terça-feira, 27 de abril de 2010

O céu está em festa

Arquivo pessoal
Estou triste. Perdi meu avô. Foram quase 94 anos de muita luta, muitas tristezas e alegrias infinitas.


Bom ver que, no fim do curso da sua vida, todos aqueles que o amavam estiveram ali, do seu lado. Sinal de que teve uma vida plena e correta. Nunca ouvi de quem quer que fosse algo que o desabonasse.


Os últimos meses foram difíceis. Resquícios de um AVC avassalador. Ainda assim, foram dois meses de uma intensa batalha pela vida. Essa é a batalha que todos nós travaremos um dia e que, invariavelmente, perderemos. Mas a forma com a qual se luta é que diferencia os vencedores dos demais, e meu avô, neste aspecto, foi o maior vencedor que se houve.


A cada pessoa que chegava a certeza de que valeu a pena aumentava, se é que isso fosse possível. Como disse Fernando Pessoa no seu imortal Mar Português, "tudo vale a pena quando a alma não é pequena". E esta foi grande. Ao final, um choro em uníssono o acompanhou até sua última morada.


Nós vivemos pedindo milagres, mas só no fim é que percebemos que o milagre nos é concedido todos os dias. E o milagre foi a dádiva de tê-lo conosco por tanto tempo, e em plenitude.


Hoje nós choramos, amanhã serão outros, depois seremos nós, novamente. E assim a vida segue. E assim a morte segue. E assim a morte nos segue. Ela sempre nos alcança, mas o quê fizermos e como fizermos é que determinará o legado que deixaremos. E o legado do seu Mário Ferreira é o amor à família. Amor este que também o espera do outro lado do mistério. Quando lá chegar, ele deverá encontrar minha vó Ana, com as mãos na cintura e a perguntar: "Por que demoraste tanto?"


Arquivo pessoal

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O ocaso do fenômeno

* Por Humberto Pereira da Silva

Nas duas últimas décadas poucos jogadores de futebol tiveram o destaque de Ronaldo. Precoce, aos 17 anos foi convocado para a seleção que ganhou a Copa de 94; aos 20 anos foi eleito pela Fifa melhor jogador do mundo e deu ao prêmio a importância midiática que passou a ter (quem, além de aficcionados por futebol, lembra que no ano anterior à sua eleição o eleito foi o liberiano George Weah?). A carreira de Ronaldo também foi conturbada e controversa. Desde o início, olhado com desconfiança por não poucos, nunca chegou a ser exatamente unanimidade quanto ao lugar que lhe cabe na história. Não ganhou títulos importantes nos clubes europeus pelos quais passou, não foi um artilheiro arrebatador em temporadas seguidas, não satifez as expectativas em duas Copas, 98 e 2006, em que se esperava muito dele, e agora, aos 32 anos, quando teria idade para uma última Copa do Mundo, não faz parte dos planos de Dunga.

Mas, mesmo seus maiores críticos teriam dificuldades para justificar que seu nome não se inclua no catálogo dos maiores da história. Ronaldo é o maior artilheiro de todas as Copas e, depois de Pelé, quem mais marcou gols pela Seleção. Ronaldo, ainda, queimou a língua de seus críticos: tido por acabado para o futebol depois de grave contusão em 2000, em 2002 foi artilheiro da Copa com 8 gols, feito que desde Gerd Müller, com 10 gols em 70, nenhum outro jogador chegara a tanto (só para recordar, o polonês Lato fez 7 gols em 74 e até Ronaldo ninguém chegou sequer aos 7 gols de Lato: o alemão Klose fez 5 gols em 2006); tido por acabado novamente em 2008, depois de nova grave contusão, voltou, conquistou títulos pelo Corinthians e marcou gols dignos de Ronaldo.

Além das virtudes como jogador de futebol, Ronaldo parece ter algo que alimenta o mito e desconcerta os críticos: uma determinação pouco vista para ressurgir das cinzas. É essa crença que talvez possa justificar certo silêncio diante de suas atuações recentes. Um crítico cuidadoso poderia ter a língua queimada com um Ronaldo decisivo na Libertadores da América. De qualquer forma, para quem viu Ronaldo partir do meio de campo em zigue-zague na direção do gol e não tomar conhecimento dos adversários, é patético vê-lo com dificuldade para chegar antes da marcação ao receber um passe com a bola a não mais que dois metros de seu corpo.

Para quem ressurgiu em momentos nos quais os mais otimistas não esperavam tanto, difícil dizer que a hora passou. Mas, me parece, chega o momento de se pensar se Ronaldo terá suficiente sensibilidade para separar o homem do fenômeno. O fenômeno está na história, caberia ao homem preservar o mito e encerrar a carreira com dignidade merecida. Esse é o dilema de Ronaldo Nazário de Lima no momento.

*Humberto Pereira da Silva, 46 anos, é professor
 universítário de Filosofia e Sociologia e crítico de
 cultura de diversos órgãos de imprensa.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O outro

Ontem, pela Copa do Brasil, o Santos deu mais um espetáculo. Como de hábito, cilindrou o adversário, que desta vez foi o Bugre campineiro. Foi um massacre. Só Neymar, em noite (ir)real, fez cinco. Com direito a gol com tabelinha no adversário, como fazia, no mesmo estádio, o dono do cetro e da coroa.

Entretanto o grande nome do jogo, na visão deste que vos escreve, foi o dono da mítica camisa 10 do alvinegro praiano, que responde pelo nome de Paulo Henrique, o Ganso. Há muito tempo essa camisa não veste tão bem. O garoto é craque! Joga fácil, de cabeça erguida, cadencia com raro talento o futebol do Peixe.

Ganso, o craque santista (Miguel Schincariol)

O genial Luis Fernando Veríssimo criou, há algum tempo, o "outrista", um sujeito que acharia a Paula melhor que a Hortência, o "Magic" Johnson mais genial que o "Air" Jordan e que por certo torceria pro Tom pegar o Jerry. Pois bem, visto a carapuça do outrista, pois Neymar e Robinho podem ser os mais festejados do elenco, mas o maior responsável pelo hipnótico futebol do Santos é ele, PH Ganso. Assim como atrevo-me a dizer que o maior nome do Barcelona é Xavi, em vez de Messi.

Que a imprensa pare de aporrinhar o técnico da Seleção pra que ele chame o Ronaldinho, já que Kaká não teria um imediato à altura, O gaúcho teve todas as chances e não as aproveitou. O homem certo pra função é o 10 da Vila. É o maestro do melhor time que o futebol brasileiro já viu nos últimos doze ou treze anos e não levá-lo por não tê-lo testado ainda seria mais que um desperdício, seria um desaforo. E, como diz o mestre Antonio Quintal, tão luso quanto eu, futebol não aceita desaforo.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Gênios da Bola IV - Enéas

Enéas Camargo foi um dos maiores jogadores não só da história da Portuguesa, mas de todo o Brasil. Só não foi maior porque lhe foi sonegado, primeiro por Zagallo, depois por Claudio Coutinho, o direito de brilhar em Copas do Mundo. Era genial. Às vezes "dormia" em campo, passava despercebido 20, 30 minutos, mas quando acordava...
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Craque na essência da palavra, é o segundo maior artilheiro da Lusa. Foram 179 golos. Perde apenas para Pinga I, que na década de 50 anotou 284 golos para a rubroverde. Foi para a Itália, mas não se houve muito bem na terra do calcio, onde defendeu o pequeno Bologna. Voltou ao Brasil pra defender o Palmeiras, mas o joelho machucado ainda na Itália não permitiu que fosse o mesmo craque da época em que envergou a camisa lusa.
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Depois do Palestra, perambulou por equipes menores. Quando defendia a Central Brasileira, de Cotia, entrou com seu Monza sob uma carreta na av. Cruzeiro do Sul, em São Paulo. Corria o mês de agosto de 1988. Quatro meses mais tarde, em 27 de dezembro, parava de bater o coração do craque que desligava.