Nuno Tavares: noventa e tantos minutos sem que eu reclamasse. Que evolução, miúdo, tua e minha;
Gabriel: entediado, resolveu dar um passe para o "pênalti" sobre o Nuno Tavares. Parece que saiu descontente. Descansa, pá. Há o Boavista na segunda e tu deves jogar (Weigl: outra partida tranquila para arrumar uma boa transferência em janeiro);
Pizzi: se alguém achava que o nível no nosso Luís Miguel diminuiu, pergunte aos gajos que lá foram à Luz. Ou pergunte ao Waldschmidt (preciso dar um nome mais fácil de digitar ao alemão que sabe jogar à bola da equipa), que estreou-se a marcar com a águia ao peito por competições europeias só porque o capitão concedeu a bola para bater a segunda grande penalidade. Pensando bem, creio ter sido estratégico, já que andou a desperdiçar algumas na época passada e não seria agora, com alguns adeptos à bancada, que daria a chance de ser assobiado (Gonçalo Ramos: mais um que aproveitou a noite benevolente do capitão, que saiu para que ele estreasse em jogos internacionais pela equipa principal. E olha que já sabe o que é perder uma final europeia com o sub-23. Não lhe falta nada, pois);
Pedrinho: o empresário do miúdo disse que o Pedrinho não ficaria um ano em Portugal. Devo dizer que pode ter razão, mas imagino que a saída deverá ser pela vontade do Benfica de que ele se vá, mas não de Portugal. Eu apostaria Vila do Conde ou Guimarães (Rafa: nem precisou ser brilhante para melhorar o nível. Bom, acho firmemente que bastava por o pé no relvado para isto);
Everton: chegará o dia em que o Cebolinha fará chorar os adversários com golos, além das grandes atuações. Estas já tem, falta só a outra parte. Na verdade, já os tem feito chorar, assim como a nós, que viveremos o inferno das janelas de transferência enquanto estiver por aqui;
Waldschmidt: a cada partida eu me pergunto: por que raios não trouxeram o alemão no começo do ano? Se era pelo excesso de alemães, que deixassem o outro para agora, quando veriam que nem era preciso (Taarabt: entrou para trocar a camisola com o Mehdi Carcela. Foi um reencontro bonito dos gajos que só se vêem quando servem à seleção);
Darwin Núñes: mais um que não ficará a tempo de ser bicampeão nacional (Seferovic: "Entra lá e faça o que sabes de melhor, pá", teria dito o Jorge Jesus. Ele entrou, trombou com os gajos de camisola diferente da dele e assim nasceu o terceiro golo. Sucesso absoluto);
Gaitán: nem precisou de espaço para meter uma trivela linda no ângulo, de fora da área. Que golaço na estreia a doer do Nico. Ah, foi pelo Braga, não pelo Benfica. Ainda não estou pronto para vê-lo com uma camisola em Portugal. Nunca estarei.

  

Sem comentários: