quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

PORTUGUESA - Ó, tempo, volta pra trás

“Ó, tempo, volta pra trás,
Dá-me tudo o que eu perdi.
Tem pena e dá-me a vida,
A vida qu'eu já vivi.
Ó, tempo, volta pra trás,
Mata as minhas esperanças vãs.
Vê que até o próprio sol
Volta todas as manhãs.”

A antiga canção de Antonio Mourão (1935-2013) pede para o tempo retroceder e devolver as alegrias de quem as viveu, mas já não as tem. Certamente, quem torce pela Lusa e já teve o prazer de ouvir a marcha que abre este texto, já deve tê-la cantarolado, mesmo subconscientemente.

Este torcedor, entre um fado e outro, adoraria voltar ao tempo em que a Portuguesa disputava títulos, vencia clássicos, cedia jogadores à Seleção Brasileira ou a times de campeonatos mais endinheirados. E este tempo só voltará quando a Lusa fizer o que fazia, por exemplo, nos anos 90. Nem falamos dos anos 1950 ou 1960, quando algumas das grandes estrelas do futebol brasileiro vestiam a camisa da Lusa.

Sim, este colunista sabe que os tempos são outros e que as condições também, mas só se percorre um caminho quando o conhece ou quando há pernas para isso.

Para o tempo voltar para trás, é preciso não tomar um cartão amarelo aos 30 segundos de jogo e outro aos 20 minutos, e em lances nos quais nem era preciso fazer falta. Quem quer o que queremos não pode estar sujeito a ter o apito contra em todos os lances discutíveis e isso é feito com um trabalho nos bastidores. Usando um dos chavões mais surrados da bola, não é ser beneficiado; é não ser prejudicado. Ou anos menos contar com o respeito de quem apita.

Para o sol voltar na manhã seguinte, seria prudente não se desfazer de jogadores importantes antes de ter quem os substitua. Sem atrativos como um bom salário e uma boa vitrine que seja exposta durante toda a temporada, o trabalho de montagem do elenco é essencial e não permite erros.

O autor deste blog pede para o tempo dar-lhe tudo o que eu perdeu, mas ter um time capaz de vencer concorrentes diretos da parte de baixo da tabela não é pedir muito. Da mesma forma, a vida que já viveu era bem mais que perder um clássico sem dar um raio de um chute contra o gol adversário.

Não é muito.

Passar sete anos enfiado no inferno da Série A2 e alguns destes, como agora, sem calendário nacional, faz das horas dias e dos dias anos, como é cantado por Antonio Mourão, Tony de Matos (1924-1989), Roberto Leal (1951-2019) e quem mais tiver gravado. A diferença é que, agora, faltando sete jogos para o término da primeira fase do Paulistão, tempo é o que a Portuguesa menos tem para acertar a rota e impedir mais uma tragédia

E se algo em comum há entre o tempo e a bola, é que eles não têm pena de ninguém.

Texto originalmente publicado no NETLUSA

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