*Por Humberto Pereira da Silva
Imagem: Getty Images/iStockphoto |
Dudu é um bom jogador. Ou seja, é mediano, como tantos na história do futebol brasileiro. É de conhecimento geral o que ele simboliza no Palmeiras desde sua chegada ao Verdão, em 2015. É um dos expoentes de uma das equipes mais vitoriosas do Brasil nos dez anos recentes.
Mas, mediano, será esquecido em alguns anos, como tantos foram. Hoje, tenho certeza, poucos se lembram de Ailton Lira (do Santos), Pita (do São Paulo), Tupãzinho (do Corinthians), Edu Manga (do Palmeiras). Tendo a crer que, como esses aqui citados, que foram ídolos nos quatro grandes de São Paulo, Dudu, mediano como eles, será pouco lembrado.
Ao contrário deles, contudo, Dudu incluiu um dado em sua biografia. Ele se envolveu num mal explicado episódio de transferência do Palmeiras para o Cruzeiro. Se seus feitos no Palmeiras são insuficientes para fazer dele um ídolo eterno, caso seja lembrado no futuro, carregará uma marca: a trapalhada absurdamente constrangedora nessa negociação.
É muita ingenuidade supor um jogador de futebol profissional jogar por amor à camisa. É praticamente um contrassenso pensar isso em um mercado periférico economicamente, como o Brasil. Um jogador de futebol profissional projeta a carreira com o horizonte em contratos irrecusáveis. São profissionais, o que significa negociar pensando no quanto podem ganhar. O clube, e eventualmente a seleção, são vitrines para receber propostas com altos valores contratuais.
Dudu, a esse respeito, não se diferencia da cultura de negociação contratual de um jogador de futebol. Mas ele se atrapalhou muito nesse episódio de transferência mal sucedida e exibiu o que se deve esconder: a ganância. Mesmo antes, quando chegou ao Palmeiras, o jogador foi alvo de uma disputa que envolveu o Trio de Ferro (além de Palmeiras, Corinthians e São Paulo), chegando a estar apalavrado justamente com o Timão, maior rival histórico dos palestrinos.
Novamente seduzido por "proposta irrecusável", Dudu se enrosca outra vez, agora com um agravante. Ele, por livre e espontânea vontade, procurou o Cruzeiro. É o que ficou patente nas declarações dos presidentes dos clubes.
Não é o caso, óbvio, de julgar decisão profissional de ninguém. Mas é o caso considerar os efeitos de uma má decisão. E nessa atabalhoada decisão, a ganância. Se for esquecido no futuro, sua ganância será igualmente esquecida. O contrário, não sendo esquecido, é esse mal explicado episódio será lembrado.
A constrangedora atrapalhada de Dudu, infelizmente para ele, o exibiu nu quando todos fingem não ver a nudez. Refiro-me ao conto "A roupa nova do rei", de Hans Christian Andersen. Na cadeia alimentar regulada pelo mercado internacional de transferências, a camisa que um jogador de futebol profissional no Brasil veste é só fantasia, pois contratos com "proposta irrecusáveis" exibem os interesses que todos sabem e fingem não ver.
A ganância é defeito de caráter. Malícia para driblá-la é virtude. Vivemos num mundo de aparências. Dudu, e o antecedente só reafirma, infelizmente não teve habilidade para driblar a própria ganância.
* Humberto Pereira da Silva é professor de Ética em Jornalismo
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