Começou a corrida pela Presidência da República. O PT lançou, oficialmente, a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ainda não se sabe quem comporá a chapa com ela. Ciro Gomes, do PSB, um dos mais cotados, assume o papel de "noiva cobiçada". Ainda não decidiu se subirá no palanque de Dilma ou se sairá candidato ao governo de São Paulo. Caso dispute a cadeira do Palácio dos Bandeirantes, o fará com o intuito de "roubar" votos do candidato do PSDB (possivelmente Geraldo Alckmin).
Outro nome provável para ser o imediato da "mãe do PAC" é o do peemedebista Michel Temer. Aqui há um entrave: Lula teme que Temer, experiente que é, reluza mais que a própria candidata e, pela sua enorme influência, transfira o epicentro do poder do Palácio do Planalto para o Palácio do Jaburu, a residência oficial do vice-presidente.
Trata-se de um quebra-cabeça dos mais complexos: O PT demorou tentando encontrar um nome que aliasse sua aceitação pública ao carisma do presidente Lula. Não encontrou e criou, a toque de caixa, um programa social para alavancar a ministra que, por ser quase anônima, não exibe na testa o rótulo de rejeição que têm alguns dos personagens mais emblemáticos da sigla, como Marta Suplicy, José Genoíno e Antonio Palocci.
O que se sabe, de concreto, é que Ciro estará com o PT - e vice-versa. Se sair como vice de Dilma, a tendência é que o partido tente emplacar um dos seus senadores (Eduardo Suplicy ou Aloísio Mercadante) ou o ministro da Eduacação, Fernando Haddad, como candidato à sucessão de José Serra, que é o mais provável candidato dos tucanos para o lugar de Lula.
Lula, aliás, sabe que a imagem do seu partido não é das melhores. Sabe, também, que tem carisma para catapultar a candidatura de quem quer que seja, dentro da base aliada, do PT ou não. Acontece que Dilma é exatamente o inverso: não tem carisma algum. Por isso, o presidente já afirmou que faz-se necessário inaugurar tantas obras do PAC quantas forem possíveis até o pleito de outubro. Até por isso, Dilma é candidata, de fato, desde o meio do ano passado, o que é crime eleitoral. Ninguém disse que era, mas também não houve quem negasse. E fez-se vistas grossas. É a máxima "aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei" em seu estado mais bruto e descarado. O governo Lula, diga-se de passagem, é useiro e vezeiro nisso.
Do outro lado da contenda eleitoral, o representante dos tucanos terá que conviver com a indigesta companhia do DEM, seu aliado de sempre. O escândalo que ficou conhecido como "mensalão do DEM do Distrito Federal" tornou o partido uma companhia das mais indesejáveis e indesejadas. No entanto, não se pode abrir mão de qualquer apoio, seja de quem for. Caberá, aos marqueteiros da campanha, desvincular a imagem do ex-governador José Roberto Arruda e toda sua patota da imagem do próprio partido.
É certo que o escândalo mais recente da política tupiniquim será usado - e muito -, na campanha eleitoral, justamente por aqueles que mais se envolveram com o outro mensalão, o do "Valerioduto". Eles sentarão sobre o próprio rabo e apontarão para as maracutaias alheias, já que a memória do eleitor é curta e a dos políticos, por sua vez, é oportunista.
Falando em oportunismo, quem assite a tudo, e de camarote, é o PMDB. Seja qual for o vencedor, ele estará no poder para continuar mamando nas tetas das estatais e de alguns ministérios. Tudo em nome da governabilidade, claro. É assim desde a redemocratização do Brasil, quando José Sarney herdou, de Tancredo Neves, a presidência. Aliás, Sarney já esteve do lado dos militares. Notem que há muito tempo o partido não lança candidato próprio à presidência. Percebeu que é mais cômodo estar aliado ao governo, seja ele qual for.
Dessa forma, PT e PSDB polarizarão a disputa. Outros nomes podem até chamar a atenção, como os de Heloísa Helena e Marina Silva, que até são capazes de tirar votos, mas não o sono deles. Infelizmente.