domingo, 9 de fevereiro de 2020

Porto 3 x 2 Benfica - o domínio do Dragão e a passividade encarnada

CORRIQUEIRO Benfiquista a olhar a festa portista, algo comum nesta
 época quando ambos se encontram (Foto:Manuel Araújo/Lusa)
É incrível o que será dito aqui,  mas um time que, de 20 jogos, ganhou 18 e perdeu somente dois, que tem o artilheiro, o jogador que mais passes para gol deu,  o melhor ataque e a melhor defesa da competição, está longe ainda de garantir a taça. Mais que isso: sai do clássico com seu principal adversário moralmente derrotado porque não conseguiu se impor. Pior: foi subjugado, obrigado a jogar conforme o desejo do oponente. 

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Por duas vezes nesta Liga, o Porto obrigou o Benfica a jogar na bola longa, que é a condição em que é mais forte. Aí o Benfica perdeu a criação a partir do campo de defesa por causa da marcação sob pressão do Porto, e era esse justamente o ponto de dominação do time: ter a bola enquanto os extremos atacam os espaços na diagonal para receber os passes quebradores de linhas do marroquino Taarabt ou de um dos centrais. Com eles marcados, tinha que i) recuar o Pizzi; ii) centralizar o Rafa; iii) começar com o Cervi para dar largura e impedir que o Corona fizesse o que fez com o Grimaldo, que não marca nem cartela de bingo. Ou ao menos pô-lo em campo quando as dificuldades começaram a ser claras. 

Nada disso foi feito. 

Já o Porto teve o domínio do jogo porque forçou, sem oposição alguma, o Benfica a errar ao sair da zona de conforto e enfiou o tanque Marega entre o Ferro e o Grimaldo e o inspirado Sérgio Oliveira entre os volantes e os zagueiros, diminuindo o espaço de manobra para eles. Aí Luiz Diaz abriu do outro lado, impediu o André Almeida de descer para apoiar o Pizzi e o Taarabt ficou praticamente sozinho tentando achar um espaço para acionar Chiquinho, Pizzi, Rafa ou quem mais se mexesse, o que não aconteceu. No fim, o Porto recuou, o Benfica enfiou três centroavantes em campo (Seferovic, Dyego Souza e Vinicius), mas sem quem jogasse por baixo, justamente quando o posicionamento do Porto permitia, mas Taarabt já tinha saído (para evitar ser expulso, o que deveria ter acontecido, é bom que se diga) e Gabriel, com um problema ocular ainda por ser detectado, não jogou, não havendo quem pudesse fazer a bola chegar aos corredores. 

Azares.

É certo que o golo logo cedo condicionou um bocado as coisas, mas menos teria sido se o tento de empate marcado ainda antes do minuto 20 não tivesse sido um lance isolado. Há também a justa reclamação sobre a atuação do VAR no pênalti que originou o segundo gol portista, já que a análise é feita somente sobre o claro e flagrante toque da bola do braço aberto do mais uma vez desastrado e desastroso Ferro, quando havia a reclamação por parte dos benfiquistas por um suposto deslocamento com o braço de Soares nas costas do zagueiro, causando seu desequilíbrio e o consequente toque na bola. No entanto, o time de Bruno Lage foi passivo ante o domínio territorial dos donos da casa. Pior que isso, aceitou dançar o malhão tocado pelas concertinas de Sérgio Conceição, que deu ao jogo o ritmo que quis e quando o quis. O terceiro gol, este contra de Ruben Dias, mas com a participação de Vlachodimos, também nasceu do parque de diversões que foi o lado esquerdo da defesa lisboeta. 

Três gols pelo mesmo lado do campo, com um intervalo de mais de 35 minutos entre o primeiro e o último. Não é possível que só Sérgio Conceição viu que o caminho era por ali. 

A sequência de jogos que se avizinha promete ser a mais complicada até o fim da época, incluindo as meias-finais da Taça de Portugal, os dois jogos dos 16 avos-de-final da Liga Europa e a recepção ao Braga, que venceu sete dos oito jogos que fez desde que Rúben Amorim rendeu a Sá Pinto. E, neste meio tempo, um refresco contra o Gil Vicente, mas que pode muito bem ter um sabor um tanto azedo à turma de Lage.

● Famalicão, pela Taça de Portugal (ganhou o primeiro jogo em casa de virada por 3 a 2, nos acréscimos, mas só o fez com os titulares em campo);
● Braga (que ganhou 7 dos 8 jogos com o Rúben Amorim, incluindo o Porto e o Sporting por duas vezes cada)
● Shakhtar Donetsk (fora de casa)
● Gil Vicente (único a tirar ponto do Braga com o Rúben Amorim e um dos dois a ganhar do Porto);
● Shakhtar Donetsk (na Luz).

São cinco jogos em 17 dias. A sorte do Benfica é que o Porto só é encontrado em campo duas vezes pela Liga. Bruno Lage pode erguer as mãos para o céu pelos demais adversários não terem material humano para causar estragos semelhantes aos que os Dragões fizeram. Por duas vezes. 

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