MERECIDO Ucranianos comemoram classificação (Foto: Valentyn Ogirenko/Reuters) |
A teimosia de Fernando Santos custou, enfim, a terceira derrota da Seleção Portuguesa em jogos oficiais desde que o Engenheiro do Penta assumiu o comando da equipe nacional. Portugal, que já havia sido superado pela Suíça por 2 a 0 na primeira partida depois do título da Eurocopa; pelo Uruguai por 2 a 1 nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2018; e agora pela Ucrânia, em novo 2 a 1, mas pelas Eliminatórias para o Euro 2020, teve em comum dois fatores: a formação em 4-3-3 e o time ser batido por equipes teoricamente mais fracas, mas mais bem montadas em campo.
O pecado do 4-3-3 português não está simplesmente na formação, mas nas caracterísitcas das peças e em como estas estão distribuídas em campo. Contra uruguaios e ucranianos, Portugal teve mais bola para jogar, mas as ideias do que fazer com ela não vieram junto. Enfrentar os super atacantes Cavani e Suárez até torna aceitável o revés contra os uruguaios - embora a falta de argumentos táticos e técnicos tenha sido preponderante para a eliminação -, mas não havia um jogador ucraniano sequer melhor que seu oponente na partida que definiu a classificação da equipe do mítico Shevchenko por antecipação para a Eurocopa, o que torna a condição portuguesa mais preocupante, nem tanto pelas chances de classificação para a Eurocopa - basta vencer a Lituânia em casa e Luxemburgo fora, caso a Sérvia vença seus dois jogos -, e sim pelo que Portugal vai apresentar em jogos mais complicados.
Com relação ao time que venceu Luxemburgo por 3 a 0 três dias antes, Fernando Santos escalou Gonçalo Guedes e João Mario nos lugares de João Félix e Bruno Fernandes. A escolha de Guedes para render João Félix foi bem justificada: Santos queria que Guedes desse mais largura ao ataque, numa função que João já tentou desempenhar e foi infeliz. Só que a prestação do atacante do Valência foi desastrosa, fruto da outra escolha do treinador ao deixar o leonino no banco sob sabe-se lá qual ideia de jogo.
Ao barrar Bruno Fernandes, Portugal perdeu a capacidade do remate de fora da área contra uma defesa que fechou-se em copas para administrar o gol madrugador que marcou - e que condicionou completamente a partida. O gol não era algo previsível, mas sabia-se que os donos da casa marcariam sob pressão e dariam pouco espaço para o jogo luso no campo de defesa, além de explorar os espaços entre as linhas, onde Portugal sempre foi inferior numericamente e, por consequência, em atitude. Outro ponto importante: a ausência de jogadores capazes de infiltrarem as linhas ucranianas estava clara desde a divulgação do 11 inicial, sobretudo pelo desfalque de William Carvalho. Em seu lugar, Portugal teve a volúpia de Danilo, mas pouca lucidez nos passes para romper os bloqueios defensivos, que poderiam sair dos pés de Rúben Neves, mas este jogou pouco mais que um par de minutos contra Luxemburgo.
Ora, se queria alargar o campo, que colocasse Bruma, única peça à disposição realmente talhada para o trabalho, em vez de lançar Guedes ou Félix para isso. Quando insiste no modelo de jogo engessado que adotou nos primeiros tempos contra Luxemburgo e Ucrânia - e já havia sido assim contra a Lituânia -, Fernando Santos mata a principal qualidade dos homens de frente portugueses, que é a movimentação de Bernardo Silva e seja lá quem for o outro extremo, uma vez que Cristiano Ronaldo tem jogado como referência da equipe. E assim seria em qualquer lugar do mundo, com qualquer treinador do mundo.
Quando conseguiu arrumar a casa, também por conta da expulsão de Stepanenko no lance do pênalti que originou o gol 700 de Cristiano Ronaldo, Portugal esbarrou em outra grande atuação de Pyatov, na péssima noção de posicionamento de João Félix, quando Bernardo Silva estava pronto para comemorar o gol de empate português, e no azar da bola na trave de Danilo, no último lance do jogo, mas parece-me complicado falar em azar para quem fez tão pouco para merecer melhor sorte.