“É,
A gente não tem cara de panaca,
A gente não tem jeito de babaca,
A gente não está com a bunda exposta na janela pra passar a mão nela.”
O enorme e necessário Gonzaguinha (1945-1991), filho adotivo do eterno Gonzagão, que também serviu de inspiração para um dos textos favoritos deste humilde escriba, cantou estes versos num momento em que nós respirávamos a democracia recém restaurada no Brasil. Era o fim dos anos 1980.
Duas décadas e um bocadinho depois, houve o caso Heverton e é escusado falar aqui tudo o que aconteceu durante e depois daquela sacanagem. Jogo jogado, tapetão, mesas viradas. Nem é possível falar em guerra nos bastidores quando um dos lados tem todas as armas e o confronto é com quem tem, se muito, um estilingue e o espírito da lei a seu favor.
O tal espírito da lei, ou mens legis, é a vontade da lei. “Mens legis lex est” (O espírito da lei é a lei – e é favor ler com a voz do Cid Moreira ou do Jonas Mello pra dar um ar de imponência à frase). É implícito, subjetivo.
Quase dez anos depois, lá vamos nós à voltas com regulamentos, artigos, parágrafos e esse juridiquês que ninguém entende, tampouco fecha a questão. O São Bento, que conseguiu ser mais incompetente que a gente, enviou um ofício safado alegando que a Portuguesa havia descumprido um dos artigos do Campeonato Paulista e, portanto, deveria perder o ponto do clássico com o Corinthians porque mandou o dito cujo fora da cidade onde tem sua sede.
Disse o legislador que “no ano do acesso, o Clube deverá, obrigatoriamente, disputar suas partidas como mandante no município de sua sede, sob pena de perda das partidas por W.O.” Aí vamos para o tal espírito da lei: este artigo foi colocado no regulamento para forçar os clubes a terem um estádio em condições de receber os jogos, senão, nada feito, tanto que o parágrafo 1º coloca que, “na hipótese de caso fortuito ou força maior, e desde que o Clube disponha de Laudo de Engenharia atestando capacidade de acordo com o caput do art. 5º deste RGC, a FPF poderá liberar a disputa da primeira, segunda e terceira partidas do Clube como mandante em local diverso de sua sede”. É o tempo para adequar sua casa ao que exige o regulamento.
A gente quer viver a liberdade.
A gente quer viver felicidade”.
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