A FIFA realizou sua gala anual e o principal prêmio da noite, o de melhor jogador de futebol masculino do mundo, ficou com Lionel Messi. A melhor definição desta escolha foi do jornalista colombiano Juan Sebastián Pérez: é completamente constrangedora. Neste futebol que não aceita "derrotas", a ausência do jogador na premiação é um indicativo de que nem ele acreditava que venceria.
Se você, leitor, disser que a FIFA não tem culpa pelos votos, pois não é ela quem controla isso, saiba que existe uma grande chance de você estar errado. É certo afirmar que ela não obriga ninguém a votar, mas é a entidade que define o formato da eleição e este abre margem para distorções, como foi a atribuição de melhor para quem, honestamente, sequer deveria estar entre os 10, ou até entre os 50 melhores da temporada.
Um comitê de notáveis escolhe os nomes dos postulantes, que estarão submetidos aos votos de quatro categorias distintas: jornalistas (um de cada federação filiada), técnicos das seleções filiadas, seus capitães e o público em geral, com peso igual. Aí, como a escolha é livre e subjetiva, vale tudo, inclusive não se atentar ao período que deveria ser levado em consideração. Está aqui, explicadinho pelo goal.com.
Com o título mundial fresquinho e o nome dele lá, alguém acha mesmo que o torcedor vai se importar com o período? É obvio que não. Seria simples de resolver: os próprios ex-jogadores deveria levar em consideração o que ele (não) fez no período previamente determinado e fazer seu trabalho direito.
No formato que tem, não é raro o troféu que a popularidade pese mais que o desempenho, bem como camaradagem, idolatria e patriotada. Isso talvez explique a escolha por quem, em 2023, teve um término de chorar no PSG, no qual não foi nem sombra do que pode ser, ainda mais tendo como base de comparação o desempenho na última Copa do Mundo.
Há quem defenda a tese de que o desempenho individual deve ser mais importante; para outros, não faz sentido o vencedor não ter conquistado títulos relevantes, como a Copa do Mundo, a Eurocopa ou a Liga dos Campeões. Ter feito que fez na Copa do Mundo do Catar garantiu, com justiça, a Bola de Ouro para o argentino, embora não tenha feito mais nada de notável durante os outros meses do ano, e nem precisava. Agora, porém, nenhum critério decente explica a escolha.
Uma deturpação desta natureza já havia sido feita em 2000, quando a FIFA, na falta de algo melhor para pensar, resolveu abrir para a geral votar no melhor jogador do Século XX. A votação livre indicou Maradona, com mais de 50% dos votos. Paralelamente, a entidade promoveu a mesma eleição, mas para os leitores se sua revista e neste caso deu Pelé. Então, salomonicamente, deu o prêmio aos dois. Segundo o então presidente, Sepp Blatter, "Maradona ganhou a eleição da juventude. Pelé, a eleição da família do futebol".
Escolhas como esta, sem base técnica que as sustentem, dão margem a este tipo de esculhambação. Ainda assim, em se tratando de um esporte coletivo, prêmios individuais valem o que valem, mas deveriam valer menos.
Este prêmio não faz dele maior. Pelo contrário, diminui o valor dos outros recebidos anteriormente, pois os vulgariza, os banaliza. Como disse brilhantemente o professor de ética em jornalismo Humberto Pereira da Silva, colunista deste blog, é uma Vitória de Pirro, comandante romano que disse depois de ganhar uma batalha com grandes perdas: "Mais uma vitória dessa e estou perdido".
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