Como de costume, esperei para tecer minhas considerações sobre a eliminação da Portuguesa no Paulistão. Após um começo claudicante, recuperou-se e promoveu uma belíssima arrancada no fim da primeira fase, se classificando no último minuto, de maneira heróica. Foi a volta da Lusa às mesas redondas, aos jornais, às discussões. Nos colocaram de novo como grandes, apesar de não passarmos de fase desde 1998, que o São Paulo teria o adversário mais difícil.
Tudo muito bonito, tudo muito honroso. Mas será que é simples assim? Jogamos bem? Sim, jogamos. Perdemos com honra? Sim, perdemos. Não, não é.
O jogo estava como manda o figurino: o São Paulo tinha a posse de bola e a Lusa se defendia e especulava à espera de contra-ataques e chutes de média distância com os ótimos Ferdinando e Guilherme (volante dos bons, que sabe sair para o jogo, não bate, chuta muito bem e marca melhor ainda). Domingos e Maurício, adiantados, não davam espaço para o ataque do time do Morumbi.
Aí veio a contusão do volante Rodrigo Souto, do São Paulo. Carpegiani colocou um centroavante, Henrique, e enfiou a dupla de zaga da Lusa dentro da área. Dagoberto foi recuado e, ao lado do Ilsinho, ditava o ritmo do jogo. Assim saiu o primeiro gol: bola enfiada pelo camisa 25 para Jean, na primeira jogada aguda deste, que encontrou Ilsinho nas costas do Marcos Pimentel, sem marcação, nem piedade.
No segundo tempo, restava à Lusa atacar, mesmo sem força pra isso. Jorginho, então, voltou com Rafael Silva no lugar de Marco Antonio, que voltava após longa paragem, por lesão. Eram três atacantes lusos, apesar de um deles ser o Luís Ricardo, contra a dupla de zagueiros tricolores. Entretanto, a bola pouco chegava, pois não havia criatividade na equipe comandada pelo Jorginho.
Sabendo disso, o técnico Tricolor resolveu dar campo à Lusa. Ao contrário do que disse o comentarista Casagrande, da Rede Globo, o treinador sãopaulino agiu bem. Sem profundidade, a Lusa teria a posse de bola e continuaria no único recurso que teria, com dois ou dez à frente: os chutes de longe. Sem gente de qualidade para armar, apelar a Ananias, meia de futebol tão pequeno quanto o personagem homônimo do Renato Aragão. Podendo contar com um goleiro do nível de um Rogério Ceni, era um risco que valia a pena correr.
No primeiro contra-ataque que o São Paulo encaixou, Dagoberto matou o jogo, após passe do Ilsinho. Daí até o final do jogo era o São Paulo não querendo fazer o terceiro e a Lusa não conseguindo marcar o primeiro.
O que faltou para a Lusa? A torcida, ao menos ontem, foi torcida e apoiou o tempo todo. Mesmo após o fim do jogo, não se ouviu vaias ou apupos, mas aplausos. Portanto, ontem, não foi por falta de apoio. Ontem.
O que faltou, de fato, foram jogadores capazes de mudar o panorama do jogo. Jogadores capazes de criar, pés que pensassem o jogo. Faltaram Fabrício e Héverton que, bem ou mal, poderiam fazer isso em vez de Henrique, Ananias e Luis Ricardo. Poderiam, mas não fizeram porque não estão mais no elenco.
Como diz meu pai, para bom entendedor meia palavra basta.