quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

O Benfica e a dimensão europeia

OS MELHORES EM CAMPO Benfica só foi bem quando teve os
principais jogadores em ação (Quality Sports Images)

Reza a sabedoria futebolística que os melhores jogadores devem ser escalados nos principais jogos. Mais que sabedoria, que poucos a têm, é uma questão de lógica, que todos deveriam seguir. Os dois últimos jogos do Benfica na fase de grupos da Liga dos Campeões mostram que, se a lógica fosse seguida por Bruno Lage, os Encarnados teriam grandes chances de seguir adiante até como primeiros colocados do Grupo F, o mais equilibrado de toda a prova.
O empate que era vitória por 2-0 até o minuto 90 na Alemanha e a vitória incontestável sobre o Zenit, atirando os russos para fora das competições europeias, foram as únicas partidas em que Lage mandou a campo o que havia de melhor. Não o tal "melhor onze para a ocasião", tanto defendido após os desastrosos jogos feitos nas quatro primeiras rodadas - incluindo a vitória por 2-1 sobre o Lyon na Luz, que caiu do céu na forma de um presente dado por Anthony Lopes para Pizzi quando os franceses já demonstravam argumentos sólidos para vencerem o jogo.

Pizzi, o jogador mais influente da equipe na ausência de Rafa e que é o meia mais goleador do futebol europeu na temporada, fez seu primeiro jogo inteiro pela competição somente na última rodada, quando somente a Liga Europa era possível. E foi assim, com seus melhores jogadores em campo, que o Benfica fez suas melhores partidas pela Liga dos Campeões, contra Leipzig e Zenit.

Podendo ser cabeça-de-chave nos 16 avos de final da Liga Europa, na qual entrará em fevereiro e que ainda pode contar com mais três emblemas portugueses (Sporting e Braga já estão classificados e o Porto pode fazê-lo hoje, caso vença o Feyenoord), Bruno Lage tem a chance de, com melhores escolhas que as que tem tomado desde a Liga Europa da temporada passada, quando também poupou jogadores e caiu para o Eintracht Frankfurt nas quartas-de-finais, conduzir o Benfica à disputa do título da segunda competição de clubes do continente.

É o limite. É a tal dimensão europeia de que tanto falam.

sábado, 30 de novembro de 2019

Portugal e o sorteio da Eurocopa - maldito sorteio


COM EMOÇÃO? Lahm "sorteia" Portugal (Daniel Mihailescu/AFP)
A fatura pela caminhada claudicante ao Euro'20 chegou quando Lahn tirou a bolinha com o nome de Portugal no pote 3 do sorteio para a formação dos grupos da segunda maior competição de seleções do mundo. O atuais donos da Europa foram colocados para nadar no tanque onde estarão Alemanha e França, os últimos campeões mundiais.

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Portugal, que não é nenhum coitadinho e é bom que se diga, não foi para o pote dois por causa de um ponto. Sabe aquela bola na barra de Danilo no jogo contra a Ucrânia? Não foi isso não. Foi a postura engessada e pouco criativa da turma de Fernando Santos ao longo da partida contra a equipe mais bem organizada e treinada do grupo que lançou a Equipa das Quinas aos outros tubarões. Se tivesse empatado, Portugal teria 18 pontos - os mesmos da Ucrânia, na melhor das hipóteses - e escaparia das mãos sedentas por vingança dos franceses.

Historicamente, Portugal se dá bem em grupos complicados. Na Eurocopa de 2012, alinhou com Alemanha - para quem perdeu, claro - e Holanda - de quem ganhou, claro -, além da Dinamarca, que também superamos; em 2000, fez o pleno de pontos contra Alemanha, Inglaterra e Romênia. Já em grupos mais acessíveis, costumamos nos enrolar, como aconteceu nas Copas do Mundo de 2002 (Estados Unidos, Coreia do Sul e Polônia) e 2014 (Alemanha, Estados Unidos e Gana). Até em 2016, contra as apatecíveis Austria, Islândia e Hungria, passamos com as calças em uma mão e o rosário na outra.

O problema nem é esse, já que a gestão Fernando Santos teima em desafiar a lógica e ganhar títulos. Se a tradição mostra que os Tugas superaram adversários fortes, é exatamente contra eles que o futebol apresentado ultimamente não costuma dar para as contas, exatamente o oposto do que aconteceu quando vencemos os ingleses e despachamos os alemães em 2000 ou quando eliminamos os holandeses em 2012. Naquelas ocasiões, Portugal vinha jogando muito bem, o que tem sido raríssimo com o Engenheiro do Penta.

A sorte é que a estreia é contra quem vier do Grupo A da repescagem, que pode ser Bulgária, Hungria ou Islândia (se passar a Romênia, ela irá para o Grupo C, já que é uma das anfitriãs, vindo o time que vencerá entre Geórgia, Bielorrússia, Macedônia do Norte ou o perigoso Kosovo), e uma vitória poderá bastar para não quebrar a escrita de nunca ter ficado na fase de grupos, nas sete vezes anteriores em que Portugal disputou o europeu. 

São sete participações: seis seguidas, com cinco semifinais, duas finais e um título. É um dos cartéis mais respeitados do futebol europeu, e com dois dos dez melhores jogadores do mundo, mais o sem número de talentos que garante a Fernando Santos o melhor grupo de jogadores que nem Oto Glória ou Felipão tiveram à disposição. Basta ver se Portugal será o time leve que colocou a Holanda na roda na final da Liga das Nações ou a equipe com poucas ideias, mas difícil de ser batida - e de vencer também -, que tem sido praxe nos últimos tempos.   

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

RasenBallsport Leipzig 2 x 2 Benfica - a nova vergonha europeia

TF Images

Quando Julian Nagelsmann disse que o jogo entre o seu RB Leipzig e Benfica seria um duelo entre Davi e Golias e que os alemães eram os gigantes do confronto, houve uma gritaria em Portugal. Onde já se viu um time que está em sua segunda participação na Liga dos Campeões colocar-se tão acima do remoto bicampeão europeu?

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Mas é exatamente este o tamanho europeu do atual Benfica. Não adianta nada ser um tubarão em Portugal se, para além das fronteiras, não passar de um carapau. Já são três temporadas seguidas sem superar a fase de grupos, que irrompeu apenas três vezes nesta década, na qual a presença não falhou uma vez sequer. E são apenas quatro vitórias nos últimos 20 jogos, contando uma edição com seis derrotas.

O empate que ditou a eliminação da edição 2019-2020, por si só, nem é um descalabro. Afinal, na Alemanha, foi a primeira vez que o Benfica pontuou pela competição. Havia perdido os 11 jogos anteriores. O que faria prever uma situação diferente hoje?

Abrir 2 a 0 aos 60 minutos poderia supor a quebra de tal escrita, além de deixar os Encarnados às portas das oitavas-de-final, bastando vencer o Zenit em casa na última rodada do grupo. Mas aí pesou a inexperiência de Bruno Lage em jogos deste calibre. Foram três substituições após o minuto 80, sendo duas equivocadas e a terceira após o 2 a 2, quando mais nada havia a fazer.

Bruno Lage, que colocou o Benfica na fase de grupos ao protagonizar a improvável arrancada da época passada, errou desde o primeiro jogo da liga milionária. Escolheu jogadores errados, escalou como titulares quem sequer ficava no banco de reservas nos jogos anteriores e, esta noite, mandou a campo o avançado Caio Lucas quando a prudência mandava Florentino entrar, já que o RB Leipzig agigantou-se ao diminuir o placar ante uma equipe animicamente morta em campo, e ainda com seis minutos a contar nos acréscimos.

O jogo, mesmo, seguiu o roteiro que poderia ser comum e aceitável caso o Benfica não dependesse desesperadamente de vencer para seguir vivo. O time fechado, organizado e contra-atacando quando podia, ao passo que os donos da casa chegavam e desperdiçavam tantas quantas chances foram criadas. 

E assim foi até os 82 minutos, com 2 a 0 a favor porque Bruno Lage não inventou ao lançar no 11 jogadores menos utilizados n'outros jogos, como Tomás Tavares, Jardel e Gedson Fernandes. André Almeida, por exemplo, fez sua estreia nesta edição, e teve mais ações defensivas que a soma de Tavares nos jogos em que atuou. Até que Lage começou a promover as trocas. 

Raúl De Tomas, que acabara de entrar no lugar de Carlos Vinicius, quase fez um gol antológico do meio-campo, o que segurou o ímpeto do Leipzig por oito minutos. Esse foi o tempo em que os da Saxônia ficaram sem incomodar, o suficiente para baixar a guarda benfiquista e a desgraça se desenhar na Red Bull Arena Leipzig a partir do início dos acréscimos de nove minutos de intenso terror para os encarnados.

Quando foi preciso fazer a leitura correta da partida, Lage falhou com louvor. Primeiro, colocando De Tomas para executar o mesmo papel de Carlos Vinícius. O touro que segurava os defensores na área dando lugar a um avançado altamente técnico, mas pouco combativo, o que fez que a troca não surtisse o efeito desejado. Pizzi, melhor homem em campo, saiu para ser rendido pelo desastroso e injustificável Caio Lucas, que nem vinha sendo relacionado e, de repente, apareceu entre as opções. Ao entrar, o camisa 7 deixou o lado direito, onde Pizzi e André Almeida controlavam o jogo na medida do possível, como uma autêntica autoban, por onde o porsche alvirrubro atropelou o adversário sem a menor dificuldade. Em vez dele, se era para ter em campo um jogador que agredisse o adversário, Lage poderia ter feito entrar Gedson Fernandes, jogador com mais argumentos para fazer a função, mas que estava, por opção do mister, a ver o jogo das tribunas. Ou manter Pizzi, o melhor e mais lúcido benfiquista em campo, colocando Florentino no lugar Chiquinho, que se arrastava. 

Ao fim e ao cabo, a sensação que ficou é que, caso Bruno Lage desse à Liga dos Campeões a importância que merecia e mandasse a campo um time sem invencionices e com os melhores disponíveis a cada jogo, o Benfica teria chegado à Alemanha podendo até perder e ainda teria a chance de garantir a classificação na última jornada. 

Para deixar de ser o Bate Borisov que fala Português e assumir a tal dimensão europeia que tanto se orgulha de ter, há de ser mais ousado no mercado, contratando pés e cabeças qualificadas e experimentadas para segurarem o rojão que os verdes anos dos recém-promovidos do Seixal não permitem fazê-lo.

Não adianta planear chegar às finais com uma equipa cuja base vem do Seixal se, à primeira investida mais forte, perde os valores que mais se destacam. E só há duas maneiras de se fazer isso: pagando salários que permitam segurar os melhores jogadores; e tendo um projeto desportivo ambicioso, e que funcione na prática, coisa que o Benfica não tem. 

Vlachodimos: prolongou o sonho com defesas monumentais;
André Almeida: por que diabos não jogou antes?
Rúben Dias: o futuro melhor zagueiro do mundo mostrou por que ainda não é o melhor zagueiro do mundo ao cometer o pênalti que originou o primeiro gol alemão;
Ferro: por que diabos não jogou antes?

Grimaldo: renovou contrato essa semana. Por quê, meu Deus? Por quê?
Gabriel: fez o que podia, mas tem podido cada vez menos;

Taarabt: atuação de gala enquanto teve fôlego. Participou dos dois gols;
Pizzi: alguns já se recusaram a deixar o relvado. O Pizzi poderia ter feito o mesmo (Caio Lucas: é o menos culpado por estar em campo quando deveria estar no Benfica-B, isso se devesse estar);
Cervi: o Rafa só volta em fevereiro, né? (Jota: pfff!);
Chiquinho: esteve abaixo, mas ainda abaixo faz mais que o Caio Lucas. Suspeito que também assim era quando estava lesionado;
Carlos Vinícius: queimou minha língua pela nona vez, mas vai errar passes em contragolpes assim lá na...(Raúl De Tomas: ah, se aquela bola entra...)

Bruno Lage: só de reclamações, caberia aqui um texto maior que este. 

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

No caso da 'morte' de Gugu Liberato, só quem morreu foi o Jornalismo

Foto: Antonio Chahestian/Record TV
É desastroso o papel desempenhado por alguns jornalistas e veículos de comunicação no caso do acidente do apresentador Gugu Liberato. O diz-que-diz, para não chamar de fofoca, que envolve o trabalho de porco feito por parte da imprensa, é um nojo. É tudo aquilo que um jornalista, de qualquer editoria, quem quer que ele seja, não pode fazer. 

Ninguém pode dar notícia que não existe, por mais que seja de algo iminente. É iminente, ou pode ser, mas não é fato. O trabalho da imprensa é informar, só que isso envolve uma série de observações a serem feitas: é necessária, antes de qualquer coisa, uma apuração cuidadosa, cujo único critério a ser observado é o respeito aos familiares, aos amigos.

E daí que os outros podem dar? É furo? Morte de celebridade não é furo. É uma notícia que deve ser dada quando puder ser dada, com ética, respeito e cuidado. Como qualquer outra. Ou melhor, envolve muito mais cuidado do que algo que somente justifique uma "errata" num cantinho de uma página qualquer.  

Não se usa "suposta morte". Não se pode escrever ou falar "teria tido morte cerebral". Não é o caso de divulgar e depois apurar e, se for o caso, retificar. Jornalismo não é fofoca. Prestação de serviço que não presta é desserviço.

Quando o imenso Ricardo Boechat faleceu, muita gente já sabia, mas não se noticiou antes que a família soubesse, e antes que a Band, onde ele trabalhava, divulgasse. Aí podemos discutir se a prioridade à emissora é válida. Aos familiares, é mais que obrigação profissional, é questão de caráter, de dignidade. Eles nunca devem saber pela imprensa. Nunca, em tempo algum. Não há hipótese ou mas que justifique o contrário. Se houver, reveja. Se ainda assim, você achar que há, levante-se e saia: você não serve para ser jornalista.

Talvez nem para ser gente você preste.

Atualização: Augusto Liberato, 60, teve seu falecimento confirmado algumas horas depois de este texto ser publicado.

domingo, 17 de novembro de 2019

Luxemburgo 0 x 2 Portugal - Campeão garantido na Euro, mas há muito o que melhorar

PARA O GASTO Deu para superar o gramado, o adversário
 e o pragmatismo, mas é preciso mais para revalidar
 o título europeu (Foto: Catherine Steenkest)
 
Já está! Portugal garantiu a presença na Eurocopa pela oitava vez, a sétima consecutiva, como era de se esperar. O que não era lá tão previsível assim foi o custo para garantir a possibilidade de defender o estatuto de campeão dentro de um grupo acessível, olhando à partida.


Ou melhor, era sim. Ou pior. Ao menos contra Luxemburgo, ainda mais depois que o 11 inicial foi divulgado. Tudo bem que o relvado do estádio Josy Barthel mais parecia um campo de batatas, mas o histórico de partidas irritantes pela pouca ousadia do treinador mais vitorioso da história da Selecção Portuguesa faz com que dividamos a culpa pela partida difícil de se assistir entre o verde e marrom campo de jogo e as escolhas do mister. E foi justamente o futebol irritante e arrastado de outros jogos que se viu novamente.

Antes da partida, Santos havia alertado que Luxemburgo é um time melhor que a terrível Lituânia e que o gramado seria outro obstáculo a ser superado, mas que os jogadores achariam o caminho. Isso explica o retorno de Danilo Pereira, excelente na cobertura dos alas e na marcação, mas de passe burocrático e previsível. Portugal tinha mais segurança, mas os espaços criativos diminuíram consideravelmente. Mas é preciso, contra Luxemburgo, tantos dedos? Tantos cuidados? As outras mudanças iniciais foram André Silva no lugar de Gonçalo Paciência, de grande atuação contra os lituanos, mas que sequer saiu do banco; e Raphael Guerreiro no lugar de Mário Rui. Aqui, melhor seria uma caixa de madeira com rodas e alguém a empurrá-la no lugar de qualquer um dos dois.

Marcação alta dos da casa, jogo amarrado e a Sérvia ganhando à Ucrânia logo de cara. Tudo para dar cores dramáticas à jornada, mas havia Bernardo Silva. E o melhor jogador de Portugal nestas Eliminatórias tratou de tirar o coelho da cartola e dar um passe milimétrico de mais de 40 metros, digno de Tom Brady, para Bruno Fernandes dominar com rara beleza e bater seco, rasteiro, para acalmar as coisas e recolocar Portugal na rota da Eurocopa.

O segundo tempo foi um exercício de paciência para o torcedor. Luxemburgo queria jogo, mas não conseguia; Portugal queria o fim do jogo e nada fazia para espantar a possibilidade de ser surpreendido, o que poderia deitar por terra o apuramento direto, já que os sérvios novamente estava à frente e dependiam de um golito de Luxemburgo. E assim foi até quase ao cabo da partida, quando Bernardo Silva, só para não variar, deu outro passe teleguiado, achando Diogo Jota no segundo pau. Domínio bonito, chute torto mas feliz o suficiente para tirar o goleiro Moris da jogada e, já dentro do gol, literalmente, Cristiano Ronaldo, em má jornada, puxar dos galões para colocar o pé na bola e marcar o seu gol de número 99 a serviço da Equipa das Quinas.


ANDA LÁ ÀS REDES, Ó, MIÚDA! Cristiano beija a bola, mas
gol 99 só foi sair no fim do jogo (Foto: Soccrates Images) 
Dos males o menor: não foi num jogo insosso desses que Cristiano marcou o centésimo tento, até porque não teve lá muitas chances para isso. Além do gol, que deveria ser anotado para Diogo Jota, pois Ronaldo tocou na bola após esta passar a linha completamente, teve mais dois remates, ambos perigosos. Em compensação, foi uma vitória duplamente histórica: a de número 300 de Portugal (coincidentemente contra o mesmo freguês das vitórias 100, 200 e 250) e também o triunfo que garante a Fernando Santos o status de treinador com mais vitórias à frente dos Tugas: 43, uma a mais que Felipão.

Alternando bons e maus momentos, Portugal se classificou, o que era sua obrigação. Porém, terá que jogar mais para superar equipes melhores, o que raramente consegue, apesar do excelente elenco que tem, levando em conota ainda a hipótese clara de estar no pote 3 do sorteio do próximo dia 30, o que pode colocar os lusos em um grupo com outros dois tubarões. Ser campeão, então, será praticamente um milagre. A não ser que sejamos merecedores de dois. O primeiro milagre já aconteceu em 2016. 


Rui Patrício: dois jogos, nenhuma defesa, mas passou bastante frio.
Ricardo Pereira: ao menos o calor que tomou de Gerson Rodrigues aqueceu sua alma - e gelou a nossa.
José Fonte: após a folga de dentro do campo que teve contra a Lituânia, trabalhou um bocado.
Rúben Dias: o futuro melhor zagueiro do mundo nos livrou de tomar o golo que poderia nos mandaria para a repescagem e nos jogar ao pote 4 na melhor das hipóteses.
Raphael Guerreiro: será este o irmão gêmeo daquele lateral seguro que nos ajudou a conquistar o Euro?
Danilo Pereira: erra passes com a mesma facilidade com que destrói sonhos de armardores adversários. 
Pizzi: gastou a bola contra a Lituânia. Gastou tanto que ficou sem para hoje (João Moutinho: entrou, mas foi como se não tivesse entrado).
Bruno Fernandes: a felicidade ao comemorar o gol contrastou com a tristeza ao se lembrar de que, na segunda, volta ao Sporting (Rúben Neves: três minutos em campo só para justificar o aquecimento).
Bernardo Silva: brilhante até mesmo quando não quer ser. O suficiente para me fazer voltar a gostar de futebol. 
André Silva: ficou sem jeito de chutar ao gol quando viu que Cristiano Ronaldo estava livre, mesmo pior colocado. Como avançado vive de golos - ok, Tite e Bruno Lage discordam -, perdeu terreno na briga por um lugar no Euro (Diogo Jota: teve seu primeiro golo pela Seleção "roubado" por Cristiano Ronaldo, mas não reclamou de nada, nem fez cara feia. Deve ter garantido assim o lugar no Euro). 
Cristiano Ronaldo: os golos que sobraram no Algarve faltaram hoje, mesmo o gol que "marcou".  
Fernando Santos: foi o velho Fernando Santos que conhecemos: burocrático, chato, e foi assim que nos deu o Euro 2016. Para 2020 será preciso mais. 
   


sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Portugal 6 x 0 Lituânia - Enfim, futebol

DESDE CABRAL Portugal não apresentava um centroavante
 tão bom (Octavio Passos/Get Images)


Em setembro, a Federação Portuguesa de Futebol lançou a campanha #DeixaJogar para tentar coibir maus comportamentos em todos os segmentos ligados ao futebol português. Clique aqui e veja. Pouco mais de dois meses depois, finalmente, foi a vez de Fernando Santos encampar a iniciativa e deixar seus miúdos a jogar sem as amarras táticas de seu treinador, um mau hábito que já vinha há tempos incomodando.


Após o desaire contra a Ucrânia, que deixou Portugal alijado do lote de cabeças-de-série da Eurocopa, o Engenheiro recebeu um grupo com oito desfalques por lesão: Nelson Semedo, Pepe, William Carvalho, André Gomes, João Mário, Rafa Silva, João Félix e Gonçalo Guedes. Ainda assim, mandou a campo o melhor 11 possível para enfrentar o time mais fraco do grupo, a Lituânia.

A revolução contou com sete mudanças com relação aos que começaram o sofrível jogo de Kiev: nas laterais, Ricardo Pereira e Mario Rui renderam a Nelson Semedo e Raphael Guerreiro (nunca sei onde colocar o raio da trema do nome dele. Deixa como está); Pepe cedeu o lugar a José Fonte; o meio-de-campo foi inteiramente modificado, com Rúben Neves, Pizzi e Bruno Fernandes nas vagas que foram de Danilo Pereira, João Moutinho e João Mário; na frente, sem Gonçalo Guedes, o escolhido foi outro Gonçalo, o Paciência. Apenas Rui Patrício, Rúben Dias, Cristiano Ronaldo e Bernardo Silva foram mantidos no time titular.

Mais do que nomes, o essencial foi a mudança na forma de atuar. Finalmente houve em campo um time que tinha qualidade para trocar passes e se movimentar em busca de criar oportunidades, valendo-se do melhor de cada um dos 11 que estiveram em ação no Algarve, numa espécie de 4-3-3 que andou a ser um 4-1-3-2 na maior parte do jogo, sem que ningúem guardasse posição, com destaques para Ronaldo, pelos três golos; Paciência, pelo jogo coletivo; e Bernardo Silva. Claro que o nível - ou a falta de um - do adversário facilitou o trabalho, mas era muito mais cômodo manter-se fiel ao sistema de jogo que tem sido utilizado e fiar-se numa vitória tranquila para convencer que sim, estamos num bom caminho, do que alterar tudo o que fosse possível, como fez Fernando Santos.

E lá foi o time com Rúben Neves a começar com classe e lucidez desde os primeiros movimentos na criação das jogadas, ainda na zona intermediária de jogo, pouco habituais quando é Danilo Pereira quem joga; com Pizzi, Bruno Fernandes e Ricardo Pereira fazendo o diabo pelo corredor direito; com Gonçalo Paciência a parecer que jogava na equipa desde que seu pai o fizera, ainda nos anos 1990; com Cristiano Ronaldo letal como quase sempre; e com Bernardo Silva, o Pequeno Genial, carimbando e organizando todas as jogadas portuguesas, pelo meio, pelos flancos, dentro ou fora da área. Dos seis golos, três tiveram participação direta dele. Onde estivesse Bernardo, para lá ia a bola também.

Este foi o ponto crucial que dá esperança para jornadas melhores contra seleções melhores. Tudo bem que não se deva levar a sério a Lituânia, que em momento algum impôs qualquer tipo de dificuldade aos lusos, que não impediu que Pizzi se colocasse atrás dos volantes e tivesse apenas os zagueiros à frente em boa parte da partida, e que era incapaz de aglutinar até seus dois beques, oferecendo espaços para quem quisesse por ali, mas o fato é que as ideias de jogo apareceram.

TOCANDO O TERROR Quarteto da foto causou estragos
 na Lituânia (Octavio Passos/Getty Images)

Repito: o mais importante na partida em que um vento na direção contrária daria mais trabalho que a Lituânia é que, mesmo com as facilidades. Fernando Santos não caiu na tentação de usar o sistema de três atacantes pouco móveis que, invariavelmente, não funciona. Mesmo Portugal perdendo a chance de fazer uma goleada histórica, de dois dígitos, o caminho esteve lá e isso é o que importa.    

Para carimbar o passaporte à sétima Eurocopa seguida - e oitava no total - e defender o estatuto de dono da Europa, basta a Portugal que neste domingo vença Luxemburgo, para quem perdeu somente uma vez na história, justamente na estreia de Eusébio pela equipe nacional. Um empate ou uma derrota ainda bastam, desde que a Sérvia, terceira com um ponto a menos, não faça nada melhor contra a já classificada Ucrânia, que será cabeça-de-chave na Euro caso vença. Há ainda a hipótese de Cristiano, que somou mais três golos à conta, chegue ao tento de número 100 somente pela Seleção. A ele, que já marcou 10 nos sete jogos desta fase eliminatória, faltam somente dois.

Que o #DeixaJogar seja o mote lá também.

Rui Patrício: foi aplaudido quando tocou na bola pela primeira vez, já depois de uma hora de jogo. Há quem diga que saiu para jogar uma sueca, mas ninguém terá notado, pois a bola não andou pela sua área.
Ricardo Pereira: lembrou-me os treinos contra cones, exceto pelo fato de os cones atrapalharem mais que os lituanos. Em todo caso, entrou na briga por uma das vagas na lateral direita.
José Fonte: pode ser que tenha acompanhado Rui Patrício na sueca. Não sabemos, pois a bola raramente esteve perto de si.
Rúben Dias: o futuro melhor zagueiro do mundo terminou o jogo sem um pingo de suor no rosto e o penteado impecavelmente preservado.
Mário Rui: não deixem que Luis Felipe Vieira saiba que teve uma boa atuação.
Rúben Neves: na falta de Willian Carvalho, devolveu a Portugal a classe na saída de bola. Que o faça também em jogos maiores, pois bola para isso ele tem. 
Pizzi: surpresa na escalação, foi mais espantoso o fato de ter combinado à perfeição com Ricardo Pereira, que era do Porto, e Bruno Fernandes, que ainda é do Sporting. Poderia, no momento do golo, agradecer a Fernandes o convidando para ter consigo à Luz, em vez de voltar a Alvalade. Seria mais feliz, certamente.
Bruno Fernandes: a felicidade ao abraçar Pizzi na comemoração do gol contrastou com a tristeza ao se lembrar de que, na segunda, volta ao Sporting. (João Moutinho: entrou para treinar um bocadinho mais).
Bernardo Silva: brilhante até mesmo quando não quer ser. O suficiente para me fazer voltar a gostar de futebol. Que o mister não o prenda à linha em jogos difíceis 
(Bruma: entrou para colocar mais um jogo no currículo).
Gonçalo Paciência: apesar da má pontaria, sempre foi uma grande opção na preparação de jogadas, nos espaços abertos e na colocaçao para receber a bola.
Cristiano Ronaldo: 
sem muito esforço, mandou mais três para a conta e, o mais notável, não reclamou ao ser substituído. Diogo Jota: estreou na equipe A e poderá contar aos netos que fê-lo no lugar de Cristiano, sem que esse fizesse cara feia. 

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Ucrânia 2 x 1 Portugal - O preço da teimosia

MERECIDO Ucranianos comemoram classificação
(Foto: Valentyn Ogirenko/Reuters)
A teimosia de Fernando Santos custou, enfim, a terceira derrota da Seleção Portuguesa em jogos oficiais desde que o Engenheiro do Penta assumiu o comando da equipe nacional. Portugal, que já havia sido superado pela Suíça por 2 a 0 na primeira partida depois do título da Eurocopa; pelo Uruguai por 2 a 1 nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2018; e agora pela Ucrânia, em novo 2 a 1, mas pelas Eliminatórias para o Euro 2020, teve em comum dois fatores: a formação em 4-3-3 e o time ser batido por equipes teoricamente mais fracas, mas mais bem montadas em campo.


O pecado do 4-3-3 português não está simplesmente na formação, mas nas caracterísitcas das peças e em como estas estão distribuídas em campo. Contra uruguaios e ucranianos, Portugal teve mais bola para jogar, mas as ideias do que fazer com ela não vieram junto. Enfrentar os super atacantes Cavani e Suárez até torna aceitável o revés contra os uruguaios - embora a falta de argumentos táticos e técnicos tenha sido preponderante para a eliminação -, mas não havia um jogador ucraniano sequer melhor que seu oponente na partida que definiu a classificação da equipe do mítico Shevchenko por antecipação para a Eurocopa, o que torna a condição portuguesa mais preocupante, nem tanto pelas chances de classificação para a Eurocopa - basta vencer a Lituânia em casa e Luxemburgo fora, caso a Sérvia vença seus dois jogos -, e sim pelo que Portugal vai apresentar em jogos mais complicados.

Com relação ao time que venceu Luxemburgo por 3 a 0 três dias antes, Fernando Santos escalou Gonçalo Guedes e João Mario nos lugares de João Félix e Bruno Fernandes. A escolha de Guedes para render João Félix foi bem justificada: Santos queria que Guedes desse mais largura ao ataque, numa função que João já tentou desempenhar e foi infeliz. Só que a prestação do atacante do Valência foi desastrosa, fruto da outra escolha do treinador ao deixar o leonino no banco sob sabe-se lá qual ideia de jogo.

Ao barrar Bruno Fernandes, Portugal perdeu a capacidade do remate de fora da área contra uma defesa que fechou-se em copas para administrar o gol madrugador que marcou - e que condicionou completamente a partida. O gol não era algo previsível, mas sabia-se que os donos da casa marcariam sob pressão e dariam pouco espaço para o jogo luso no campo de defesa, além de explorar os espaços entre as linhas, onde Portugal sempre foi inferior numericamente e, por consequência, em atitude. Outro ponto importante: a ausência de jogadores capazes de infiltrarem as linhas ucranianas estava clara desde a divulgação do 11 inicial, sobretudo pelo desfalque de William Carvalho. Em seu lugar, Portugal teve a volúpia de Danilo, mas pouca lucidez nos passes para romper os bloqueios defensivos, que poderiam sair dos pés de Rúben Neves, mas este jogou pouco mais que um par de minutos contra Luxemburgo.

Ora, se queria alargar o campo, que colocasse Bruma, única peça à disposição realmente talhada para o trabalho, em vez de lançar Guedes ou Félix para isso. Quando insiste no modelo de jogo engessado que adotou nos primeiros tempos contra Luxemburgo e Ucrânia - e já havia sido assim contra a Lituânia -, Fernando Santos mata a principal qualidade dos homens de frente portugueses, que é a movimentação de Bernardo Silva e seja lá quem for o outro extremo, uma vez que Cristiano Ronaldo tem jogado como referência da equipe. E assim seria em qualquer lugar do mundo, com qualquer treinador do mundo. 

Quando conseguiu arrumar a casa, também por conta da expulsão de Stepanenko no lance do pênalti que originou o gol 700 de Cristiano Ronaldo, Portugal esbarrou em outra grande atuação de Pyatov, na péssima noção de posicionamento de João Félix, quando Bernardo Silva estava pronto para comemorar o gol de empate português, e no azar da bola na trave de Danilo, no último lance do jogo, mas parece-me complicado falar em azar para quem fez tão pouco para merecer melhor sorte.  

sábado, 12 de outubro de 2019

Portugal 3 x 0 Luxemburgo - O toque da concertina

MAIS UM Faltam seis para o centésimo pela Seleção das Cinco Quinas
"A concertina, que não para de tocar,
Deixa uns com o pé no ar 
Outros no chão a bater.
Lá vem mais um chegando pra brincadeira,
Vai dançar a noite inteira
Até o dia amanhecer."

A música O Toque da Concertina fez parte do álbum Refazendo História, que o saudoso Roberto Leal gravou em 1996. Era o início do resgate das raízes da carreira do recém falecido cantor. Assim como ele o fez, a Selecção das Quinas está em busca do resgate de sua identidade, que tem se mostrado tão elástica quanto o fole do tradicional instrumento dos folclores e bailaricos lusitanos. Afinal, quem é Portugal - o time que ganhou a Eurocopa com raça e inteligência? Os que massacraram a Holanda na final da Liga das Nações? A falta absoluta de ideias na Copa da Rússia?

O Toque da Concertina representa bem o que foi o jogo entre Portugal e Luxemburgo, válido pelas Eliminatórias da Euro 2020. Ainda com um jogo a menos que a concorrência no Grupo B e ocupando o segundo lugar, Portugal entrou em campo devendo uma atuação de gala, uma entrada à campeão. Bem, ainda não foi neste jogo no José Alvalade que os comandados de Fernando Santos demonstraram por que reinam na Europa (quem duvidar que veja quem é o atual campeão europeu e da Liga das Nações), mas a concertina, nas mãos de Fernando Santos, começou bem o bailarico no campo do Sporting.

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Lituânia 1 x 5 Portugal - Deixa jogar, mister

O corridinho não se dança devagar

Foram 16 minutos intensos, com Cristiano Ronaldo mais adiantado, Bernardo Silva com o diabo no corpo e João Félix, de volta ao time titular, com boa movimentação para completar o trio muito bem servido por Bruno Fernandes e João Moutinho - este no lugar do lesionado William Carvalho. Se o primeiro gol quase saiu na jogada de Joões, quando Moutinho deu o gol para Félix, que dominou com perfeição, mas bateu rente ao poste, o quase ficou para trás na ótima enfiada de Fernandes para Nelson Semedo, que ganhou da marcação e dividiu com o goleiro Moris. Na sobra, Bernardo Silva dominou e, com imensa categoria e calma, abriu o marcador.

O jogo, assim, prometia. 

Um dança o vira, outro dança o malhão

Prometia, mas não cumpriu. E não cumpriu porque nem todos dançavam a mesma dança. Até o fim da primeira parte, o único lance de perigo foi de Luxemburgo, quando Thill tirou Rúben Dias para dançar, mas parou na defesa de Rui Patrício (que o juiz não viu, anotando tiro de meta). Fernando Santos ainda tentou abrir o fole da concertina para o som fazer a malta lusitana dançar, mas somente Bruno Fernandes e Cristiano Ronaldo foram para a roda.

Um bate forte, o outro não sabe bater

Que João Félix é um dos talentos mais prometedores dos últimos tempos, não resta dúvida, mas ainda precisa maturar um bocadinho para fazer jus à titularidade, mesmo estando melhor a cada jogo. Na etapa inicial, ele teve a baliza à disposição, mas errou. Cristiano, na segunda, deu bicicleta, driblou e chutou no canto, fez o diabo. E o gol, ou melhor, golaço, saiu de uma troca de passes desastrosa da defesa luxemburguesa (é assim que se diz?). O camisa 7 apertou Chanot, roubou-lhe a bola e com requintes de crueldade encobriu Moris. 699 gols na carreira, 94 na Seleção e os três pontos na algibeira. A esta altura, se viu que o intervalo havia feito bem  aos campeões e todos voltaram no ritmo do corridinho que iniciou a apresentação

Lá vem mais um chegando pra brincadeira

Mas ainda houve tempo para Gonçalo Guedes, que foi titular contra a Letônia, fazer o dele quando o desinteresse já tomava conta da malta, que já estava com a cabeça no repertório para a apresentação contra a Ucrânia, na próxima segunda-feira (14). Se a turma de Fernando Santos vencer e a Sérvia não ganhar da lanterna Lituânia, já podem arrumar a tocata para a Euro. 

Fernando Santos tem pelo menos 18 jogadores em condições para montar uma equipe competitiva, mas ainda precisa decidir se anda com o fole da concertina aberto, a fazer mais barulho, ou se o retrai, como fez no indesculpável primeiro tempo contra a Lituânia. A mim, folclorista que sou, apetece mais deixar os gajos que dançam à frente soltos. Que a concertina não pare de tocar. 

Em campo, um por um:
Rui Patrício:
o juiz não percebeu a única defesa que fez. Uma cesta de castanhas teria mais serventia;
Nelson Semedo: sem ter a quem marcar, poderia apoiar mais, mas teve uma boa prestação;
Rúben Dias: não fosse a entortada que levou de Vincent Thill, ninguém o notaria;
Pepe: como não foi driblado, não foi notado;
Raphaël Guerreiro: ouvi dizer que jogou;
Danilo Pereira: um bocadinho de trabalho no meio, mas nada que o fizesse suar mais que Rúben Neves, que jogou por três minutos;
João Moutinho: um luxo a ser desperdiçado na reserva a outras alturas e na França, por anos (entrou Rúben Neves, talvez para dar algum aviso a alguém. Honestamente, não vi se foi o caso);
Bruno Fernandes: jogo sim, jogo não, vai bem na Selecção;
Bernardo Silva: quando vai bem, o mundo está bem (deu lugar a Gonçalo Guedes, que marcou um golito para poder enganar o mister por mais tempo); 
Cristiano Ronaldo: faltou pouco para marcar o 700 no mesmo lugar em que fez o primeiro. Seria bonito. Não tanto quanto o golo que anotou, mas seria. Poderia ser substituído para ganhar sozinho os aplausos, já que tanto gosta e tanto mais os merece;
João Félix: calma lá, ó, miúdo, que marcas o golo pela Selecção. Outra grande exibição de quem poderia esperar um poucochinho mais para sair do Benfica (saiu para retornar o João Mário: disseram-me que foi. Eu não vi).
Fernando Santos: me parece que encontrou a forma para os quatro da frente renderem mais. Cinco, a contar com João Moutinho, mas este não deve  ser titular com frequência.  

Dedico este texto a António Joaquim Fernandes, o Roberto Leal, ídolo e amigo que se foi a 15 de setembro. E que, certamente, estaria satisfeito com a vitória portuguesa.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Guia prático para detecção de fake news



Um dos fenômenos da comunicação mundial que certamente será objeto de muitas teses, estudos e dores de cabeça na comunidade acadêmica por anos a fio é a propagação das fake news. Elas espalham feito fogo em palha seca simplesmente porque existe um público ávido por ouvir o que quer o que Aristóteles chamou de pathos em seus estudos sobre Retórica. Então, em muitas das vezes, basta a mensagem conter algo que determinado público almeja e voilà! Temos uma fake news prontinha para fazer seus estragos por aí.

Na manhã deste 03 de outubro, meu celular foi bombardeado por perguntas sobre um suposto pedido de falência da Portuguesa de Desportos graças à propagação de uma imagem bem chinfrim, que continha o distintivo luso, os principais títulos de futebol conquistados pelo clube e uma mensagem do tipo "Lusa decreta falência. Sentiremos sua falta". Obviamente, como pregava o jornalista Geneton Morais Neto(1956–2016), meu desconfiômetro jornalístico soou na hora. Quem decretou? Por quê? Onde? Por que não havia saído em veículo nenhum?

A resposta é fácil: é porque era mentira, oras! Fake news, como se convencionou falar de meses para cá. Felizmente, existem macetes para descobrir se a notícia é real ou tão falsa quanto a Grávida de Taubaté. E trago aqui um "Guia Prático Para a Detecção de Fake News".

Boa leitura (e use sem moderação)!

1) É bom demais para ser verdade? É tipo o Messi dizer que quer jogar no seu time ou algo que você gostaria muito que acontecesse?

Pegue o título e jogue no Google. Ou então digite algo como "Messi diz que quer jogar no Flamengo", se a notícia der o Rubro-Negro como desejo de consumo do jogador. se for verdade, todos os veículos repercutirão.

2) Verifique o texto. Tem erros de Português ou de pontuação? Tem como fonte alguém que pode ser qualquer um?

É natural a fonte ser protegida pelo jornalista, mas nem sempre o sigilo é real, ainda mais se tratar de alguém de forma genérica ou especialistas fictícios. Uma busca no Google pode resolver.

3) O texto responde as informações do lead (quem, o quê, quando, como, onde e por quê?

Quando não há data, o rumor pode ir e voltar diversas vezes como se fosse algo recente. A falta das outras informações básicas, como local ou ocasião, traz uma gigantesca chance e ser falsa a informação. Mesmo assim, algumas dessas informações podem ser falsas. Um evento que, na verdade nunca ocorreu, pode ser citado. Uma pesquisa rápida é eficaz para isso.

4) Vídeos e fotos rodam mais que notícia ruim no Whatsapp e nas outras redes de relacionamento. O vídeo é realmente da época em que é dito que ocorreu? A foto não foi manipulada? Tem foto do Flavio Bolsonaro com camisa ofendendo nordestinos rodando por ai até hoje e é falsa, como tem da Manuela d'Ávila atacando o Cristianismo. E que também, obviamente, é falsa.

Faça buscas em imagens. Certamente, a foto original será encontrada sem muito trabalho. O mesmo acontece no caso dos vídeos.

5) É um meme com uma frase desastrosa ou "lacradora"?

Se a frase foi dita mesmo, registros sérios e confiáveis podem ser encontrados. Não achou? Nem leve a sério. Clarice Lispector e Machado de Assis não falaram muitas das frases atribuídas a eles. Eu mesmo posso fazer um desses sobre qualquer pessoa e a qualquer momento.

6) Titulos bombásticos existem para atrair likes. Cuidado para ver se é real, se o conteúdo condiz com o teor da chamada. Muita gente lê só o título (e é por isso que esse tipo de mentira funciona).

7) Tem até link que leva à matéria! Olha só (mas olha só com muito cuidado)!

Tem mesmo? Compare a URL do link que recebeu com a URL do site usado para dar veracidade. Existem casos de cópias de diagramação das páginas inteiras, para confundir o incauto internauta. Tá diferente? Cai fora!

8) Veículos tradicionais não têm a notícia.

Não se enganem. Por mais que o Trump diga que a imprensa é inimiga do país (nem só ele, né?), fatos relevantes saem SIM nos grandes veículos, sejam eles de que viés forem. O que muda é o enfoque, mas o fato não é ignorado.

9) Como são os outros conteúdos do veículo?

É preciso estar atento ao tipo de conteúdo que o veículo publica. É um mentiroso contumaz? Desconfie. É satírico? Ria e compartilhe, caso queira, deixando claro que se trata de uma gozação, ou então não compartilhe para não ficar feio.

10) O mais fácil (e por isso deixei por último): pesquisar nos sites especializados em checagem de notícias, como o E-Farsas, o Boatos.org, o Fato ou Fake e o Aos Fatos. Ou o Lupa, meu favorito. 

No fim das contas, se a notícia despertar o mínimo de desconfiança, não publique, não compartilhe, não divulgue.

sábado, 28 de setembro de 2019

Benfica 1 x 0 Vitória de Setúbal - Pra ficar ruim precisa melhorar um bocadinho

Foto: Rodrigo Antunes/Lusa

Ó, Bruno Lage, cá estou eu a andar aos queixumes outra vez. Não me leve a mal, mister, mas é que tu acostumaste mal toda a gente com a máquina encarnada de triturar adversários, fosse na Luz ou longe de casa.


Aí perdes o miúdo que nos deu tantas alegrias e, claro, trabalhas para ter outras soluções. Entre todas as que tentastes, juro que nao entendi ainda que raios querias hoje com o Gédson a avançado. Ora, o miúdo é um canivete suíço e pode executar várias funções, mas avançado não é uma delas. Por falar em suíço, o de verdade, cuja função é meter os golos, anda muito longe do guardarredes, não achas? A conduzir a pelota, o rapaz se enrola todo e, assim, voltará a ser o funcionário do mês que não só queimou as batatas, mas ateou fogo à cozinha toda, pá.

No mais, mister, agora tens de volta o Gabriel, este sim um gajo capaz de fazer a equipa jogar à bola. Fejsa é para destruir e o Samaris ainda é um bocadinho melhor, mas me parece que ele não está lá muito bem depois de renovar o contrato, e o Florentino ainda não é pra agora. Faz, de todo modo, com que seus avançados possam segurar os defesas com eles na área para que as linhas deles possam ter o espaço que o Pizzi tanto gosta. Afinal, se ele joga, toda a gente joga, principalmente o Rafa, que, aliás, não é lá a mais feliz das escolhas a correr na ponta direita, tal como o Fernando Santos insiste em fazer com o Bernardo Silva. Deixa lá, mister.

Só mais uma coisa: o Vinícius, que era zagueiro aqui no Brasil, virou um avançado de 17 milhões e fez o golo da vitória, mas não acredite nesta solução. Se era para ter um avançado a mais na área dos setubalenses, ok, compreende-se, mas não caias na tentação de ir pelo caminho mais fácil.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

O louco futebol brasileiro e a dança das cadeiras




Vamos brincar de “Explique a um europeu que gosta de futebol o fim de setembro de 2019 no futebol brasileiro”? Quero ver quem consegue. Ok, pode até ter sucesso ao elencar as peripécias dos dirigentes e – pior ainda – jogadores, mas se ele vai achar normal são outros quinhentos. Ontem, Cuca (que "caiu a si mesmo") e Rogério Ceni deixaram seus cargos; hoje, Zé Ricardo e Oswaldo de Oliveira foram demitidos. Todas as trocas foram bizarras, sem exceção.


Cuca não conseguiu dar padrão ao estrelado time do Tricolor e entregou o cargo de forma até inesperada. Rogério foi fritado em óleo bem quente pelos medalhões do elenco do Cruzeiro, o que mostra que ele ainda não está pronto para ser treinador de ponta, o que é absolutamente normal para quem acabou de iniciar a carreira à beira do campo. Ter sido o craque sob as traves não é garantia de nada ao mudar de função. Ter sido um líder no gramado também não.

Ao que parece, sobrou para o Zé Ricardo, que teve o pescoço colocado na guilhotina quando o ex-goleiro foi demitido e a dúvida sobre o retorno de Ceni ao Fortaleza não é se vai, mas quando vai.

Por fim, a ópera bufa do Maracanã, que envolveu um quase ex-craque - e possivelmente a maior decepção do futebol brasileiro no século XXI - e um treinador que sempre chega com a certeza de que será demitido. Neste caso, todos erraram. Ganso, mimado desde o Santos, não é mais o menino que se recusou a sair na final do Paulista de 2010, desacatando o então técnico Dorival Júnior.  Oswaldo, por sua vez, mostrou o dedo do meio para o torcedor, que ficou ao lado do camisa 10. Um profissional com a experiência dele não poderia jamais entrar nessa pilha. Se a coisa já não estava boa pra ele, ficou insustentável. "Burro pra c*" pra lá, "Você é vagabundo" pra cá, a demissão era questão de horas.

Quem quiser descascar o abacaxi azul de Minas Gerais, terá à disposição - não sei exatamente se este é o termo mais adequado - um elenco que acabou de derrubar o treinador. Não que isso seja raro, mas poucas vezes se viu de forma tão explícita. O mesmo se aplica ao time das Laranjeiras. 

Assim caminha o futebol brasileiro. De surpresa em surpresa, a única certeza é que não há certeza nenhuma. E nenhuma surpresa também.

Atualização:

i) Rogério, que pediu demissão do Fortaleza para acertar com o Cruzeiro, voltou ao Fortaleza, que recebeu dos mineiros uma indenização de R$ 1 milhão pela quebra de contrato do treinador quando este foi para Minas, o que só deixa a situação mais estarrecedora ainda.
...
ii) Abel Braga foi anunciado como treinador do Cruzeiro.
...
iii) Fernando Diniz, que foi demitido do Tricolor carioca, foi contratado pelo Tricolor Paulista. Vagner Mancini, coordenador técnico do clube e que havia sido anunciado como substituto de Cuca, pediu demissão ao saber que havia a intenção de trazer Diniz. 

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Benfica 1x2 RB Leipzig - Carta ao mister Lage

CALVÁRIO Não foi dessa vez que a superioridade em Portugal
foi vista em jogos pela Champions (Foto: Nurphoto)
Ó mister Lage, gostamos um bocado de ti. Gostamos mesmo, a ponto de perdoar a jornada infeliz contra o Porto, quando Pizzi e Florentino foram anulados sem maiores protestos, ou quando fizemos uma partidinha mequetrefe contra o Gil Vicente. Afinal, neste caso, tínhamos o jogo da Champions.

Mas aí, no jogo da Liga dos Campeões, me colocas o Cervi e o Jota para render Rafa e Seferovic? Nada contra, até gosto deles, mas os gajos estavam a ver o jogo das bancadas até outro dia. Não seria o caso de fazer o contrário? Talvez fosse mais interessante deixar descansar os dois que saíram do 11 para estarem mais frescos à altura do jogo mais importante.

Aí, sem o Rafa, deixas tudo às costas do Pizzi? Ora, o Nagelsmann colocou dois nele e resolveu o problema, ainda mais porque não havia Gabriel ou Florentino. Nem o Rafa. E havia Taarabt, mas era pouco. Tu te lembras de que falei?

Tá, o Pizzi falhou uma hipótese que não costuma antes do primeiro golo, e o Cervi praticamente desfez o tento que empataria o jogo antes que o Werner fizesse o bis. Mantiveste o De Tomás quando poderias começar com o Seferovic, que até fez um golito no fim.

A propósito, por que raios deixá-lo no banco? Se é pra fazer de conta que o Jota é o João Félix, finge que o Seferovic é o Seferovic, oras.

E coloque os melhores pra começar o jogo, pá.
Ajuda a toda a gente a seguir gostando de ti.