sexta-feira, 13 de junho de 2014

A estreia do Brasil na Copa

*por Humberto Pereira da Silva

Começou bem: um bom 3x1 sobre a Croácia. A considerar o resultado, menos dificuldades do muitos esperavam. O histórico de estreias do Brasil tem sido de resultados magros, vitórias apertadas. Basta lembrar a mesma Croácia em 2006. Mais do que uma boa vitória, atuações convincentes de jogadores de que também se espera muito: Neymar, Oscar e, na defesa, Tiago Silva e David Luiz.

Mas o curioso no jogo foram as dificuldades criadas pela Croácia. Começou ganhando e até o final pressionou a ponto de ameaçar o empate. Então, também contrariando a norma das estreias em geral, um bom futebol apresentado pelas duas seleções.

Sobre esse ponto, aliás, um dado que merece atenção. As Copas recentes se ressentem de partidas fechadas, com poucos gols, em que esquemas táticos e preocupação de não tomar gol se impunham. Difícil dizer que uma única partida diga muita coisa. Mas uma única partida, a primeira, sinaliza.

A sinalização talvez seja melhor visualizada pela atual Copa dos Campeões da Europa. Ou seja, não é um acontecimento fortuito do jogo de ontem, mas a percepção de que nos últimos anos o futebol confronta equipes que se expõem a vencer bem ou perder de modo inapelável. Lembro aqui como o Real Madrid venceu o Bayern em Munique e em seguida o Atlético na final da competição europeia; e igualmente como o mesmo Real perdeu para o Borussia Dortmund no ano passado.

Esse é o dado a ser visto com atenção, pois ele permite não só especular sobre o resultado de Brasil x Croácia, mas principalmente esperar por situações parecidas. Quer dizer, guardada a fragilidade de algumas seleções, não é que todo jogo em Copa do Mundo é difícil e hoje ninguém é bobo, como diz o clichê, mas sim que esse primeiro jogo antecipa uma Copa em que muitas partidas estarão expostas a diversas circunstâncias e alternâncias.

Dizendo de modo direto: se o futebol europeu servir de padrão, o que esse jogo pareceu revelar, não será surpresa para mim o indício de partidas com boa quantidade de gols. Isso não tem sido a norma, pelo que me lembro, desde a Copa de 90 – sob esse aspecto a mais fraca de todas as Copas.

Bem entendido, aqui não faço uma aposta, apenas expresso como vi a estreia do Brasil, como vi o andar da partida num ritmo muito similar a jogos da Copa dos Campeões. Para a torcida, que espera ver muitos gols, claro que é uma expectativa animadora. Mas também aqui, vale dizer, o sinal de que as seleções se exporão a circunstâncias diversas e riscos de alternâncias acachapantes.

A Croácia criou situações, pressionou no final e perdeu. Em certo sentido pode-se até dizer que não merecia a desvantagem de 3x1; mas o Brasil realmente jogou bem; melhor, nas oportunidades criadas fez por merecer o resultado. Ou seja, é isso vale para muitos cronistas esportivos que gostam de ver pelo em ovo: uma má partida e, a seguir a sinalização dada hoje, o enorme risco de uma derrota clamorosa. 

Essa Copa, parece, não dará chances às más apresentações. Creio ser esse o sinal mais notável deixado nesse jogo de estreia.

PS – erro de arbitragem decisivo para a seleção anfitriã logo na estreia também não é um bom sinal; mas isso é outro assunto.

*Humberto Pereira da Silva, 50 anos, é professor 
universítário de Filosofia e Sociologia e crítico de
cultura de diversos órgãos de imprensa.

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