quinta-feira, 23 de maio de 2019

23 sem novidades para a Liga das Nações

ARRISCAR É PRECISO Cabe a Fernando Santos fazer a máquina
funcionar também com a bola (Foto: Global Imagens)
Ao convocar para as semifinais da Liga das Nações 23 dos 25 jogadores que estiveram nas duas partidas das Eliminatórias da Euro 2020, o treinador de Portugal Fernando Santos deixa claro: está satisfeito com o que foi apresentado nos empates contra Ucrânia (0 a 0) e Sérvia (1 a 1). Se o rendimento dentro de campo melhorou notavelmente entre as partidas, escapando a vitória na segunda partida somente pela má atuação do árbitro, deixar de fora somente o machucado André Silva e o meia João Mário, vindo de péssima temporada pelo West Ham e, depois, pela Internazionale, mostra que o leque não é tão aberto quanto se propaga.
Sem surpresas na baliza, Rui Patricio deve seguir como dono absoluto da camisa 1, rivalizado pelo experiente Beto e pelo terceiro guardarredes da vez, José Sá. Aqui, a concorrência nem é tão grande assim, o que não se pode falar da lateral direita.

As dúvidas que pairavam sobre João Cancelo e Nelson Semedo eram mais sobre as questões físicas do que propriamente técnicas. As crias do Seixal vêm de recuperação de uma cirurgia para reparar uma fratura no nariz, que é o caso do juventino, ou de uma parada breve ao fim do Campeonato Espanhol, no qual Semedo não foi titular incontestável. Correndo por fora, Cédrid perdeu o pouco espaço que tinha na Inter de Milão e Ricardo Pereira, eleito para o Mundial e em grande no Leicester, acabou à margem, como também o foi André Almeida, vindo de magnífica campanha pelo Benfica, a ponto de poder reivindicar uma nova convocação depois de quatro anos.

Se sobram bons nomes, no outro extremo do eixo defensivo o pé de obra qualificado é mais escasso: Raphaël Guerreiro, mais meia do que ala, e Mário Rui, de temporada difícil no Napoli e que segue chamado por falta de competidores, são os preferidos. Uma opção, mas que ainda não foi testada, é Diogo Dalot, que está com a Seleção Sub-20 na disputa do Mundial da Polônia e que se destacou com a camisa do United.

No miolo de zaga, o grande erro do mister Santos: ter chamado somente três jogadores, dois quais dois, Pepe e Fonte, pela idade avançada, já não dão garantias de que chegaram em forma à Euro. Aqui caberia observar o benfiquista Ferro, ainda mais com o caráter quase amistoso da competição.

Do meio para a frente, jogadores não faltam. A safra é excelente e poder-se-ia montar outra equipe apenas com médios e avançados que ficaram à margem, como Nani e Quaresma (contam menos anos que Pepe e Fonte), ou João Mário, Bruma, Florentino, Adrien Silva, Gelson Martins, André Gomes, Renato Sanches, André Silva, Ederzito, Rony Lopes e Helder Costa. Com Danilo e William Carvalho em grande plano, Ruben Neves à espreita ao lado do companheiro de Wolverhampton João Moutinho, o “Engenheiro do Penta” ainda conta com Pizzi e Bruno Fernandes, que acabaram de cumprir exuberante temporada e são, respectivamente, o melhor passador para gols e o meia mais artilheiro da Europa. Não é pouca coisa. 

No setor mais ofensivo, onde o trio que ajudou a derrotar a França na Euro (Eder, Nani e Quaresma) deixou de ser opção, Cristiano Ronaldo segue rei incontestável e tem grandes companheiros: Bernardo Silva, o pé pensante e faz-tudo de Guardiola no City, Gonçalo Guedes, outra vez em destaque no Valência, e João Félix, a joia mais cobiçada da janela europeia e ainda â espera por debutar pela Seleção A. O valente Dyego Sousa, o recuperado Rafa e o multifuncional Diogo Jota, que completa o quarteto anglo-lusitano dos Wolves a serviço da Seleção, completam o leque de opções para a fase aguda da mais nova competição de seleções da Europa.

O único senão é o pragmatismo quase cego de Fernando Santos, que até agora foi incapaz de fazer seus dois principais jogadores, Cristiano Silva e Bernardo, funcionarem juntos. Fernando Santos colocou seu nome na história do futebol português ao ser campeão europeu, mas não pode fiar-se definitivamente numa única conquista que se deu sob circunstâncias que dificilmente se repetirão.

Na Eurocopa, a tática de dar a bola e esperar deu certo, mas para isso é preciso ser atacado, coisa que Inglaterra ou a Holanda certamente farão, mas ainda há uma perigosa Suíça antes, e o próximo adversário, que disputou com Portugal ponto a ponto a vaga direta à Copa da Rússia, não apostará em um jogo franco.

Ser campeão europeu aumentou o patamar e a responsabilidade de Portugal, que se não tem um grupo de primeiríssimo nível, tem jogadores capazes de montar uma equipe competitiva e que permita sonhar com novas insígnias de campeão na camisola. Mais que navegar, acreditar também é preciso.

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