Enfrentar os atuais campeões do mundo na casa do adversário e encontrar uma postura respeitosa da parte deles é razão para notar o quanto evoluiu o futebol dos "campeões mundiais sem balizas", como disse certa vez o craque argentino Jorge Valdano. Este é o aspecto a se comemorar no primeiro jogo em França depois do título de 2016.
Com os quatro ases juntos em campo novamente, Portugal topou com um adversário também com os seus melhores escalados, mas que resolveu evitar o gol antes de procurar fazê-lo. Se em campo haviam Bernardo Silva, Bruno Fernandes, Cristiano Ronaldo e João Félix, houve no meio a dupla Danilo Pereira e William Carvalho a ocupar os espaços no setor de transição ofensiva gaulesa, fato determinante para que os campeões europeus dominassem as ações na primeira parte.
Quando os minutos corridos cobraram o preço da frescura nas pernas, a França voltou para o segundo tempo tratando de diminuir os espaços de William e de Bruno Fernandes e forçando que a saída de bola portuguesa passasse por pés menos esclarecidos do que lutadores, como os de Danilo Pereira. Aí a superioridade lusitana transformou-se num equilíbrio que só foi possível porque, se a dupla de trincos passou a ser superada, havia dois centrais praticamente intransponíveis, que trataram de anular quase tudo o que para eles chegasse: Pepe e Rúben Dias.
Tudo bem que o trabalho foi simplificado também pela má jornada do trio Griezmann, Giroud e, principalmente, Mbappé, que chamou mais a atenção pela reverência ao seu ídolo Cristiano Ronaldo do que pelo que (não) produziu no jogo. Somente na segunda parte, quando Griezmann mudou seu posicionamento e passou a reger o jogo com Pogba e Kanté é que a França exigiu maiores cuidados lusitanos, que só voltaram a rondar a baliza de Lloris quando pés e ideias mais frescas, como as de Trincão e Renato Sanches, foram chamados à ação.
A se lamentar, se é que um jogo disputado em grande como este permite, a falta de ambição dos dianteiros portugueses, que pouco finalizaram quando estavam por cima (quatro vezes na primeira etapa, nenhuma delas na direção do gol). Em linhas gerais, caberá a Fernando Santos transformar uma equipa dificílima de ser batida em um conjunto capaz de desatar nós mais apertados, comumente encontrados em jogos contra times do mesmo quilate. Neste caso específico, Bernardo Silva e João Félix, abertos para manter ocupados os laterais franceses e ajudar a fragmentar o time francês, pouco produziram ofensivamente, mas um adversário deste nível (se não for a melhor seleção do mundo, é uma das três) justifica o investimento.
Ao fim e ao cabo, o nulo - o segundo seguido, fato inédito na gestão Fernando Santos - calhou bem pelo que cada equipa produziu durante seu período de domínio, mesmo que a superioridade francesa na etapa final quase nada tenha sido traduzida em hipóteses mais cristalinas de golo, ao contrário do que apresentou, mesmo que não muito mais, Portugal, que saiu do confronto da mesma forma que entrou: líder da chave.
Para o último dos jogos desta trinca, deverá haver Cancelo a render o mais defensivo Semedo e João Moutinho pode voltar ao 11 no lugar de Danilo ou de William Carvalho, caso Santos não considere que a Suécia, que não pontuou e que está à beira da despromoção, demande maiores cuidados. De todo modo, sempre que a Suécia se apresenta, é com Cristiano que a Equipa das Quinas resolve. E já lá vão dois jogos em branco. Azar da Suécia.
Rui Patrício: banalizou o ato de não sofrer golos de franceses;
Semedo: da próxima vez que for vandalizado pela Mbappé, diga que é amigo do Pepe;
Rúben Dias: ó, rapaz, não era preciso partir a cabeça do gajo deles, mas mais um jogo destes e sairás pela multa. Hã? Não foi assim que saíste? Fdx!;
Pepe: espero que tenhas devolvido o Mbappé que levavas embora na algibeira;
Raphaël Guerreiro: jogou pertinho de onde nasceu e saiu antes para poder passar em lá frente (João Cancelo:
- Ó, mister, tens uma alteração para fazer ainda!
- Aié? Vês aí quem ainda não tirou as botas e manda entrar.
- Ó, João, vais tu! - e assim ele entrou já ao pé do minuto 90);
Danilo Pereira: já conheceu alguns dos colegas novos de equipa e, a tirar por esta partida, deve ter ficado preocupado pelo que o espera;
William Carvalho: digam-me a última partida mal conseguida dele. Não, no Sporting não conta (João Moutinho: sem Ederzito e Quaresma, entrou para lembrar aos franceses de quem roubou a bola no golo da final da Euro. Foi uma provocação sutil);
Bruno Fernandes: viu que os colegas não vestiam vermelho e, por um instante, pensou ainda estar no Sporting. Aí ficou deprimido e quase não se fez perceber. Que o Engenheiro do Penta cuide disto com um abraço paternal e a cochichar "já passou, já passou" (Renato Sanches: 13 minutos a lembrar aquele miúdo que despontou no Seixal, só que a tomar decisões certas. Ficar mais um ano no Benfica seria uma delas);
Bernardo Silva: nem sempre é o melhor em campo. Acontece. Mas era bom que agisse como se todos os adversários fossem um time mais fácil, como a Holanda, por exemplo (Diogo Jota: entrou para descansar o Bernardo para a Suécia, mas podia ao menos aparecer mais do que quando ralhou com o árbitro em dois idiomas);
Cristiano Ronaldo: meu capitão, peço que tenhas a nobreza de não aproveitar que tens o mesmo empresário do João Félix e não mandes recados ameaçadores a ele por ter lhe tirado o golo. Vem aí a Suécia;
João Félix: ó, Joãozinho, estes gajos de azul não metem medo. São como aqueles outros gajos de azul que vulgarizavas antes de ires embora só com seis meses na equipa principal. Desculpa, é que ainda não superei (Trincão: bom, Francisco, já deste nas vistas que sabes que o Ronaldo é quem manda, mas, da próxima vez, chute o car*** da bola para o golo.
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