quarta-feira, 15 de junho de 2016

O Brasil na Copa América Centenária

Por Humberto Pereira da Silva*
Na noite fria e outonal paulistana, assisti ao jogo entre Colômbia e Costa Rica pela centenária Copa América. Classificada em seu grupo ao lado os Estados Unidos, a Colômbia entrou em campo contra a desclassificada Costa Rica com time misto para cumprir tabela. 

Os reservas da Colômbia acabaram surpreendidos e o jogo terminou com o placar de 3 a 2 para os costa-riquenhos. Vendo o jogo pela TV, ouvi comentários de que faltou seriedade ao treinador colombiano. Com a derrota, os Estados Unidos ficaram com o primeiro lugar no grupo.

A questão levantada durante a transmissão era da inconveniência com o risco da segunda colocação: pegar o Brasil, eventual primeiro lugar em seu grupo. Por que o treinador colombiano teria optado por preservar sua equipe titular quando isso o colocava na iminência de enfrentar o Brasil na fase seguinte da competição? A Colômbia não teria “medo” do Brasil?

Durante o jogo, com a derrota colombiana cada vez mais evidente, o comentário era de que sua atual geração é forte e que para o Brasil seria mais tranquilo pegar os Estados Unidos. Ao final do jogo a discussão era: a Colômbia devia ter medo do Brasil, e não o contrário; essa é a condição natural entre as duas seleções, ainda que fosse melhor cruzar com os ianques.



Nisso tudo, de modo debochado, surgiu a ideia de que uma combinação quase impossível colocaria o Brasil na segunda colocação em seu grupo. O Equador teria de fazer uma diferença superior a seis gols no Haiti; enquanto o Brasil teria que... empatar com o Peru.

Uma combinação difícil de ocorrer. Líquido e certo que numa partida decisiva o Brasil não empataria com a frágil seleção peruana; nem que, sob pressão, mesmo contra o amador Haiti, fosse fácil um placar para o Equador acima dos seis gols.

O Equador, para seu azar, empatara com o Peru. Teria então de se contentar com a segunda colocação no grupo. Tudo perfeitamente natural, pois o Equador estava no grupo do Brasil.

Com o jogo entre Colômbia e Costa Rica encerrado, em tom de deboche, a definição do próximo adversário do Brasil: a Colômbia; mas, lembra um dos comentaristas, isso ainda precisa ser combinado com o Peru...

Pois é, eis a anedota: no domingo o Equador fez apenas quatro gols no Haiti; mas o Brasil perdeu para o Peru... Discutir a eliminação do Brasil pela segunda vez na história na fase de grupos da Copa América? Discutir a... seleção de Dunga? Para quem faz isso por ofício profissional, sinto tristeza e certo dó.

Desde a Copa de 2014 não há Seleção Brasileira. Há sim a imagem patética, grotesca, estapafúrdia e caricata do que, como usurpação, hoje recebe o nome de Seleção Brasileira. Dunga? Os Jogadores??? Convenhamos, trata-se para mim de uma piada sem graça.

Se não for preciso desenhar, então que fique claro: sem uma mudança radical na estrutura do futebol brasileiro – o que acho improvável, pois a derrota na Copa de 2014 caiu no anedotário – as próximas competições em que a “seleção” participar serão marcadas pela tentativa de não dar “vexame”.

Assim continuando, vaticino, passados alguns anos e restarão pálidas lembranças de que aqui, algum dia, foi o "País do Futebol". Qualquer discussão fora disso se resume a balbucios, singularidades vazias que preenchem conversas alienadas.

*Humberto Pereira da Silva, 52 anos, é professor 
universítário de Filosofia e Sociologia e crítico de
cultura de diversos órgãos de imprensa.

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