quinta-feira, 30 de março de 2017

O escorpião e o sapo

DE POUCOS AMIGOS É somente a cara. Del Nero tem na mão
 os cartolas do futebol brasileiro (Foto: Reuters/Sergio Moraes)

De acordo com a fábula do escritor grego Esopo (620-560 a.C.), o escorpião pediu ajuda ao sapo para atravessar o rio. O sapo estava receoso de ser picado durante a travessia e o escorpião argumentou que, se o picasse, os dois se afogariam. Só que o escorpião de fato picou o sapo e disse: “Perdoe-me. É da minha natureza”.

No fim de 2015, Del Nero aglutinou os clubes em torno de seu umbigo para que, por manobra, o Coronel Nunes, presidente há mais de 25 anos da Federação PARAENSE de Futebol, fosse eleito vice da região SUDESTE (que fica a pelo menos 2 mil km do Pará). O objetivo era impedir que um adversário político, Delfim Peixoto, que morreria um ano depois no acidente da Chapecoense, assumisse a presidência da CBF quando ele, Del Nero, tivesse que se “afastar” do cargo. Eram tempos de moralização do futebol mundial e o Don Juan da Barra Funda estava com aquilo na mão de as investigações do FBI respingarem nele.
Em caso de vacância do mandatário, quem assumiria a presidência seria o vice-presidente mais idoso, e este era o falecido Peixoto, 74, presidente da Federação Catarinense de Futebol e dirigente que não simpatizava com a gestão Del Nero/Marin. Então foi costurado o acordo: Antonio Carlos Nunes de Lima, de 79 anos e parceiro de longa data do ex-presidente Marin, que ainda cumpre prisão domiciliar nos Estados Unidos, enquanto aguarda julgamento, seria o candidato para concorrer a uma das vice-presidências, a do Sudeste, quintal de Del Nero.

Era a chance de os clubes livrarem-se do jugo da CBF, do clientelismo, dos desmandos e das maracutaias que os cartolas da entidade máxima do futebol estavam tão acostumados. Mas não. Nenhuma voz foi contrária ao acordo. Ninguém sequer questionou os porquês de um dirigente de uma federação completamente estranha à região, e que em meio século não havia desenvolvido em absolutamente nada o esporte do Norte do país.

Fecharam questão em torno do Coronel Nunes, de história ligada à Ditadura Militar, a suspeitas de enriquecimento ilícito e favorecimento, que foram investigadas por uma CPI na Assembleia Legislativa do Pará e não deu em nada, apesar do teor das acusações. A Comissão tinha, entre seus membros, parlamentares que receberam doações da entidade presidida por Nunes.

CORONÉ DE CAPACIDADE O caricato Coronel Nunes, homem
 de Marin e Del Nero, que presidiu interinamente a CBF
 até Il capo voltar (Foto: Lucas Figueredo/MowaPress)
 

Nada que fuja ao modus operandi da própria CBF.

Sobre ele, o “moderno” Paulo Nobre, ex-presidente/mecenas do Palmeiras, disse ter capacidade quando da vergonhosa manobra. Um escárnio. Um nojo. Depois que colocou seu capanga no posto, Del Nero enfim licenciou-se da presidência. E o cavalo passou selado mais uma vez.

Pois bem. Passado o susto e com todos os seus asseclas acochambrados sob sua asa, eis que Il Capo Del Nero resolveu passar a perna nos clubes na absurda reforma estatutária que ele mesmo promoveu (no mesmo dia do jogo da Seleção Brasileira contra o Uruguai), tirando-lhes poder e, pelo visto, se agarrando feito cipó-parasita no poder ad aeternum.

Pela reforma sugerida pela CBF, aprovada pela CBF e promovida pela CBF, as Federações passam a ter peso maior que os clubes nas eleições, o que, na prática, significa que os desejos da entidade passarão a ser ordem. Clubes e imprensa não foram avisados, tampouco a assembleia surpresa foi publicada no site da entidade, o que fere a Lei Geral do Esporte. Não pelo entendimento da CBF, entidade privada segundo qual não reconhece interferência alguma sobre seu estatuto.

Coloca-se acima do bem e do mal.

Pela reforma, haverá um conselho administrativo formado por oito vice-presidentes, o que tiraria, teoricamente, o poder do presidente. Isso se estes oito não fossem da chapa de Del Nero.


Quer saber? É bem feito! Mudo meu nome se os clubes unirem-se de fato para reverter isso. Principalmente os cartolas paulistas, esse bando de frouxos que diz amém a tudo que ele faz desde a época da FPF, quando já eram picados pelo escorpião de Esopo. 

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