Por Humberto Pereira da Silva*
Na noite fria e outonal paulistana, assisti ao jogo entre Colômbia e Costa Rica pela centenária Copa
América. Classificada em seu grupo ao lado os Estados Unidos, a Colômbia entrou
em campo contra a desclassificada Costa Rica com time misto para cumprir
tabela.
Os reservas da Colômbia acabaram surpreendidos
e o jogo terminou com o placar de 3 a 2 para os costa-riquenhos. Vendo o jogo
pela TV, ouvi comentários de que faltou seriedade ao treinador colombiano. Com
a derrota, os Estados Unidos ficaram com o primeiro lugar no grupo.
A questão levantada durante
a transmissão era da inconveniência com o risco da segunda colocação: pegar o
Brasil, eventual primeiro lugar em seu grupo. Por que o treinador colombiano
teria optado por preservar sua equipe titular quando isso o colocava na
iminência de enfrentar o Brasil na fase seguinte da competição? A Colômbia não
teria “medo” do Brasil?
Nisso tudo, de modo debochado, surgiu a ideia de que uma combinação quase impossível colocaria o Brasil na segunda colocação em seu grupo. O Equador teria de fazer uma diferença superior a seis gols no Haiti; enquanto o Brasil teria que... empatar com o Peru.
Uma combinação difícil
de ocorrer. Líquido e certo que numa partida decisiva o Brasil não empataria
com a frágil seleção peruana; nem que, sob pressão, mesmo contra o amador
Haiti, fosse fácil um placar para o Equador acima dos seis gols.
O Equador, para seu
azar, empatara com o Peru. Teria então de se contentar com a segunda colocação
no grupo. Tudo perfeitamente natural, pois o Equador estava no grupo do Brasil.
Com o jogo entre
Colômbia e Costa Rica encerrado, em tom de deboche, a definição do próximo
adversário do Brasil: a Colômbia; mas, lembra um dos comentaristas, isso ainda
precisa ser combinado com o Peru...
Pois é, eis a anedota:
no domingo o Equador fez apenas quatro gols no Haiti; mas o Brasil perdeu para
o Peru... Discutir a eliminação do Brasil pela segunda vez na história na fase
de grupos da Copa América? Discutir a... seleção de Dunga? Para quem faz isso
por ofício profissional, sinto tristeza e certo dó.
Desde a Copa de 2014
não há Seleção Brasileira. Há sim a imagem patética, grotesca, estapafúrdia e
caricata do que, como usurpação, hoje recebe o nome de Seleção Brasileira.
Dunga? Os Jogadores??? Convenhamos, trata-se para mim de uma piada sem graça.
Se não for preciso
desenhar, então que fique claro: sem uma mudança radical na estrutura do
futebol brasileiro – o que acho improvável, pois a derrota na Copa de 2014 caiu
no anedotário – as próximas competições em que a “seleção” participar serão
marcadas pela tentativa de não dar “vexame”.
Assim continuando,
vaticino, passados alguns anos e restarão pálidas lembranças de que aqui, algum
dia, foi o "País do Futebol". Qualquer discussão fora disso se resume a balbucios,
singularidades vazias que preenchem conversas alienadas.
*Humberto Pereira da Silva, 52 anos, é professor
universítário de Filosofia e Sociologia e crítico de
cultura de diversos órgãos de imprensa.
universítário de Filosofia e Sociologia e crítico de
cultura de diversos órgãos de imprensa.
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