Foto: twitter/AFA |
"A história é escrita pelos vencedores", já nos ensinou George Orwell. Por isso, e só por isso, Lionel Scaloni não terá que explicar porque uma final, completamente dominada e a 13 minutos do fim, tornou-se um drama que tango nenhum seria capaz de contar. Como o futebol ainda é um jogo, os mais entusiasmados, a turma do Messi-já-superou-Pelé, que, naturalmente, não faz ideia de quem é Nelson Rodrigues, Drummond ou Galeano (mas manja tudo sobre o esquema tático do Bournemouth), deve seus devaneios à falta de traquejo de um atacante reserva na cara do gol ou ao imenso Emiliano Martinez, comemoração fálica à parte.
Como a história é contada por quem vence, ninguém se lembrará que foi justamente o tal do bode que perdeu uma bola besta, em zona proibida, para um atacante, tal e qual um turista desavisado que anda por aí com a carteira pendurada no bolso de trás, culminando no gol de empate dos franceses.
Pelo mesmo motivo, Clodoaldo nunca precisou explicar o que deu nele quando resolveu dar de calcanhar, mesmo apertado por Boninsegna, quando o placar da final de 1970 ainda apontava um importante, mas magro, 1 a 0 para o Brasil. Cerezo, também um craque, como o camisa 5 do Tri, não teve a mesma sorte 12 anos depois. Felipão nunca teve que ouvir sobre a falta que Romário teria feito - ou fez - em 2002, e, se ouviu, certamente deu de ombros, ao passo que Lazaroni até hoje deve explicações além do "grupo fechado com a conquista da Copa América de 89" por não ter levado o Neto em 1990.
Aos vitoriosos, os louros, ou as batatas de Quincas Borba; aos que foram vencidos, as perguntas.
Nada disso, porém, poderá diminuir o feito de Scaloni, de Messi ou do Dibu Martinez. A Argentina é a justa vencedora de uma Copa tecnicamente muito legal, mas que ninguém se esqueça de tudo que antecedeu a escolha do país-sede, do softpower, do sportwashing, do cala-a-boca às entidades internacionais que deveriam fiscalizar e denunciar a ausência de condições de trabalho e violações dos direitos humanos. Não, isso nunca coube aos atletas. Não foram eles que foram convencido$ a escolher o Catar. Não serão eles os que deverão responder.
Bom, voltando, a Argentina, que levantou a Copa do Mundo também porque teve o seu grande craque na versão mais briguenta, sanguínea, humana e maradoniana possível - mas não somente pro isso -, merece todas as glórias e seus personagens têm a importância que têm. Nada a menos, nada a mais.